10.8.24

Bichos há muitos (6

 


Reserva Nacional de Flamingos e Lagoas Altiplânicas (Miscanti e Miñiques), S. Pedro de Atacama, Chile, 2010.

A Reserva tem uma área total de 740 km quadrados e sete seções separadas. Uma dessas secções inclui as Lagoas Altiplânicas Miscanti e Miñiques, situadas a mais de 4.000 metros de altura, e abriga uma grande variedade de pássaros, incluindo o flamingo andino e o flamingo chileno.

É muito difícil, praticamente impossível, dar uma ideia da beleza de tudo isto, das cores, da limpidez do ar, da força do silêncio.

10.08.1912 - Jorge Amado

 


Faria hoje 112 e continuam, com toda a justiça, referências à sua vida, a muitos dos livros, às suas estadias em Portugal.

Outros lembrarão o essencial da sua obra, eu recordo o «acessório»: o que foi, entre nós, o retumbante sucesso de Gabriela, cravo e canela, a primeira de todas as telenovelas emitidas pela RTP, entre Maio e Novembro de 1977, com base na obra de JA com o mesmo nome. Companhia da hora do jantar, cinco dias por semana, em casa ou em cafés (eram muitas as famílias que ainda não tinham aparelhos próprios), era assunto generalizado de conversa, trouxe para a língua portuguesa termos e expressões brasileiras e transformou Sónia Braga num ídolo. 

A «Gabrielomania» fez parar literalmente o país: a Assembleia da República interrompeu os trabalhos pelo menos quanto foi emitido o último episódio (era vital saber se Gabriela ficava ou não com Nacib...).  

No dia seguinte à última emissão, o Diário de Lisboa discutiu o corte de trinta episódios, de que a telenovela terá sido objecto em Portugal.

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Elon, o grande Musketeiro

 


«Quem tem mais poder para desencadear uma guerra civil? O chefe de um Estado que, apesar de tudo, está sujeito às normas do direito internacional, ou o líder de uma rede social de grande expansão, como o X de Elon Musk, que basicamente não tem de prestar contas a ninguém? O sobressalto não é de resposta fácil, embora o responsável governamental do Reino Unido pela ligação às empresas de média e às gigantes tecnológicas, Peter Kyle, sugira que o verdadeiro poder de mudança possa ser mais efetivo no segundo caso.

Musk é, hoje, muito mais do que um bilionário. É um dos homens mais poderosos do planeta. E, não sendo um político, tem uma capacidade quase infinita de contaminar o pensamento de terceiros e o curso dos acontecimentos. Fê-lo no conflito Rússia-Ucrânia, como guru tecnológico, está a fazê-lo nas eleições norte-americanas, como financiador encapotado de Trump, e está de novo a fazê-lo como instigador das causas da direita radical, ao incendiar o debate em torno dos tumultos no Reino Unido, contribuindo para alimentar a tese de que a responsabilidade pela morte de três crianças, uma delas portuguesa, à facada, foi de um imigrante muçulmano, algo que já foi desmentido. Entre outras coisas, o também patrão da Tesla atirou-se ao Governo britânico (“a guerra civil é inevitável”, escreveu na rede social X) e partilhou uma notícia falsa onde se escrevia que o primeiro-ministro Keir Starmer estava a pensar enviar os agitadores para campos de detenção nas Falklands. Musk retirou a partilha do artigo falso meia hora depois, mas o “post” terá sido lido dois milhões de vezes.

O mosqueteiro da liberdade de expressão tornou-se num influenciador de largo espectro. Tolerado pela sua excentricidade, tem dobrado as regras do bom senso, aproveitando a bonomia das leis reguladoras e a ignorância de um exército que dispara atrás de um teclado. Até ver, tem ganho as primeiras batalhas da guerra.»


Não avia necessidade...

 



9.8.24

Bichos há muitos (5)

 


Burros, Perto de Gondar, Etiópia, 2013.

São mesmo um ícone do país, tão grande é a sua quantidade, tão importantes as funções que exercem como meio de transporte de mercadorias e de pessoas. Chegam mesmo a ser «ambulâncias», que levam doentes a quilómetros de distância.

Verdadeiros heróis num país onde se diz que «quem trabalha são as mulheres e os burros».

Mas quem é que falou em emergência?



Luís Vagas no Twitter.

Nagasaki para além da bomba

 



A acção da célebre ópera de Puccini, Madame Butterfly, passa-se em Nagasaki e relata uma relação trágica entre um oficial da marinha americano e Cio-Cio-San (butterlfy ou borboleta), uma gueixa de 15 anos.

Entre 1915 e 1920, o papel de Cio-Cio San foi interpretado por uma célebre cantora japonesa, Tamaki Miura, e há uma estátua sua, e outra de Puccini, no magnífico Jardim Glover que se situa numa colina sobre Nagasaki e ao qual se acede pelo maior e mais íngreme complexo de escadas rolantes, que alguma vez me foi dado ver e utilizar.

Aí se visita também a residência de Thomas Blake Glover, um empresário escocês que muito contribuiu para a modernização industrial do Japão - uma lindíssima casa de estilo ocidental, a mais antiga que resta naquele país.



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09.08.1945 - Nagasaki, 11:02 a.m.

 

(Museu da Bomba Atómica, Nagasaki)

Já tinha estado em Nagasaki, mas sem visitar o Museu da Bomba Atómica. Fi-lo há seis anos e este é o relógio parado na hora em que se deu a tragédia. 

Três dias depois de Hiroshima, os EUA lançaram, em Nagasaki, uma bomba que matou 80.000 pessoas. Em 15 de Agosto de 1945, o Japão rendeu-se – no chamado Dia V-J que esteve na origem ao fim da Segunda Guerra Mundial.




Hoje, Parque da Paz de Nagasaki:





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Tresanda a fim de regime

 


«Do bárbaro esfaquea¬mento de três crianças em Southport nasceu uma onda de boatos, a que hoje chamamos fake news por se assemelharem cada vez mais a verdades, tal a sofisticação industrial com que são produzidas. O alvo foram os muçulmanos, novos judeus da Europa, que podem ser insultados e coletivamente culpados sem o risco do degredo intelectual para onde justamente lançamos os antissemitas. Por imposição da lei, a identidade do agressor, menor de idade, foi protegida. Isso chegou para que se espalhasse que se tratava de um imigrante indocumentado requerente de asilo que constaria de uma lista de observação de terroristas islâmicos, mentira que atingiu rapidamente dezenas de milhões de reações nas redes. Para a campanha orquestrada de desinformação contribuíram figuras como Tommy Robinson, fundador da English Defence League, Andrew Tate, um influencer extremista, e Nigel Farage.

Da mentira viral nada espontânea nasceram manifestações violentas manipuladas pela extrema-direita, com ataques a mesquitas e fogo posto num hotel que abrigaria refugiados. Para travar a onda de desinformação, a identidade do criminoso de 17 anos foi divulgada. Filho de ruandeses, nasceu em Cardiff e não é muçulmano. No fim, a resposta do Governo trabalhista à violência foi propor a generalização do reconhecimento facial, fazendo avançar um pouco mais a política securitária tão ao gosto da extrema-direita, que tem uma vitória política, fruto da desordem que ela própria provocou. Brilhante!

Quem pense que há espontaneidade nestas ondas de desinformação deve prestar atenção ao bullying sobre Imane Khelif, uma pugilista que nasceu mulher — com útero e vagina — e sempre se identificou como tal. Tem apenas uma produção anormal de testosterona, no que não se distinguirá da baixa produção de ácido láctico de Michael Phelps ou da altura incomum de Manute Bol. A prova contra Khelif é o facto de ter sido desqualificada pela Associação Internacional de Boxe, que não é reconhecida pelo COI e é acusada de irregularidades desde que é liderada pelo russo Umar Kremlev — o regime de Putin empenhou-se nesta campanha. A provocadora mensagem da abertura dos Jogos Olímpicos não terá sido estranha a esta contraofensiva.

O poder da mentira não resulta apenas da “polarização das nossas sociedades”. Tem nomes e responsáveis que continuam a acumular poder. Enquanto a Europa e os EUA resistem militarmente a Putin, entregam as suas democracias a sinistros sociopatas como Elon Musk. Enquanto este deixa que o antigo Twitter sirva para a propagação do ódio, como aconteceu neste caso, anuncia que a “guerra civil é inevitável” no Reino Unido. Um presságio que é um desejo, porque a expansão do seu poder depende de democracias cada vez mais frágeis. Ainda assim, as culpas não se ficam pelas redes sociais. No Reino Unido, jornais como o “Daily Mail” trabalham há anos para a islamofobia e o racismo. O medo é um bom negócio.

As ondas de fake news não são desordenadas e caóticas. Não resultam da “polarização”, sendo a culpa de todos e de ninguém. Resultam de uma ofensiva organizada pela extrema-direita contra as democracias. Sim, há mentiras de todas as cores. A novidade são os poderosos instrumentos e a enorme quantidade de dinheiro ao serviço das mentiras de uma dessas cores. Não é por acaso que Trump escolheu um homem com fortes ligações a Silicon Valley para seu vice. Não é por acaso que Musk, que considera Kamala “literalmente uma comunista”, garantirá um forte apoio à campanha trumpista. O novo capital tem uma velha ideologia.

Com medo da acusação de censura, os governos não impõem às redes sociais as regras de responsabilização empresarial que se aplicam a todos os outros meios. Paralisada por dentro pelos seus inimigos, a democracia é mansa perante quem a ataca. Tivemos um bom exemplo doméstico há uma semana. Rui Fonseca e Castro, candidato de extrema-direita às eleições europeias, avisou que ia impedir o lançamento de um livro infantil sobre identidade de género, em Idanha-a-Nova. Assim o fez, na companhia de “gorilas” que entraram na sala a gritar “acabou!”, como se fossem a verdadeira autoridade e deixando claro para quem lhes queira seguir o exemplo que milícias políticas podem impor a lei. Ninguém foi apanhado de surpresa. O ex-juiz já o tinha feito no Porto e anunciou nas redes sociais quando e onde o voltaria a fazer. A GNR estava à espera, mas não o deteve. Preferiu tirar a autora da sala. Não só não travou o crime como, na prática, garantiu a sua eficácia. Como no Reino Unido, premiou-se o infrator. Porque a democracia sente-se fraca e teme os seus inimigos. Tresanda a fim de regime.»


8.8.24

Bichos há muitos (4)

 


O célebre Lonesome George (George Solitário). Ilha de Santa Cruz, Galápagos, Equador, 2004.

A tartaruga-das-galápagos-de-Pinta foi uma subespécie de tartaruga terrestre da ilha de Pinta, nas Galápagos. O último indivíduo conhecido foi um macho que morreu em 2012 (ainda o vi em 2004), na Ilha de Santa Cruz, sem deixar descendência. Teria entre 93 e 109 anos.

Foi considerado a criatura mais rara do mundo e tido como um símbolo dos esforços de conservação do ambiente, nas Galápagos e no mundo.

08.08.1937 – Dustin Hoffman



Faz hoje 87. Parece impossível, mas o calendário não perdoa.

Protagonizou dezenas de filmes, mas eu fixei sobretudo os da sua primeira fase. E se The Graduate (1967) não foi o seu primeiro filme, foi certamente aquele em que alcançou fama e que o lançou no mundo do cinema. Com ele, e com Rain Man, ganhou dois Óscares.

Mas não consigo separá-lo de um outro – Kramer vs. Kramer – que vi e revi algumas vezes.




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SNS: assim vamos

 


Noticia AQUI.

Raul Solnado

 



Ficámos sem ele já 15 anos, mas esta pérola ninguém nos tira.

Notícia de um país sábio, mas pobre

 


«No curto período de um mês, os portugueses souberam de duas boas notícias sobre a sua ciência e as suas qualificações: a 9 de Julho uma equipa de professores e investigadores do Instituto Superior Técnico colocou em órbita um satélite feito do princípio ao fim com tecnologia nacional; e, já este mês, dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência deram conta que, numa década, o número de doutorados a residir no país aumentou 73%, chegando à muita razoável cifra de 43 mil. O modo indiferente como os cidadãos reagiram às novidades faz muito sentido. O discurso sobre o país moderno, que investiga, que inova, que dispõe da geração mais qualificada de sempre parece conversa soviética. Tanta ciência e tanto estudo serve, afinal, para quê, se os salários continuam baixos, se a economia permanece débil e o destino parece condenado à eterna e desesperada luta por uma casa para alugar ou dinheiro para o fim do mês?

Estamos perante o caso perfeito para ilustrar o paradoxo Montenegro, que, quando foi líder parlamentar do PSD no Governo de Passos Coelho, inventou a celébre máxima do país que estava melhor, apesar de os portugueses viverem pior. Na altura, com esforço e paciência, podia-se perceber o que o actual primeiro-ministro quis dizer, como hoje se compreende que Portugal seja um país muitíssimo mais moderno e competitivo, ainda que incapaz de o reflectir na qualidade de vida. Como princípio de conversa, porém, não faz sentido nenhum dizer que a ciência e a qualificação não servem para nada. Alguém conseguiria imaginar o que seria Portugal hoje com as suas qualificações de há 20 anos? Ou, concretizando, com apenas 21% da população activa com o ensino secundário (60% hoje), com 28% das pessoas entre os 30 e os 34 anos com licenciatura (50% hoje), com 500 estudantes a doutorarem-se em 2020 (quatro vezes mais, em 2022)?

Convém reconhecer o óbvio: os portugueses de hoje são muito melhores do que o seu país. Em muitos indicadores de qualificação, estamos ombro a ombro com os alemães, mas nem por sombras podemos reflectir essas competências na comparação da qualidade do Estado com a do Estado alemão e, ainda menos, no valor acrescentado da nossa economia se posta ao lado da economia da Alemanha. Por muito mais sábios e competentes que os portugueses sejam, as suas aspirações continuam a ser travadas por uma espécie de imposto cobrado pelos arcaísmos do antigamente. A qualificação dos donos das empresas é baixa e amarra-os à condição do velho patrão. A organização do Estado preserva o centralismo da Idade Média. A Justiça permanece “catatónica” em áreas cruciais como a da administração e do fisco.

A cada Governo que acontece, lá vai surgindo um milagre capaz de resolver o nó que ata o país. António Costa, justiça lhe seja feita, jamais reivindicou para si e para os seus ministros o privilégio do milagre. Na sua maneira ronceira de encarar o presente e o futuro, pedia calma. Se os países do Leste da Europa nos ultrapassam no PIB per capita, é porque tinham mais qualificações à partida e a coisa, mais tarde ou mais cedo, lá se havia de resolver. Montenegro, a bem dizer, segue um caminho parecido ao recusar a terapia do “choque”, fosse o de gestão de Durão Barroso ou o tecnológico de José Sócrates. Tem razão ao concentrar as energias no nó górdio do país – a sua economia débil. Mas fá-lo pela facilidade. Acha que mais vale baixar o IRC do que evitar que um processo administrativo se arraste 20 anos nos tribunais. Opções.

A boa notícia disto tudo é que se o presente é deprimente, o futuro pode ser melhor. Não há dúvida de que um país com mais licenciados, mestrados e doutorados tem trunfos redobrados. De resto, há alguns sinais de que esse futuro começa a aparecer. As exportações de bens com alto valor tecnológico têm crescido e já valem 4 mil milhões de euros. O número de patentes triplicou numa década. Há áreas de futuro, como a das ciências da vida ou a aeroespacial, em que se vão ganhando competências e mercado. Se o turismo domina e representou no ano passado quase metade do crescimento global da economia, há notícias de empresas formadas por jovens doutorados que apontam alternativas para a “armadilha do rendimento médio”, feita de salários baixos e do fabrico por subcontratação, que se esgotou.

Num estudo indispensável coordenado por Fernando Alexandre, hoje ministro da Educação, para a Fundação Francisco Manuel dos Santos (“Do Made in ao Create in”), explica-se que a saída dessa armadilha exige um modelo “baseado no conhecimento, onde a inovação ocupa um lugar central”. Sem tantos doutorados, esse modelo seria à partida uma miragem. Certo? Certo, mas com apenas 8% dos doutorados a trabalhar nas empresas (a média da União Europeia é 40%), é provável que o país avance na ciência pura e se atrase na transformação capaz de as levar a criar produtos de alto valor acrescentado, capazes de pagar salários altos e impostos suficientes para financiar o Estado social. Não é um problema dos doutorados, nem das empresas. É do contexto.

Saber como se acelera essa transição devia estar no centro do debate político e no cerne das reflexões sobre o PRR e o Portugal 2030, o programa do novo ciclo de fundos europeus. Marcelo Rebelo de Sousa tentou-o, ao exigir ao anterior primeiro-ministro que ousasse aplicar esse dinheiro não para recuperar o país da pandemia, mas para o reconstruir. Mas, já se percebeu, essa reconstrução exige uma energia que não se vê em lado nenhum. A fragilidade da situação política leva Governo e oposição a concentrarem-se nos assuntos de mercearia eleitoral. O Estado perdeu competências e capacidade para desenhar estratégias. A justiça não funciona. O trânsito nos portos é um pesadelo. E o ecossistema para o investimento empresarial e para a inovação continua desfavorável. A produtividade dos portugueses ronda 60% da dos alemães e não é por serem incompetentes ou preguiçosos.

Portugal terá por isso de continuar à espera que as transformações subterrâneas, naturais mas lentas, se processem. O seu maior problema é que, se enquanto país avançou para a modernidade, não foi o único. No ranking europeu da inovação, permanece entre os moderadamente inovadores, numa triste 19.ª posição. E, mais grave ainda, enquanto a UE avançou dez pontos percentuais depois de 2017, Portugal avançou apenas 4,3 pontos. Há quem não durma em serviço. Ou quem faça mais do que insistir na discussão sobre quem dá mais aos polícias ou mais corta nos impostos.»


7.8.24

Bichos há muitos (3)

 


Grande Barreira de Corais, Cairns, Austrália, 2017.

A Grande Barreira de Coral estende-se por 2.300 quilómetros ao largo da costa Nordeste da Austrália e é formada por uma rede de 2.900 recifes de corais. Estes são animais vivos e sensíveis, da mesma família das alforrecas, mas que criam um esqueleto calcário e sólido.

No local por onde andei, há cerca de 400 espécies e vi-as através das janelas de um pequeno submarino, num espectáculo absolutamente impressionante pela diversidade, pelas cores e pelo brilho. É sabido que os corais estão altamente atingidos pelas alterações climáticas e que se tenta, a todo o custo, evitar que «desapareçam».

DONOLD

 


Caetano Veloso

 


Chega hoje aos 82? Parece que sim.

Jogos Olímpicos: pretendemos medalhas, mas ignoramos o desporto o resto do ano

 


«A propósito dos Jogos Olímpicos e dos resultados dos atletas portugueses, sinto-me impelido a abordar o tema do desporto escolar. A minha filha foi atleta profissional durante vários anos, por isso escrevo não apenas como observador, mas como pai profundamente envolvido na realidade desportiva.

O desporto em Portugal não pode ser apenas o futebol. Embora seja um adepto de futebol, também sou um defensor das restantes modalidades.

Na grande maioria das vezes, os nossos atletas enfrentam condições desoladoras no nosso país, o que dificulta a conquista de vitórias. Não há espaço suficiente para o desporto em Portugal. A prática desportiva é frequentemente vista como um obstáculo ao desempenho académico.

Embora existam algumas medidas facilitadas para atletas, há falta de consistência no apoio necessário para seguir uma carreira desportiva. A Educação Física não é levada a sério e a sua importância é subestimada. Há uma escassez de desporto nas escolas e uma evidente falta de incentivo e compreensão para aqueles que desejam dedicar-se ao desporto como parte integrante dos seus estudos.

Vamos analisar a Alemanha e a França, que têm um apoio ao desporto três vezes maior que o de Portugal.

Perguntemo-nos seriamente se queremos, de facto, medalhas olímpicas. A nossa realidade desportiva está muito distante destes países, não apenas em termos de infraestruturas, mas também no que diz respeito à valorização dos desportistas. É importante destacar que, até ao dia em que escrevi este artigo, o conjunto dos países da União Europeia, da qual Portugal faz parte, obtém mais medalhas nos Jogos Olímpicos do que a China e os Estados Unidos juntos. Este facto sublinha a importância de valorizar e investir no desporto, seguindo o exemplo de outros países europeus.

Criar uma carga lectiva mais favorável aos alunos e assegurar que o investimento necessário não recai apenas sobre os pais são passos cruciais para que os jovens possam verdadeiramente caminhar para serem atletas de alto nível.

Temos falta de cultura desportiva em Portugal (escolas, famílias e população em geral) e não acreditamos na importância do desporto. A Educação Física deixou de contar para a média, há falta de incentivo ao desporto nas escolas, ou se há desporto, há falta de compreensão pelos atletas.

Estamos a falar de jovens que chegam tardíssimo a casa, têm de conciliar duas áreas e não têm a possibilidade de escolher apenas o desporto. O desporto é um trabalho a tempo integral, uma dedicação e disciplina. É um caminho que Portugal aplaude, mas não estende a mão.

Os nossos atletas, com frequência, não dispõem das infraestruturas e do apoio necessários para triunfar. As viagens em companhias aéreas de baixo custo, com horários desapropriados, bem como as dormidas em aeroportos são uma triste realidade para muitos. Ainda assim, o país espera que conquistem medalhas olímpicas, sem proporcionar as condições mínimas para tal.

Este ano, temos 73 atletas portugueses a competir nos Jogos Olímpicos, em 15 modalidades diferentes. A todos eles, os meus parabéns.

Erguemos as vossas medalhas de participação, num país onde o desporto não está em primeiro, não está em segundo e talvez nem em terceiro, e vocês estão em lugares tão perto do primeiro.

Portugal deve olhar para exemplos internacionais e refletir sobre as suas práticas desportivas. Se queremos realmente ver os nossos atletas no pódio olímpico, precisamos de um compromisso sério com o desporto. Isto implica reavaliar o sistema educativo, criar infraestruturas adequadas e proporcionar apoio contínuo aos nossos desportistas. Assim, Portugal não apenas aplaudirá os seus atletas, mas também lhes dará as mãos, apoiando-os integralmente nas suas – brilhantes – caminhadas.

Concluindo, olhemos para o desporto como algo em que o Estado deve investir, as escolas devem incentivar, e a cultura desportiva deve evoluir. Não sejamos apenas espectadores na plateia, mas também participantes ativos nos treinos.

Parabéns aos atletas portugueses que, com tão pouco, fizeram muito.»


Uma bela lição


By Susan Cohen
 

6.8.24

Bichos há muitos (2)

 


Um belo cavalo da raça Turken Akhalteke. Asghabat, Turquemenistão, 2016.

Estes cavalos são extremamente ágeis e muito resistentes, podendo viajar 150 km por dia, com pouca comida e água. São uma espécie de símbolo do país e foram muito elogiados desde os tempos de Alexandre o Grande, imperadores romanos e Genghis Khan.

Outros mundos…

06.08.1966 – «Salazar» foi o seu nome de baptismo

 


E, no entanto, com a sagacidade que o caracterizava, o presidente do Conselho de Ministros previu o que viria a acontecer alguns anos mais tarde. Antes do início das cerimónias da inauguração, ao ver o seu nome num dos pilares, terá perguntado: «As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.» E deram…

Mais informação e um vídeo AQUI.

Tu n'as rien vu a Hiroshima

 


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06.08.1945 – Hiroshima: os relógios pararam às 8:15




Foi nesta data que a humanidade viveu um dos dias mais terríveis do século XX. Quem alguma vez passou por Hiroshima não saiu de lá como entrou, ficou certamente marcado para sempre como eu fiquei.

Se eu apenas pudesse guardar duas fotografias, dos milhares que fui tirando por esse mundo fora, escolheria estas. De má qualidade, sem dúvida, mas que me recordam dois objectos expostos no Museu de Hiroshima, que nunca mais esquecerei. Numa, um relógio que parou à hora exacta em que a bomba explodiu. A outra fala por si.





Parque Memorial da Paz de Hiroshima - algumas imagens:










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Os lucros da banca

 


«Na última semana, vários bancos portugueses divulgaram as suas contas e anunciaram lucros e aumentos das respetivas margens para níveis que podemos chamar, sem grande hesitação, “muito simpáticos”. Os valores anunciados falam por si: as cinco maiores instituições nacionais tiveram em conjunto, nos primeiros seis meses do ano, lucros de 2619,4 milhões de euros. Qualquer coisa como 14 milhões por dia…

Vivemos num sistema económico em que é quase impossível não querer retribuir os investimentos, ou seja, é benéfico para todos que os bancos sejam rentáveis. É um sinal de boa saúde da economia. Aliás, este mesmo debate aconteceu há seis meses, quando foram divulgadas as contas do ano anterior. E os argumentos são idênticos: de um lado, quem defende os lucros como sinal saudável e necessário para o futuro do setor e, do outro, quem aponta a imoralidade destes resultados num período em que as famílias enfrentam inflação, aumento das taxas de juros e do desemprego.

Na verdade, há algo desequilibrado quando colocamos todas estas parcelas nos pratos da balança. Sim, é verdade que não podemos desejar que os bancos tenham prejuízos e enfrentem dificuldades como muitos cidadãos. Já percebemos que eles são essenciais para a saúde financeira da sociedade em que vivemos. Mas não deixa de ser inaceitável que quando a situação está mais complicada para os cidadãos, alguém tire daí benefícios diretos.

Não se trata aqui de discutir teorias económicas e, em especial, quais delas trazem melhores resultados para os cidadãos. Trata-se de questionar, tão simplesmente, se não haverá uma forma de equilibrar tudo isto: a banca poder remunerar o seu capital, mas os cidadãos comuns não serem espremidos quando mais precisam de ajuda.

Ou, de forma quase humorística, trazer para a economia o velho conceito asiático que defende o equilíbrio. Uma espécie de yin e yang que nos permita algum apoio sem que isso signifique a destruição de nenhum setor da economia.»


5.8.24

Bichos há muitos (1)

 


Um belo casuar. Sydney, Austrália, 2017.

O casuar é uma ave de grande porte, nativa do nordeste da Austrália, Nova Guiné e ilhas próximas, muito ágil (pode correr 50 km/hora e saltar 1,5m).

Torna-se muito agressiva se se trata de proteger ninhos e crias. As fêmeas põem entre 3 e 5 ovos, mas depois vão-se embora e os machos cuidam sozinhos dos ninhos e das crias durante os nove meses seguintes.

JO: em 1968 foi assim

 




JO: em 1936 foi assim

 



Etíopes

 


37 que são 120 milhões

 


«Os Jogos Olímpicos (JO) são geralmente notícia pelas medalhas (ou a sua escassez) ou pelas polémicas, mais ou menos estéreis, que se esfumam rápida e inconsequentemente. Como a alegada paródia à última ceia de Jesus (que afinal era uma recriação da mitologia grega com Dionísio), as acusações de que a pugilista Imane Khelif é trans (quando nasceu e sempre viveu como mulher, ainda que tenha níveis de testosterona elevados) ou as suspeitas sobre o tempo conseguido pelo nadador chinês Pan Zhanle, que retirou 40 centésimos de segundo ao anterior recorde mundial também fixado por ele. Certamente alheia a controvérsias balofas, a pugilista Cindy Ngamba fez história ontem, ao garantir a primeira medalha para a Equipa dos Refugiados Olímpicos. Nascida nos Camarões há 25 anos, vive no Reino Unido e integra a equipa de 37 atletas refugiados que estão a competir em 12 modalidades.

A comitiva deste ano é liderada por Masomah Ali Zada, que despertou a ira do regime afegão por andar de bicicleta, a ponto de ser apedrejada quando pedalava nas ruas de Cabul. Fugiu para França, onde estuda engenharia e cumpre o sonho de praticar ciclismo de alta competição. Outra das estrelas desta equipa é o queniano Dominic Lobalu, muitas vezes comparado com o somali tetracampeão olímpico Mo Farah, que foi a sua inspiração para se entregar ao atletismo. O atual campeão europeu dos dez mil metros vai correr os cinco mil metros e quer conquistar uma medalha olímpica.

É a terceira vez que os JO acolhem desportistas de elite que tiveram de fugir dos seus países, dignificando a tradição olímpica de cultivar a paz e a amizade entre os povos. “Permite-nos chamar a atenção e compreender a realidade global de que 120 milhões de pessoas, ou uma em cada 69 pessoas em todo o Mundo, foram forçadas a fugir das suas casas”, justifica Jojo Ferris, diretora da Fundação Refúgio Olímpico.

A medalha de Cindy Ngamba é a primeira da equipa, mas é muito mais do que isso. Porque os 37 atletas em competição representam os 120 milhões de vidas invisíveis que o Mundo quer esquecer.»


4.8.24

Não temos cá disto (11)

 


Grandes verdades

 


04.08.1578 – Adeus, Alcácer-Quibir

 


Foi há 446 anos que Portugal sofreu uma derrota em Alcácer-Quibir quando decidiu aliar-se a um sultão, Mulay Mohammed, e acabou por ser vencido por um outro, Mulei Moluco. Derrota pesada acima de tudo sobretudo porque nela se perdeu um rei sem descendentes, D. Sebastião.

Foi tal o desespero que o povo não quis acreditar na sua morte, ou ficou na expectativa que ressuscitasse, numa atitude heróica e trágica que o marcou para todo o sempre. Hoje continua, talvez inconsciente mas serenamente, à espera que regresse o tal salvador que o livrará de todos males.

Com música de vários autores:











O umbigo de Paris

 


«A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris não correu bem; e a culpa não foi da chuva, esse álibi de costas largas. A sondagem em que 85% dos franceses consideram a cerimónia um sucesso revela apenas que gostam de si próprios, o que já sabíamos. Aliás, nesse estrito sentido, a sessão de abertura cumpriu.

Para dirigir o espetáculo foi contratado um ator e encenador de teatro, Timothy Jolly, e a realização foi entregue à Olympic Broadcasting Services, uma filial do Comité Olímpico, que faz todas as transmissões há mais de 20 anos, em estádios. Jolly rodeou-se de quatro outros criativos, em áreas complementares como dança e guarda-roupa. Ao todo, foram cinco os grandes responsáveis, unidos na vontade de “celebrar a diversidade”. Imagino que nas suas reuniões tenham passado o tempo a dizer uns aos outros “Mais ça c'est génial!” (mas isso é genial), sem que ninguém de seguida lhes editasse as ideias. A sessão de abertura acabou por se caracterizar por um barroquismo com pretensões futuristas, ambicionando surtir pasmo e arrebatamento. Houve mesmo um comentador que, ao ver uma estátua dourada a emergir do solo, narra com entusiasmo: “E agora vemos Olympe de Gouges, uma mulher muito importante na Revolução Francesa.” Em certa medida sim, foi suficientemente importante para lhe cortarem a cabeça.

Acima de tudo, a realização não mostrou ter léxico para dialogar com a escala da cidade. Bastaria o conhecimento mínimo de algumas regras elementares de realização, como o raccord de direção, para que o espectador se sentisse, no mínimo, orientado no espaço. Entradas e saídas de campo seriam exequíveis de forma elegante e barata com movimentos de câmara planificados: teria sido escusada a quantidade de elevadores e alçapões para fazer emergir estátuas e pessoas. Sei que o orçamento foi ultrapassado, mas era investir menos em alçapões e pagar a uma boa equipa de realização.

Porque o problema foi também narrativo: os criadores engendraram uma personagem original, com a cara coberta por uma espécie de máscara de esgrima, um vulto negro e expedito que galga a cidade, num parkour incansável. É a personagem que cola toda a emaranhada narrativa, e nós, como espectadores, investimos no seu mistério. Vem-se a revelar que o grande desígnio desta figura, depois de toda a aventura, era entregar a tocha a Zidane, num gesto pífio, e ir-se embora. Se porventura tirasse a máscara e fosse uma mulher, isso teria significado: equalité. Mas não: “Toma lá a tocha, Zidane, que me cansei para aqui chegar.”

Por outro lado, representar a diversidade através de uma profusão de cores e formas, tipo cada fatiota cada melro, também não foi o modo mais eloquente de figurar pluralidade. Na imagem, o conceito de diferença emerge de forma muito mais clara em presença de padrões que se quebram do que perante uma diversidade total. O espetáculo esqueceu-se de que era para ser gravado e emitido, que não era teatro de rua. Esta sessão de abertura sofreu de uma grave falha processual: ninguém trabalhou a sério a sua transposição para televisão.

Mas, como sempre, nem tudo foi mau, que para absolutos bastou a corte do Rei Sol. Quando anoiteceu, a sessão melhorou muito, talvez porque a iluminação pontual destacou as zonas de interesse e as câmaras passaram a saber para onde apontar. Atletas vestidos com um equipamento branco ágil e bonito fizeram caminho até à base do grande balão dourado que aguardava a tocha, com sede de fogo. A base incendiou-se e o balão voou. E desde esse dia que paira sobre Paris, como um umbigo da cidade — narcisa, potente, belíssima.»