7.7.12

De duque a doutor



«A actual sociedade portuguesa é bem surpreendente. Temos um chefe dos patrões que foi sindicalista na juventude, e um ex-líder sindical que é doutor por extenso com todo o mérito. 

Paralelamente, desenvolveu-se a prática de activistas das jotas partidárias dos anos noventa correrem para as universidades, já no século XXI, para adquirirem uma licenciatura que lhes franqueie um rito de passagem para a senioridade.» 

Vale a pena ler na íntegra. 
.

No Verão, era assim



Na primeira metade do século XVIII, a cidade de S. Petersburgo viu-se rodeada de palácios e parques sumptuosos, onde os czares e os seus próximos passavam os meses de Verão.

O mais célebre é sem dúvida Peterhof (Jardim de Pedro), a 30 quilómetros da antiga capital russa, um extraordinário conjunto de edifícios e de jardins, mandado construir por Pedro o Grande.

O centro é o Grande Palácio que hoje vi demoradamente e que não tinha podido visitar quando cá estive há nove anos (não me recordo se por estar em obras ou se por ser dia de encerramento semanal).

Peterhof é inspirado em Versailles, mais pequeno, mas com fontes e cascatas em maior número e mais espectaculares – o seu verdadeiro cartão-de-visita. Um canal liga o Grande Palácio ao Mar Báltico, mais concretamente ao Golfo da Finlândia. Os jardins são lindíssimos.

O interior do Palácio é superluxuoso (infelizmente, não é permitido tirar fotografias e as que reproduzo são recolhidas na net) e sublinhe-se que uma parte significativa do recheio foi retirada e transportada para outros locais da Rússia antes dos ataques alemães durante a II Guerra Mundial, o que permitiu uma reconstituição fiel, que teve início logo em 1947. 

Enfim, Pedros e Catarinas não viviam nada mal!... Mas claro que Peterhof foi aberto ao público desse 1917 e é hoje visitado por multidões de turistas do mundo inteiro. «Vaut le voyage», como me diz o meu (excelente e recentíssimo) Guia Michelin – sem dúvida. 





.

E ainda quanto ao dr. Relvas



Afinal, parece que só se terá «licenciado» em Geoestratégia, Geopolítica e Relações Internacionais. Só professor dessa cadeira o viu pela Faculdade. 

E agora? Tudo bem, Fica-se por aqui?
.

6.7.12

Sobre o tema da semana



Estou muito longe, confesso que li um pouco na diagonal o texto do Acórdão do Tribunal Constitucional, mas não cesso de me admirar com as opiniões díspares que tenho visto por aí, por vezes onde menos espero encontrá-las. Para já, revejo-me neste texto (suave…) de Medeiros Ferreira:  


«O Acordão do Tribunal Constitucional 353/2012 é um monumento de criatividade política desse tribunal, sobretudo no respeitante à restrição dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade das normas do OE sobre a suspensão do pagamento das prestações dos subsídios de férias e de natal.Se as normas são inconstitucionais, das duas, uma: ou o governo era obrigado a restituir todo o valor do confisco desde Janeiro, ou, pelo menos, devia pagar o próximo subsídio a contar da data da decisão sobre a matéria submetida a esse Tribunal por um grupo avulso de deputados. As considerações de análise política do TC para adiar para 2013 a plena observância da CRP são um acto de cinismo que o desacredita. O «grupo de deputados» que impugnou o OE sai de cabeça erguida. De cabeça baixa ficam os grupos parlamentares do PS e do PCP, mais o PR passa-culpas.

O governo, é claro, sente o terreno favorável para responder nivelando o «princípio da igualdade» aos trabalhadores da «privada». Mas não se fie muito nas aparências...»


Ler também, de André Couto, Estado de choque Constitucional (1) e (2) 
.

Prazer e frustração



Passar umas horas no Hermitage, em S. Petersburgo, resulta num misto de prazer e de frustração. Prazer pela razão óbvia de se estar num dos grandes museus deste mundo, frustração porque se sabe, desde que se mostra o bilhete que faz girar o torniquete de entrada, que se sairá, quando o relógio e o corpo já não aguentarem, tenho provado o manjar do rei sem hipótese de o apreciar devidamente. 

Foi o que me aconteceu hoje pela segunda vez. Revi sobretudo pintura, clássica e moderna, também exposições temporárias, (entre as quais uma de Calatrava onde nem faltava uma maqueta da «nossa» Gare do Oriente, sem chuva, nem vento…), revi com prazer redobrado os extraordinários espaços do museu, a arquitectura dos diferentes palácios que o compõem – sobretudo os tectos, as arcadas, os lustres. Ficam aqui alguns, como «amostra» (sim, porque não vou pôr fotografias «manhosas» de Rembrandts, Picassos ou Matisses...). 

O dia terminou com uma excelente Madame Butterfly no Teatro Mariinsky e a viagem aproxima-se vertiginosamente do fim… 






5.7.12

Já que estou na terra deles



.

Chamem-lhe Veneza do Norte



… ou o que quiserem, mas custa-me muito crer que alguém já tenha estado em S. Petersburgo e não inclua esta cidade na lista das Top10 das suas preferências, por muito que já tenha visto por esse mundo fora. 

É um luxo estar a revisitá-la, imponente, magnificamente conservada, com os seus 400 palácios, 260 museus, 557 pontes e nem sei quantas ilhas. Para além, como é óbvio, de se tropeçar na História a cada esquina, em cada túmulo e num sem número de outros detalhes. 

Hoje foi dia de percorrer ruas e mais ruas, algumas catedrais e de dar uma longa volta de barco pelo Neva, afluentes e canais – uma bela visão de conjunto. Amanhã, entre outros programas, será o regresso ao Hermitage, o tal museu em que seria necessário passar sete anos, a tempo inteiro, para ver só o que está exposto… 

Podia dizer muito mas as imagens falam por si – e por mim.


Catedral de S. Nicolau



Catedral de Santo Isaac (exterior e interior)





Prédio onde morou Tolstoi quando veio a S. Petersburgo lançar Anna Karenina.



 O famoso Aurora.


Etc, etc, etc.

.

4.7.12

E la nave va



Enquanto eu viajava neste calmíssimo comboio, que me trouxe de Moscovo a S. Petersburgo, um impecável wi-fi deu-me tempo para tudo, até para receber um mail em que me era explicado que, afinal, o dr. Relvas fez a licenciatura num ápice porque Silva Carvalho lhe enviava as respostas aos testes por sms ou clippings (sei lá!...) e que o também dr. Passos Coelho andou por aí a fugir por umas portas e a ser reencontrado noutras travessas. 

Mas que país – que até seria cómico se não fosse trágico, mas que é muito estranho visto de longe! 
.

Este ainda precisava de mentir às tias



… para elas acreditarem que era doutor.

Agora está tudo facilitado: fabricam-se mesmo doutores e os enganados somos nós.
.

3.7.12

Suzdal: três estrelas no Michelin



Sai-se de Moscovo, segue-se para Nordeste, passa-se por várias cidades do chamado «Anel Dourado» (Serguiev Possad, Vladimir,…), chega-se a Suzdal e «aterra-se» num outro planeta.

Fora do tempo, cheia de pequenas casas de madeira, Suzdal é uma pequena povoação lindíssima, desde 1967 classificada como monumento histórico.

A não perder: o museu de arquitectura em madeira, as várias igrejas, dentro e fora do Kremlin, com cúpulas e mais cúpulas, interiores com belíssimos frescos, a igreja em pedra branca com motivos que fazem lembrar o nosso estilo manuelino.

E, sobretudo, o ambiente, a calma e o excelente Sol (enfim, nada estaria perdido se estivesse um pouco menos de calor…).

Amanhã? Rumo, de comboio, até S. Petersburgo. Onde já estive há nove anos, mas que tenho a maior das vontades de rever / reviver.






..

Abro um parêntesis



… nas férias e nas lonjuras (estou em Suzdal, algures na Rússia), porque um texto de Nuno Ramos de Almeida (NRA), publicado hoje no «i» e que li quando ainda era madrugada em Portugal, me acompanhou o resto do dia, como pano de fundo de visitas a catedrais e monumentos vários. 

Já me tinha apercebido de que a manifestação dos desempregados, no passado Sábado, tinha tido poucos participantes, apesar do grande esforço de mobilização de vários movimentos envolvidos. Porquê? NRA refere vários motivos possíveis, mas estou em crer que vão dar todos a uma mesma raiz: ao estado de relativa inacção em que nos encontramos, «mais responsável pelo nosso desastre do que pelo nosso progresso», ao contrário do que os elogios que nos são feitos querem fazer crer, à «construção de um capitalismo clientelar» a que nos habituámos nos últimos trinta anos. 

Saí daí há menos de uma semana, tenho seguido, embora por alto, discussões acaloradas de questões que nem chegam a ser de lana-caprina mas que «vendem», sobretudo nas redes sociais, como pãezinhos de leite. E foi preciso chegar a este texto do Nuno para poder transcrever, sublinhar e realçar apenas isto: 

«Portugal precisa de criação de alternativas, mas elas passam pelo crescimento de uma contestação social que torne intolerável no país as políticas da troika e os governos que as servem.» 

O resto é gargarejo.
.

2.7.12

Loucuras da humanidade



Esta catedral de Moscovo – a de Cristo Salvador – foi concluída e consagrada em 31 de Dezembro de 1999. Tem dimensões impressionantes, quatro cúpulas douradas, uma decoração interior fulgurante, riquíssima e altamente complicada. 

Mas voltemos atrás. Em 1812, Alexandre I decide mandar construir uma catedral, como agradecimento a Cristo por Napoleão não ter conseguido ocupar a Rússia. Muitas peripécias depois, a igreja acaba por ser inaugurada em 1883, já no tempo de Alexandre III. 

Em 1931, Estaline considera que o local é ideal para um gigantesco Palácio dos Sovietes, com cerca de 500 metros de altura e uma estátua de Lenine no topo. Manda dinamitar a catedral, mas alguns contratempos de ordem técnica e, sobretudo, a aproximação da guerra, fazem suspender o projecto. 

Em 1958, o espaço passa a ser ocupado pela maior piscina ao ar livre do mundo, por decisão de Nikita Khrushchev. 

Mas, em 1988, «reinava» Mikhail Gorbachev, surgiu a ideia de reconstituir, com todo o pormenor e nem sonho a que preço, o edifício inicial. E a novíssima / velha catedral foi oficialmente reinaugurada em Agosto de 2000. 

Só eu é que acho tudo isto um pouco… louco?! 
.

1.7.12

«Um palácio para o povo»



Com um luxo decorativo único no género, montra dos sucessos do socialismo, inaugurado em 15 de Maio de 1935, o metropolitano de Moscovo é incontornável e merece, sem qualquer espécie de dúvida, que se lhe dedique o tempo necessário para ver algumas das mais de 200 estações de que dispõe actualmente.

Algumas são fabulosas arquitetonicamente, todas as que vi são lindíssimas em termos de decoração. Relevo especial para a «Praça da Revolução», com as suas dezenas de estátuas em bronze, sendo a de um homem com um cão a mais popular: os moscovitas passam e afagam o nariz do animal, ao mesmo tempo que exprimem um desejo.

Não me levaram a visitar a de Kurskaya-Koltsevaya, objecto de polémica há cerca de três anos quando nela foi recolocada, depois de obras, uma frase retirada de uma versão de 1944 do hino soviético: «Estaline ensinou-nos a lealdade ao povo, inspirou-nos no trabalho e nos feitos heróicos». 

É fácil regressar de metro ao hotel, já sem guia russa? Enfim, mais ou menos… Perguntar é inútil, ninguém vos entende ou faz por isso. Conselho: fixar a localização da estação pretendida no mapa; fotografar o mapa; ir andando com a imagem aumentada por zoom; comparar o «boneco» do nome da estação com o que se vai vendo indicado, entre centenas de outros «bonecos». Funcionou. E sempre é mais fácil do que em Tóquio…





...

Moscovo: mudaram-se os tempos (2)