«O tom ameno da entrevista que António Costa dá ao JN, e cuja parte mais exaustiva publicamos este domingo na revista "Notícias Magazine", transpira mais prudência do que calculismo político, o que é, em si, demonstrativo do dilema em que o primeiro-ministro se encontra.
A questão não se coloca tanto no imediatismo da política, centrado por estes dias na aprovação do Orçamento do Estado, nem numa visão para o país que, concorde-se ou não, o primeiro-ministro debita com segurança quando aborda os eixos que considera estratégicos, do combate às desigualdades, às transições digital e energética.
O ponto é a solidão do poder. Um homem com o percurso de António Costa tem pela frente uma legislatura em que, muito provavelmente ao contrário do que ele refere, dificilmente terá relações mais fáceis com a sua Esquerda, e dificilmente verá reforçados os laços de confiança. A união de facto com o Bloco é sofrível e a linha ortodoxa do PCP não está hoje mais confortável do que no último Governo. O afago que Costa dá, uma vez mais, nesta entrevista está assente nessa dificuldade.
Governar à Esquerda, negociando e cedendo lei a lei, sem deixar o saudosismo à Direita órfão, afastado do PSD de que precisaria para as grandes reformas e ainda a ter que lidar com um PS sentado no poder e com a geração dos 40 em ebulição para uma futura sucessão.
É uma solidão que se estenderá à relação com Marcelo Rebelo de Sousa, quando, por força das circunstâncias, for obrigado a escolher um candidato à Presidência para não se sujeitar aos nomes que começam a pulular.
O embrulho fica mais complexo com a necessidade de se virar mais para a Europa, sem ter dentro de portas quem faça o seu papel de bombeiro. O passado é bom conselheiro, as palavras são dele. "A experiência política aconselha prudência na acumulação de funções internas e externas".»
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