8.1.11

Socialismo?


Quando o governo cubano anunciou há alguns meses que ia dispensar um elevadíssimo número de trabalhadores, abrindo à iniciativa privada um certo número de actividades profissionais e assumindo que aqueles que eram até agora pagos pelo Estado aí encontrariam novos emprego, os que ainda defendem a versão caribenha do socialismo viram nas decisões de Raul Castro o mérito de decretar medidas anti-crise eficazes, que os países capitalistas não estão a saber encontrar.


Sucedem-se agora as histórias de quem recebe ordem de marcha... para casa, sem quaisquer perspectivas no horizonte, como esta que Yoani Sánchez relata no seu blogue.

«Era abogada en una empresa de Camagüey, hasta que el día de los Reyes magos le entregaron no un regalo sino el acta de su despido. Descorazonada, se llevó a casa el vaso plástico con el que tomaba agua en el trabajo y aquella planta de hojas pequeñas que adornaba su buró. En un primer momento, no supo cómo contarle al marido que ya no tenía empleo, ni siquiera llamó a sus padres para decirles que a su “niña” la habían dejado fuera con el nuevo reordenamiento laboral. Soportó y calló mientras comía en la noche y el noticiero nacional hablaba con optimismo sobre el nuevo camino para lograr la eficiencia. Sólo acostada y en la penumbra de la habitación, le explicó a él que no pusiera el reloj despertador, porque al otro día no tendría que levantarse temprano. Su nueva vida, sin trabajo, había comenzado. (…)

Sin embargo, lo que más angustia a esta mujer que ha caído en el paro no es el futuro de su empleador estatal, sino el rumbo que su vida personal tomará. Nunca ha hecho otra cosa que llenar actas, componer contratos, enmendar declaraciones. Sus diecisiete años de vida profesional los apostó a trabajar para ese patrón gubernamental que hoy la ha dejado en la calle. No sabe nada de peluquería, ni de las artes de una manicura como para abrir su propio salón de belleza; apenas si ha aprendido a manejar una computadora y no habla ningún otro idioma. Tampoco tiene un capital inicial para abrir una cafetería o invertir en la crianza de cerdos; lo único que se le da bien es analizar decretos de leyes, encontrar los intersticios en los artículos jurídicos. En el caso de ella, el despido es la despedida de su vida laboral, el regreso al fogón, la dependencia al hombre que todavía conserva su empleo; es el silencio perenne de aquel reloj que antes sonaba a las seis de la mañana.»

Se isto não é um despedimento, é o quê exactamente?
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Improvável?


Olhe que não...


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Reminder


É só para recordar que têm sido publicados muitos textos aqui ao lado. Destaco dois, das últimas horas:
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As presidenciais que aí vêm e a crise que já cá está


Sandra Monteiro acaba de publicar um texto importante no último número de Le Monde Diplomatique.

O que está em causa não é apenas escolher, dentro de alguns dias, o candidato que deverá ocupar o palácio de Belém durante os próximos cinco anos mas, antes disso, parar para pensar qual o papel que o actual presidente teve no período que agora termina e como se comportou perante a terrível crise que entretanto nos atingiu.

Os excertos que se seguem não dispensam a leitura na íntegra.

«Os eleitores podem optar por dar um sinal político forte de que não estão do lado da crise − nem da sua génese, nem das respostas que impedem que se lhe veja o fim. Se o quiserem fazer, serão úteis todos os votos que não recaiam no candidato Aníbal Cavaco Silva. (…)

Cavaco Silva é, assim, um protagonista activo, e talvez durante mais tempo do que qualquer outro político da actualidade, do processo do neoliberalismo à portuguesa, não um processo em que do constante ataque ao Estado resultem simples e generalizadas privatizações, mas antes uma permanente disputa pela reconfiguração do Estado de modo a que este seja, com os seus recursos, cada vez mais colocado ao serviço da acumulação do capital financeiro, da corrosão do Estado social e dos princípios de universalidade, de redistribuição e de igualdade que estão na base da construção de sociedades de bem-estar. (…)

Aquilo a que o candidato Cavaco Silva chama «aventura», quando se refere às escolhas que os portugueses podem sentir-se no direito de fazer, é no fim de contas um atestado de menoridade aos cidadãos e, em consequência, à própria democracia. (…)

Na sociedade da «fabricação do consenso» finge-se a neutralidade política e escondem-se os interesses, legítimos ou não, que se escondem por detrás das atitudes dos mais fortes (as dos mais fracos, pelo contrário, são sempre alvo de suspeição ou denúncia). Se assim não for feito, corre-se o risco de os cidadãos se entusiasmarem com a aventura da democracia: que se ponham a pensar e se informem; que não aceitem formar opinião sem ouvir pontos de vista realmente contraditórios; que sintam o prazer do debate e a responsabilidade de serem parte de uma decisão; que não se sintam impotentes por tudo ser decidido longe deles e independentemente da sua vontade. Neste tempo de deriva suicidária da União Europeia, em que certa política se diz refém dos mesmos mercados cujo poder ela construiu, as próximas eleições presidenciais podem dar um sinal de que muitos cidadãos não estão do lado da crise: nem da crise que lhes impõe a austeridade e as desigualdades, nem da que os menoriza como sujeitos políticos no quadro da democracia. Derrotar Cavaco Silva será derrotar o rosto desta dupla crise, económica e política.»

(Publicado também aqui.)
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Entretanto, no grande Mediterrâneo


Depois da Grécia e da Itália, também a Tunísia e a Argélia.
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7.1.11

Um pouco assustador

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Igreja e Guerra Civil em Espanha


No Público.es de ontem, pode ler-se um interessante texto de Vicenç Navarro – La Iglesia contra Jesús – em que o autor explica como, em Espanha, a Igreja «fez parte das estruturas do poder, tendo-se convertido, durante a ditadura, numa instituição chave na reprodução das relações de exploração, que permitiam o enriquecimento de grupos sociais minoritários à custa do mundo trabalhador».

Especialmente importante a descrição do comportamento da Igreja durante a Guerra Civil:

«El golpe militar de 1936 (que la Iglesia católica apoyó) liderado por el general Franco era la defensa de los intereses económicos y financieros de los grupos más privilegiados de la sociedad española, intereses que quedaban afectados por las reformas altamente populares llevadas a cabo por los gobiernos democráticamente elegidos durante la República. Entre estos grupos privilegiados estaba la propia Iglesia católica, que era una de las mayores propietarias de tierra, y por lo tanto, afectadas por la reforma agraria propuesta por la República. La Iglesia tenía también en los años treinta, 12.000 fincas rústicas y 8.000 edificios urbanos. La Iglesia era también la institución que ejercía un monopolio en la enseñanza, también afectado por las reformas educativas del Gobierno democráticamente establecido que favoreció el establecimiento de la escuela pública, medida también altamente popular.

De ahí que la Iglesia se convirtiera en el mayor portavoz de la resistencia a tales medidas, alentando públicamente al ejército a que se sublevara en contra del Gobierno democrático. Y cuando el golpe militar ocurrió, la Iglesia lo definió inmediatamente como una Cruzada, una cruzada que paradójicamente tenía en su vanguardia a tropas musulmanas, que eran las que la lideraban. No era de extrañar, por lo tanto, que cuando tuvo lugar el golpe militar sectores de las clases populares atacaran a las iglesias y al clero. Los excesos que ocurrieron en estos ataques (que deben criticarse) no debieran obstaculizar el entender (aunque no justificar) la enorme hostilidad existente hacia la Iglesia por parte de las clases populares que, traicionando el mensaje de su fundador, se había aliado con las fuerzas más explotadoras y oprimentes existentes en España, alianza que continuó durante la dictadura. Durante aquel odiado régimen, la Iglesia (con contadísimas excepciones) formó parte de él.

Esta institución fue, pues, una fuerza beligerante en aquel conflicto, y es de una enorme falsedad presentar a la Iglesia como “víctima”, como hizo recientemente Benedicto XVI. En realidad, su rol fue predominantemente victimizador. En muchas partes de España era la Iglesia la que confeccionaba la lista de los que la Falange o el ejército fusilaban, que eran, por cierto, los que defendían a un Gobierno democráticamente elegido. Y la enorme arrogancia que la caracteriza explica que no haya pedido ni siquiera perdón por su comportamiento a las víctimas, que pertenecían en su mayoría a las clases populares de las distintas regiones y naciones de España.»
(O realce é meu.)

P.S. - A ler também:
Es hora de que la Iglesia pida perdón por tantos actos de agravio.
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1Q84


Boas notícias para quem, como eu, se precipita quando sai um novo livro de Haruki Murakami: existe em Portugal um blogue que lhe é dedicado – Murakami PT – e por ele fiquei agora a saber que foi lançado no Japão o último dos três volumes de um novo romance – 1Q84 –, com tradução para português prevista para o próximo Outono, e com três capítulos em castelhano já disponíveis online.

Porquê 1Q84? Muito orwelliano, já que, em japonês, «9» é foneticamente semelhante a «Q» em inglês (kyu). Mas, ao contrário de Orwell, Murakami não tenta prever o futuro próximo mas sim imaginar o passado recente.

À espera...
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«Tenho a memória nos olhos»


No dia em que Lisboa presta a última homenagem a Malangatana (às 15h, nos Jerónimos), anúncio de um site.

«Nasce tudo dentro de mim. Quando começo a pintar não penso “agora vou pintar a condição humana ou a metamorfose”. (…) Gosto também muito de cantar e gostaria muito de saber compor. Quando estou a pintar, estou a fazer partituras. Gostaria muito que um dia alguém olhasse para a minha pintura e encontrasse nela uma canção que eu não cantei.»
(Jornal do Fundão 28.10.2009)


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Rios que vão (3)




Rio Mekong, Laos (2009)


6.1.11

Deutsche versus English


(Já vi algumas realidades ultrapassarem ficções bem mais inimagináveis!...)

The European Commission has just announced an agreement whereby English will be the official language of the European Union rather than German, which was the other possibility.

As part of the negotiations, the British Government conceded that English spelling had some room for improvement and has accepted a 5- year phase-in plan that would become known as "Euro-English".

In the first year, "s" will replace the soft "c". Sertainly, this will make the sivil servants jump with joy. The hard "c" will be dropped in favour of "k". This should klear up konfusion, and keyboards kan have one less letter.

There will be growing publik enthusiasm in the sekond year when the troublesome "ph" will be replaced with "f". This will make words like fotograf 20% shorter.

In the 3rd year, publik akseptanse of the new spelling kan be expekted to reach the stage where more komplikated changes are possible.

Governments will enkourage the removal of double letters which have always ben a deterent to akurate speling.

Also, al wil agre that the horibl mes of the silent "e" in the languag is disgrasful and it should go away.

By the 4th yer people wil be reseptiv to steps such as replasing "th" with "z" and "w" with "v".

During ze fifz yer, ze unesesary "o" kan be dropd from vordskontaining "ou" and after ziz fifz yer, ve vil hav a reil sensi bl riten styl.

Zer vil be no mor trubl or difikultis and evrivun vil find it ezi TU understand ech oza. Ze drem of a united urop vil finali kum tru.

Und efter ze fifz yer, ve vil al be speking German like zey vunted in ze forst plas.
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Arte Nova


Victor Horta nasceu há 150 anos e a Bélgica comemora.

Expoente máximo da arquitectura Art Nouveau, naquele país e não só, deixou vários edifícios emblemáticos em Bruxelas, que o jornal Le Soir recorda hoje com a publicação de um belíssimo conjunto de fotografias.

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Carta Aberta


No Público de ontem, uma interessante Carta Aberta a Mário Soares, por Rui Graça Feijó. Alguns excertos:

«Venho (…) lançar-lhe um desafio (à minha altura, que não à medida do seu papel na História da nossa modernidade): siga os ditames da sua consciência, mais uma vez homem livre que sabe bem os perigos e as ilusões que a fidelidade partidária acarretam, e apoie sem rodeios o candidato presidencial da sua preferência - que toda a gente sabe não ser o candidato apoiado pelo PS e que eu, há muito no mundo dos que não têm filiação partidária, também apoio. Milite na sua campanha. Empenhe-se com frontalidade na contenda eleitoral. Ajude a acrescentar um pouco que seja à aura do seu candidato e combata a abstenção eleitoral do centro e das esquerdas plurais que temos. E depois, se houver segunda volta como em 1986 e nela não estiver o seu candidato, retribua os sapos que muitos portugueses engoliram para votar em si e declare o seu apoio a quem estiver em liça contra o candidato da direita - assim como eu me comprometo a militar activamente nessas três semanas em prol de quem estiver em condições de disputar a presidência em nome da mudança. Acredito que não deixará de assumir este compromisso com espírito de fraternidade. (…)

Nada nos prepara melhor para o futuro que a convicção que há mudanças profundas a realizar - a começar pela Presidência da República.

Não vamos permitir que subsistam quaisquer dúvidas que, seja qual for o candidato presidencial que hoje apoiamos, ambos desejamos ver, em 9 de Março de 2011, um novo rosto no Palácio de Belém.»

(Na íntegra aqui.)
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5.1.11

Um outro Malanga


Já li dezenas de textos a propósito da morte de Malangatana, mas este será com certeza diferente.

Primeiro, porque tenho aqui perto, desde há muitos anos, este autoretrato que ele pintou numa folha do Record e me ofereceu – é exemplar único.

Segundo, porque talvez ninguém tenha andado aos saltos com Malagantana numa cama elástica e eu andei. E, desde esta manhã, é assim - a brincar e não com elogios fúnebres - que ele não me sai da cabeça e que me apetece referi-lo.

Era um daqueles fins-de-semana prolongados, com um feriado que os espanhóis sempre teimaram em não festejar connosco (5 de Outubro, se não me engano), e mandava a tradição que se desse uma saltada a Espanha, de preferência em grupo e em caravana. Badajoz era quase sempre o modesto destino mas, dessa vez, foi-se até Madrid nuns belos dias do Outono de 1972.

Já não sei bem como nem porquê, um dos serões acabou algures numa espécie de cabaré onde estava em cena um espectáculo mais ou menos ginasticado. A páginas tantas, pediram insistentemente que dois espectadores fossem ao palco e saltassem, alternadamente, em cada uma das pontas de uma cama elástica. O Malanga e eu decidimos entrar na brincadeira e, como ele nunca foi leve e eu ainda não tinha engordado, cada um dos seus impulsos fazia-me subir quase ao tecto, para grande gáudio de toda a assistência – voei, no sentido estrito da palavra, como nunca me aconteceu na vida, nem antes nem depois.

Ao longo dos anos, sempre que nos reencontrávamos, ele repetia, com aquele sorriso inesquecível e do tamanho do mundo: «Patrícia, temos de voltar a saltar numa cama elástica!». Mas não voltámos. Nem voltaremos. Porque o salto dele foi hoje solitário e enorme e rasgou definitivamente o elástico.
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Como princípio de conversa


(Imagem de Gui Castro Felga)
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Brancos e nulos «não», abstenção «nunca»!


Já foi dito e redito, mas talvez seja o momento adequado para recordar que na Constituição se afirma expressamente que, em eleições presidenciais, os votos em branco não são considerados «validamente expressos» (Artº 126, 1), afirmação que vem confirmada no Artº 10 de Lei Eleitoral para o Presidente da República, actualizada em 2006.


Assim sendo, e assumindo-se a possibilidade de um dos candidatos ser eleito à primeira volta (sejamos realistas…), não é necessário senão um exercício aritmético simples, que não faz mal nem aos que têm horror à Matemática, para se perceber que quanto menor for o número de votos «validamente expressos» daqueles que nunca votariam no referido candidato (ou seja, que não se abstêm, nem votam nulo ou branco), menor será também o que é necessário, por parte dos seus fieis seguidores, para chegarem a 50% mais um.

Concretizando e trocando por miúdos: se, «à esquerda», muitos se abstiverem ou votarem branco ou nulo na primeira volta (apesar do leque de candidatos disponível…), maior risco haverá de Cavaco, sem concorrência à direita, ser eleito em 23 de Janeiro. Portanto…

(Também aqui)
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Pessoal mas transmissível


«Não me incomoda que os EUA tenham os meus dados biográficos e biométricos ou o meu ADN. Eu próprio lhos forneceria se os EUA mos pedissem e calhasse de estar para aí virado. Incomoda-me (porque, que diabo!, os dados afinal são "meus") é que o Governo, a quem confiei esses dados para fins específicos como o BI (felizmente ou infelizmente não tenho, mas nesta altura já não estou certo de nada, cadastro criminal), os ceda, venda, empreste ou de qualquer forma negoceie sem me dar cavaco. (…)

Se ao menos pudesse trocar a foto! Na do BI pareço um terrorista curdo e isso já em tempos me causou problemas em Berlim quando tentei comprar um frasco de álcool numa farmácia ("Vocês, no Curdistão, não usam 'after shave'?", quis saber, desconfiado, o farmacêutico).

Um cidadão ou empresa que fizessem o que o Governo se prepara para fazer acabariam em tribunal por crime de abuso de confiança. Mas os governos estão acima das leis, não estão?»

Manuel António Pina, no JL.
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Rios que vão (2)




Rio Ganges, Varanasi (2005)

4.1.11

A… Pianíssimo


É um novo blogue que acabou de nascer e andarei também por lá nos próximos tempos.
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Paradoxos


Si la contradicción es el pulmón de la historia, la paradoja ha de ser, se me ocurre, el espejo que la historia usa para tomarnos el pelo. 

Ni el propio hijo de Dios se salvó de la paradoja. Él eligió para nacer, un desierto subtropical donde jamás ha nevado, pero la nieve se convirtió en un símbolo universal de la navidad desde que Europa decidió europear a Jesús. Y para más inri, el nacimiento de Jesús es, hoy por hoy, el negocio que más dinero da a los mercaderes que Jesús había expulsado del templo. 

Napoleón Bonaparte, el más francés de los franceses, no era francés. No era ruso José Stalin, el más rusos de los rusos; y el más alemán de los alemanes, Adolfo Hitler había nacido en Austria. Margherita Sarfatti, la mujer más amada por el antisemita Mussolini, era judía. José Carlos Mariátegui, el más marxista de los marxistas latinoamericanos, creía fervorosamente en Dios. El Che Guevara había sido declarado completamente inepto para la vida militar por el ejército argentino. 

De manos de un escultor llamado Aleijadinho, que era el más feo de los brasileños, nacieron las más altas hermosuras del Brasil. Los negros norteamericanos, los más oprimidos, crearon el jazz, que es la más libre de las músicas. En el encierro de la cárcel fue concebido Don Quijote, el más andante de los caballeros. Y para colmo de paradojas, Don Quijote nunca dijo su frase más célebre.Nunca dijo, ladran sancho, señal que cabalgamos. 

-Te noto nerviosa-, dice el histérico. -Te odio-, dice la enamorada. -No habrá devaluación- dice, en vísperas de devaluación, el ministro de Economía. -Los militares respetan la Constitución-, dice en vísperas del golpe de estado el ministro de Defensa.

En su guerra contra la revolución sandinista, el gobierno de los Estados Unidos coincidía, paradójicamente con el Partido Comunista de Nicaragua. Y paradójicas habían sido, al fin y al cabo, las barricadas sandinistas durante la dictadura de Somoza: las barricadas que cerraban la calle, abrían el camino.

Eduardo Galeano, El libro de los abrazos (via Facebook)
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Economia paralela, perpendicular ou lá o que é


Dizem-me que, ao fim da tarde do passado dia 31, alguns hipermercados de Lisboa pareciam ter sido vítimas de um assalto. Muitas prateleiras estavam praticamente vazias e não só porque todos quiseram ter em casa champanhe para festejar a chegada 2011, passas a serem engolidas em cima de um banco ou cuecas azuis para estrear no dia seguinte. Também não era possível comprar batatas, chocolates ou amêijoas.

Ameaça de guerra atómica ou de tsunami? Más notícias de última hora sobre a senhora Merkel? Não, apenas a subida do IVA no dia seguinte e um surto de poupança açambarcadora. É assim: a portugalidade em todo o seu esplendor.

No dia 1, seguiram-se a filas de portugueses em bombas de gasolina espanholas, onde chegaram depois de gastarem pelo caminho mais do que iriam poupar.

Mas o mais interessante é a notícia, divulgada pela ACAP, sobre vendas de carros durante 2010. Antecipando um novo ano péssimo, e queixando-se antecipadamente dele por todos os cantos, os portugueses compraram mais 38,8% de unidades do que em 2009 – cerca de 13% das quais em Dezembro, precisamente por causa da subida do IVA e da perda de outras benesses.

Não se trata de peanuts… Havia dinheiro debaixo dos colchões? O endividamento continua feliz e contente? É o canto do cisne? Não sei , pero que las hay
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3.1.11

Os sonhos molhados de Helena Matos


Helena Matos acordou há alguns dias cansada de tanto pesquisar para uma nova série de «Conta-me como foi», sentou-se ao computador e decidiu culpar Toni, o filho mais velho da família Lopes, por todos os desvarios de que hoje somos vítimas – exemplar certamente típico da «geração [de 60] que, não só nos tem governado, como também construiu o mundo imaginário onde vivemos» e que engloba «muitos daqueles que foram jovens um pouco antes ou depois dessa década ícone».

Como a autora não é ignorante, não fala de extraterrestres, nem sequer do Maio de 68 francês, (mas sim de Portugal, de Os Maias e de desejos de Salazar empalhado) e, para além disso, faz acusações relacionadas com factos mais do que recentes (como malefícios de mercados e decisões da senhora Merkel,) é difícil perceber qual é exactamente o alvo que tem em vista.

Quem é que nos governa, ou tem governado recentemente, que tenha sido jovem pouco antes ou pouco depois da década de 60? Sócrates tinha deixado as fraldas há pouco no início e entrava na adolescência no fim, o mesmo se passando aliás com Durão Barroso e Santana Lopes. Mesmo Teixeira dos Santos não tinha acabado o liceu quando arrancaram os anos 70 e  nem com uma lupa se descobrirá, no actual governo, quem possa posar para a fotografia. E se quisermos recuar até António Guterres, todos nos recordamos certamente dele, em jovem, como acérrimo defensor do flower power, a caminho de S. Francisco...

Helena Matos também pode querer chegar ao presidente da República e atingir o dr. Cavaco, mas esse nunca alimentou sonhos de ninguém – nem os próprios - e representa tanto a década de 60 como eu os defensores do lince ibérico. Soares já não era jovem na época em questão e Eanes andava aos tiros em África. Resta Sampaio para figurar no tal ícone – com todo o peso da Nação às costas e a reitoria da Clássica como pano de fundo.

A geração de 60 já saiu de cena em Portugal e não é «uma das primeiras em décadas e décadas a ser sucedida por outras que viverão pior». Porque se eu quisesse cair em generalizações fáceis como as do texto em questão, e não quero, diria que a geração que se seguiu imediatamente – a de 70, que é a de Helena Matos – viveu e está a viver muitíssimo bem. Essa, sim, é a safra de Durão, Santana e Sócrates, de dezenas de políticos, jornalistas e comentadores que sonharam ou não com revoluções à chinesa, e depois se entusiasmaram com o El Dorado do consumismo fácil, que alimentaram sonhos megalómanos e tristes que agora acabaram por ruir como baralhos de cartas. Sem que isso os atinja pessoalmente de maneira significativa, como é óbvio.

Usando os seus trunfos, errou por dez anos, dra. Helena Matos. Foram vocês que falharam.

P.S. – Já tinha escrito este post quando li um outro, de Miguel Madeira, que tem uma perspectiva semelhante nalguns pontos. E recomendo a leitura do que Vítor Dias escreveu, já há alguns dias.
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Uma edição a fixar


A capa do Népszabadság, um dos maiores jornais húngaros, que hoje publica, nas vinte e duas línguas da União Europeia: «A liberdade imprensa acabou».

Entrou anteontem em vigor uma lei extremamente restritiva do exercício da liberdade de imprensa, precisamente no dia e no país que preside aos destinos da Europa durante os próximos seis meses.

«Detentor de uma maioria de dois terços no Parlamento, o Governo de Viktor Orban aprovou, a 21 de Dezembro, uma lei que fixa multas de até 750 mil euros aos autores de notícias que "não sejam politicamente equilibradas", ofendam a "dignidade humana", "o interesse público" ou a ordem moral". Ofensas vagas que caberá à nova entidade reguladora - e aos seus membros, todos nomeados pelo Governo - interpretar, aplicando a respectiva punição a televisões, jornais, rádios e até blogues, mesmo aos que operam fora do país. Os reguladores podem também ter acesso às notícias antes da sua publicação e os jornalistas ficam obrigados a revelar as suas fontes quando esteja em causa a "segurança nacional". (…)

Mas Orban quis ir mais longe. Criou uma única direcção para todos os meios de comunicação públicos, que passam a transmitir apenas notícias produzidas pela agência estatal - o objectivo, alega o Governo, é racionalizar os custos.»

Que se saiba, não foi entretanto suspensa a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que define expressamente no seu Artigo 11:

Liberdade de expressão e de informação
1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir informações ou ideias, sem que possa haver ingerência de quaisquer poderes públicos e sem consideração de fronteiras.
2.São respeitados a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social.

Assim sendo, Monsieur Barrôso et amis?...

(P.S. - E se, amanhã, um outro país for contra o que está estabelecido no Artigo 2 da Carta em questão?)
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Epílogo


«Tiene apenas treinta y dos páginas y una sobria cubierta azul. El pasaporte cubano parece más un salvoconducto que una identificación. Con él podemos saltarnos la insularidad, pero su tenencia tampoco garantiza que logremos tomar un avión. Vivimos en el único país del mundo donde para adquirir dicho documento de viaje hay que pagar en una moneda diferente a la que se reciben los salarios. Su costo de “cincuenta y cinco pesos convertibles” significa para un trabajador promedio guardar el sueldo íntegro de tres meses en aras de conseguir ese librito de filigrana y hojas numeradas.»

Até um dia – porque ele virá – em que nenhum Fariña precisará de sair de Cuba.

(Daqui)
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2.1.11

Rios que vão (1)





Rio Li Jiang, Guilin, China (2004)
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Os cisnes negros de 2011


«11 especialistas da Europa, Ásia, Austrália e América do Norte adiantam 11 temas para estar de olho no próximo ano e alvitram como "cisnes negros" mais negros o rebentar da "bolha" na China e nas matérias-primas.»

«Para 2011, os candidatos a 'cisnes negros' são vários - a zona euro fragmenta-se (o que é desejado por muitos); rebenta uma guerra de projeção internacional inesperada, sobretudo na Ásia (uma região do mundo em que "nenhum vizinho parece gostar do outro", como nos disse Michael Pettis, professor em Beijing); a libra e o dólar resolvem fazer uma fusão atrapalhando a vida ainda mais ao euro e ao renminbi, alvitra o consultor indiano Ashutosh Sheshabalaya; a China e a Índia, apesar dos ódios recíprocos, resolvem solidificar uma aliança asiática contra a supremacia americana no mundo e a União Europeia e a Rússia oficializam o "namoro" por seu lado com o mesmo fito.

Mas há outros dois "cisnes negros" que sobressaem no consenso dos 11 entrevistados pelo Expresso em vários continentes. A China e as commodities estão no centro do improvável - o rebentar de "bolhas" especulativas é rejeitado como pura fantasia pelos analistas respeitáveis.»

Um texto importante de Jorge Nascimento Rodrigues no Expresso online, versão desenvolvida do que foi publicado em papel, em 30/12/2010.
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Ameaças para 2011 (2)


(Desenho de Cristina Sampaio, via Facebook)
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Revolta ou nem por isso


«Por que razão é que os portugueses não se revoltam perante a imposição destas medidas de austeridade tão violentas?
Reformularia a pergunta para "porque é que ainda não se revoltaram?", ou faz parecer que nunca se revoltarão. Basta lembrar que também pensávamos que não haveria mudança na sociedade portuguesa devido aos nossos brandos costumes, e houve o 25 de Abril. (…)
Sabemos que não são as desigualdades sociais nem as formas de empobrecimento que automaticamente provocam contestação, ou os sistemas despóticos não tinham funcionado. Os sistemas mais autoritários e desiguais criam formas de resignação que tiram às pessoas a capacidade de autonomia para se revoltarem. Ficam com medo do patrão e do que lhes pode acontecer, ou seja, não é automático que o agravamento das condições económicas leve à contestação política.

Mesmo em democracia?
É evidente que as situações de conflito vão surgir em Portugal e em toda a Europa. É evidente que, quando se fala de contágio dos mercados, não se deve pensar que está apenas a esse nível mas que quando os portugueses vêem os espanhóis, os gregos ou os franceses a revoltar-se é natural que se questionem: "Afinal, por que razão é que nós não nos revoltamos perante uma situação que até é mais injusta?" É bom não esquecer que Portugal tinha em 2009 as contas muito mais equilibradas do que a Grécia ou a Irlanda.»

Boaventura Sousa Santos, em entrevista ao DN de hoje.
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