(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)
13.2.10
Para a Fonte Luminosa e em força?
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio mas já nem os socialistas parecem acreditar em Heráclito: segundo o Público, está a ser convocada por SMS uma manifestação de apoio a Sócrates para encher «de novo» a Alameda, numa alusão ao Verão de 1975 em que Mário Soares terá conseguido reunir 100.000 pessoas.
No Largo do Rato, tem-se conhecimento da iniciativa sem saber a sua origem, mas talvez não fosse mau que houvesse uma demarcação pública – digo eu que não tenho nada a ver com isso mas que acredito em efeitos boomerang.
No Largo do Rato, tem-se conhecimento da iniciativa sem saber a sua origem, mas talvez não fosse mau que houvesse uma demarcação pública – digo eu que não tenho nada a ver com isso mas que acredito em efeitos boomerang.
P.S. 1 - O Partido Socialista já veio dizer, apenas oficiosamente, julgo, que nada tem a ver com a iniciativa. Resta saber se aderirá, de facto, caso ela venha a concretizar-se - ou seja, se dirigentes seus virão a estar presentes na mesma.
P.S. 2 -14/2, 14:00: acabo de receber o sms em questão, enviado por um membro da Comissão Política do PS.
Não há famílias grátis
O bisavô do Miguel levou-me a esta fotografia da família do meu pai. Ele é uma das criancinhas da primeira fila, os adultos são os meus avós: ele galego, ela prussiana, nascida alemã mas que seria hoje polaca.
Conta a lenda familiar que se conheceram e amaram sem falarem nenhuma língua em comum. Mas se arrancar da Galiza rumo a Lisboa era então prática mais do que corrente, julgo que o mesmo não se pode dizer da vinda de uma jovem de vinte anos da Prússia no fim dos anos 80 (do século XIX, obviamente), em pura viagem de turismo com um grupo de amigos, que se encantou pelo Sol lisboeta e decidiu por cá ficar sozinha.
Aventureira q.b., portanto, a Frau Lopez foi a matriarca incontestada da família (ou não fosse prussiana…) e, até aos 80 e muitos anos, calcorreou as ruas de Lisboa para dar aulas particulares de alemão em casa de meninos da burguesia, desde as filhas do presidente Carmona a João Bénard da Costa.
Sem me dar ao trabalho de grandes análises, sempre achei provável que as minhas raízes, esticadas da Prússia à Galiza com uma passagem pelos Açores para apanharem um avô materno, explicassem talvez muitas coisas… Sem elas, existiria este blogue? Sei lá! Mas talvez não.
Conta a lenda familiar que se conheceram e amaram sem falarem nenhuma língua em comum. Mas se arrancar da Galiza rumo a Lisboa era então prática mais do que corrente, julgo que o mesmo não se pode dizer da vinda de uma jovem de vinte anos da Prússia no fim dos anos 80 (do século XIX, obviamente), em pura viagem de turismo com um grupo de amigos, que se encantou pelo Sol lisboeta e decidiu por cá ficar sozinha.
Aventureira q.b., portanto, a Frau Lopez foi a matriarca incontestada da família (ou não fosse prussiana…) e, até aos 80 e muitos anos, calcorreou as ruas de Lisboa para dar aulas particulares de alemão em casa de meninos da burguesia, desde as filhas do presidente Carmona a João Bénard da Costa.
Sem me dar ao trabalho de grandes análises, sempre achei provável que as minhas raízes, esticadas da Prússia à Galiza com uma passagem pelos Açores para apanharem um avô materno, explicassem talvez muitas coisas… Sem elas, existiria este blogue? Sei lá! Mas talvez não.
12.2.10
Escutas? Hoje, só esta
O país está a precisar de um belo Carnaval - a ver a Banda passar!
Descubra as diferenças
9 de Outubro de 1910
Oh, meu Deus; nestas ocasiões é que eu queria ver por dentro estes homens lívidos e com um sorriso estampado na cara, que sobem as escadas dos ministérios para aderirem à República!
É este e aquele, os que estão ameaçados de perderem os seus lugares, as altas situações, o Poder. Os tipos não importam – o que importa é o fantasma que transparece atrás da figura; o que importa é o monólogo interior, as verdadeiras palavras que não se pronunciam, o debate que não tem fim, o que nestas ocasiões de crise ruge lá dentro sem cessar. Escutá-los a todos! Possuir o dom mágico de ouvir através das paredes e dos corpos!…Toda a noite, toda a noite de Cinco de Outubro, quantos perguntaram, ansiosos: quem vai vencer? Onde é o meu lugar? …Bem me importam a mim as tragédias e as mortes!… Interesses, ambição, medo, tantos fantasmas que nem eu supunha existirem e que levantam a cabeça!…
Não há nada que chegue a estes momentos históricos em que o fundo dos fundos se agita e remexe, para cada um se avaliar e saber o que vale uma alma…
E o desfile segue – o desfile dos tipos que sobem as escadarias dos ministérios, dos que descem as escadarias dos ministérios, uns já com o olhar de donos, mas vacilantes ainda, sem poderem acreditar na realidade, outros com um sorriso estampado que lhes dói. Estamos todos lívidos, por fora e por dentro…
É este e aquele, os que estão ameaçados de perderem os seus lugares, as altas situações, o Poder. Os tipos não importam – o que importa é o fantasma que transparece atrás da figura; o que importa é o monólogo interior, as verdadeiras palavras que não se pronunciam, o debate que não tem fim, o que nestas ocasiões de crise ruge lá dentro sem cessar. Escutá-los a todos! Possuir o dom mágico de ouvir através das paredes e dos corpos!…Toda a noite, toda a noite de Cinco de Outubro, quantos perguntaram, ansiosos: quem vai vencer? Onde é o meu lugar? …Bem me importam a mim as tragédias e as mortes!… Interesses, ambição, medo, tantos fantasmas que nem eu supunha existirem e que levantam a cabeça!…
Não há nada que chegue a estes momentos históricos em que o fundo dos fundos se agita e remexe, para cada um se avaliar e saber o que vale uma alma…
E o desfile segue – o desfile dos tipos que sobem as escadarias dos ministérios, dos que descem as escadarias dos ministérios, uns já com o olhar de donos, mas vacilantes ainda, sem poderem acreditar na realidade, outros com um sorriso estampado que lhes dói. Estamos todos lívidos, por fora e por dentro…
Raul Brandão, Memórias (13º Volume)
(Texto divulgado por M. Manuela Cruzeiro nos Caminhos da Memória.)
Gmail Buzz
Tal como na antiga, «é preciso avisar toda a gente», mais concretamente quem usa o Gmail. É fácil desactivar o tal de Buzz que apareceu há dois dias: há uma opção no fim da página principal do correio.
Nem aprofundei muito o que vem descrito neste texto, mas prefiro prevenir do que trocar os dedos e permitir o que não quero.
Nem aprofundei muito o que vem descrito neste texto, mas prefiro prevenir do que trocar os dedos e permitir o que não quero.
11.2.10
Stromboli? Não muito obrigada.
Agradeço a solidariedade, mas nem por 5 Dias iria a Stromboli, mesmo que Rossllini lhe tenha chamado «Terra de Deus»: é muito perto para os meus hábitos de viajante e não gosto especialmente de vulcões.
Além disso, quero ver se percebo finalmente o que é a Felicidade Nacional Bruta porque isto de PIB já deu o que tinha a dar.
Além disso, quero ver se percebo finalmente o que é a Felicidade Nacional Bruta porque isto de PIB já deu o que tinha a dar.
Uma espécie de parlamento sem gravata nem regimento
O título é tirado do último parágrafo de um post que o Zé Neves escreveu ontem:
«A comunidade blogoesférica, uma espécie de parlamento sem gravata nem regimento, se existe e se foi inventada por alguém foi por uma geração de nove ou dez bloggers (digo geração porque é assim que se gostam de ver) que reivindicou para a blogoesfera política um estilo próprio de acção, uma geração que passa a vida a dizer que é de esquerda como os partidos já não são e que é de direita como os partidos já não são e que, ainda assim, sendo mais ideologicamente “livre” e “frontal”, tem amigos de um e de outro lado da barricada.» (Leia-se o resto do parágrafo.)
Não sei se como causa ou se como efeito do que o Zé Neves caracteriza bem, mas certamente com alguma conexão embora ela possa não ser óbvia, assistimos a uma verdadeira explosão do número de grandes blogues colectivos - nascidos do zero, por cisões ou «re-cisões» -, bem como ao reforço numérico dos já existentes. Com as costas protegidas pela pertença a um grupo e pelos valores do Sitemeter, os tais poucos bloggers que o Zé Neves refere (pessoalmente penso que são mais do que nove ou dez), falam e argumentam de blogue para blogue, quase sempre em nome da esquerda ou da direita, em amiguismo ou ao ataque, mas com a tal «cumplicidade de geração» que tudo permite, dos beijinhos ao insulto. São eles os verdadeiros líderes de pequenos exércitos de turbo-bloggers que acabam por se desdobrar, quantas vezes com os mesmos textos, em duas ou mesmo em três arenas. Transformaram os blogues em conjuntos de colunas de notícias e de opiniões avulsas, que pretendem substituir o papel dos jornais, tal como – e regresso agora ao texto do Zé Neves – os tais blogolíderes se movem «numa espécie de demarcação em relação à política dos partidos e seus dirigentes». Em paralelo, deixam morrer pouco a pouco os seus blogues individuais, por vezes excelentes.
Com lugar para as louváveis excepções a todas as regras, estes grupos de pessoas, que muitas vezes nada têm a ver umas com as outras e que escrevem em paralelo com pouco ou nenhum valor acrescentado pelo facto de se apresentarem em conjunto, pretendem, como grupo, usar a força de pressão que o ranking no Blogómetro lhes confere e, individualmente, o prazer de serem lidas por multidões (extraordinário objectivo de vida cuja compreensão me ultrapassa). Tudo isto tem como consequência inevitável que cada blogue publique catadupas de posts por dia e provoque a existência de dezenas, ou mesmo centenas de comentários a um único post, o que gera a impossibilidade de o próprio autor os ler todos e, no leitor, a frustração de ter formulado uma pergunta honesta que nunca chega a merecer uma resposta. (E já nem falo da insanidade de grande parte das Caixas de Comentários dessas poderosas máquinas…)
Nada disto era assim há três anos, nem mesmo há dois, e talvez valha a pena perceber por que razões aqui chegámos. Note-se que até aprecio blogues de mais de uma pessoa, se possível de um grupo muito pequeno e razoavelmente homogéneo, em que se sinta a «cola» da cumplicidade entre os seus membros e a preocupação de manterem um espaço de debate calmo e civilizado. Mas encontrá-los, hoje, é como esbarrar com uma agulha no fundo de um palheiro.
Enfim, contra factos valem pouco as evidências e eles, os factos, estão aí e não me dão razão.
«A comunidade blogoesférica, uma espécie de parlamento sem gravata nem regimento, se existe e se foi inventada por alguém foi por uma geração de nove ou dez bloggers (digo geração porque é assim que se gostam de ver) que reivindicou para a blogoesfera política um estilo próprio de acção, uma geração que passa a vida a dizer que é de esquerda como os partidos já não são e que é de direita como os partidos já não são e que, ainda assim, sendo mais ideologicamente “livre” e “frontal”, tem amigos de um e de outro lado da barricada.» (Leia-se o resto do parágrafo.)
Não sei se como causa ou se como efeito do que o Zé Neves caracteriza bem, mas certamente com alguma conexão embora ela possa não ser óbvia, assistimos a uma verdadeira explosão do número de grandes blogues colectivos - nascidos do zero, por cisões ou «re-cisões» -, bem como ao reforço numérico dos já existentes. Com as costas protegidas pela pertença a um grupo e pelos valores do Sitemeter, os tais poucos bloggers que o Zé Neves refere (pessoalmente penso que são mais do que nove ou dez), falam e argumentam de blogue para blogue, quase sempre em nome da esquerda ou da direita, em amiguismo ou ao ataque, mas com a tal «cumplicidade de geração» que tudo permite, dos beijinhos ao insulto. São eles os verdadeiros líderes de pequenos exércitos de turbo-bloggers que acabam por se desdobrar, quantas vezes com os mesmos textos, em duas ou mesmo em três arenas. Transformaram os blogues em conjuntos de colunas de notícias e de opiniões avulsas, que pretendem substituir o papel dos jornais, tal como – e regresso agora ao texto do Zé Neves – os tais blogolíderes se movem «numa espécie de demarcação em relação à política dos partidos e seus dirigentes». Em paralelo, deixam morrer pouco a pouco os seus blogues individuais, por vezes excelentes.
Com lugar para as louváveis excepções a todas as regras, estes grupos de pessoas, que muitas vezes nada têm a ver umas com as outras e que escrevem em paralelo com pouco ou nenhum valor acrescentado pelo facto de se apresentarem em conjunto, pretendem, como grupo, usar a força de pressão que o ranking no Blogómetro lhes confere e, individualmente, o prazer de serem lidas por multidões (extraordinário objectivo de vida cuja compreensão me ultrapassa). Tudo isto tem como consequência inevitável que cada blogue publique catadupas de posts por dia e provoque a existência de dezenas, ou mesmo centenas de comentários a um único post, o que gera a impossibilidade de o próprio autor os ler todos e, no leitor, a frustração de ter formulado uma pergunta honesta que nunca chega a merecer uma resposta. (E já nem falo da insanidade de grande parte das Caixas de Comentários dessas poderosas máquinas…)
Nada disto era assim há três anos, nem mesmo há dois, e talvez valha a pena perceber por que razões aqui chegámos. Note-se que até aprecio blogues de mais de uma pessoa, se possível de um grupo muito pequeno e razoavelmente homogéneo, em que se sinta a «cola» da cumplicidade entre os seus membros e a preocupação de manterem um espaço de debate calmo e civilizado. Mas encontrá-los, hoje, é como esbarrar com uma agulha no fundo de um palheiro.
Enfim, contra factos valem pouco as evidências e eles, os factos, estão aí e não me dão razão.
11 de Fevereiro
Em 11 de Fevereiro de 2007, o SIM venceu no referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez.
(Mana1 e mana2, aí ao lado: já nem vocês comemoram isto? Aaaiii…)
maiúscula não entra
não me incomoda que valter hugo mãe tenha esquecido o «shift» porque a f. desde há muito me iniciou na arte de assim ler. o que não me impede de aconselhar que passem por este post do jpb.
mas, caro zé pedro, contradictio in terminis porque escreveu um belíssimo texto.
mas, caro zé pedro, contradictio in terminis porque escreveu um belíssimo texto.
E S. Bento aqui tão longe
Estes estão numa praia na China, mas talvez ainda haja tempo: aluguem uns aviões e vistam-nos de branco!
10.2.10
Escreve quem sabe e fala quem deve
Baptista Bastos, hoje no DN:
«A questão é esta: há liberdade de imprensa em Portugal? É ociosa, a pergunta, para quem, como eu, vem do tempo em que se escrevia baixinho, tão baixinho que perdêramos muitas das palavras, por mudez e falta de uso. Já me não surpreende a desvergonha de alguns daqueles que têm desfilado nas televisões a proclamar que vivemos numa asfixia. Mas indigna-me o silêncio calculado dos que se não erguem a protestar contra a ambiguidade do assunto.»
Mas também Vera Jardim, anteontem, na RR:
«Eu acho que é urgente que se faça luz sobre isto, que estas pessoas sejam chamadas ao Parlamento (…) Têm de explicar muito claramente que pressões eram essas, donde vinham, quem eram os seus autores, qual era a sua direcção (…) porque este clima não é sustentável.»
(Os realces são meus.)
«A questão é esta: há liberdade de imprensa em Portugal? É ociosa, a pergunta, para quem, como eu, vem do tempo em que se escrevia baixinho, tão baixinho que perdêramos muitas das palavras, por mudez e falta de uso. Já me não surpreende a desvergonha de alguns daqueles que têm desfilado nas televisões a proclamar que vivemos numa asfixia. Mas indigna-me o silêncio calculado dos que se não erguem a protestar contra a ambiguidade do assunto.»
Mas também Vera Jardim, anteontem, na RR:
«Eu acho que é urgente que se faça luz sobre isto, que estas pessoas sejam chamadas ao Parlamento (…) Têm de explicar muito claramente que pressões eram essas, donde vinham, quem eram os seus autores, qual era a sua direcção (…) porque este clima não é sustentável.»
(Os realces são meus.)
Je t’aime, moi non plus
… disse Cohn-Bendit anteontem a Durão Barroso, quando o Parlamento Europeu aprovou a nova Comissão, referindo-se àquilo que chama uma coligação negativa: «não te damos crédito, mas vamos votar em ti». Sempre ele, virulento hoje como há mais de quarenta anos, num tom inconfundível e não poupando nas palavras.
«Cessem as banalidades e as generalidades: queremos uma Europa política.»
«Quero que tenham ideias, que defendam qualquer coisa!»
«A realidade no mundo é que a Europa não está à altura da crise económica, da crise ecológica e da crise financeira.»
Vale a pena ouvir:
Matusalém (19)
(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)
9.2.10
Um Manifesto e uma Manifestação
Um post de uma linha que escrevi ontem bateu asas e teve efeitos bem longe daqui e em centenas de acessos a este blogue. Li, em silêncio, o que por lá se foi escrevendo a meu respeito porque raramente intervenho em caixas de comentários de turbo-blogues e arrependo-me quase sempre que o faço.
Mas o que está em causa é grave: foi convocada uma manifestação para 5ª feira e lançada uma petição – Todos pela Liberdade - que, no momento em que escrevo, ultrapassa as 3.000 assinaturas e terá muitas mais.
O que penso de um modo geral sobre a iniciativa e o seu conteúdo está dito num post que o Miguel Serras Pereira acaba de publicar no 5 Dias: Anti-Social-Fascismo (R)? e dispenso-me de o repetir (*).
Apenas alguns apontamentos adicionais, à minha maneira.
Que a situação do país é gravíssima, que os últimos episódios que envolvem o primeiro-ministro não o são menos e que são necessários esclarecimentos urgentes parece-me absolutamente óbvio. Mas outra coisa bem diferente é pedir sem mais a sua cabeça, de uma forma primária e muito perigosa, como se isso resolvesse todos os problemas. Como diz Miguel S. Pereira: «Se o governo Sócrates merece cair por muitas razões, o apelo omite muitas das principais; e se esse silenciamento é o preço da unidade da acção, receio que seja o branqueamento antecipado de um próximo governo “de verdade”, e das suas previsíveis tentativas de berlusconização do regime por via presidencial ou “mista” (coligação da Presidência e forças político-partidárias eventualmente recombinadas), e de “limitação económica” agravada dos direitos sociais e liberdades.». Não podia estar mais de acordo: o perigo de berlusconização por via presidencial não é uma figura de estilo nem uma «boutade», ele está aí bem vivo e à espera de uma oportunidade que parece receber uma bela ajuda por parte destes peticionário-manifestantes.
Que pessoas de esquerda se tenham juntado à direita, e até enfeitado um pouco a lista dor promotores, é triste e é grave porque demonstram que não entendem o que a dita direita realmente pretende, desta vez como sempre. De repente, alguma esquerda descobriu um objectivo nacional comum e escorregou numa casca de banana magistral e estrategicamente colocada. E lá vai, ufana e feliz, vestida de branco, com estandartes que por acaso até serão azuis, ombro a ombro, em nome de uma blogosfera unida.
Finalmente, não vi ainda suficientemente sublinhada a gravidade da manifestação convocada para depois de amanhã, no meu entender mais chocante do que a petição: «a rua» tem uma enorme força na vida das democracias e há que utilizá-la para objectivos correctos. É talvez um bem ainda mais precioso para quem viveu em tempos de ditadura, onde ela era sinal de carga policial ou, num extremo oposto, o Terreiro do Paço à cunha com Salazar a gritar que «Todos não somos demais». Pelo meio, a rua foi o 25 de Abril. E por isso senti, como uma verdadeira bofetada na cara, que alguém tenha posto num blogue, como convocatória para esta manifestação, um vídeo com os soldados e os cravos e Grândola em música de fundo. Haja decoro.
(*) A ler também este post do Miguel Cardina.
Matusalém (18)
(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)
8.2.10
Verde mais verde não há
A Costa Rica elegeu ontem uma mulher para presidente da República e do Governo, num país de regime presidencialista. Com um apelido simpático, representa um partido de centro-esquerda e é considerada grande defensora dos direitos das mulheres. Mas… é contra o aborto e não aprova o casamento gay...
Laura Chinchilla contou com o apoio de Óscar Arias Sánchez, que não pôde recandidatar-se por já ter cumprido dois mandatos - personagem de muito grande prestígio, que no final dos anos 80 se opôs firmemente a que os Estados Unidos utilizassem a Costa Rica como base para atacarem a guerrilha nicaraguense e que recebeu, em 1987, o Prémio Nobel da Paz por ter conseguido que alguns países da América Central (Nicarágua, Guatemala, El Salvador e Honduras) chegassem a acordo sobre um plano de paz que ele próprio elaborou.
Embora atingida pela crise em 2009, a Costa Rica é considerada um caso de sucesso e percebe-se porquê: além do Atlântico e do Pacífico, «entalam-na» o Panamá e a Nicarágua, vizinhos não muito desejáveis. Entre guerrilhas sandinistas de um lado e Noriegas do outro, mantém uma sólida democracia desde 1949, ano em que entrou em vigor uma constituição que atribuiu direito de voto universal aos dezoito anos (inclusive às mulheres e aos negros) e que aboliu as forças armadas. Iniciou-se então um historial de pacifismo, especialmente significativo no contexto geoestratégico em que o país se insere.
Com cerca de quatro milhões de habitantes, 96% de literacia e um terço da sua área protegida ecologicamente, está na moda como destino turístico - a sua principal fonte de receitas – e exporta sobretudo ananases, bananas (*), microships e desenvolvimento de software.
Em 2006, passeei por cinco das suas sete províncias, fiz cerca de 1.300 km por terra e por rio – num país VERDE e absolutamente luxuriante, onde se atinge facilmente 100% de humidade a que só as melhores máquinas fotográficas digitais resistem.
Ir a Tortuguero é uma experiência única. Por razões ecológicas, não é acessível por estrada mas apenas por rio, numa viagem de quase duas horas. Caminha-se por trilhos com vegetação tão cerrada que se ouve chover sem que a água chegue ao chão e é-se acordado a meio da noite por trovões e chuvadas monumentais e, às cinco da manhã, por simpáticos macacos roncadores. Por lá se vêem tartarugas – também verdes, na época do ano em que lá estive — a desovar na praia em noite de lua cheia.
Eu, que nem sou muito dada a excursões ecológicas, fiquei rendida a este país com muitos outros parques, vulcões, termas paradisíacas em cascatas a várias temperaturas, borboletas azuis e rãs vermelhas.
Dito isto, a Costa Rica é um país modesto. As estradas são más (péssimas, por vezes), a arquitectura de luxo não passou por ali, as povoações não são bonitas, as pessoas têm um ar muito simples. Visto a distância, Portugal parece um país de milionários, Lisboa é Paris quando recordada em S. José.
Um toque futebolístico no que seria o paraíso visual para qualquer sportinguista: foi em Tortuguero que vi, na final do campeonato do mundo de 2006, a celebérrima cabeçada de Zidane. Pareceu-me que até os macacos roncaram então com mais força!...
(*) E também plátanos, João! :-)
Laura Chinchilla contou com o apoio de Óscar Arias Sánchez, que não pôde recandidatar-se por já ter cumprido dois mandatos - personagem de muito grande prestígio, que no final dos anos 80 se opôs firmemente a que os Estados Unidos utilizassem a Costa Rica como base para atacarem a guerrilha nicaraguense e que recebeu, em 1987, o Prémio Nobel da Paz por ter conseguido que alguns países da América Central (Nicarágua, Guatemala, El Salvador e Honduras) chegassem a acordo sobre um plano de paz que ele próprio elaborou.
Embora atingida pela crise em 2009, a Costa Rica é considerada um caso de sucesso e percebe-se porquê: além do Atlântico e do Pacífico, «entalam-na» o Panamá e a Nicarágua, vizinhos não muito desejáveis. Entre guerrilhas sandinistas de um lado e Noriegas do outro, mantém uma sólida democracia desde 1949, ano em que entrou em vigor uma constituição que atribuiu direito de voto universal aos dezoito anos (inclusive às mulheres e aos negros) e que aboliu as forças armadas. Iniciou-se então um historial de pacifismo, especialmente significativo no contexto geoestratégico em que o país se insere.
Com cerca de quatro milhões de habitantes, 96% de literacia e um terço da sua área protegida ecologicamente, está na moda como destino turístico - a sua principal fonte de receitas – e exporta sobretudo ananases, bananas (*), microships e desenvolvimento de software.
Em 2006, passeei por cinco das suas sete províncias, fiz cerca de 1.300 km por terra e por rio – num país VERDE e absolutamente luxuriante, onde se atinge facilmente 100% de humidade a que só as melhores máquinas fotográficas digitais resistem.
Ir a Tortuguero é uma experiência única. Por razões ecológicas, não é acessível por estrada mas apenas por rio, numa viagem de quase duas horas. Caminha-se por trilhos com vegetação tão cerrada que se ouve chover sem que a água chegue ao chão e é-se acordado a meio da noite por trovões e chuvadas monumentais e, às cinco da manhã, por simpáticos macacos roncadores. Por lá se vêem tartarugas – também verdes, na época do ano em que lá estive — a desovar na praia em noite de lua cheia.
Eu, que nem sou muito dada a excursões ecológicas, fiquei rendida a este país com muitos outros parques, vulcões, termas paradisíacas em cascatas a várias temperaturas, borboletas azuis e rãs vermelhas.
Dito isto, a Costa Rica é um país modesto. As estradas são más (péssimas, por vezes), a arquitectura de luxo não passou por ali, as povoações não são bonitas, as pessoas têm um ar muito simples. Visto a distância, Portugal parece um país de milionários, Lisboa é Paris quando recordada em S. José.
Um toque futebolístico no que seria o paraíso visual para qualquer sportinguista: foi em Tortuguero que vi, na final do campeonato do mundo de 2006, a celebérrima cabeçada de Zidane. Pareceu-me que até os macacos roncaram então com mais força!...
(*) E também plátanos, João! :-)
Notícias do naufrágio
«Diz-se que, enquanto o Titanic se afundava, no salão de festas a orquestra continuou a tocar. A ter sido assim, deve ter havido um momento em que, ou porque a água chegou aos instrumentos ou porque chegou o pânico aos instrumentistas, a orquestra desafinou.»
Manuel António Pina, no JN.
Manuel António Pina, no JN.
Matusalém (17)
Yves Montand, Le Roi Renaud de guerre revient
(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)
7.2.10
Lost
Julguei que faltava um link num mail que me chegou ontem apenas com uma frase: «E que me dizes tu a isto??????»
Veio a explicação: o «isto» era simplesmente o estado a que «isto» chegou. Juntava-se o desespero de quem está bem mais perto do que eu do centro de todas as gravidades e que se interrogava sobre o que eventualmente pensarão os que mais fizeram, e mais sofreram, para que a democracia chegasse a este país. Por outras palavras: «Terá valido a pena?»
A minha resposta, sem tirar nem pôr uma vírgula:
«Eu nunca penso nesse comprimento de onda mas há quem pense. Acho que, de tudo isto, há-de concretizar-se um dia uma utopia de algo de novo que supere os comunismos que falharam totalmente e o capitalismo que é uma merda! Mas entretanto...»
Balelas inúteis, dirão muitos. Mas é sempre a este plano que regresso quando parece não restar pedra sobre pedra e o disparate reina, como foi o caso da inenarrável semana que agora acabou. Por tabela, ganho assim alguma distância e desinteresso-me dos detalhes quando as histórias se tornam demasiado macabras.
Mas claro que há o «entretanto». E esse é tudo menos brilhante e prenuncia futuros próximos que poderão ser bem piores. Os poderes da República – do primeiro ao quarto – não caíram na rua mas revelam tendências suicidas e não vejo por aí psiquiatras suficientemente activos.
Receio que os responsáveis pelo tal estado a que isto chegou tenham recebido o link para este site e que não saibam neste momento onde é a porta de saída.
Na hora de agradecer o que não merece agradecimentos
Recebi este texto de Marinela Coelho, viúva de Manuel Serra, com pedido de publicação neste blogue e nos Caminhos da Memória. Não esquecerei a força e o sorriso que nunca a largaram, nem depois do fim.
Obrigada, em meu nome e do Manel Serra, a todos os amigos, companheiros, camaradas e também às pessoas anónimas que o admiravam, que nos acompanharam nesta hora triste que é a da partida.
Prestou-se tributo a um lutador que em toda a sua vida nunca abdicou, nem nas horas mais perversas de antes e depois do 25 de Abril, dos seus princípios políticos, ideológicos, morais e cristãos.
Que seja lembrado, enquanto houver memória!
Marinela
Obrigada, em meu nome e do Manel Serra, a todos os amigos, companheiros, camaradas e também às pessoas anónimas que o admiravam, que nos acompanharam nesta hora triste que é a da partida.
Prestou-se tributo a um lutador que em toda a sua vida nunca abdicou, nem nas horas mais perversas de antes e depois do 25 de Abril, dos seus princípios políticos, ideológicos, morais e cristãos.
Que seja lembrado, enquanto houver memória!
Marinela
Matusalém (16)
(P.S. - Série de músicas que me marcaram, algures no mundo e na vida, pelos mais variados motivos - quase tão velhas como Matusalém.)
Subscrever:
Mensagens (Atom)