6.8.15

A língua de Esopo



«A política é como a língua de Esopo: pode ser a melhor ou a pior coisa do mundo. Através dela podem estabelecer-se as mais empolgantes discussões infrutíferas ou esclarecer as mais ternas dúvidas dos cidadãos.

Em tempos eleitorais os vícios da língua costumam sobrepor-se às suas virtudes. Como diria Esopo, as melhores verdades e as piores mentiras estão, por estes dias, à venda no mercado. Basta ver o pouco estimulante debate sobre os números do desemprego, que navegam ao sabor de dados do INE e onde faltam o daqueles que emigraram nestes anos ou, simplesmente, deixaram de frequentar os centros de emprego.

Por isso não deixa de causar espanto que o porta-voz dos mordomos dos mestres da destruição de emprego, o infatigável bardo de uma nota só que é Marco António Costa, venha dizer sem se rir: "Estamos a falar de pessoas, não de cebolas, batatas, nem laranjas." Como se as pessoas, nestes últimos anos, não tivessem sido apenas transformadas em números de contribuintes de impostos para a voracidade do Estado dito "liberal". (...)

A política tem tudo a ver com o poder: a busca para o conquistar, o seu exercício e a luta para o manter. Também ainda é sobre ideias. Mas é cada vez mais sobre a ambição de indivíduos que competem entre si pelo voto. Os discursos elaborados de estadistas foram substituídos por "soundbytes" na televisão ou no Twitter. Mas, numa sociedade empobrecida à força, há demasiados aprendizes de Esopo à solta.»

Fernando Sobral
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