2.1.11

Revolta ou nem por isso


«Por que razão é que os portugueses não se revoltam perante a imposição destas medidas de austeridade tão violentas?
Reformularia a pergunta para "porque é que ainda não se revoltaram?", ou faz parecer que nunca se revoltarão. Basta lembrar que também pensávamos que não haveria mudança na sociedade portuguesa devido aos nossos brandos costumes, e houve o 25 de Abril. (…)
Sabemos que não são as desigualdades sociais nem as formas de empobrecimento que automaticamente provocam contestação, ou os sistemas despóticos não tinham funcionado. Os sistemas mais autoritários e desiguais criam formas de resignação que tiram às pessoas a capacidade de autonomia para se revoltarem. Ficam com medo do patrão e do que lhes pode acontecer, ou seja, não é automático que o agravamento das condições económicas leve à contestação política.

Mesmo em democracia?
É evidente que as situações de conflito vão surgir em Portugal e em toda a Europa. É evidente que, quando se fala de contágio dos mercados, não se deve pensar que está apenas a esse nível mas que quando os portugueses vêem os espanhóis, os gregos ou os franceses a revoltar-se é natural que se questionem: "Afinal, por que razão é que nós não nos revoltamos perante uma situação que até é mais injusta?" É bom não esquecer que Portugal tinha em 2009 as contas muito mais equilibradas do que a Grécia ou a Irlanda.»

Boaventura Sousa Santos, em entrevista ao DN de hoje.
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2 comments:

Diogo disse...

Não deveria a revolução ser a primeira causa de um homem que perde o emprego e percebe que vai deixar de poder pagar as prestações da casa e as refeições dos filhos?

João do Lodeiro disse...

"É bom não esquecer que Portugal tinha em 2009 as contas muito mais equilibradas do que a Grécia ou a Irlanda.» Será que tinha?! Depois de ter ouvido o desabafo do Henrique Neto, sinceramente, duvido. Depois, os portugueses são, como soi dizer-se, "um povo de brandos costumes". Não sou sociólogo, como o grande BSS, mas diria que Salazar deve ter tido muito a ver com isso. Em relação à revolução, ela virá, mais tarde ou mais cedo. Os ciclos da história sempre se renovaram. Pena que não seja Portugal a dar o exemplo. Os franceses sempre tiveram o condão de nos mostrar o caminho...