Tentei assistir à festa de ontem no Trindade. Como muitas dezenas de pessoas, fiquei à porta porque os «bilhetes» já estavam esgotados – comício com bilhetes, portanto. Distribuídos antecipadamente a (muitíssimas) personalidades, que já lá estavam dentro ou iam entrando, e a uns tantos anónimos que, de certo habituados a filas de espera em centros de saúde, terão chegado bem antes da hora. À porta, exaltação mais ou menos moderada: militantes do PS de cartão em punho reivindicavam direitos, Helena Roseta acalmava as hostes e encaminhava-as para um espaço alternativo com transmissão em directo, Alegre dizia que nada tinha a ver com questões logísticas.
Um simples telefonema, entre vários possíveis, teria trazido alguém à porta e eu teria entrado – como aconteceu com tantos outros. Não por princípios (onde é que eles já vão?), mas por tédio, vim para casa e assisti pela net. Ao vivo e a cores, terá sido talvez uma festa, no ecrã foi um enfado. Ou nem por isso: fui trocando
mails, atónitos e jocosos, com um amigo a muitos quilómetros de distância, o que me permite ter hoje registo de uma ou outra fase lapidar.
O jovem do Bloco fez o seu papel,
by the book.
A senhora do Graal foi inenarrável. Entornou cultura em cada aposto ou continuado e fez síntese de crenças e oposições:
«O governo diz-se socialista mas não é praticante, como a maioria dos cristãos em Portugal. Porque o Evangelho vivido a sério podia virar o mundo do avesso. Álvaro Cunhal dixit». Aliás, estava ali porquê? Herança monárquica do pintassilguismo? Haja deus!
Manuel Alegre, igual a si próprio, para o bem e para o mal. Grandes frases:
«É preciso tirar o Estado da clandestinidade»,
«Contra o capitalismo, de novo o socialismo»,
«os valores da esquerda, a esquerda dos valores...». Contundente em relação ao PS que manda? Certamente – estava ali para isso e fê-lo sem pestanejar.
Quem ganhou? Quem poderá ganhar? O Bloco, na minha opinião, como única força mais ou menos estruturada. Quanto mais e quanto melhor reunir, à sua volta, o descontentamento das esquerdas, mais se fortalecerá. Se souber
desbloquear-se, o que não é de modo algum garantido.
Quanto ao resto – o futuro de Manuel Alegre, se está ou não a posicionar-se para as presidenciais, se tem hipóteses de..., se e se... –, não sei e, sinceramente, interessa-me realmente muito pouco.