«Quem tem mais poder para desencadear uma guerra civil? O chefe de um Estado que, apesar de tudo, está sujeito às normas do direito internacional, ou o líder de uma rede social de grande expansão, como o X de Elon Musk, que basicamente não tem de prestar contas a ninguém? O sobressalto não é de resposta fácil, embora o responsável governamental do Reino Unido pela ligação às empresas de média e às gigantes tecnológicas, Peter Kyle, sugira que o verdadeiro poder de mudança possa ser mais efetivo no segundo caso.
Musk é, hoje, muito mais do que um bilionário. É um dos homens mais poderosos do planeta. E, não sendo um político, tem uma capacidade quase infinita de contaminar o pensamento de terceiros e o curso dos acontecimentos. Fê-lo no conflito Rússia-Ucrânia, como guru tecnológico, está a fazê-lo nas eleições norte-americanas, como financiador encapotado de Trump, e está de novo a fazê-lo como instigador das causas da direita radical, ao incendiar o debate em torno dos tumultos no Reino Unido, contribuindo para alimentar a tese de que a responsabilidade pela morte de três crianças, uma delas portuguesa, à facada, foi de um imigrante muçulmano, algo que já foi desmentido. Entre outras coisas, o também patrão da Tesla atirou-se ao Governo britânico (“a guerra civil é inevitável”, escreveu na rede social X) e partilhou uma notícia falsa onde se escrevia que o primeiro-ministro Keir Starmer estava a pensar enviar os agitadores para campos de detenção nas Falklands. Musk retirou a partilha do artigo falso meia hora depois, mas o “post” terá sido lido dois milhões de vezes.
O mosqueteiro da liberdade de expressão tornou-se num influenciador de largo espectro. Tolerado pela sua excentricidade, tem dobrado as regras do bom senso, aproveitando a bonomia das leis reguladoras e a ignorância de um exército que dispara atrás de um teclado. Até ver, tem ganho as primeiras batalhas da guerra.»
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