Os bispos têm todo o direito de dizer publicamente o que pensam e de comunicarem as suas directivas aos católicos. Com a nota pastoral. «Em favor do verdadeiro casamento», ontem publicada, não anunciaram nada de especialmente original em relação ao que era conhecido, mas, no meu entender, voltaram a insistir em conceitos errados e a utilizar expressões no mínimo infelizes.
1 - Falar de «tentativa de desestruturar a sociedade» é fazer um processo de intenções. Como se aqueles que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo tivessem um projecto específico de destruição do que quer que seja.
2 - Dizer que «a verdade da vida humana assenta na complementaridade do homem e da mulher» é uma frase no mínimo estranha, até porque não se vislumbra uma possível definição de «verdade da vida humana».
3 - Afirmar que a homossexualidade na idade adulta «denota a existência de problemas de identidade pessoal» é uma mera opinião, posta ao serviço de convicções religiosas, o que lhe retira qualquer espécie de autoridade.
Haveria mais a dizer mas penso que nem vale a pena. Não é certamente com textos destes que os bispos alguma vez contribuirão para a construção de uma sociedade realmente «estruturada» e tolerante.