7.9.13

Esperteza saloia?



Nada tenho contra a esperteza dos ditos saloios, antes pelo contrário, mas constato que o discurso político está «a subir» de nível. Em resumo, estão bem um para o outro
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Fim de férias



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O G20 é que sabe



(Em Libération)
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Portugal esvazia-se e envelhece



«Apesar do sucesso das medidas que fomentam a manutenção dos jovens no sistema de ensino, as previsões apontam para um decréscimo cada vez mais acentuado à medida que o efeito de onda resultante do alargamento da escolaridade obrigatória for sendo sobreposto pela quebra de cerca de dez mil novos alunos à entrada, nos últimos cinco anos», afirma a Direcção Geral de Estatística da Educação e Ciência.

Os efeitos do austeritarismo, que têm impacto no número de filhos (ou na ausência deles) num número crescente de famílias, a emigração em massa de milhares de jovens e o regresso a casa de muitos imigrantes que contribuíram fortemente para a natalidade nas últimas décadas, juntamente com a longevidade crescente dos mais velhos, são certamente os principais factores para que o país se mantenha como o tal jardim à beira-mar plantado, mas cada vez mais cinzento.

Em vésperas de abertura de mais um ano lectivo, é triste, bem triste, que o facto de não vermos as escolas mais vazias se deva apenas ao facto de outras, muitas outras, já terem encerrado portas. Será alto o preço que um dia será pago.
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6.9.13

A Constituição fez desempregados?



Ricardo Araújo Pereira regressou e assinalo aqui a rentrée, embora não tencione manter a periodicidade anterior da sua presença neste blogue – «sairá» de vez em quando.

«O programa do Governo fez mais pelos desempregados em dois anos do que a Constituição em 37. Ou talvez seja abusivo dizer que o programa fez muito pelos desempregados. É mais correcto dizer que fez muitos desempregados. Mas é quase a mesma coisa.»

Na íntegra AQUI.
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Dinossauros Excelentíssimos



No dia deles, é-me impossível não recordar este texto de José Cardoso Pires, em Dinossauro Excelentíssimo, 1972 (dedicado a Salazar, eu sei...)

O homem que veio do nada

Supõe-se, está vagamente escrito, que esse imperador veio realmente do nada. Que nasceu algures numa choupana, filho de gente-nada ou pouca-coisa, camponeses ao desabrigo. Que muito possivelmente estudou por cartilhas de aldeia; por catecismos, também. Mais: a acreditar nos compêndios das escolas, teria vindo ao mundo iluminado por Deus ─ e tanto assim que, ainda muito mocinho, fez ciência entre os doutores.

Nessa altura chamava-se Francisco ou Vitorino; Adolfo, talvez Adolfo Hirto; ou Benito Marcolino, Zé Fulgêncio, Sebastião Desejado ─ não interessa. O que interessa é que quando deram por ele já tinha outro nome: Imperador, Dinosaurus Um, Imperador e Mestre. Palmas.

«VIVA O MESTRE IMPERADOR!»
«VIVÓÓÓ...»

Teria tido infância? Mistério: neste ponto, os cronistas tropeçam no aparo e saltam uns anos. Limitam-se a afirmar que já em criança tinha a marca inconfundível dos chefes, como mais tarde se havia de provar quando o Reino apareceu assinado de ponta a ponta com o nome dele:

Avenida Dinossauro Primeiro
Casino Dinossauro
Banco do Reino / Dinnosaurus Imp.
Aeroporto do Imperador
Real Academia Dinossaura
Dinossauro Futebol Clube
Edifício Dinossauro
Bacalhau à Mestre Imperador
Correios do reino / selo comemorativo / Dinossauro Primeiro, Pai da Pátria
Fado Imperador, consumo obrigatório
Dinossauro há só um (provérbio corrente)

Saber & Autoridade era o seu lema; sua arma o Silêncio. E sendo assim, tão orientado, é de admirar que tenha atingido o poder que atingiu? Não estaria destinado por natureza a escapar às leis da morte, uma vez que, sabe-se agora, toda a sua vida tinha sido feita á margem das leis dos vivos? 
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Na desunião europeia



«Ainda bem que órgãos de outra soberania que não a política – como o nosso Tribunal Constitucional – vão, para já, travando o abalroamento do pouco que ainda resta do modelo social e da economia real. (...)

Há um silêncio europeu vulgarizante que não augura nada de bom: o problema do Euro está rigorosamente na mesma, e em 5 anos todos os intervencionados "piigs" pioraram a sua situação social (eufemismo para "sofreram o que não mereciam") apenas para verem a sua situação de dívida soberana agravada também. É ridículo dito assim, mas não é por ser ridículo que deixa de ser mentira: objectivamente, os países do Sul e a Irlanda estão a financiar a Alemanha e em troca recebem nada.

O neo-liberalismo acaba onde acaba o dinheiro dos outros; e este modelo está esgotado porque a classe média, que o financia, pura e simplesmente não pode mais. (...) Mexer numa Constituição nestas condições – e com um ministro das Finanças demitido nas 48 horas mais onerosas da História da política portuguesa – é um acto inconsciente; as consequências incomensuráveis são um risco pior que qualquer "swap". (...)

Em alemão, "schuld" quer dizer dívida, mas também quer dizer "culpa", numa coinicidência semântica que pode vir a crescer ainda mais em impacto: o terceiro resgate à Grécia, bem como o segundo a Portugal, bem poderão vir a transformar este jogos de palavras em algo mais sério, sobretudo se nos lembrarmos que o primeiro banco a falir em euros era alemão (o Hypovereinsbank) e que os alertas sobre a situação bancária na Holanda se sucedem para quem os quer ouvir e pensar a Europa para lá desta calma de morte.»

Nicolau do Vale Pais
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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5.9.13

Pequeníssimas maravilhas



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Demasiado para um só dia



O papa escreve uma carta a Putin que não quer intervenção na Síria pedindo-lhe que impeça a mesma, o Bloco de Esquerda retira (e muito bem) o apoio a uma das suas candidaturas porque ela era apoiada por um blogue com comentários xenófobos contra ciganos, Pedro Lomba diz que a importação de cérebros é também uma forma de reter os nossos cérebros para sair da crise e eu começo a não me sentir lá muito bem.
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Que ninguém fique só no meio crise




Por Jorge Costa e Bruno Cabral.
Filmado em julho de 2013 na região de Atenas, este mini-documentário dá a conhecer algumas das redes de solidariedade e ajuda mútua erguidas pelas vítimas da austeridade e pela esquerda grega. 
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Obama: onde já vão as expectativas de há 5 anos...



... para já não falar do Nobel da Paz!

«O Senado vai autorizar não uma guerra contra Damasco, mas um bizarro videojogo sem tropas terrestres, com "game over" ao fim de 90 dias. O interesse nacional de colocar o poder aéreo americano ao serviço dos autores do ataque às Torres Gémeas escapa-me completamente. Afinal, razão tinha um colega americano, "exilado" numa universidade dinamarquesa, golpeando o meu entusiasmo por Obama: "Estás a pedir demasiado a um advogado de Chicago..."»

Viriato Soromenho Marques

4.9.13

É tão bom, não foi?



Jornal de Negócios
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Ainda sobre a Síria



Ler: Obama, Hollande e o tempo perdido, de Ana Sá Lopes.

«Obama e Hollande, as duas últimas esperanças da esquerda europeia, estão em vias de embarcar juntos num inconcebível ataque à Síria. As coisas nunca foram simples, mas estão cada vez mais difíceis: enquanto Obama se transformou num émulo de George Bush, Hollande consegue, perante a Síria, ter uma posição de longe mais vergonhosa do que o seu antecessor Jacques Chirac teve, na época, em relação ao Iraque.»

(Foto daqui. Não deixar de ler o texto que a explica.)
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Mais Tesouros das Autárquicas


O problema está na escolha, mas é difícil resistir por exemplo a mais este:

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E quanto à Síria



... assino por baixo o que Daniel Oliveira escreve hoje no Expresso online:

«Resumindo: nenhum argumento estratégico, político e moral sério pode ser usado para esta intervenção. Qual é a minha alternativa? A mais difícil de escrever, perante mais de cem mil mortos e dois milhões de refugiados: terão mesmo de ser os sírios a resolver a encruzilhada em que se encontram. A nós, resta-nos esperar que ali surja um poder democrático e laico. Depois desta guerra, não será provável. Mas quanto teve a Europa de penar para chegar às suas imperfeitas democracias? Não terão os árabes o direito de encontrar o seu próprio caminho? Não aprenderam os EUA que, quase sempre que se meteram no Médio Oriente, deixaram tudo ainda pior do que encontraram?» (O realce é meu.)

É a realidade dura e crua, que nenhum voluntarismo, táctico ou «ético», deve ou pode mascarar. Roma e Pavia não se fizeram num dia e a História não acaba amanhã, por mais terrível que seja reconhecermos a impotência perante o drama a que assistimos hoje. A frustração nem sempre é má conselheira. 
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3.9.13

Preferencialmente com doutoramento quase pronto?



Leia-se, na íntegra, um anúncio de emprego para Operadoras de Limpeza (m/f)

«Pretendemos recrutar Candidatas com experiência anterior nesta área de actividade (ou, em alternativa, com elevada vontade e motivação para aprenderem). Habilitações mínimas (desejáveis) ao nível do 12º ano. A idade não constitui factor eliminatório mas requeremos apresentação e postura muito cuidadas, bem como rigor profissional (de acordo com os parâmetros fornecidos pela empresa). Capacidade de funcionar em hierarquia (ou seja, dispensam-se pessoas rebeldes e contestatárias, em contexto profissional) é característica imprescindível. (...) As candidatas devem enviar C.V., 3 fotos de corpo integral (para avaliação de imagem) e Cartas de Apresentação, esclarecendo, de forma muito clara, os motivos da candidatura (factor eliminatório).»
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Celebremos, pois



... o 73º aniversário de Eduardo Galeano.

Para esta data, escreveu ele em Os filhos dos dias:


Fica aqui também um texto de O livro dos abraços.

O mundo
Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subiraos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vidahumana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
O mundo é isso ─ revelou. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

E este vídeo, bem oportuno:




P.S. ─ Muito se tem publicado neste blogue sobre este autor. Para ver, clique, aqui em baixo, na etiqueta EDUARDO GALEANO.
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Já não comem criancinhas



Está confirmado.

(Feria da Luz, em Lisboa. Via Joana Manuel)
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Tem o governo estratégia para daqui a 15 dias?



«A falta de estratégia sobre a reforma do Estado condena o país a ter mais um orçamento baseado apenas num exercício contabilístico de cortes, em vez de conseguir um documento com soluções de aumento da eficiência e de poupança, mas também com reformas que contribuam para a melhoria do Estado. (...) As oitava e nona avaliações da Troika são daqui a 15 dias e o orçamento de Estado é logo a seguir. Como é que é possível estar tão às escuras sobre qual a estratégia do país? (...)

O problema é que, a duas semanas da 8.ª e 9.ª avaliação da Troika, e da apresentação das linhas gerais do orçamento para 2014, não é nada que o Governo tenha uma estratégia, ou um consenso sobre os objectivos a que quer chegar. Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque continuam no mesmo registo da política de cortes e austeridade seguida por Vítor Gaspar, enquanto várias figuras do PSD e os ministros do CDS centram o seu discurso no crescimento, de forma a garantir que os sinais de melhoria registados antes do Verão possam ser transformados numa retoma em 2014.(...)

A falta de estratégia, quer nas negociações europeias, quer na política a aplicar nacionalmente, parece ser o que está a levar o Governo para uma escalada de conflitos institucionais, que destinando-se a consumo interno, para disfarçar as próprias falhas do Governo, podem ser bastante negativos para a imagem e confiança do país. Não é uma linha argumentativa muito positiva, afirmar que não se consegue reformar o país porque o Tribunal Constitucional não deixa.»

Manuel Caldeira Cabral
(O link pode só funcionar mais tarde.)

2.9.13

As cagarras são nossas



Espanha considera que as Selvagens não são ilhas, mas sim rochedos, e voltou a contestar, junto da ONU, «a pretensão de Portugal de alargar a sua Zona Económica Exclusiva de 200 para 350 milhas com base na jurisdição» sobre as ditas ilhas.

Ofensa de lesa pátria: o nosso presidente não pernoitou num simples rochedo, mas sim na Selvagem Grande. E se necessário for, estamos certos de que estará disposto a mudar para lá definitivamente a sede do seu império, pondo à venda em hasta pública o Palácio de Belém para colmatar os buracos no défict, causados pelos chumbos do Tribunal Constitucional.

Ele poderá terminar (ainda) mais discretamente o seu mandato e nós e as cagarras ficaremos ufanos!
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Qualquer semelhança é pura coincidência



 «"España ha levantado cabeza." Por favor no se rían. Lo ha dicho Rajoy. Todo el mundo en la ruina y el Presidente nos informa de que estamos saliendo de la crisis. Bueno, rectifico, no está todo el mundo en la ruina, lo están todos menos los suyos; a éstos buen cuidado ha tenido de protegerlos en un acto político continuado de desvergüenza sin parangón. Quienes están en la ruina y en la estrechez de vivir son aquellos, la inmensa mayoría, sobre los que ha recaído la villanía de la injusticia distributiva. O sea que los ricachos y medio ricachos levantan (más) una cabeza que nunca dejaron de tenerla así. Al resto, eso, el ‘resto’ para él, los ha descabezado y desplumado. (...)

España no tiene más cabeza levantada que la de la dignidad, y no todos sus habitantes pueden presumir de ello. La cabeza levantada la tienen quienes han sufrido las coces políticas del Gobierno. Gracias a las que lo más abyecto, miserable y ruin de éste es que ha institucionalizado y aumentado las desigualdades económicas y de todo tipo entre los españoles. Ése será su legado.» 

 (Daqui)

Com palmas dos jotinhas


... e com ele em carne e osso, é ainda melhor. (Mas não esquecer o contexto.)


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O TC não é uma alfaiataria



Fernando Sobral, no Jornal de Negócios de hoje (sem link)

«A Constituição da República Portuguesa não é um fato e o Tribunal Constitucional não é uma alfaiataria onde se adaptam leis à medida do comprador. Na sua cegueira, o Governo continua a ser incapaz de negociar dentro dos limites da lei fundamental do país, para cumprir o objectivo de tornar menos anafado este Estado que afoga a sociedade portuguesa. (...)

Criou-se a ideia que o faroeste deve ser a lei que rege o mundo do trabalho. E que há uns contratos que são mais iguais do que os outros. Se juntarmos a isto a ideia que é pela insegurança jurídica do trabalho e pelos baixos salários (como defende o FMI e o Governo) que nos tornamos competitivos, está visto qual o modelo económico que está a ser criado em Portugal.

Billy the Kid e os Dalton andam à solta por aqui. Há também uma questão política nesta guerra contra o Tribunal Constitucional: tal como o TC alemão (onde se inspira o nosso) ele tem como missão defender a Constituição.» 
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1.9.13

Quem é aquele senhor ali à direita?



Que saudades do Artur!

 (Via Paulo Guinote)
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A Constituição não valeu de nada aos 900.000 desempregados porque não foi respeitada



As redes sociais encheram-se de indignação em torno de uma frase que Passos Coelho disse hoje no encerramento da universidade de Verão do PSD: «Já alguém se lembrou de perguntar aos mais de 900 mil desempregados no país do que lhe valeu a Constituição até hoje?» Mas é fundamental colocá-la no seu contexto, porque anda toda a gente a espingardear à toa, sem sublinhar devidamente a importância do que foi afirmado.

«A Constituição diz que é devida protecção no emprego. Já alguém se lembrou de perguntar aos mais de 900 mil desempregados no país do que lhe valeu a Constituição até hoje? E, no entando, era suposto que tivessem confiança que as suas empresas e empregos continuassem. Mas não foi assim, porque as empresas não conseguiram sobreviver à usura do Estado, à fraca competitividade externa.»

O que o primeiro-ministro faz, com esta afirmação, é desresponsabilizar o seu governo das medidas que provocaram o catastrófico desemprego a que chegámos, «brincando» inaceitavelmente com a inutilidade da asa protectora da Constituição, como se esta fosse uma abstracção. A Constituição não valeu de nada aos 900.000 desempregados simplesmente porque não foi respeitada por quem foi eleito para o fazer. É isso que interessa sublinhar. 
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Ei-lo que veio



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Cenários para mais tarde conferir



Sucedem-se os discursos de rentrée mais ou menos enfadonhos, sem alma nem novidade, a campanha para as autárquicas está quase à porta, mas são as próximas legislativas que verdadeiramente importam e multiplicam-se as apostas em possíveis alianças pré ou pós eleitorais.

No DN de hoje, Bagão Félix puxa a brasa à sua dama e defende um cenário PS + CDS, com argumentos um pouco retorcidos mas tão válidos como outros quaisquer: sendo mais nítida a diferença ideológica entre os dois partidos «a dialética da coligação pode ser mais positiva». Porque não? Seria um bloco central como um outro qualquer. Sempre, sempre, dentro do arco da governação.


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