Deixo aqui algumas. Não sei mais nada - agradecem-se informações adicionais.
1.12.07
Uma árvore no Limpopo
Deixo aqui algumas. Não sei mais nada - agradecem-se informações adicionais.
30.11.07
As Marchas Populares de Lourenço Marques
Quando vi, no último episódio de A Guerra, de Joaquim Furtado, os bailaricos dos colonos portugueses, importados para Moçambique, lembrei-me que devia ter cá por casa, num pequeníssimo espólio deixado pela minha mãe, estas «Marchas Populares» – com letras e partituras. Ela trauteava-as e eu ainda tenho algumas no ouvido (bem gostaria de saber porquê...).
Resistiram a mais de sessenta anos de andanças por gavetas, casas, cidades e continentes.
Em 1945, quando o mundo punha termo à Segunda Guerra, os portugueses de Lourenço Marques (os brancos, evidentemente) desfilavam pelas ruas em representação dos «seus» sete bairros (*)
Mas atenção: no cortejo, havia também «uma marcha sobre um motivo indígena». Trocado por miúdos, uma marcha de «pretos» e para «pretos», na língua nativa (shironga).
Tudo isto na paz do Senhor.
Outros desfiles viriam, duas décadas mais tarde. Para grande espanto dos que pensavam que tinham a História na mão e que continuaraiam a resolver tudo com arquinhos e com balões.
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(*) Para os laurentinos tresmalhados, como eu, aqui fica a lista dos bairros: Alto Maé, Baixa, Carreira do Tiro, Malhangalene, Maxaquene, S. José de Lhanguene e Polana.
(*) Este post deu origem a um pedido de Machado da Graça: que oferecesse estas Marchas ao Museu da Rádio de Moçambique, que está em organização. Para lá seguirão imdediatamente.
29.11.07
Arquivos nazistas – Acesso a 47 milhões de documentos
«Os arquivos nazistas de Bad Arolsen, documentos que recordam os trágicos destinos das 17,5 milhões de vítimas do regime de Adolf Hitler, podem ser consultados pelo público desde esta quarta-feira, depois de 60 anos de confidencialidade.
Estes 47 milhões de documentos, escrupulosamente ordenados pelo Estado nazista e arquivados em Bad Arolsen (centro da Alemanha), só podiam ser consultados com fins humanitários, ou seja, de forma individual e por ordem de uma ex-vítima ou de seus parentes.»
Ler mais aqui.
28.11.07
«Dever da Memória»
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! (NAM!) apresentou à Assembleia da República uma Petição reclamando o respeito pelo "Dever da Memória" por parte do Estado, tendo a mesma sido discutida em sessão plenária no passado 30 de Março e recebido acolhimento positivo de todas as bancadas.
A votação devia realizar-se pouco depois, mas aguarda-se ainda o seu agendamento.
Por isso, o NAM! decidiu desencadear um processo de sensibilização da opinião pública, através de uma Carta Aberta aos Deputados (que foi entregue na Assembleia da República no dia 22 de Novembro) e da realização de um Colóquio. O texto da carta pode ser lido aqui.
O Colóquio terá lugar no próximo dia 5 de Dezembro, às 18h, na R. Fialho de Almeida nº3 (Bairro Azul – Metro de S. Sebastião da Pedreira), em Lisboa.
«Dever da Memória»
Joana Lopes: Os católicos e a imprensa clandestina
José Augusto Rocha: Os “tribunais plenários”
Fernando Rosas: Os arquivos e os juízes dos “tribunais plenários”
Irene Pimentel será a moderadora do debate.
Cimeira UE/China: Direitos humanos? Não houve tempo
O Público de hoje lembra que, segundo a Amnistia Internacional, a situação dos direitos humanos na China piorou nos dois últimos anos.
A discussão do tema era um dos pontos da agenda da reunião União Europeia-China, realizada hoje em Pequim. A reunião acabou e, segundo as primeiras informações, a questão não foi abordada «POR FALTA DE TEMPO».
Continuamos a assistir a isto impavidamente? E a ouvir dizer que nos orgulhamos por termos dois portugueses como principais portagonistas de mais este escândalo?
27.11.07
O Irão e o Vaticano
Segundo a Time, o Irão prepara seriamente a estratégia de vir a utilizar a influência do papa e de diplomatas do Vaticano junto dos Estados Unidos, se a actual crise se agravar e aumentarem as hipóteses de uma intervenção militar.
Bento XVI mantém para já um low profile, mas um alto dignitário romano vai confirmando que «os iranianos olham para a Santa Sé com uma atenção especial» e que o facto de existir «uma matriz religiosa comum» pode ajudar a que se concretize essa acção de intermediação.
Por outro lado, embora com uma comunidade cristã relativamente reduzida, o Irão é visto pela Igreja Católica como um agente importante no diálogo inter-religiões. Isto deve-se ao facto de o shiismo ter uma «forte tradição académica, tanto no plano filosófico como místico – em muitos aspectos semelhante ao catolicismo».
A seguir com atenção.
26.11.07
«Também ele, o Papa, em muitas coisas deve dar uma volta»
Foi através de Carlos Freitas que soube que D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, tinha dado uma entrevista a Maria Flor Pedroso, na Antena 1, no passado Sábado. A mesma pode ser ouvida na íntegra aqui, mas avisa-se que é longa (cerca de 48’).
O Jornal de Notícias on line publicou extractos dos quais destaco alguns:
«JN/Antena 1: Disse uma vez que uma das tragédias em Portugal era a Igreja ser só da e para a Direita. A Igreja em Portugal não está totalmente aberta?
D. Januário Torgal Ferreira: Não, a Igreja em Portugal é totalmente conservadora.
De Direita, portanto.
De Direita nesse sentido. Por isso é que o Papa diz que isto tem de dar uma volta. Pois tem. A mentalidade... Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça?
Posso perguntar a um bispo se é de Direita ou de Esquerda?
Costumo dizer eu sei como voto. Venho da Direita. Todos os princípios que recebi são de Direita. Só despertei para os ideais de Esquerda, da justiça social, a partir dos meus 20 anos. São os ideais de justiça social, de solidariedade que competem à Igreja. A Igreja tem coisas fantásticas, de amor, de devoção, de entrega. Mas, não tenhamos medo de dizê-lo: vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos. Há, mas pouca.
São os silêncios de que tem vindo a falar?
Sim. Prefiro a ruptura, a discussão. Espero frontalidade, mas, habitualmente, o que se usa é o truque, a hipocrisia.
Viu luz no que o Papa disse aos bispos?
Vi, claro. Ele disse uma coisa muito importante, que é que isto tem que dar uma volta. A Igreja tem de dar uma volta. Também ele, o Papa, em muitas coisas deve dar uma volta.
Que volta? Comecemos pelo Papa antes de falarmos da Igreja portuguesa.
Nós deveríamos ser muito mais escutados por Roma; não deveria haver centralismo. Deveria haver muito mais comunhão.
(...)
No Vaticano II, defendeu-se o recurso a métodos artificiais para controlar a reprodução. Essa parte não está no discurso do Papa.
Não, infelizmente não foi aceite pelo Papa Paulo VI.
Para a Igreja, é pecado. Para si, não é?
Para mim, não é. Para mim, é um instrumento de defesa. Para mim, é um elemento promotor da vida, uma forma civilizada e inteligente de proceder.
Acha que a Igreja portuguesa pode dar a volta que o Papa pediu?
Temos pernas para andar. Teremos de ter humildade de executar, de aplicar, às vezes, coisas simples, decisões que se assumem. A Igreja foi conivente com o regime de Salazar, é coisa que a gente tem que dizer. Não é pedir perdão – que pedir perdão é mudar a nossa vida. Mas a Igreja tem responsabilidade, porque a Igreja é, de facto, Jesus Cristo...»
Estes excertos mostram a frontalidade ou, melhor dizendo, a normalidade com que o bispo diz o que pensa sobre muitos temas importantes.
Mostram também, como já procurei explicar num outro texto que, a meu ver, o problema não está só nem principalmente nos bispos portugueses (porque os há lúcidos como este e alguns outros), mas na própria «sede da multinacional», onde «Bento XVI não demonstra qualquer sentido de abertura da Igreja nem no plano teológico, nem no disciplinar, muito menos no da moral, que lhe confira autoridade prática para exigir que as comunidades católicas se renovem».
Daí o ter-me parecido que o regozijo, que tantos se apressaram a demonstrar pelo «raspanete» dado pelo papa à hierarquia portuguesa, passou ao lado de questões bem mais complexas que se situam a montante.
25.11.07
«Rio das Flores» e «Rio de Sombras»
São semelhantes os títulos de dois livros que saíram quase ao mesmo tempo – um de Miguel Sousa Tavares (MST) e outro de António Arnaut (AA) (*). Mas não só os títulos os aproximam: ambos são romances que pretendem tratar de História através de histórias.
Sobre Rio das Flores, muito já foi escrito. Sobretudo depois da crítica, absolutamente arrasadora, que Vasco Pulido Valente fez no Público de 24/11, não apetece dizer muito mais.
Limito-me portanto a referir que, eu que gostei muito de Equador, me aborreci com a leitura de muitas das mais de seiscentas páginas deste novo livro. Sobretudo porque me ficou a impressão de que MST quis «aproveitar» («rentabilizar») o material que reuniu em três anos (?!...) de pesquisas, metendo-o à força em longas lições de história-contada-a-pobres-ignorantes, muito para além do que era adequado para uma contextualização correcta dos acontecimentos ficcionados. Não se percebe se quer aproveitar a História para contar uma história ou o contrário – senti isso permanentemente durante a leitura, o que é francamente desagradável.
Já Rio de Sombras aparece como um projecto bem mais modesto e, nessa exacta medida, mais conseguido. AA é um homem de outros ofício que não o de escritor, que resolveu deixar um romance que é, de facto, um livro de memórias ficcionadas. Nele percorre duas décadas da vida política portuguesa (a acção começa em 1968, na guerra colonial em Angola, e termina em 1988, simbolicamente com o incêndio do Chiado), através das vivências militantes e amorosas das suas personagens nos últimos anos do Estado Novo, no 25 de Abril, no PREC e nos anos que se seguiram «...em que as águas límpidas do sonho de Abril se transmudaram no lodo do desencanto, embora reste ainda uma nesga de esperança...» (**).
Encontramos os factos e as pessoas concretas (Soares, Cunhal, Sá Carneiro, muitos outros e até o próprio António Arnaut) relembrados, descritos e caracterizados com simplicidade. À medida que as histórias dos «heróis» do romance se vão desenvolvendo, aparecem os meandros das querelas políticas e partidárias.
AA pisca também o olho à maçonaria, mas aqui não abre a porta e é pena. Ele, que tão bem a conhece, podia ter-nos deixado entrar que não viria daí mal ao mundo – nem mesmo ao maçónico.
Literariamente, o estilo é demasiado rebuscado, pelo menos para meu gosto. Mas lê-se bem – eu li bem...
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(*) Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, Oficina do Livro, Lisboa, 2007, 632 p.
António Arnaut, Rio de Sombras, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, 376 p.
(**) A maior parte dos acontecimentos tem lugar em Coimbra, o que não é de somenos importância: julgo que, com a habitual sobranceria centralizadora, os lisboetas (nos quais me incluo por aculturação) nunca procuraram saber como foram vividos, concretamente, o 25 de Abril, o 1º de Maio de 74, o PREC e tudo o que se seguiu fora de Lisboa, do Alentejo (e de Rio Maior...).