8.2.20

Manifesto contra Bolsonaro




«Artistas, intelectuais e políticos do Brasil e de diversos países lançam nesta sexta-feira um manifesto contra o cerceamento de instituições culturais, científicas e educacionais, além da imprensa, pelo Governo Jair Bolsonaro (sem partido). No texto, que inclui até o momento cerca de 1.900 assinaturas, os manifestantes convocam a comunidade internacional a se manifestar publicamente contra a censura no país.

Nomes da cultura brasileira como Caetano Veloso e Chico Buarque, estrelas internacionais como Sting e Willem Dafoe e escritores consagrados como o moçambicano Mia Couto e o português Valter Hugo Mãe assinam a carta. Entre os intelectuais estão o linguista Noam Chomky, o cientista político Steven Levitsky —autor do livro Como as democracias morrem— e os historiadores Lilia Schwarcz e Boris Fausto.»
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Lisboa: «Eu não sou um vírus»



Uma menina chinesa não quer ir à escola por causa de discriminação dos colegas, a mãe levou-a para as ruas em Lisboa, colocando ao lado uma placa com as palavras: "Eu não sou um vírus. Eu sou humana. Elimine o preconceito". Elas receberam abraços de muitas pessoas locais e turistas de todo o mundo.
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As duas pestes de 2020: coronavírus e racismo



«Duas “pestes” percorrem o mundo: a epidemia do coronavírus e o racismo antichinês. Das duas, esta é que mais contagia. É um efeito comum das “pestes”. Há um fantasma adormecido na nossa memória histórica e que, de vez em quando, desperta. A grande dúvida é saber se a epidemia se mantém como crise sanitária internacional (ainda não foi declarada pandemia pela OMS) ou se vai transformar-se num fenómeno geopolítico, susceptível de alterar os equilíbrios do sistema internacional. O coronavírus surge com um “cisne negro”, acontecimento imprevisível e raro que, combinando-se com outros factores, pode dar lugar a inconcebíveis mudanças.

Tudo depende da expansão ou contenção da epidemia ¬ e dos seus efeitos na nossa vida quotidiana ou no comércio internacional. A epidemia revela, uma vez mais, quanto a China depende do comércio internacional e a economia mundial depende da saúde da China. A Administração Trump parece regozijar-se. O secretário do Comércio, Wilbur Ross, anunciou “o regresso dos empregos” à América. Mas, se China apanhar uma pneumonia, o resto do mundo poderá ter de entrar nos cuidados intensivos.

Comecemos por uma história. Morreu na quarta-feira o dr. Li Wenliang, o médico que alertou os colegas e o governo para a gravidade da epidemia e foi punido por “espalhar rumores”. Foi há dias “reabilitado” e promovido a herói. Foi infectado ao tratar doentes. A epidemia passa a ter um rosto. Um rosto incómodo, e talvez perigoso, para Pequim.

Observa Stephen McDonnel, correspondente da BBC em Pequim: “A morte do dr. Li foi um momento de comoção para este país. Para a liderança chinesa é um épico desastre político. Ele expõe os piores aspectos da direcção chinesa e do sistema de controlo da governação sob Xi Jinping – e do Partido Comunista, que foram cegos ao nada ver. (…) Agora, os spin doctors e os censores tentarão uma maneira de convencer 1,4 mil milhões de pessoas, para quem a morte do dr. Li é um claro exemplo da inaptidão do partido para lidar com uma emergência – quando a transparência pode salvar vidas e o silêncio pode matar.” A transparência chegou com um mês de atraso.

As autoridades estão a perder as batalhas da comunicação, a interior e a exterior. A soberba imagem que a China dava de si mesma está ser corroída por uma desconfiança absoluta, que põe em causa o seu famoso “modelo político-social”, que Xi Jinping tanto se esforçou em vender ao mundo. E, como reflexo do nosso inconsciente imaginário da peste, eclodiu uma vaga de racismo antichinês.


Alibaba

Os primeiros efeitos económicos são preocupantes. Uma vez mais, tudo dependerá da duração da epidemia. Alguns falam no risco de recessão global. Mas ninguém é capaz de prever, honestamente, as consequências económicas da epidemia.

O tráfego aéreo foi altamente afectado. No estrangeiro há fábricas que param por falta de sobressalentes vindos da China. Parte das fábricas chinesas tiveram de parar. Gigantes estrangeiros como a Foxconn, principal fornecedor de componentes electrónicas do mundo, a Nissan, a Peugeot, a Renault ou a Tesla suspenderam a laboração. É uma faca de dois gumes. “Os que apostavam tudo na China vão ter de rever os seus cálculos, se suspeitarem que a potência chinesa não é tão sólida quanto Pequim gosta de mostrar”, declara a sinóloga francesa Valérie Niquet.

A economia chinesa é hoje mais vulnerável do que durante a crise do SARS, em 2002, dizem os analistas. “Tínhamos a expectativa de uma rápida desaceleração do crescimento no primeiro trimestre de 2020, e de uma gradual estabilização no resto do ano”, diz uma analista do banco Natixis. Hoje, tudo é incógnito.

Ridvan Bari Urcosta, da agência Geopolitical Futures, resume o drama com o caso da Alibaba, a maior empresa e o maior “vendedor” do mundo. “Enquanto case study, a Alibaba Group Holding Ltd é um claro exemplo de como o vírus já está a ferir a economia chinesa. Alibaba é o símbolo da China contemporânea enquanto superpotência; o seu nome é sinónimo do poderio económico da China. Desgraçadamente para a Alibaba, o coronavírus atinge agora o coração da sua identidade. Em quase todos os países há história de cidadãos com medo de produtos vindos da China – incluindo os da mais famosa companhia chinesa, o Grupo Alibaba. Como resultado, entre 13 e 28 de Janeiro, as acções caíram de 231 para 203 dólares.”

Outro indicador: “Todo o sucesso da China em atrair talentos estrangeiros na última década poderá ser arruinado pela expansão do vírus mortal.” Também a queda do turismo é vertical.

Ao contrário do terramoto do Sichuan em 2008, a China não recebe mostras de solidariedade. Recebe acusações. Os seus diplomatas protestam contra o isolamento do país mas pouco conseguem fazer. Mesmo “amigos” asiáticos, como o Cazaquistão e as Filipinas, que participam na Nova Rota da Seda, fecham as fronteiras aos chineses. O mesmo faz a Rússia de Vladimir Putin que, além de fechar as portas, se recusará a tratar os infectados cuja deportação, consta, será automática. Ao contrário, o Paquistão e o Camboja reforçaram as ligações aéreas com a China.



7.2.20

Pós-geringonça


A ler: um texto de Paulo Pedroso.

Isto e muito mais: «A geringonça dependia de uma intensa clivagem direita-esquerda que não vimos neste Orçamento de Estado e voltaremos a não ver em muitas ocasiões daqui para a frente. Pelo contrário, voltámos a ter o PS e o Governo sozinhos, brandindo contra a direita e a esquerda a responsabilidade, a racionalidade e a tecnicidade, algo que era recorrente acontecer nos governos de Guterres e Sócrates e indicia o princípio do regresso à solidão governativa do PS».
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João Bénard da Costa



Seriam 85, hoje. Não é nada agradável quando, do nosso passado, restam mais recordações do que presença de pessoas de carne e osso.
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O pântano que Costa desejou



«As alianças variáveis em cada proposta deste Orçamento de Estado provam que não estão em causa clivagens políticas para caminhos distintos para o país. Estão em causa medidas avulsas, sem qualquer coerência entre si. Mas vamos por partes.

Sobre o Metropolitano de Lisboa, concordo com a posição de fundo da oposição: a prioridade na expansão do Metropolitano de Lisboa é para Loures, não a linha circular. E é esta a posição que mais vezes tenho ouvido de todos os técnicos que respeito. Mesmo assim, não consigo perceber o alcance desta votação. Porque não se votou a mudança de uma prioridade para outra. Apenas se decidiu não fazer a linha circular e dispensar o dinheiro europeu, cuja perda não será compensada. O financiamento europeu não é transferível e é um pouco tarde para travar o que já vai em velocidade de cruzeiro. Como só lá para 2023 se poderá receber financiamento para novos projetos do quadro comunitário de apoio, só então poderá vir o dinheiro para a expansão para Loures, que iria ser sempre negociada. Ou seja, o Parlamento não inverteu prioridades, limitou-se a prescindir do apoio comunitário para a linha circular.

De notar que Lisboa, que recebeu e receberá menos dinheiro europeu do que o Porto para a expansão do seu metropolitano, decidiu dispensar o que tinha destinado para si. Lisboa não decidiu. Decidiu a Assembleia da República, criando uma enorme desigualdade. Que, se fosse ao contrário, não deixaria de ser notada.

Quanto à descida do IVA da eletricidade, entretanto chumbada, as coisas são mais claras. É mais do que justo impor a taxa intermédia. O IVA, especialmente sobre um bem tão essencial como a eletricidade, é um imposto especialmente cego. Se retirarmos da equação o facto de haver uma tarifa social, cujo alargamento mais extensivo foi chumbado por PS e PSD, ricos e pobres pagam o mesmo. Se a solução de ter uma taxa diferenciada conforme os níveis de consumo foi afastada, e tendo em conta que pagamos a mais alta fatura de eletricidade da União Europeia, faz todo o sentido ter a taxa intermédia. E o argumento ambiental não colhe: sabe-se que a procura doméstica é inelástica, não tendo a redução do preço impacto no consumo. Baixar o IVA da eletricidade é uma forma de aumentar rendimento indireto. Isto não impede que eu repita o que já escrevi: que acho estranho que a grande bandeira para a esquerda seja uma questão fiscal quando assistimos a graves problemas no financiamento dos serviços públicos.

Não ficou claro como é que o PSD tencionava, depois de todas as contas que foi fazendo para conseguir a quadratura do círculo, resolver o encargo que isto significaria em 2021, quando a redução da taxa tivesse de se aplicar a um ano inteiro. Nesta matéria, apesar da dramatização de um e a sonsice do outro, PS e PSD não têm lições de coerência a dar a ninguém. Defenderam que a taxa do IVA aumentasse ou descesse conforme estavam no poder ou na oposição. Quando precisavam do dinheiro quiseram-na alta, quando estavam na oposição quiseram-na baixa.

Dito tudo isto, o mais relevante é o clima político que se está a criar. Não estou seguro que a melhor forma de se construir um orçamento seja esta, em que se vai esticando a manta de um lado para o outro sem que o executivo seja, como deve ser, o pivot das negociações. Assim, é impossível uma governação com o mínimo de coerência.

Este caos negocial tem um único responsável: António Costa. Decidiu que não precisava de um acordo para uma legislatura. Acreditou que, caso os partidos não se satisfizessem com uns brindes, poderia governar em modo de chantagem permanente, saltando de crise dos professores em crise dos professores. Esta soberba foi irresponsável. Não se pode pedir aos partidos da oposição que se anulem e deixem de querer influenciar o Orçamento só porque o primeiro-ministro achou que era mais esperto do que todos os outros. É isto que digo desde que Costa fechou a porta a acordos escritos para uma legislatura: estava a contribuir para o pântano. Desejou-o. E o pântano aí está.»

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Mundo injusto


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6.2.20

No rescaldo da aprovação do OE2020



Daniel Oliveira, Expresso, 06.02.2020.

E isto:



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Apaguem as luzes



…e desliguem os aquecedores. A vossa factura de electricidade não vai melhorar, como os partidos de esquerda tentaram em vão.
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O Benfica, André Ventura e a FIFA



«Uma nota prévia para referir que, desde que me conheço sou benfiquista. Vibrei com Eusébio já no seu ocaso, emocionei-me com a geração de 70 com Zé Gato, com Bento, com Toni, com Diamantino, com Néné, segui as equipas dos anos 80 de Neno, Veloso, Carlos Manuel, Manniche, Rui Águas, aplaudi encantado nos anos 90 Michel Preud’homme, João Pinto, e mais tarde Rui Costa, Paulo Sousa, e tantos, tantos outros. Fica dito: sou benfiquista.

O Benfica tem sido um clube inclusivo e diverso acolhendo jogadores de vários extratos sociais, de diversos países, das mais variadas origens. Jogadores negros, asiáticos, europeus, técnicos igualmente diversos como o foram Mário Wilson ou Sven Göran Eriksson.

É um clube com larga massa de adeptos e simpatizantes em outros países, como eu também simpatizo com o Barcelona, nomeadamente nos países africanos de língua oficial portuguesa.

Um clube destes não pode ter como porta-voz/comentador "oficioso" um indivíduo como André Ventura, recentemente condenado pelo presidente da Assembleia da República respaldado como apoio da enorme maioria dos deputados como xenófobo e racista. A ministra da Justiça também publicamente o condenou pelas mesmas razões.

Naturalmente que quem assista aos programas televisivos em que André Ventura é o "representante" do Benfica, percebe que o grau de conhecimento dos temas que exibe implica uma proximidade e uma colaboração com a estrutura do Benfica. Não fora essa proximidade, muito provavelmente, não poderia desempenhar esse papel.

A associação desta personalidade ao Benfica é extremamente prejudicial para o clube. Muitos interrogam-se porque se não demarca o Benfica de tal personalidade. Como benfiquista sinto-me muito perturbado e envergonhado, questionando-me se o Benfica da minha juventude, se o Benfica que ergueu uma estátua a Eusébio é o mesmo que tem por "representante" um deputado do partido populista Chega que, despudoradamente, quer "enviar para a sua terra" uma deputada portuguesa negra?

Que impacto tem esta associação nos jogadores negros do Benfica? Só pode ser desmoralizante. Que negro corre motivado e com gosto por um clube que permite que um racista fale em seu nome? Hoje é a deputada amanhã será o jogador, o treinador, ou qualquer membro da estrutura. Que impacto tem esta personalidade nos benfiquistas negros, portugueses ou estrangeiros? Só pode ser muito negativo. Que impacto tem esta personagem nos benfiquistas brancos que na sua esmagadora maioria repudiam o racismo e o preconceito? Também não é positivo.

André Ventura afasta os benfiquistas do Benfica. Se fosse um verdadeiro benfiquista demitia-se voluntariamente.

Como reagirão a UEFA e a FIFA, instituições que levam a cabo intensas campanhas antirracistas, ao saber que o Benfica tem como "defensor oficioso" num canal de TV André Ventura e que dele não se demarca?

Luís Filipe Vieira tem obtido êxitos desportivos relevantes e não merece ficar associado a André Ventura, ao populismo e ao racismo. Mas se deles se não demarcar acabará inevitavelmente ligado a tais políticas, o que lhe dará um lugar de destaque pela negativa na História do Clube.

É tempo do Benfica cortar com este comentador, não lhe permitir arrogar-se defensor do clube, quando na verdade só o prejudica, nem fazer-lhe chegar informação que o auxilie na sua prestação televisiva.»

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Uma sugestão para Fernando Medina



Certamente útil para a «sua» nova Lisboa que só frequentarei para velórios ou outras actividades inevitáveis. Felizmente que moro muito longe!
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5.2.20

Coronavírus? Olha que bom!



Esta ministra é tonta ou julga que é dona de uma empresa que exporta carne de porco para a China. O bom senso não se compra, nasce-se com ele ou educa-se - quando possível...


«"Acho que até pode ter consequências bastante positivas. Ainda assim, não tenho dados que me permitam fazer uma avaliação. Atendendo a que é um mercado emergente, em crescimento explosivo, temos de preparar-nos para corresponder à nossa ambição que é reforçar as nossas vendas e equilibrarmos a nossa balança comercial", sublinhou Maria do Céu Albuquerque em declarações aos jornalistas.»
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Os vídeos do dia






Trump recusa apertar a mão a Nancy Pelosi e esta rasga o discurso de Trump.
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Em busca do centro perdido



Ouvi hoje na TSF, por volta das 13:50, David Justino, «braço direito» de Rui Rio, afirmar que não existe diferença entre aquilo que separa o PSD do Chega! e do Bloco / PCP.

(Respondia a uma pergunta sobre o seu aval a Morais Sarmento que, há dias, fez uma declaração no mesmo sentido.)

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OE: tudo como dantes, quartel general em Abrantes



«Em todos os Orçamentos do Estado há um qualquer “irritante” à esquerda. Raramente é uma questão meramente simbólica – afeta o bolso das pessoas –, raramente é questão estrutural, das que definem a natureza do Orçamento, das políticas públicas e das grandes escolhas para o país. Critico o PS por não se propor fazer mais do que gerir o que existe. Não chega para quem queira salvar a democracia, a sustentabilidade do planeta, o Estado Social ou só um capitalismo minimamente regulado. A crítica é extensível ao Bloco e ao PCP. Para eles, a política passou a ser pouco mais do que uma lista de mercearia. Apesar de a vida das pessoas não permitir que se desprezem pequenas conquistas, que contam na sua carteira, é curto.

Desta vez, o debate foi em torno do IVA da eletricidade. Como no caso dos professores, o PSD ameaçou com uma “coligação negativa” (das expressões mais estúpidas e antiparlamentares que a política inventou). Perante a aparente impossibilidade de ter uma taxa variável conforme o consumo, a proposta de descer o IVA da eletricidade para a taxa intermédia parecia-me justa. Até por ser um imposto indireto e cego. Mas tenho dificuldades em perceber que a principal bandeira dos partidos à esquerda do PS seja fiscal. Sobretudo quando conseguiram tão pouco no financiamento do Estado Social. Apesar do aumento do orçamento para o SNS ser fundamental para o seu funcionamento, sabemos que não foi mais do que o fim da suborçamentação, para impedir endividamento. Foi um adiantamento. Uma medida de gestão importante, nenhuma escolha de fundo.

Quando nos encaminhamos para a votação final global, fica evidente que todos os intervenientes sabiam como ia acabar esta rábula. Para compensar as perdas orçamentais no IVA, o PSD apresentou uma proposta demagógica sobre os gastos dos gabinetes ministeriais, feita em cima do joelho e a olhómetro, como é costume nestes casos. Sabia ser popular e ter chumbo certo. E que lhes daria o argumento para não votar a descida do IVA da eletricidade. BE e PCP conseguiram, em troca do previsível revés, um aumento extra de 10 euros para as pensões mais baixas. E conseguiram um reforço de 20 a 25 milhões de euros para baixar a tarifa dos passes em diferentes regiões. Tudo muito importante, tudo uma mera continuação da lógica que presidiu à legislatura anterior.

Muitos amigos perguntam-me porque andei anos a bater-me para que a esquerda se entendesse e agora a pico para que seja mais exigente. Compreendo a dúvida, mas ela resulta de um equívoco: o de que os entendimentos à esquerda são um fim em si mesmo. Não são. São um meio prático para melhorar a vida das pessoas e foram um meio político para desbloquear o beco sem saída. Os entendimentos à esquerda serviram para fazer reverter as medidas da troika e conseguir algumas conquistas sociais. Serviram para quebrar um tabu, abrindo a possibilidade de a esquerda negociar orçamentos ou soluções de governo. E cumpriram estes objetivos. Grande parte das medidas foram revertidas, houve conquistas (como a redução dos preços dos passes sociais e das propinas) e o diálogo deixou de ser impossível. Mas os entendimentos à esquerda não podem servir para alimentar um pântano que entregará o descontentamento a forças sinistras.

A minha luta pelo fim do sectarismo à esquerda, que se mantém, não foi uma luta pela indiferenciação política ou pela neutralização dos partidos à esquerda do PS. Isso seria trágico para todos. Foi uma luta pela capacidade de se fazerem alianças sempre que elas sejam úteis e possíveis. Depois da “geringonça”, depois de se ter quebrado um tabu, elas passaram a ser possíveis sempre que haja mínimos de convergência. Quando o PS optar por uma proposta social-democrata realmente distintiva, capaz de oferecer às pessoas um módico de esperança que as mobilize para a democracia, e quando BE e PCP quiserem ir para lá do espaço que já conquistaram, o precedente que permite alianças já foi criado. E isso era o mais difícil.

Até lá, o PS escolheu mesmo governar sozinho. Se quer governar com os critérios do centrão terá de arranjar maneira de se entender com Rui Rio. Se, ultrapassada a fase das reversões de medidas, quiser construir um programa ambicioso à esquerda, BE e PCP têm o dever de se encontrar com ele a um meio caminho, cedendo em parte dos seus programas. Se o PS quiser, como parece ser o caso, manter-se em espargata, deve lidar com o facto de dirigir um governo minoritário e assumir as consequências de ter feito essa escolha. O que não terá qualquer utilidade para o país, porque promove uma governação incoerente, e para a esquerda, porque neutraliza uma oposição transformadora em troca de muito pouco, é um leilão anual para que cada um salve a face. Ainda mais quando esse leilão já segue uma coreografia previsível de desentendimentos inconsequentes. O ciclo político mudou. Lidem com isso.»

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04.02.1961 – O dia em que Angola começou a deixar de ser nossa



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4.2.20

Nem Kafka imaginaria isto



Expresso, 04.02.2020
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04.02.1913 – Rosa Parks



Rosa Parks nasceu em 4 de Fevereiro de 1913 e morreu em 2005. Ficará para sempre como um dos símbolos do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, juntamente com Martin Luther King.

Era costureira, vivia em Montgomery e apanhava todos os dias o mesmo autocarro. A história é conhecida: no dia 1 de Dezembro de 1955, a parte da frente do mesmo, reservada a passageiros brancos, já não tinha nenhum lugar vago e o condutor ordenou que Rosa se levantasse e cedesse o seu. Recusou e foi então presa mas, em poucos dias, os negros de Montgomery organizaram um boicote à discriminação nos autocarros, que durou um ano, e ganharam a batalha. Até aí, eram obrigados a ocupar os lugares traseiros e a cedê-los aos brancos se o autocarro enchia.

Mas não se tratou de um impulso isolado: há muito que Rosa se recusava a entrar nos autocarros pela porta traseira e que era activista em outras causas, nomeadamente na luta pelo direito ao voto. Ficou ligada, para sempre, juntamente com Luther King e tantos outros, à luta pela emancipação dos negros, sendo muitas vezes qualificada como «the first lady of civil rights» ou «the mother of the freedom movement».


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George Steiner



Uma longa entrevista, feita em 2017, que merece leitura.

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O IVA da electricidade e o barulho das luzes



«Os salários em Portugal ainda são dos mais baixos da Zona Euro, mas a eletricidade é das mais caras da Europa. A conta da luz pesa demais no bolso da maior parte das famílias. De acordo com o Eurostat, uma em cada cinco pessoas vive em pobreza energética: por razões económicas, não se consegue proteger do frio e do calor extremos.

Várias razões explicam o elevado preço da energia em Portugal. Uma delas é o regime de rendas milionárias garantidas às grandes empresas elétricas por sucessivos governos de PS e PSD, rendas que ambos os partidos se recusam a reverter. A outra é o IVA, desde 2011, tributa a eletricidade a 23%, como se de um bem de luxo se tratasse.

De início, o PS opôs-se ao aumento do imposto sobre a eletricidade e chegou a propor a sua redução. Chegado ao Governo, o PS mudou de posição e usa agora todos os argumentos possíveis e (in)imagináveis para impedir a redução do IVA da luz.

Começou por agitar razões ambientais, como se a luta contra as alterações climáticas se fizesse condenando as pessoas mais pobres aos efeitos do frio e calor extremos; ou tributando bens essenciais como se fossem luxos. Aliás, a experiência da tarifa social da energia demonstra que, quando o preço baixa, as pessoas não desatam a consumir mais do que necessitam, simplesmente sobra um pouco mais ao fim do mês para outras despesas.

Depois, veio a chantagem em torno da "responsabilidade orçamental". A dramatização não convence. O PS, apesar de governar em minoria, recusou todas as tentativas de aproximação apresentadas pelo Bloco, que propôs uma descida faseada do IVA: para 13% em 2020 e 6% em 2022. Neste ano, esta descida valeria 225 milhões de euros integralmente compensáveis, se o PS assim o entender, por uma subida equivalente do IVA dos hotéis (que hoje são tributados à taxa dos bens essenciais!). O PS prefere a intransigência e o drama, tentando ganhar na chantagem o que perdeu na razão.

A proposta de redução do IVA da energia é um compromisso eleitoral do Bloco de Esquerda. Tem apoio social maioritário e é defendida pela maioria dos deputados na Assembleia da República. Não há, por isso, razão para que não se concretize. Mal ficaria o PSD se, depois de ter defendido a importância desta redução, condicionasse o seu voto à aprovação de outras medidas - sabendo que os restantes partidos as não podem aceitar. E pior ficaria o Governo se, face à descida do IVA, criasse uma crise artificial.

A redução da fatura elétrica é uma medida de justiça, viável e necessária. Não deve ser pretexto para encenações políticas.»

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3.2.20

Mariana Mortágua, hoje, na AR


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03.02.1953 – O massacre de Batepá



Estive em S.Tomé no ano passado, passei por Batepá, e sobretudo por Fernão Dias, onde se recorda um dos momentos mais trágicos da História desse magnífico país.

Na fotografia que está no topo deste «post» figuram os nomes de uma parte das vítimas, cujo número  nunca foi possível apurar exactamente mas que S.Tomé quantifica oficialmente em 1.032.

O novo memorial inaugurado em Fernão Dias, em 2015:


Este texto é um bom resumo do que é indispensável saber.

«Os acontecimentos que tiveram início a 3 de fevereiro de 1953, hoje feriado nacional em São Tomé e Príncipe, vitimaram, a mando do governador português Carlos de Sousa Gorgulho, um número indeterminado de forros, o grupo etnocultural dominante nas ilhas e que também designa os naturais ou ‘filhos-da-terra’, por, não estando abrangidos pelo Estatuto do Indigenato, recusarem o trabalho a contrato nas roças de cacau e café.

Quando, em inícios dos anos 1950, se torna evidente a crescente escassez de mão-de-obra nas ilhas, associada aos constrangimentos que dificultavam a importação de trabalhadores contratados de Angola, o clima de tensão na hierarquizada sociedade são-tomense intensifica-se. Nos meses que precedem o massacre desencadeiam-se medidas repressivas contra os forros e reforça-se a difusão de rumores de que seriam despromovidos à condição de indígenas, estatuto legal que não se lhes aplicava. Essa tentativa de forçar ou convencer os forros ao trabalho a contrato nas roças é rapidamente desmentida pela administração colonial, que se apressa a negá-la em notas oficiosas afixadas em algumas zonas da ilha de São Tomé.

É neste contexto que alguns forros decidem protestar, arrancando as declarações oficiais do Governo nas ruas de Trindade e Batepá, localidades tidas como bases geográficas privilegiadas da elite forra. A reação das autoridades portuguesas é imediata e rapidamente escala em termos de violência. No período mais intenso de uma semana, embora se tenha prolongado durante vários meses, regista-se um conjunto de procedimentos que tem como alvo preferencial a população forra: verificam-se rusgas constantes e casas incendiadas; há prisioneiros encarcerados numa rapidamente sobrelotada prisão central ou enviados para um campo de trabalhos forçados, localizado em Fernão Dias, com o intuito de ali se construir um cais acostável; ocorrem violações; torturas com uma cadeira elétrica improvisada e dá-se a transferência para o exílio, no Príncipe, de alguns dos membros mais destacados da elite local, como assinalado, entre outros, nos testemunhos recolhidos por Lima (2002).»

Um vídeo com informação histórica importante e não só sobre o massacre de 1953:


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Racismo não é religião



«A senadora Liliana Segre tem 90 anos. Em 1944, quando tinha 13 anos e fazia trabalho escravo numa fábrica em Auschwitz, foi deportada numa das marchas da morte. Das 776 crianças italianas com menos de 14 anos que foram enviadas para Auschwitz, apenas 25 sobreviveram. Liliana foi uma delas.

O dia 27 de janeiro é celebrado como o Dia da Libertação, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Foi nesse dia que as tropas soviéticas chegaram a Auschwitz e se depararam com os horrores perpetrados pelo nazismo nos campos de concentração. Não foi o dia em que todos os judeus foram libertados, muitos tiveram de esperar ainda longos meses. Não foi igualmente o dia de libertação de Liliana Segre, que só chegaria mais tarde, mas foi ela que neste ano, no 75.º aniversário do dia da Libertação, veio contar a sua história.

Desde novembro do ano passado que Liliana Segre é obrigada a ter proteção policial. Tudo começou quando começou a receber todos os dias dezenas de mensagens de ódio e ameaças através das redes sociais. Um ódio crescente em Itália e um pouco por toda a Europa.

Para uma sobrevivente do nazismo, o regresso desse ódio é um sinal vivido com muita preocupação. A sua história e de tantos milhões de pessoas que passaram pelo mesmo que ela, muitas delas sem sobreviver, deveria ser o antídoto para qualquer renascimento do ódio étnico e racial, mas, infelizmente, os tempos que vivemos começam a dar sinais de que ninguém está poupado, nem mesmo as vítimas do maior crime contra a humanidade.

O nazismo não se fez de um dia para o outro. Precisou de muitos anos, precisou de muitas vozes caladas, de muito medo. Precisou de uma total falta de dignidade e da insensibilidade de milhões de pessoas ao sofrimento de outras pessoas como elas. Precisou de uma estratégia afinada de criação de "inimigos". Precisou de silêncio, de muito silêncio.

Estes 75 anos deviam servir-nos para mostrar como há horrores da história que não podem ser repetidos, seja qual for o tipo de intensidade. E que o respeito pela humanidade não pode permitir nenhum tipo de cedência. O branqueamento do nazismo tantas vezes feito, assim como o branqueamento do racismo, não pode ter lugar em sociedades democráticas. Mas, infelizmente, este exercício começa a ser cada vez mais comum.

Ainda nesta semana assistimos em Portugal à discussão das declarações de André Ventura sobre Joacine Katar Moreira em espaço público. Uma discussão que assentou no pressuposto mais errado de todos: que as palavras de Ventura são opinião. Não são. Nazismo e racismo não são opiniões, são crimes. Ora, a discussão a que assistimos em Portugal traduziu-se nesta preocupante tendência de naturalização da ofensa racista, de valores que em última instância são mais propícios a sociedades fascistas. Em vez de ludibriar os factos, precisamos de enfrentá-los, venham com botas cardadas ou com pezinhos de lã...»

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Brexit – primeiros sinais




«The distribution of “Brexit day” posters that warned residents of a block of flats to speak only English is being investigated as a racially aggravated incident, police have said.
The printed posters, with the title “Happy Brexit Day”, were stuck to doors on all 15 floors of Winchester Tower in Norwich on Friday morning, the day the UK formally left the European Union. (…)
Norfolk police said all the posters had been removed and were being examined for forensic evidence.»
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2.2.20

Mensagens do Chega e dos sites de informação



Nunca se perde tempo a ler o que diz Paulo Pena sobre temas deste tipo. É o caso desta entrevista.
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Não havia necessidade...



«Eu nasci para estar ali [na AR].»
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Capicuas?



A de hoje é linda!

Hoje é dia de capicua perfeita. A última foi há mais de 900 anos.
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O dilema de António Costa



«O tom ameno da entrevista que António Costa dá ao JN, e cuja parte mais exaustiva publicamos este domingo na revista "Notícias Magazine", transpira mais prudência do que calculismo político, o que é, em si, demonstrativo do dilema em que o primeiro-ministro se encontra.

A questão não se coloca tanto no imediatismo da política, centrado por estes dias na aprovação do Orçamento do Estado, nem numa visão para o país que, concorde-se ou não, o primeiro-ministro debita com segurança quando aborda os eixos que considera estratégicos, do combate às desigualdades, às transições digital e energética.

O ponto é a solidão do poder. Um homem com o percurso de António Costa tem pela frente uma legislatura em que, muito provavelmente ao contrário do que ele refere, dificilmente terá relações mais fáceis com a sua Esquerda, e dificilmente verá reforçados os laços de confiança. A união de facto com o Bloco é sofrível e a linha ortodoxa do PCP não está hoje mais confortável do que no último Governo. O afago que Costa dá, uma vez mais, nesta entrevista está assente nessa dificuldade.

Governar à Esquerda, negociando e cedendo lei a lei, sem deixar o saudosismo à Direita órfão, afastado do PSD de que precisaria para as grandes reformas e ainda a ter que lidar com um PS sentado no poder e com a geração dos 40 em ebulição para uma futura sucessão.

É uma solidão que se estenderá à relação com Marcelo Rebelo de Sousa, quando, por força das circunstâncias, for obrigado a escolher um candidato à Presidência para não se sujeitar aos nomes que começam a pulular.

O embrulho fica mais complexo com a necessidade de se virar mais para a Europa, sem ter dentro de portas quem faça o seu papel de bombeiro. O passado é bom conselheiro, as palavras são dele. "A experiência política aconselha prudência na acumulação de funções internas e externas".»

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Alô, Einstein?



Entraria Einstein numa «coligação negativa» por causa do IVA na electricidade?
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