Não é fácil que os mais novos consigam imaginar a efervescência com que foram vividos, há 35 anos, os últimos dias da campanha eleitoral para as primeiras eleições livres – as da Assembleia Constituinte, que tiveram lugar em 25 de Abril de 1975, e nas quais votaram 91,7% dos eleitores.
No dia 20, um Domingo, multiplicaram-se os comícios, um pouco por todo o país.
Mário Soares: «Não queremos o imperialismo americano, como também não queremos nenhum outro. Estamos a fazer um caminho original, que está a ser seguido em todo o mundo.»
No Campo Pequeno, a UDP presta homenagem ao «heróico povo do Cambodja que varreu o imperialismo da usa pátria», com a ajuda «da Grande República da China», e Acácio Barreiros afirma que «mantendo-se o estado burguês, as nacionalizações nem são irreversíveis» e podem permitir que o «falso Partido Comunista» passe a «gerente do capital».
Gonçalo Ribeiro Teles propõe «a imediata nacionalização da Companhia das Lezírias».
Dois ou três dias antes, Álvaro Cunhal dissera numa entrevista: «Somos contra a censura à Imprensa nas condições portuguesas, ainda que admitindo que haja condições em que uma censura é absolutamente legítima.»
Um pouco por toda a parte, incidentes contra comícios dos 12 partidos concorrentes, de esquerda ou de direita.
Alguns aconselham a abstenção mas aproveitam a campanha: «A arma é o voto do povo», diz o PRP/BR.
O PS viria a ganhar as eleições, com 37,9% dos votos, logo seguido do PPD com 26,4%. Quem disse que o centrão nasceu ontem?
(Fonte, entre outras: A. Gomes J. P. Castanheira, Os dias loucos do PREC)
(Também em Vias de Facto)
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