17.12.16

Laura Ferreira dos Santos



Morreu Laura Ferreira dos Santos, fundadora do movimento "Direito de Morrer com Dignidade", o rosto da luta pela eutanásia em Portugal. Tinha 57 anos.


Ver e ouvir:

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Portugal não é a Grécia, mas…

Mais tabaco



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A política na idade do Twitter



«Na idade em que a política passou a ser delineada pelo Twitter, em Itália sussurra-se que Silvio Berlusconi poderá vir a ser a "salvação" do regime, contra as tendências da direita que quer "libertar" o norte do país e o movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo.

Há quem faça, neste tempo de mutação acelerada da política, uma ligação entre Berlusconi e o imprevisível Donald Trump. Mas há diferenças entre o populismo de ambos. No seu auge, Silvio Berlusconi controlava todas as televisões do país e grande parte da imprensa escrita. Tinha desde logo uma vantagem enorme sobre o resto dos partidos e das opiniões que lhe eram contrárias. Pelo contrário, Donald Trump fez uma campanha sem o apoio dos meios de comunicação tradicionais. E ganhou contra todos, utilizando-os e manipulando-os. (…)

Há uma outra diferença neste novo mundo do populismo e da crise das democracias. Berlusconi vendia, num tempo de euforia, um falso optimismo. Donald Trump dirigiu-se, pelo contrário, a uma América zangada. Não deixa de ser curioso que muitos latinos votaram em Trump, apesar de tudo o que ele disse sobre os emigrantes e o México. Ou seja: ele percebeu algo. Mesmo muitos emigrantes não querem competição no mercado de trabalho. Desejam segurança. E Trump promete-lhes isso. Este egoísmo é hoje fulcral na nova forma de se fazer política populista. (…)

As democracias suicidam-se. E é isso que está a acontecer na Europa. A batalha gramsciana de hegemonia política está a ganhar um novo marco conceptual. Agora pode mentir-se sem consequências. A nova revolta contra as elites surge em todas as esquinas, propiciada pela austeridade cega e a sensação de insegurança que é cada vez mais latente. Assumir com tranquilidade a pós-verdade como algo normal, inevitável numa sociedade mediática e de curta memória em que vivemos está a trazer uma enorme crise à democracia. (…) A crise económica trouxe uma crise de valores e de solidariedade. Longe vai o tempo dos Mosqueteiros: todos por um e um por todos.»

Fernando Sobral

16.12.16

Dica (459)

Grécia em risco de eleições antecipadas



Parece não haver dúvida de que o Syrisa fez muitos erros e caiu em muitas esparrelas. Mas quem tiver autoridade moral que lhe atire a primeira e a última pedra – eu não o faço. Agora é bem provável que a Grécia caminhe de novo para os braços da virtuosa Nova Democracia, sem dúvida com o entusiástico aplauso da Comissão Europeia.

Sem judeus, árabes, africanos ou refugiados


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Foge, António!



«António Guterres fez, na passada segunda-feira, o juramento da Carta das Nações Unidas e todos nos sentimos muito orgulhosos.

Podemos dizer que foi um nove e meio em termos de Orgulho Nacional Por Ver Portugueses No Poder, numa escala que vai de Durão Barroso ao cão de água português do Obama.

Assistimos a várias manifestações de alegria e emoção, mas sinto-me dividido. Por ser patriota, e vendo como está o mundo, tenho algum receio de que nos venham atribuir as culpas pela III Guerra Mundial. Já sei como é que estas coisas são. No fim, é sempre o tuga que paga. Vão sempre lembrar que estava um António português ao leme da ONU quando a coisa se deu. Ainda nos obrigam a pagar a reconstrução do mundo, incluindo todo os bancos que foram bombardeados. Gosto do Engenheiro Guterres e acho que esta eleição é um presente envenenado. (…)

Muito sinceramente, a ter de ser um português a ocupar o lugar de secretário-geral da ONU, preferia mil vezes o Durão Barroso. Quanto mais não fosse porque sempre tinha menos poder do que estando no Goldman Sachs. E, como ele já tem um bom currículo em termos de contribuir para dar cabo da paz e de organizações de nações, não seria surpresa para ninguém se ficasse associado ao fim do mundo.

Se eu fosse o Engenheiro Guterres, preparava um plano B no caso de isto ir mesmo dar para o torto. Nem seria preciso inventar muito. Pelo contrário, seria uma sequela. Muito simples. Caso a Le Pen vencesse as eleições presidenciais em França, Guterres diria que sentia este resultado, das eleições francesas, como uma derrota pessoal e de como o seu discurso, como secretário-geral da ONU, não tinha tido apoio e demitia-se.

Boa sorte, Senhor Engenheiro.»

João Quadros

15.12.16

Dica (458)

O último abraço de António Lobo Antunes ao irmão João



Vale muito a pena ler este extraordinário e comovente texto de António Lobo Antunes.
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Mariquice linguística



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Considero que todas as pessoas, independentemente da cor, género, religião ou orientação sexual podem ser achincalhadas. Sou pela igualdade. (…)
Quando digo às minhas filhas que não sejam maricas, não estou a pedir-lhes que não sejam homossexuais masculinos. Elas sabem, aliás, que, se quiserem ser homossexuais masculinos, o pai não se opõe.»

Na íntegra AQUI.
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Grécia: que nome se dá a uma nova decisão de Bruxelas?



O Eurogrupo anunciou ontem a suspensão das medidas de alívio da dívida grega por o governo de Tsipras ter decidido repor o 13º mês aos pensionistas que recebem menos de 850 euros, medida essa que deve ser hoje aprovada no Parlamento. O ministro das Finanças defende que esta decisão não vai contra o memorando que a Grécia assinou, mas não parece ser esse o entendimento de outros, nomeadamente de Wolfgang Schäuble que se apressou a reagir negativamente.

O que está em causa custará cerca de 600 milhões de euros, retirados ao excedente orçamental de 2400 milhões, obtido este ano pelas finanças públicas gregas.

Outras medidas estão na calha e esperam-se novas reacções, o que levou Alexis Tsipras a afirmar: «Creio que toda a gente deve respeitar o povo grego, que nos últimos sete anos fez sacrifícios gigantescos em nome da Europa. Carregámos o peso da crise dos refugiados. Foi em nome da Europa que implementámos nos últimos anos uma política de austeridade extremamente dura. Isso tem de ser respeitado por todos».

Uma verdadeira tragédia grega sem fim, uma União Europeia cruel que vai cavando a sua própria sepultura.

(Fonte)

14.12.16

Sapos? Saber engoli-los


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Dica (457)



The Man Behind Football Leaks. (SPIEGEL Staff) 
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Putin é o homem mais poderoso do mundo

14.12.1962 – Uma pesada condenação de Portugal na ONU



No fim do ano de 1962, a Assembleia Geral da ONU insiste nas condenações da política colonial portuguesa em várias resoluções, com especial destaque, pela sua dureza, para a 1807, aprovada precisamente em 14 de Dezembro por 82 votos contra 7 (Bélgica, França, Portugal, Reino Unido, África do Sul, Espanha e EUA) e 13 abstenções (onde se incluíam os restantes membros do «grupo NATO»).

Qual o seu âmbito?

– A Portugal, cuja atitude condenava, porque contrária à Carta, pedia a adopção das seguintes medidas:
a) Reconhecimento imediato do direito dos povos dos seus territórios não autónomos à autodeterminação e independência;
b) Cessação imediata de todos actos de repressão e retirada das forças, militares e outras, utilizadas com tal fim;
c) Amnistia política incondicional e liberdade de funcionamento dos partidos políticos;
d) Início de negociações, na base da autodeterminação, com os representantes autorizados, existentes dentro e fora do território, com o fim de transferir os poderes para instituições políticas livremente eleitas e representativas da população;
e) Rápida concessão de independência a todos os territórios, de acordo com as aspirações da população;

– A Estados membros dirigia um duplo convite, no sentido de pressionarem o governo português e de não lhe concederem qualquer assistência que favorecesse a repressão;

– À Comissão de Descolonização pedia a máxima prioridade ao problema dos territórios portugueses;

– Ao Conselho de Segurança, que, caso não fossem acatadas esta e as anteriores resoluções da Assembleia, tomasse medidas para Portugal se conformar às suas obrigações de Estado membro. 


Portugal manteve-se inabalável e a guerra continuou. Hoje, sabemos o resto da história. 
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Aleppo ontem: palavras para quê



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O mundo perigoso



«Ninguém sabe ao certo se existem leis que determinam o destino histórico dos povos ou da humanidade no seu conjunto e o debate entre os que acreditavam nesse destino e os que o contestavam ocupou uma parte importante dos últimos dois séculos.

Porém, seja qual for a nossa posição nesse debate, a verdade é que, devido à invenção da ciência moderna e ao desenvolvimento das tecnologias que ela permitiu, a maioria dos habitantes do planeta habituou-se a acreditar no progresso e a pensar que os seus filhos iriam viver melhor do que eles próprios. Fomos todos educados na esperança de que o conhecimento da Natureza e o seu crescente domínio pelo homem nos garantiriam cada vez melhores dias.

A primeira metade do século XX, com a sua explosão de violência e totalitarismos, que a ciência e a tecnologia não só não evitou como potenciou, pareceu contrariar a tese do progresso, mas o bem-estar económico que sucedeu à segunda Guerra Mundial numa grande parte do mundo permitiu pensar que a barbárie das primeiras décadas do século poderia ter afinal constituído uma vacina que iria garantir o nascimento de uma sociedade mais sustentável e mais justa no futuro. (…)

Mas algo mudou ao longo destes anos de aparente progresso. No espaço de poucas décadas, enquanto se ia impondo, em nome do progresso económico, uma ideologia que erigia como único valor a eficiência da produção e como única medida desse progresso o dinheiro, os pobres foram-se tornando excedentários. De factores de produção, problemáticos mas necessários, os trabalhadores começaram a tornar-se despesa, peso morto. E essa ideologia, o neoliberalismo, conseguiu ir injectando esse pensamento iníquo e anti-humanista por excelência no discurso político.

No mundo em que vivemos hoje, que descobrimos com surpresa e horror, a guerra aparece de novo como a solução possível para todos os conflitos, a tortura e o racismo readquirem direito de cidade, o discurso político abandona a racionalidade, os compromissos para com o planeta que deixamos aos nossos filhos parecem ser abandonados. (…) Não é apenas o mundo da pós-verdade na política, é o mundo da pós-moral e da pós-racionalidade. António Guterres diz que o caos pode ser a nova ordem internacional. Temos hoje de voltar a empunhar bandeiras que pensávamos arrumadas para sempre.» 

13.12.16

Grandes heroínas



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Dica (456)




«Our political masters are in league with the Syrian rebels, and for the same reason as the rebels kidnap their victims – Money.»
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A poesia vai acabar?



Não sei se «a poesia vai acabar», mas ela é certamente importante hoje, quando o silêncio faz tanta falta. 

A Poesia Vai Acabar

A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —
Manuel António Pina, in Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde.
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Um futuro que não seja velho



«A precariedade não é liberdade, muito menos oportunidade. A precariedade é uma praga que se alastrou a todos os setores, do espetáculo à Função Pública, dos supermercados aos gabinetes de advogados. A precariedade é um futuro velho, de praças de jorna e engajadores, com trabalhadores recrutados ao dia no Arsenal do Alfeite. São contratos diários ou semanais, mal pagos, renovados durante décadas nos call centers das grandes empresas. São anos de trabalho gratuito em estágios que nunca bastam para um emprego. A precariedade é o contrário do progresso, é a negação dos direitos conquistados pela dignidade do trabalho.»

Mariana Mortágua

Bob Dylan e a economia



«Os tempos estão a mudar e não só na política ou na economia. O galardão atribuído a Bob Dylan, o Nobel da Literatura, ainda parece a alguns um sapo difícil de engolir. (…)

Como Shakespeare, Dylan preocupou-se mais em encontrar os melhores músicos para tocar as suas canções. E, como diz, nunca se interrogou se as suas canções eram literatura. Como Shakespeare se preocupou sempre com a economia da sua música: permitir-lhe-ia sobreviver cantando, e fazer disso a sua vida?

As palavras de Dylan são uma lição de vida e um choque eléctrico em muitas convicções que descortinamos com demasiada facilidade em Portugal. Fazem pensar sobre a economia da cultura. Dylan conseguiu fazer a ponte entre a alta cultura e a cultura pop e a sua influência social foi enorme. O criador de "Blowin in the Wind" foi sempre fugindo do seu próprio êxito, criando rupturas como a que o tornou um proscrito quando agarrou numa guitarra eléctrica no festival de Newport, dominado por puristas. Foi trovador e contestatário, judeu e católico. O sucesso perseguiu-o sempre, apesar de tudo. E, sobretudo, nunca procurou a bênção do "establishment" nem das massas, esta cultura populista que agora sufoca as sociedades ocidentais. Não deixa de ser curioso que o Nobel, tendo nascido como um prémio literário, tenha sobrevivido como um aval político. E, até aí, o prémio dado a Bob Dylan vai contra a cultura hegemónica. Mesmo parecendo o contrário.»

Fernando Sobral

12.12.16

Dica (455)




«Um dia, a Itália será governada por um partido a favor da retirada do euro. Quando isso acontecer, a saída do euro transformar-se-ia numa profecia cumprida. Haveria uma corrida aos bancos italianos e aos títulos do tesouro.» 
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Espelho meu, espelho meu, haverá povo mais feliz do que o meu?



Num só dia, um SG da ONU e um Bola de Ouro. E um PR e um PM que continuam irritantemente felizes. 
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PSD congelou isso e muito mais



Ainda estamos no início do degelo.
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O calcanhar de Passos



«As sondagens são, muitas vezes, tão eficazes como Brutus quando se trata de terminar com uma carreira política. A da Aximage, que foi publicada na semana passada, é assustadora para Passos Coelho. Segundo ela, 60,3% dos portugueses acham que Rui Rio seria melhor líder para o PSD. Dentro do eleitorado social-democrata a opinião não é tão demolidora: a vantagem de Rio é de apenas 3%. A sondagem abre um debate interessante: o que é melhor para o país é pior para o PSD ou o que é ainda assim pior para o PSD é atraso de vida para o país? (…)

As facas e os garfos já estão sobre a mesa e Passos Coelho é o fiambre para a refeição. Compreende-se: o PSD esgota-se nas suas frases e nas de Maria Luís. Ninguém no país se comove com elas. Pior: estamos em Dezembro e a estratégia autárquica do PSD parece um conto de fadas. Lisboa, então, começa a assemelhar-se a um desastre eleitoral anunciado: com a recusa de Santana Lopes, Passos está perdido. Nem há táctica, nem estratégia. Só um imenso vazio de ideias. (…) Marcelo, em Belém, sorri. O momento do repasto aproxima-se. A guarda pretoriana avança. E Passos Coelho parece que ainda não percebeu que o próximo líder do PSD é capaz de não chegar num Citroën. Mas sim numa bicicleta. Para dar menos nas vistas.»

Fernando Sobral

11.12.16

Dica (454)




«La derrota de Renzi es una derrota del modelo de ruptura por arriba planteada por la troika para los pueblos del sur de Europa.» 
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Em Estocolmo foi assim



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Ausências


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O que desconhecemos



«A edição desta semana da revista Newsweek tem um robô na capa e a frase: "Esqueçam os emigrantes, são estes que vos vão substituir." O número é dedicado à nova economia assente na robótica e na inteligência artificial.

Descreve as profundas transformações em curso, os enormes investimentos e, como não podia deixar de ser, dá alguns exemplos dos efeitos no desemprego humano. Destaco um. Os carros sem condutor, que já são uma realidade, irão ter nos próximos anos um enorme impacto no setor dos transportes de mercadorias e em geral em todo o tipo de transporte. O motorista é uma profissão em vias de extinção. São milhões. A maioria não sabe fazer mais nada.

Mas esta Newsweek é interessante noutra perspetiva. A da ignorância.

Ignorância do que está a acontecer. A maioria das pessoas não se dá conta da evolução tecnológica e das suas implicações. (…) Ignorância também na responsabilização da crise económica. A Newsweek refere os emigrantes, na linha do pensamento primitivo de Donald Trump, mas o mesmo se pode dizer da Europa onde o emigrante é o culpado de tudo. No entanto, além das práticas catastróficas, não-produtivas e especulativas do sistema financeiro; além também de uma política capturada pelos muito ricos contra a maioria, cabe à evolução tecnológica a maior responsabilidade pela crise económica. (…)

A maioria dos media convencionais não está preparada, nem interessada, em tratar deste tipo de temas, preferindo consumir o seu e o nosso tempo com assuntos conjunturais. Entre outras coisas, como futebol e casos de polícia, dá-se uma excessiva relevância ao conflito político, aos partidos, aos políticos individualmente. Todos os dias, a todas as horas, ouvimos e vemos declarações, intrigas, trocas de insultos, na maioria dos casos sem o mínimo de interesse que não seja passar o tempo. É um evidente desperdício. (…)

Enfim, continuamos na estupidez natural enquanto a inteligência artificial se vai desenvolvendo.»