18.8.18

8 Dias, 8 Viagens (6)



Baía de Ha Long, Vietname, 2009.
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Zé, 71 anos



O funcionário público do futuro.
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As bodas de sangue dos rohingya



Ricardo Garcia Vilanova no Expresso de 18.08.2018:

«Os casamentos de menores não são nenhuma novidade entre os rohingya, que por tradição sempre casaram as meninas desde muito novas. No entanto, os casos multiplicaram-se de forma exponencial desde a última expulsão de mais de 700 mil pessoas desta comunidade de Myanmar (antiga Birmânia), em setembro.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) tal facto também tem muito que ver com as condições deploráveis em que os refugiados se encontram nos campos do Bangladesh, com um racionamento dos bens alimentares que não chega para saciar a fome de todos os membros dessas famílias numerosas.

A OIM documentou matrimónios desta minoria muçulmana em que as noivas não tinham mais de 11 anos, e confirmou que muitos progenitores alegavam que o faziam forçados, a fim de disporem de mais comida para o resto da família.

O Expresso assistiu à boda de uma menor de 15 anos nos campos da área de Cox’s Bazar, a qual foi entregue pelos seus pais em casamento precisamente porque não recebiam uma ração de comida suficiente para sustentar toda a família.

A casa da noiva

Chegou o dia dela, é hoje o casamento, mas não parece que vá ser o dia mais feliz para Nur Fatema. A rapariga está sentada a um canto daquela que irá ser pela última vez a sua casa, a tenda que os pais ocupam no campo de refugiados de Kutupalong, Bangladesh.

Cabisbaixa e com um olhar perdido, quase melancólico, não consegue dissimular o desgosto. É muito jovem. Uns brincos dourados pendem-lhe das orelhas e do nariz, e repousa as mãos adornadas com henna em cima dos joelhos. Embora os adultos assegurem que tem entre 17 e 19 anos, ela corrige que não tem mais do que 15.

O pai, Abdur Rahman, conta que acertaram o matrimónio há dois meses com outra família conhecida da mesma aldeia onde viviam, em Myanmar. Explica que o fazem mais por necessidade do que por gosto.

“Dão-nos 30 quilos de comida duas vezes por mês (arroz, óleo, lentilhas), mas lá em casa somos sete e não chega para todos. Vamos casá-la porque temos problemas e ainda tenho outras duas filhas à espera de se casarem.”

A menina olha para ele com uma expressão de desprezo enquanto ajusta melhor o pano amarelo que lhe cobre a cabeça.

“Estás contente por te casares?”, pergunta-lhe alguém de repente. Num ato reflexo, ela morde os lábios por uns segundos de modo a não dizer o que realmente pensa. “Se a minha mãe está contente, eu também estou”, acaba por responder, satisfeita por ter encontrado palavras politicamente corretas.

Uma vintena de mulheres da família fazem companhia a Nur até que o noivo a venha buscar. Amontoam-se com as suas respetivas proles nos escassos metros ocupados pela tenda. Uma das tias dela, Hamida Begun, explica com orgulho que demorou mais de duas horas a desenhar-lhe o henna que traz tatuado nos braços e nas pernas. A maioria delas não dispõe de outra roupa senão a que trazem vestida, e por isso pintaram a cara com pigmentos amarelados para a ocasião.



Santana Lopes e a «Aliança»



Mas quem é a noiva, quem é a noiva?
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Costa quer descalçar a geringonça e não consegue



Daniel Oliveira no Expresso diário de 17.08.2018:

«Há um pormenor revelador na última entrevista de António Costa ao “Expresso”: o momento em que, com um ar trocista, o primeiro-ministro fala de Ricardo Robles para dizer que se espantava por alguém tão vocalmente moralista ter pecadilhos. Não interessa aqui o caso em concreto, que já tratei várias vezes e a que só voltarei quando um caso similar não merecer o mesmo tratamento. Está em causa a resposta. Se há coisa em que Costa é especialista é em relativizar “pecadilhos”, sejam os de Rocha Andrade, de Mário Centeno, de Siza Vieira ou dos seus. Mas o que Costa criticou em Robles não foi o “pecadilho”, mas o seu vocal moralismo. Acontece que esse é anterior ao nosso conhecimento do negócio em Alfama. O que quer dizer que já era essa a avaliação que Costa fazia do vereador. O que é estranho, já que Robles foi o primeiro dirigente do Bloco a aceitar participar num Executivo do Partido Socialista. Logo na Câmara que Costa dirigiu e através de um acordo com o seu delfim. É estranho que se mantenha em silêncio sobre quase todos os pecadilhos do mundo e decida falar para atacar o pecadilho de um aliado. Ainda por cima, não para criticar um erro (coisa que seria normal se o costumasse fazer com os seus), mas para lhe atribuir um padrão de comportamento político estruturalmente desagradável.

Teria sido fácil para o BE ou para o PCP cavalgarem o escândalo em torno dos bilhetes de Rocha Andrade e Mário Centeno, só para pegar nos “pecadilhos” mais mediáticos. Não o fizeram. Por uma razão simples: entre os aliados da “geringonça” tem havido muitas acusações políticas, porque elas correspondem a divergências programáticas, mas não tem havido aproveitamento de casos, porque isso está no domínio da guerrilha partidária. E muito menos esses casos têm sido utilizados para caracterizar os outros partidos. A única exceção de que me lembro, e ainda assim de forma suave, foi a reação do Bloco às incompatibilidades de Pedro Siza Vieira.

Critiquei aqui o PCP quando, para defender uma posição correta, usou uma música do “Padrinho” exibindo a cara de António Costa. Porque há uma diferença entre a crítica a uma determinada escolha política, admissível a quem suporta um Governo, e uma caracterização moral insultuosa, que torna incompreensível esse apoio. Caracterizaria da mesma forma esta declaração de Costa se ela não correspondesse a um comportamento cada vez mais recorrente, sobretudo dirigido ao BE (mas não só).

Quase todas as semanas fontes do Governo, que já todos perceberam estarem muito próximas de Costa, têm colocado na imprensa muitas provocações aos parceiros de maioria parlamentar. No que toca ao Bloco, são acusações de falta de credibilidade e confiança; no que toca ao PCP, são exibições de condescendência. Em qualquer um dos casos, mas sobretudo no que toca ao partido que mais eleitorado partilha com o PS, estamos perante tentativas de provocar uma reação que permita a Costa responsabilizar os partidos à sua esquerda pela insustentabilidade futura da geringonça para ter um ambiente mais propício para ressuscitar o voto útil e pedir a maioria absoluta. Como o BE não tem caído na esparrela, é o próprio António Costa que vai levando cada vez mais longe a provocação.

A falta de empenho de António Costa na geringonça é natural. Mais vale governar sozinho do que acompanhado. Ou acompanhado por um PSD em estado letárgico do que por partidos com programas políticos e ideológicos que exigem mais capacidade negocial. Só que Costa terá de se confrontar com uma evidência: a grande diferença entre este Governo e Governos anteriores do PS foi que dependia de partidos à sua esquerda. E isso sentiu-se bastante nos dois primeiros anos de geringonça, enquanto houve acordos para cumprir.

Aos eleitores de esquerda, bastará responder a uma pergunta: acham que haverá mais investimento do Estado, maior proteção dos serviços púbicos, mais ponderação entre as necessidades sociais e as contas públicas e melhores leis laborais com o PS sozinho (ou dependente do PSD) ou com o PS a ter de negociar com BE e PCP? E quanto mais Costa se afastar da geringonça, quanto mais provocar os seus parceiros, quanto mais desesperado se mostrar por ver a maioria absoluta fugir-lhe, mais evidente será que a continuação desta solução depende da votação no BE e no PCP. Todos conhecem a arrogância do PS e do PSD quando se apanham sozinhos no poder. Quanto mais Costa exibir essa arrogância para provocar uma reação dos parceiros mais força lhes dará. Funciona como um lembrete.»
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17.8.18

8 Dias, 8 Viagens (5)



Andar de Metro em Tóquio, Japão, 2006.
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Aretha, ainda ela



Esta fotografia de Aretha Franfklin, na tomada de posse de Obama em Janeiro de 2009, é extraordinária!
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O amigo português de Marine Le Pen



João Teixeira Lopes no Público de 17-08.2018:

«Estamos em agosto, estou em férias e a minha filhota dorme sestas de três horas. Conjuntura ideal, por isso, para dialogar com (mais) um truculento texto do meu homónimo João Miguel Tavares. O colunista, é sabido, tem o verbo fácil e dispara bem a pistola semiótica. Tiro-lhe o chapéu aos títulos magníficos que tantas leituras lhe devem valer e à desenvoltura com que mistura o diletantismo mundano com o disparate bárbaro.

Desta feita, insiste numa das pérolas da “direita liberal” de que é no momento o mais histriónico epígono (o Observador não estará a precisar dos seus serviços?): a redução do mundo à simetria perfeita entre “liberais” (tolerantes) e “iliberais” (intolerantes, onde se mistura, de uma assentada, Marine Le Pen, Boaventura de Sousa Santos e o PCP). É claro que, com esse cliché, faz um servicinho jeitoso à senhora Le Pen: já não é uma fascista, racista ou nazi. Como o próprio diz, com candura, ela não o admite. Pois se é ela quem o diz… É como Trump. Não é racista. Nem machista. Alguma vez ele disse que o era? Sigamos o cherne! Os textos de João Miguel Tavares lavam mais branco. Mete-se lá um racista imundo e sai um nacionalista a cheirar a sabonete.

Aliás, Le Pen subscreveria a delicadeza de João Miguel. Não foi ela quem, em 2012, dirigindo-se a um jornalista, se afirmou “extremamente tolerante e hospitaleira”, embora questionando-o, caso ele recebesse um grupo de clandestinos em casa, “se aceitaria que eles mudassem o papel de parede, roubassem a carteira ou brutalizassem a sua esposa”… Ou quando, ainda nas últimas eleições, vituperou: “De cada vez que tipos gritam «Viva Mélenchon [candidato presidencial de esquerda]» são franceses de origem magrebina!”. Não faltam exemplos…

Não se trata, pois, de mandar calar a Senhora Le Pen ou de dizer que não tem o direito de se candidatar a eleições livres e justas. A questão é outra: devemos ou não exigir do nosso governo que eventos organizados com dinheiro público promovam os discursos e as práticas de ódio? Nos compromissos editoriais do Público, que nem sequer tem dinheiros públicos, por exemplo, diz-se com clareza que neste jornal não haverá espaço para as opiniões que promovam o racismo, a xenofobia, a homofobia ou a apologia da violência. Na verdade, é um debate sobre a qualidade da esfera pública e sobre o papel da intermediação cultural o que está em causa.

Triste sina a de João Miguel Tavares, passar as suas tardes a desancar no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra como alforge de extrema-esquerda totalitária, uma espécie de guerrilha urbana dos tempos modernos, tal como Marine le Pen afirma que a França se tornou “uma Universidade de jihadistas”.

Como a tarde está de Sol, deixo-lhe, meu caro João Miguel, um verso de Gertrude Stein: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa”. Apesar dos seus textos, “Um racista é um racista é um racista é um racista”. Ou não?»
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Já nem os correctores de erros ortográficos usam!



Quando um jornalista mais do que encartado escreve, num texto do seu jornal, «DESFAZERIA o convite», algo vai pior do que talvez pensamos. 

(Daqui)
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Low cost e luta de classes



«Quem, nestes dias, nestas últimas semanas, ou até nos últimos meses, viajou de avião, de uma cidade qualquer para outra cidade qualquer, passou muito provavelmente pela experiência de viver o caos na terra e o inferno nos céus. O acidente, escreveu uma vez um urbanista, é a face escondida do progresso. Não há hoje nenhum lugar onde o acidente seja tão visível como nos aeroportos, que são plataformas logísticas que funcionam como os centros das cidades.

O acidente consiste desde logo na indistinção entre quem chega e quem parte. Dantes as duas categorias eram bem distintas, não só porque cumpriam rituais diferentes, mas também porque os que partiam não tinham a mesma cara, a mesma deixis corporal, daqueles que chegavam. Ora, hoje são todos iguais porque, em rigor, os aeroportos são o lugar da chegada generalizada. Toda a gente, independentemente de estar à espera de partir pelos ares ou de ser posto finalmente em terra, tem aquela mesma cara de quem chega ao aeroporto, isto é, ao lugar do grande fechamento, como foram – ou são – as prisões e os asilos. Mas esse é apenas o primeiro estádio do acidente. O acidente numa fase mais avançada é quando, uma vez transpostos todos os obstáculos e barreiras, começa a espera. Pode durar horas e nós nunca sabermos porquê. Mesmo quando tudo decorre normalmente, acedemos sem atribulações ao lugar reservado e são cumpridos os horários, a sensação de que atravessámos um campo de batalha e de que ali se trava a mais actual forma de guerra deixa-nos antecipadamente com medo da próxima chegada ao aeroporto. Há aeroportos por essa Europa fora que por estes dias foram considerados lugares de perigo, a evitar. Não é apenas o aeroporto de Lisboa que está superlotado, o céu está superlotado de aviões e o mundo está superlotado de viagens. Tal como no final do século passado se falou muito do fim da história, é agora o tempo de perceber que chegou o fim da geografia. Andávamos todos nós tão contentes com os voos low cost, e antes disso com a velocidade que modificou as condições da viagem e do percurso. Sabemos agora que alguém, ou alguma coisa, desatou a rir-se de nós, fazendo-nos experimentar a situação paradoxal de ficarmos imobilizados por causa do excesso de mobilidade. A situação já era nossa conhecida nas entradas e saídas das grandes cidades. Mas agora todas as ligações aéreas de umas cidades às outras conhecem esse regime do trânsito parado. Este mundo que tende para a sua perda, isto é, para a entropia, é um mundo irónico que transforma toda a promessa de felicidade (temporária, é certo) num inferno e deixa toda a gente parada – por muito mais tempo do que aquele que conseguimos suportar – exactamente porque foi prometida a toda a gente a fácil mobilidade e a velocidade. Nunca o fenómeno da entropia foi tão espectacular como é hoje nos aeroportos e no tráfego aéreo. Talvez seja necessário ter em conta que há uma economia política da velocidade e não apenas da riqueza produzida. E quando somos submetidos nos aeroportos e nos aviões à condição de plebe desprezível, pensamos que ali pode estar a renascer uma nova modalidade de luta de classes: por onde circulam os ricos nos aeroportos? Em que aviões viajam para não correrem o risco de perder tempo? Porque é que a velha máxima do “tempo é dinheiro” continua a ser tão actual que ou se tem as duas coisas – tempo e dinheiro - ou não se tem nenhuma. Tempo low cost? Bela promessa. A situação de “desastre” nos aeroportos diz-nos que, neste domínio, são muito frágeis as conquistas e poderosos os retrocessos.»

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16.8.18

8 Dias, 8 Viagens (4)



Lago Inle, Birmânia, 2009.
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Aretha Franklin calou-se hoje



Aretha (Louise) Franklin nasceu em Memphis, em 25 de Março de 1942. Já houve quem a considerasse a maior cantora de todos os tempos, é certamente uma das muito grandes.

O seu último álbum (o trigésimo) – Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics –foi publicado em Outubro de 2014.

A recordar:





Em 2014, na Casa Branca:


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Os nossos queridos comentadores



No Público de hoje, João Miguel Tavares compara Marine Le Pen com Boaventura Sousa Santos: «Dentro daquilo que são os meus valores fundamentais, Boaventura Sousa Santos e Marine Le Pen são apenas irmãos desavindos».

Diz muito mais, mas nem vou continuar a citá-lo. Preocupante é ver os que desceram logo à arena das redes sociais para o defender, em nome da sacrossanta liberdade de expressão. Alguns diriam com certeza o mesmo se JMT tivesse escrito que os ativistas do ISIS e o papa Francisco são apenas irmãos desavindos.

Assim vamos.
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A delícia turca de Trump



«Em 1889, o Expresso do Oriente partiu da Gare de l'Est em Paris e chegou, finalmente, a Istambul. Os europeus puderam, finalmente, ir de comboio até aos limites do continente e vislumbrar o Oriente. Istambul, já desde os tempos da Rota da Seda, era uma ponte geográfica entre o Ocidente e o Oriente. Foi a jóia de impérios e centro de poder político e espiritual. Do Império Romano do Oriente, Bizâncio, e do Império Otomano, até 1923. Ataturk modernizou-a. E a Turquia, na sua grandeza, tornou-se a porta por onde dois mundos se espreitavam e conheciam. Erdogan, rechaçado pela União Europeia, procurou um novo rumo, mais musculado, para a Turquia, tentando torná-la um exemplo para o Médio Oriente e para a Ásia Central. E foi aí que este importante país da NATO (com o seu segundo maior exército) entrou em choque com os Estados Unidos. Ancara está contra o apoio dos EUA aos curdos, está ao lado do Irão e do Qatar contra a Arábia Saudita e é a voz mais sólida para confrontar Israel na região. Nada disso agrada a Donald Trump. O caso do pastor americano preso na Turquia é um disfarce para as suas reais intenções: domar Erdogan.

A táctica é a mesma: a asfixia económica, transformada na arma política por excelência da era Trump. Cuidem-se pois todos os países que desafiem os "tweets" do CEO da Casa Branca. Só que esta pressão sobre Erdogan e sobre a economia da Turquia é inaceitável. Mesmo que a Europa não goste de Erdogan e das suas políticas, uma crise profunda da sociedade turca é tudo o que menos interessa à Europa. Porque seria uma vitória de um Trump que quer destruir a União Europeia. Mas também porque a Europa não pode esperar que um país com uma economia arruinada seja uma barreira contra terroristas ao mesmo tempo que acolhe milhões de refugiados de África. Isto para já não falar da necessidade que a Europa terá do segundo maior exército da NATO. Desestabilizar a Turquia é correr um risco equivalente a brincar com a chegada de um tsunami imprevisível. A Europa não pode esquecer isto.»

Fernando Sobral
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15.8.18

8 Dias, 8 Viagens (3)



Bariloche, Argentina, 2010.
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Portugal 1950



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Uma Le Pen voava, voava



… mas já não voa.

Mr. Paddy Cosgrave tentou chutar a bola do «desconvite» de Marine Le Pen para o governo português, este não aceitou (em termos tristes, no meu entender, mas adiante..), e o homem voltou a tirar a oradora controversa da lista.



Por causa de Portugal, apenas? Isso é que era bom…. Foram muitas as pressões a nível internacional, como esta, por exemplo, de Allyson Kapin, fundador de Women Who Tech (uma organização com mais 10.000 membros) e de Women Startup Challenge, que esteve bem activo no Twitter, antes de Paddy Cosgrave tentar passar a bola para o governo português, para se ver livre dela sem sujar as mãos.


(Ver AQUI toda a conversa no Twitter.)

Siga o baile.
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Rituais são para ser cumpridos




... e ouvir esta senhora é um deles.
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14.8.18

8 Dias, 8 Viagens (2)



Monges budistas em Luang Prabang, Laos, 2009.
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14.08.1936 – Os massacres de Badajoz



Em 12 de Agosto de 1936, as tropas nacionalistas começaram o assalto a Badajoz, naquela que foi a luta mais dura desde o início da Guerra Civil. Quando a cidade se rendeu, todos os que tinham resistido foram levados para a praça de touros, ou para as imediações do cemitério, para serem executados ─ no dia 14 de Agosto de 1936. Não se conhece exactamente o número de mortos, que varia, segundo as fontes, entre 2.000 e quase 4.000.








O governo português foi cúmplice das tropas nacionalistas, tanto deixando que alguns dos seus elementos penetrassem no nosso território em perseguição aos republicanos, como colocando alguns destes na fronteira do Caia, de onde foram levados para Badajoz e executados.
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Claro que o racismo não existe - está à vista


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Comissões há muitas!



«Como Portugal não descobriu os Gremlins, inventou as comissões. Estas não se multiplicam com a água. Florescem como soja geneticamente modificada. São viçosas. Há, como nos supermercados, para todos os gostos e preços: de inquérito, de análise, de prevenção, de estudo. Há quem diga que já foram propostas entidades como a Comissão para a Tributação do Tremoço e a Comissão Consultiva da Comissão Eventual para a Criação de uma Unidade de Missão para as Missões a Criar. Algumas até têm nomes divertidos como a CADA (Comissão de Acesso aos Dados Administrativos), que funciona junto do Parlamento. Umas aparentam ser úteis. Outras são claramente inúteis. Todos, em Portugal, querem ter uma comissão. Não se entende porque este desiderato não está na Constituição da República. A maior parte das comissões são criadas por uma única razão: porque é necessário criar algo para ofuscar a incompetência de tudo o que tinha sido feito. Assim investiga-se e arquiva-se. E todos dormem descansados.

Agora Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu a criação de uma comissão independente que ajude o Governo a analisar se as formas de prevenção e respostas resultaram no combate aos incêndios. Há já um Observatório Técnico Independente, que aparentemente serve para a mesma coisa. O absurdo é que o país está farto de comissões sobre incêndios. E estes não acabam. Em 1990, foi criada a Comissão Eventual para a Análise e Reflexão da Problemática dos Incêndios em Portugal, a que se seguiu em 2003 a Comissão Eventual para as Incêndios Florestais e publicado o Livro Branco dos Incêndios Florestais. Em 2005, foi anunciada a Comissão Eventual de Acompanhamento e Avaliação das Medidas para a Prevenção, Vigilância e Combate aos Fogos Florestais e de Reestruturação do Ordenamento Florestal e em 2007 mais uma: a Comissão de Acompanhamento e Avaliação da Política Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios. E em 2013 foi constituído o Grupo de Trabalho para Análise da Problemática dos Incêndios Florestais. Comissões há muitas. Serviram para quê?»

Fernando Sobral
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13.8.18

8 Dias, 8 Viagens (1)



Cataratas do Nilo Azul, Etiópia, 2013. 
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Dica (796)




«That is why many advocates are suggesting that we reach for another powerful tool: shame. Wardle says we need to make sharing misinformation as shameful as drunk driving. Wineburg invokes the environmental movement, saying we need to cultivate an awareness of “digital pollution” on the Internet. “We have to get people to think that they are littering,” Wineburg says, “by forwarding stuff that isn’t true.” The idea is to make people see the aggregate effect of little actions, that one by one, ill-advised clicks contribute to the web’s being a toxic place. Having a well-informed citizenry may be, in the big picture, as important to survival as having clean air and water. “If we can’t come together as a society around this issue,” Wineburg says, “it is our doom.”»
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Salazar, ainda ele



O mesmo homem, igual a si próprio em todos os domínios, diria, num 12 de Agosto, uma frase que ficou célebre: «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem».

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13.08.1961 – Quando um Muro nasceu em Berlim






Começou a ser construído há 57 anos, durou 28. Os muros hoje são outros e têm nomes insuspeitos como Mediterrâneo. Um dia também cairão.




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12.8.18

Argentina, aborto e apostasia




«La Coalición Argentina por un Estado Laico (CAEL) convocó esta apostasía colectiva mientras el Senado de ese país votaba la legalización del aborto.
Hombres y mujeres que se manifestaban a favor de esa iniciativa hicieron una larga fila y llenaron formularios para renunciar a la Iglesia católica.
La Coalición Argentina por un Estado Laico (CAEL) convocó esa apostasía colectiva para quienes fueron bautizados y ya no se sienten representados por esa institución.»
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Dia Mundial do Elefante



Aqui ficam estes do Pinnawala Elephant Orphanage (Sri Lanka), fundado em 1975 com sete elefantes órfãos. São agora muitos, de todas as idades e tamanhos, e os primeiros já são avós.
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Grupos fascistas em Portugal? Obviamente




«Nos últimos três anos, cinco novas organizações surgiram ou ressurgiram nos radares das autoridades: Misanthropic Division - Portugal; Portugueses Primeiro; Trebaruna (esta replicada noutra, a Lisboa Nossa); Escudo Identitário e o Movimento Social Nacionalista. O "que mais preocupa é que existe um novo perfil nos seus militantes, com potencial para atrair mais gente, principalmente jovens nas escolas secundárias e universidades, através das redes sociais. Já não são os boneheads (cabeças-ocas) dos skinheads, estamos perante jovens universitários, licenciados com capacidade de retórica capaz de grande influência em determinados contextos socioeconómicos", explica uma outra fonte policial. (…) .
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Ponto em comum entre as três formas de afirmação: "são alimentados pela mesma raiva anti-establishment que está a beneficiar os partidos populistas em toda a Europa. Também se aproveitam da preocupação pública da ameaça jihadista, da crise migratória e do aparente falhanço das políticas multiculturais. Estão envolvidos num hiperconservadorismo social e num etnonacionalismo identitário/supremacia branca. Têm em comum ideias e símbolos fascistas, nazis e antissemitas, assim como o desdém pela democracia". Em Portugal, confirma, "há vontade de expansão".»

Matam crianças para impedir homens iemenitas?



«O nosso mundo perdeu a vergonha, se é que alguma vez a teve. Só o preocupa o que o pode sossegar. E só o desassossega as grandes notícias que absorve.

Na verdade, deixar que nos digam o que está certo ou errado é desde logo um modo de nos formatar no que se refere aos grandes acontecimentos que marcam a vida das pessoas e das comunidades. Seguindo o trilho, evita que tenhamos de pensar. Pensar é trabalhoso. Olhar é mais fácil.

É a essa luz que de vez em quando somos abanados por notícias que vão directamente para as paredes mais sensíveis das nossas almas.

As notícias frenéticas e brutais do envenenamento de um espião russo que passou a trabalhar para o Reino Unido, trocando de patrão, colocaram o mundo ocidental a expulsar, em catadupa, diplomatas russos, não sendo ainda hoje claro quem foi o autor do envenenamento. Em represália, Putin procedeu do mesmo modo.

Esta semana, um autocarro cheio de crianças iemenitas foi atacado no Norte do Iémen por aviões sauditas causando a morte e ferimentos a mais de 70. Tais mortes não mereceram sequer reparos por parte dos governantes que expulsaram os diplomatas russos. Até os media, em geral, se mantiveram indiferentes.

Os assassinos das crianças justificaram o ataque para prevenir que elas pudessem vir a ser usadas como escudos... Isto é, os sauditas invadem o Iémen para matar crianças porque temem o futuro e sabem que ocupam terra que não é sua.

Trump, desmiolado, preocupado em mandar no mundo a partir de um exército espacial, como nos filmes, apoia fervorosamente a Arábia Saudita. Tem uma paixão desmedida pelo príncipe herdeiro saudita e por Netanyahu; une-os o seu ódio aos palestinianos e iranianos. São homens que prezam armas e a morte.

Choca que os mortos que lutam pelos seus direitos nacionais sejam danos colaterais acidentais dos amigos ocidentais. Por quanto tempo os mais poderosos vão poder continuar a fazer deste mundo arenas de horror?

As crianças mortas pelos mísseis sauditas vendidos pelos EUA constituem uma marca indelével da ferocidade do regime absolutista de Salman. Estas mortes são crimes contra todos os seres humanos justos e passiveis de humanismo. Violam o direito internacional de modo grosseiro e violento.

Bem andou António Guterres em ordenar na ONU um inquérito, embora se saiba que quando chegarem as conclusões as emoções andem por outras bandas.

Por cá, como não houve mortes no incêndio de Monchique, andam a descobrir as falhas do Governo, servindo em doses cavalares reportagens pornográficas das desgraças dos desgraçados.

De tantos mundos é feito o mundo em que vivemos. Se as crianças iemenitas assassinadas a sangue frio por mísseis sauditas fossem ocidentais, já aviões destes países estavam a disparar mísseis para vingar as criancinhas, como gosta de alegar Trump para justificar os bombardeamentos da Síria. As da Síria alegadamente vítimas de bombardeamentos sírios fazem o mundo chorar; as do Iémen não devem ser humanas. Os mortos humanos não são iguais. Há os que não contam; eram empecilhos, podiam vir a ser terroristas.»

Domingos Lopes
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