8.8.15
Onde é que estava em 8 de Agosto de 1975?
Numa de Baptista Bastos, lanço a pergunta (a maiores de 60 anos, vá lá...): onde estava / de que lado estava no dia em que o V (e último) Governo, chefiado por Vasco Gonçalves, tomou posse? Não é para obter respostas, nem para abrir polémicas, neste diferente mas também silly mês de Agosto, apenas para recordar um número redondo (40 anos é muito tempo) e para verificar que nos transladámos entretanto para um planeta de outra galáxia.
O V Governo durou pouco mais de um mês (viria a cair em 19 de Setembro), mas foi suficientemente importante e atribulado para ter ficado nas memórias.
E qual era o hino da campanha de Vasco Gonçalves, lançado pouco antes? Este, evidentemente:
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O mundo depois de Hiroshima
«Quando, há 70 anos, a primeira bomba atómica, a Little Boy, explodiu sobre Hiroshima, 70 mil pessoas morreram, e outras tantas morreriam nas semanas imediatamente subsequentes. Talvez não fosse logo evidente que uma nova etapa na existência humana tinha começado, mas os norteamericanos deram-se logo conta do impacto militar e humano. (...)
Ponto de chegada de uma escalada alucinante na construção de uma capacidade técnica de destruição definitiva sem paralelo na história – Truman explicou-a aos japoneses como “uma chuva de destruição [a rain of ruin] vinda do céu, diferente de tudo o que se tenha visto nesta terra” (comunicado presidencial de 6.8.1945) –, a Bomba, a par de Auschwitz, tornou-se um símbolo do triunfo da civilização tecnológica e da sua intrínseca insensibilidade social e humana, capaz de reorganizar o mundo precisamente porque capaz de destruir um número inconcebível de vidas através de processos expeditos, incompatíveis com qualquer discriminação entre combatente e civil e com qualquer reflexão sobre o valor intrínseco da vida. (...)
Além disto, como estudou Garry Wills (autor de Bomb Power, 2010), a preparação da bomba atómica foi acompanhada de uma bateria de leis que “contribuíram para criar os regimes de segurança e de vigilância sob os quais vivemos hoje, concedendo ao [poder] executivo uma margem de acção considerável, não só em tempo de guerra mas também em tempo de paz”. (...)
Quem julga que vivemos hoje com mais garantias cívicas do que aquelas de que dispunham as chamadas democracias nos anos 30 ou 40, que muito se melhorou na transparência do exercício do poder, precisa de avaliar as consequências destes 70 anos de securitarismo nuclear que atravessou a Guerra Fria mas que se prolongou, e acentuou, nos últimos 25 anos. (...)
Sobre o silêncio das vítimas de Hiroshima construiu-se a viabilidade de todas as guerras desde há 70 anos. Por algum motivo Kenneth Bainbridge, o físico que dirigiu o ensaio nuclear final de 16 de julho de 1945, ao ver os seus resultados, terá dito a Robert Oppenheimer, o chefe do Manhattan Project: “A partir de agora, somos todos uns filhos da puta” (“Now we are all sons of bitches”).»
Manuel Loff
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7.8.15
Carta de amor
Para além do resto, o texto está tão, mas tão mal escrito, que até é difícil lê-lo!
(E «propor» não tem acento, com ou sem AO, está bem?)
. Legislativas e futebol, um só combate?
No barómetro mensal da Eurosondagem, hoje divulgado, é todo ele sobre as Legislativas de Outubro. Todo? Não: é incluída, pela primeira vez tanto quanto me lembro, uma pergunta sobre futebol (quem ganhará o próximo campeonato).
Sou eu que estou doida ou está a passar-se algo que me escapa?
Ver aqui (foto incluída).
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O nosso Maçães
«Bruno Maçães é mais conhecido no mundo inteiro pelos seus tweets do que pela sua actividade como secretário de Estado. Não deveremos ficar muito preocupados com o assunto.
Afinal os constantes duelos florais de Maçães com todos os que ousam pôr em causa a "linha justa" do Governo e de Berlim e Bruxelas fazem já parte de um folclore banal. Assim os portugueses sabem que existe um secretário de Estado chamado Bruno Maçães. O secretário de Estado julga que, existindo no Twitter, existe. Todos têm direito, até constitucional, a acreditarem na sua importância. E a comprar holofotes para que se sintam como actores de Hollywood. Nada a objectar. Mas esta constante guerrilha no mundo digital mostra como as prioridades continuam trocadas em Portugal: deveria ser o mundo real que deveria preocupar os governantes, ou aqueles que são acusados de o serem.»
Fernando Sobral
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6.8.15
Dica (109)
«Varoufakis é calvo como um mongol, reconhecidamente inteligente, um sex symbol de mota, que como sabemos tem um simbolismo psicológico poderoso, vive à beira do vulcão e é actor da história colectiva do seu país.
A nós, que somos periféricos, saiu-nos o Marques Mendes às voltas com Freud, sempre a olhar para cima, perseguido pelo maldito adágio popular de que “homem pequenino, velhaco ou dançarino”.»
. A língua de Esopo
«A política é como a língua de Esopo: pode ser a melhor ou a pior coisa do mundo. Através dela podem estabelecer-se as mais empolgantes discussões infrutíferas ou esclarecer as mais ternas dúvidas dos cidadãos.
Em tempos eleitorais os vícios da língua costumam sobrepor-se às suas virtudes. Como diria Esopo, as melhores verdades e as piores mentiras estão, por estes dias, à venda no mercado. Basta ver o pouco estimulante debate sobre os números do desemprego, que navegam ao sabor de dados do INE e onde faltam o daqueles que emigraram nestes anos ou, simplesmente, deixaram de frequentar os centros de emprego.
Por isso não deixa de causar espanto que o porta-voz dos mordomos dos mestres da destruição de emprego, o infatigável bardo de uma nota só que é Marco António Costa, venha dizer sem se rir: "Estamos a falar de pessoas, não de cebolas, batatas, nem laranjas." Como se as pessoas, nestes últimos anos, não tivessem sido apenas transformadas em números de contribuintes de impostos para a voracidade do Estado dito "liberal". (...)
A política tem tudo a ver com o poder: a busca para o conquistar, o seu exercício e a luta para o manter. Também ainda é sobre ideias. Mas é cada vez mais sobre a ambição de indivíduos que competem entre si pelo voto. Os discursos elaborados de estadistas foram substituídos por "soundbytes" na televisão ou no Twitter. Mas, numa sociedade empobrecida à força, há demasiados aprendizes de Esopo à solta.»
Fernando Sobral
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Realidade pura e dura
«Hoje faz 29 anos um emigrante português. Foi um dos muitos que partiu há mais de dois anos porque o país, este país, onde nasceu e que ama, o tratava mal, dando-lhe um emprego precário, a recibo verde, de 800 euros, para trabalhar subcontratado para uma multinacional. É um dos muitos que o primeiro-ministro diz que podem voltar. Não vai ser fácil. Casou com uma americana e trabalha numa empresa tecnológica na Califórnia. Ganha três vezes mais o que lhe pagam aqui e não é subcontratado. Formou-se no Instituto Superior Técnico, é engenheiro electrotécnico, parte da sua formação foi paga pelos contribuintes portugueses. Faz-me muita falta. Parabéns, filho.»
Nicolau Santos, no Expresso curto de 06.08.2015
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Hiroshima. Os relógios pararam às 8:15
Esta fotografia acompanha-me há anos, desde que a tirei no museu de Hiroshima. Tal como várias outras, de horas que passei naquilo que é actualmente um belo e pacífico jardim que não consegue fazer esquecer um dos maiores horrores da humanidade nos últimos séculos.
70 anos é um número redondo e multiplicam-se hoje comemorações, filmes e textos sobre factos infelizmente bem conhecidos. Nunca esquecer. Nunca.
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5.8.15
Dica (108)
The defeat of Europe. (Yanis Varoufakis)
«The Eurogroup — which has no legal standing — is anti-democratic, disdainful of the European Commission, which it now commands, and internally fractured. This is what it did to Greece.»
. Gentes de esquerda do meu país
Façam um favor: guardem a ligação para esta entrevista e releiam a mesma no dia 3 de Outubro. E depois decidam em quem (não) votar.
. A Grande Muralha da Europa
«A Europa deixou de ser o mundo do Iluminismo. Apagou as suas luzes. Com vergonha.
Quando o império Qin começou a construir a Grande Muralha da China não havia perigo nas suas fronteiras. E ela, anos mais tarde, não impediu que as hordas dos mongóis de Gengis Khan assolassem o império. Ou seja, sempre foi um mito poroso. A construção da Grande Muralha da Europa, que está em marcha, é um equívoco semelhante. Não impedirá que milhões de africanos, que fogem à guerra, à fome e à falta de futuro, tentem escalá-la. O seu paraíso é aqui e não serão cercas electrificadas, cães ou soldados que os afastarão. (...)
A prova de que o pânico é total é demonstrado pelas afirmações de David Cameron sobre as "pragas" e do Labour que diz ao primeiro-ministro britânico para pedir uma compensação a França. Patético. Se a crise grega já não o tivesse provado, tal como as aventuras bélicas de franceses e ingleses na Líbia e na Síria (que destruíram regimes que eram um tampão para a Europa), toda esta vergonhosa situação mostra a falência do projecto da União Europeia, hoje apenas amarrado por regras financeiras.
A Europa do Iluminismo apagou as luzes e esconde-se com vergonha. A Europa já não é uma fortaleza voadora nem uma fortaleza democrática. É um B52 sem destino. Não há uma política conjunta europeia para este problema. Há só um "salve-se quem puder!". A Europa abdicou de ser a Europa que desejaríamos.»
Fernando Sobral
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4.8.15
Herdeiros de Alcácer-Quibir?
Fui num 4 de Agosto, em 1578, que Portugal sofreu uma derrota em Alcácer-Quibir quando decidiu aliar-se a um sultão, Mulay Mohammed, e acabou por ser vencido por um outro, Mulei Moluco. Derrota pesada acima de tudo sobretudo porque nela se perdeu um rei sem descendentes, D. Sebastião.
Foi tal o desespero que o povo não quis acreditar na sua morte, ou ficou na expectativa que ressuscitasse, numa atitude heróica e trágica que o marcou para todo o sempre. Hoje continua, talvez inconsciente mas serenamente, à espera que regresse o tal salvador que o livrará de todos males.
Sebastiânicos há mais de 400 anos? Ficou no nosso ADN.
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Dica (107)
«O discurso do aumento da natalidade tem uma componente racista. A Europa quer que nasçam nos seus países crianças europeias. É a explicação simples de todos os políticos europeus discutirem obsessivamente o problema da natalidade e “as políticas de natalidade” – nomeadamente quando falam do futuro da segurança social – e nunca encararem o problema que resolveria a questão da natalidade e do futuro da segurança social: dar refúgio aos milhares de crianças que todos os dias procuram a Europa em busca de uma vida melhor, e, naturalmente, aos seus pais.»
. A mentira fica
«O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho dá uma entrevista e, ostentando o olhar mais cândido que consegue, mente sobre uma questão fundamental - os dados do desemprego - para tentar convencer os portugueses de que as coisas estão no bom caminho, de que a economia está a recuperar, de que a austeridade funcionou e de que o seu governo merece ser reeleito em Outubro.
O irrevogável vice-primeiro-ministro Paulo Portas repete a mesma mentira em todos os púlpitos da pré-campanha que encontra pela frente, mas com um dedo esticado de autoridade e a voz pausada que Portas sabe que se podem fazer passar por gravitas e com os fatos de bom corte que Portas sabe que se podem fazer passar por seriedade.
Escândalo, porque os chefes do governo mentem? Escândalo porque não se trata apenas de uma declaração que não corresponde à realidade, mas de uma operação de manipulação da opinião pública, com estágios inventados para fingir que milhares de pessoas não estão no desemprego, com milhares de desempregados transformados em não-pessoas para os apagar das listas do desemprego, com os emigrantes varridos para debaixo do tapete? Sim, um pequenino escândalo. Vinte vozes indignadas. (...) A oposição cansa-se. Afinal, já todos sabem que os membros do governo são uns aldrabões, para quê insistir? Os telespectadores não reparam, a mentira fica. Parece que o desemprego está a diminuir. Talvez eu afinal tenha emprego e ainda não tenha dado por isso. Não iam mentir na TV pois não? O governo não ia mentir, ia? (...)
Achamos que é falta de educação dizer a alguém que mentiu mesmo quando essa pessoa mente descaradamente e há milhões que sofrem por isso. E os jornalistas vivem no pavor de ser considerados "parciais", de "ter uma agenda". (...)
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi responsável pelo maior esquema de fuga ao fisco na história da Europa, roubando milhares de milhões de euros aos contribuintes europeus? O presidente do EuroGrupo, Jeroen Dijsselbloem, inclui no seu CV um mestrado inexistente que apagou quando foi descoberto? O FMI sofre de esquizofrenia financeira, impondo à força aos países medidas que condena nos seus documentos internos? Que importa. Pode falar-se nisso uma vez nos jornais, mas insistir seria falta de educação, "ter uma agenda". Dizemo-nos indignados mas não queremos ser considerados indelicados.»
José Vítor Malheiros
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3.8.15
Dica (106)
As responsabilidades da Europa.
«Se a intervenção em países do Médio Oriente como a Síria ou o Iraque, ou a benevolência face a governos corruptos e ditatoriais em África é justificada por interesses políticos, económicos e estratégicos da Europa e de outros países ocidentais, então as consequências dessas acções devem ser assumidas. (...)
Muitos destes migrantes também estão ligados ao velho continente por séculos de passado colonial e até por isso a Europa tem responsabilidades para com eles. Não pode lavar as mãos como Pilatos. Mas a quem não consiga ver além dos seus próprios interesses, talvez seja útil pensar nas consequências de tanta cegueira. Os muros acabam por ser derrubados. Mais cedo ou mais tarde.»
- CGD – O braço armado do Estado
«Durante muitas décadas, a Caixa Geral de Depósitos foi o amigo número um do Estado. O seu braço armado, em tempos de tempestade, e o refúgio perfeito para os que tinham deixado de ter lugar no Governo ou no Parlamento.
Quando o rei D. Luís a criou em 1876, para "incitar o espírito da economia", talvez se imaginasse já que viria a transformar-se no banco do Estado. Salazar transformou-a num instrumento da sua política económica. Mas, sobretudo, pela sua pujança e peso na sociedade portuguesa, a CGD foi sempre o palco perfeito para se observar o teatro político e as motivações que mudam consoante o rumo do vento. (...)
A CGD simboliza o Estado português e a força que ainda julga ter. Se imagem mais poderosa não existisse, bastava olhar para a sua sede: a caixa-forte do Estado português, agora que a emissão de moeda é decidida lá fora.
O actual Governo, que convive mal, por razões ideológicas, com empresas do Estado, já privatizou quase tudo. Como símbolo, só resta a CGD. O "fastio" com que Passos Coelho encarou o facto de a CGD ainda não ter reembolsado ao Estado a ajuda pública que recebeu, é um sinal eloquente de que velhos fantasmas regressam como convicções. A administração de José de Matos foi, com uma frase, colocada entre a espada e a parede. Sairá, pelo fim do mandato. Mas a questão é que Passos, sem mais nada para privatizar (excepto as águas), poderá estar a recuperar o seu velho sonho (transferir a CGD para o sector privado), como dizia há muitos anos. É uma opção. Mas então o Estado ficará sem o seu último Robocop.»
Fernando Sobral
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2.8.15
Parabéns, Zeca
Zeca Afonso nasceu em 2 de Agosto de 1929, mas continua bem vivo, necessário e útil.
Repesco uma crónica que Manuel António Pina publicou no Jornal de Notícias de 24.02.2011, tão actual hoje como há quatro anos.
Vampiros e eunucos
Há 24 anos, feitos ontem, morreu José Afonso. Entretanto, vindos "em bandos, com pés de veludo", os vampiros foram progressivamente ocupando todos os lugares de esperança inaugurados em 1974, e hoje (basta olhar em volta) os "mordomos do universo todo/ senhores à força, mandadores sem lei", enchem de novo "as tulhas, bebem vinho novo" e "dançam a ronda no pinhal do rei", tendo, em tempos afrontosamente desiguais, ganho inaceitável literalidade o refrão "eles comem tudo, eles comem tudo/ eles comem tudo e não deixam nada".
Talvez, mais do que legisladores, artistas como José Afonso sejam, convocando Pound, "antenas de raça". Ou talvez apenas olhem com olhos mais transparentes e mais fundos. Ou então talvez a sua voz coincida com a voz colectiva por transportar alguma espécie singular de verdade. Pois, completando Novalis, também o mais verdadeiro é necessariamente mais poético.
O certo é que a "fauna hipernutrida" de "parasitas do sangue alheio" que José Afonso entreviu na sociedade portuguesa de há mais de meio século está aí de novo, nem sequer com diferentes vestes; se é que alguma vez os seus vultos deixaram de estar "pousa[dos] nos prédios, pousa[dos] nas calçadas". E, com ela, o cortejo venal dos "eunucos" que "em vénias malabares à luz do dia/ lambuzam da saliva os maiorais".
Lembrar hoje José Afonso pode ser, mais do que um ritual melancólico, um gesto de fidelidade e inconformismo.
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Duas, entre muitas a recordar:
E um longo excerto desse espantoso concerto, no Coliseu de Lisboa, em 1983:
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Moral (ou falta dela)
«O tempo mostrará como a pior herança destes dias de lixo que vivemos já há vários anos será de carácter moral. Moral de moral social, cultural e política, atingida no seu cerne pela emergência de uma forma de egoísmo social que se materializa em profundas divisões entre diferentes grupos na sociedade e pela tendência de se ser egoísta olhando para o lado, para o vizinho, ou para os pais dos colegas do filho na escola, ou para o companheiro de trabalho, para a mesa do café do lado, para o que recebe mais 10 euros do que eu, em vez de se olhar para cima, para o exercício do poder e para as suas opções. Lá em cima, agradece-se. (...)
Uma das razões de sucesso desta imoralidade triunfante é que ela fornece uma panaceia para o ego ofendido de muita gente. Convencidos de que não podem mudar nada – não há alternativa –, o vizinho serve de bode expiatório. Num país (ou numa Europa) atingido por uma anomia profunda – resultado entre outras coisas do apagamento das diferenças históricas entre uma direita de interesses e uma esquerda que de há muito soçobrou aos mesmos interesses, e refiro-me aos socialistas cujo papel na castração da acção colectiva é enorme –, o que hoje se está a dividir, dificilmente se juntará. (...)
O único paralelo que conheço para o que está a ser feito aos gregos é Versalhes e as reparações impostas à Alemanha em 1919. A democracia de Weimar sempre foi frágil porque a situação social do povo alemão era um terreno propício a todos os radicalismos e comunistas e nazis exploraram isso até aos limites. Os nazis ganharam entre outras coisas porque o acordo imposto aos alemães no final da guerra implicava que a indústria alemã trabalhava para pagar as reparações, principalmente aos franceses. Nós também cá tivemos uma parte em locomotivas e em guindastes nos portos. Os nazis ganharam porque parte da Alemanha foi ocupada e as potências ocupantes extorquíram o máximo que puderam.
Se o acordo tão celebrado for adiante, o que ainda está longe de ser certo, a Alemanha e gente como Dijsselbloem vão governar a Grécia contra os gregos, a partir de Bruxelas, Frankfurt e Berlim. Não custa imaginar como o Syriza virá a ser lembrado como exemplo de moderação, face à nova extrema-esquerda que irá surgir. E a extrema-direita grega, uma das mais virulentas da Europa, não precisa de mudar, basta-lhe crescer. Os alemães e os seus gnomos podem vingar-se, como estão a vingar-se, do "não" grego, mas os europeus genuínos sabem que o mal está feito e vai muito para além do que está a acontecer à Grécia. O projecto europeu morreu.»
José Pacheco Pereira
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