Restam três dias de campanha e jogam-se as últimas cartadas em ruas, palcos, feiras e até em gabinetes de Belém.
Tudo leva a crer que «les jeux sont faits», ou seja que o PS ganhará, com maior ou menor margem, e que o Bloco passará a terceira força - as sondagens que sairão amanhã e depois reforçarão, muito provavelmente, esta «crença». E, no entanto, os dois partidos do centro continuam a esgrimir a arma do voto útil, em todas as direcções, numa tentativa de dramatizarem o dilema e de despertarem um eventual sentimento de culpa nos que querem votar mais à direita ou mais à esquerda.
O argumento também vale para o PSD (que pouco me interessa), mas fixemo-nos no caso do PS. Tudo se passa na campanha e na blogosfera (e de que maneira…) como se não fossem os seus dirigentes e o actual governo os únicos responsáveis pela diminuição drástica no número de votos, pela falta de maioria absoluta ou até por uma eventual, embora pouco provável, vitória do PSD. Como se alguém tivesse roubado esses votos ao PS e não tivesse sido ele a perdê-los ao longo dos últimos anos.
Temos assistido às mais variadas vitimizações e a todos os ataques imagináveis. Aparentemente, eu e mais 20% de malandros, que vamos votar no BE ou no PCP, devíamos sentirmo-nos obrigados a salvar agora a situação com o tal voto útil – tristemente, de corda ao pescoço, de olhos vendados ou engasgados com um sapo na garganta. Do mesmo modo que, a 28 de Setembro, seremos certamente considerados responsáveis pela viabilização de um governo minoritário do PS, «forçando» aqueles em quem votámos a aceitá-la, com o mínimo de hesitações possível.
Mas, no ponto a que chegámos, o que é desejável é que, na nova AR, os partidos à esquerda do PS estejam tão fortalecidos quanto possível. Não se trata de um bando de malfeitores, mas de pessoas que querem tudo fazer - juntamente com o PS, evidentemente -, para que este país progrida e saia dos últimos lugares em quase todas as estatísticas. Será necessário negociar muito, respeitar, ceder – a democracia portuguesa amadurecerá, finalmente.
Se tudo se passar assim, é uma nova etapa, absolutamente imprevisível ainda há poucos meses, que deve ser aberta com profissionalismo, entusiasmo e vontade de vencer - e, também, com a alegria que ainda resta de uma 5º feira de Abril, que só aconteceu há trinta e cinco anos.
(O título deste post foi roubado a Júlio Machado Vaz)