25.8.12
Más previsões
Na sua coluna de hoje no DN, Anselmo Borges refere uma conversa tida no Vaticano, em 1962, durante a preparação do Concílio Vaticano II, na qual o cardeal Alfredo Ottaviani, assustado com os ventos «revolucionários» que se aproximavam, teria murmurado: «Peço a Deus que me chame antes de acabar o Concílio; assim estarei seguro de que morro como católico».
Ottaviani será um nome que só para alguns fará tocar campainhas, mas era então, sem dúvida, o líder do conservadorismo no Vaticano, sinistro inquisidor do Santo Ofício. Entre muitas outras funções, tinha a responsabilidade de manter actualizado o Índex de Livros Proibidos.
Morreu muitos anos depois de o Concílio acabar, sossegadamente como católico. Enquanto muitos outros iriam sobreviver, também sossegadamente mas como não católicos, precisamente «por causa» do Concílio ─ porque este falhou.
. «Diziam que éramos loucos, mas os loucos conseguiram fazer coisas»
Nuno Ramos de Almeida esteve em Marinaleda, a aldeia andaluza de Sánchez Gordillo, que tanto tem dado que falar. Com 2800 habitantes, «vive do trabalho comunitário e não aceita a troika nem a austeridade».
No ionline de hoje (mais na edição em papel).
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RSI e trabalho à força
Os dois últimos dias foram tão férteis em notícias estrondosas, relacionadas com a derrapagem orçamental e com o futuro da RTP, que uma outra passou para segundo plano: a aprovação, pelo governo, de um diploma que decreta a obrigatoriedade de exercício de «actividade socialmente útil» por parte dos beneficiários do RSI.
Estes já estavam sujeitos à aceitação de «programas ocupacionais», remunerados e a tempo inteiro, mas o que vai agora entrar em vigor é diferente: quem for chamado trabalhará 15 ou menos horas por semana (num máximo de 6 horas por dia), distribuídas por 3 ou menos dias. E não receberá nem um cêntimo.
Estima-se que serão atingidas pelo menos 50.000 pessoas ( depois de excluídas todas as excepções previstas) e quem recusar o que lhe é pedido deixa de receber o RSI.
O que farão estas pessoas? «Limpeza de espaços exteriores (jardins), colaboração na conservação e reparação em pequenas obras nas instituições sociais, ajuda na realização de eventos culturais, desportivos ou recreativos, apoio às redes de bibliotecas, arquivos ou museus municipais», em IPSS ou em instituições do Estado.
O ministro Mota Soares esclarece que «as tarefas a desempenhar não podem integrar o conteúdo funcional dos lugares previstos para o quadro de pessoal» e que «são actividades de natureza pontual ou caracterizadas pela sazonalidade».
Duas observações:
- A ausência de remuneração é um precedente péssimo e perigoso, mesmo que se evitem grandes expressões como «escravatura». «Outros vão beneficiar do seu esforço e trabalho», precisa Elísio Estanque, e estamos portanto a falar de «trabalho forçado», o que levanta questões de legitimidade e até de constitucionalidade. Mais, segundo me parece: trata-se de uma espécie de «castigo» imposto pelo patrão Estado, na linha de «vai trabalhar mandrião!».
- Os exemplos de actividades apontados são habitualmente exercidos pro bono? Se eu quiser que alguém me vá limpar um jardim, durante 15 horas por semana, isto não é trabalho remunerável? Organizar um arquivo municipal não deve ser feito por quem esteja a procurar um emprego, mesmo que a tempo parcial, nesse domínio? Não é mais do que garantido que estas pessoas vão mesmo fazer tarefas que outros podiam realizar recebendo um salário? Ainda por cima, uma entidade «requisitadora» pode pedir tantos beneficiários de RSI quanto entender. No limite, um batalhão de jardineiros, pedreiros ou similares.
Tudo normal? Nem no Camboja!
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24.8.12
«Não somos donos, mas sim parte da Terra»
Vale muito a pena reservar cerca de meia hora para ouvir a intervenção de Vandana Shiva num programa da série «O Tempo e o Modo», emitido em Junho pela RTP2.
«Vandana Shiva alia a física quântica ao ativismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Conta-nos como começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controlo e o registo de patentes feitos pelas multinacionais.
A análise de Shiva vai mais além: remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção de um mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza.»
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Este senhor faria hoje 96 anos
Já agora, três monstros sagrados:
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RTP – Comissão de Trabalhadores (Comunicado)
Comunicado emitido depois das declarações e notícias sobre o futuro da RTP, vindas a público ontem à noite. A questão diz respeito a todos os portugueses, o mínimo que podemos fazer é participarmos numa luta sem tréguas para evitar a concretização do que foi pré-anunciado.
COMUNICADO Nº. 28/12:
É SEMPRE POSSÍVEL UM CENÁRIO PIOR
Quem pensasse que este governo já não seria capaz de inventar mais infâmias, estava redondamente enganado. A fantasia delinquente do executivo Coelho-Gaspar-Portas é inesgotável. Prova-o a notícia vinda a público através da TVI, segundo a qual o
Governo projeta extinguir uma das duas licenças de televisão da RTP e concessionar a outra, durante 20 anos, a uma entidade privada (será por acaso a participada da NewsHold, cuja criação se anunciou ontem, em timing tão conveniente que parece propositado?). Mais se afirma que o canal concessionado conservará 1.500 trabalhadores - ou dito de outra forma, despedirá, para começar, “apenas” uns 800. E o silêncio sobre a rádio não augura nada de bom.
Pode o Governo descer tão baixo? Pode o futuro ser tão apocalíptico como o pinta o noticiário da TVI - e como o “Sol” na sua edição de sexta-feira irá pintá-lo também? Não se tratará de puro alarmismo?
Esta Comissão de Trabalhadores também não acredita cegamente nos noticiários da TVI nem nos artigos do “Sol”. Mas acredita que as coisas têm a sua lógica. Quando o Conselho de Administração da RTP aceita os cortes salariais para mais de 2.000 pessoas e pede uma exceção para si próprio, tem lógica admitir que, na hora de naufragar o Titanic, esse CA só se preocupe em garantir um bote salva-vidas com três lugares. Quando o ministro Relvas, desacreditado no “secretasgate”, já não tem cara para defender um processo de privatização todo ele apontado para o favorecimento dos seus amigos da Newshold, tem lógica que ele mande apresentar esse processo por António Borges, que tem cara para tudo, e por sinal de pau. O ministro esconde-se cobardemente atrás de um testa-de-ferro de grandes grupos negocistas, desprovido de qualquer legitimidade democrática, e recordista, pelo contrário, de promiscuidades que só a sua cara de pau pode sustentar.
Quando o Governo mantem uma fixação obsessiva em privatizar a RTP, com total indiferença face ao futuro do serviço público e dos seus trabalhadores, tem lógica admitir que esse Governo apenas se tenha preocupado em neutralizar o desagrado de Balsemão e Pais do Amaral, garantindo-lhes que o canal concessionado não possa competir no mercado publicitário. Se a notícia da TVI e do “Sol” não for verdadeira nesse ponto, será forçoso admitir que o Governo tudo fez para dar-lhe pelo menos todo o ar de coisa lógica e expectável.
Voltemos então ao princípio: não será o cenário destas notícias, apesar de tudo, demasiado negro? Serão elas notícias fiáveis e verdadeiras? Não pomos as mãos no fogo por isso. E não pomos as mãos no fogo, porque tudo pode ser ainda pior: o canal que se pretende concessionar, mesmo com taxa audiovisual, perderá as duas outras fontes principais de financiamento e terá desde a origem o desenho de um canal residual - mero tapa-rabos para o incumprimento da Constituição no que diz respeito ao SPT [Serviço Público de Televisão]. E, num canal residual, não ficarão 2.300 trabalhadores nem 1.500. Todos esses números só podem ser cortinas de fumo lançadas por um governo que, segundo toda a lógica, estará a preparar-se para fazer uma razia como aquela anunciada ontem na televisão valenciana: quase 1.300 despedimentos num total de 1.800 trabalhadores.
O naufrágio do Titanic não pode ser impedido com meias-tintas, nem pode ser delegado a organizações representativas - sejam elas os sindicatos ou esta CT. Nada se resolverá se não despertarmos, todos, desta letargia, enquanto é tempo. A CT declara-se disponível para reunir nos próximos dias com todos os colegas que queiram fazê-lo e convoca desde já um plenário para quarta-feira, dia 28, pelas 14 horas em local a confirmar.
O Secretariado da Comissão de Trabalhadores da RTP.
comissao.trabalhadores@rtp.pt
Lisboa, 23 de agosto 2012
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Empreendedorismo precisa-se?
Alguém duvida do sucesso que teria por cá uma iniciativa como a de dois jovens americanos que criaram uma marca de papel higiénico com anúncios? É difícil encontrar suporte de publicidade de uso mais generalizado e que só os ceguinhos não vêem!
Anunciantes não faltariam: o Pingo Doce estaria certamente entre os primeiros e venderia o seu com 50% de desconto, os bancos precipitar-se-iam, os partidos também e nem a DECO resistiria.
Afinal, o público alvo é vastíssimo e bastaria deixar a imaginação à solta na escolha de slogans que lançassem a iniciativa...
. 23.8.12
Já tenho licenciatura
Agora também em verso... Eu não sei quem é o «senhor Máximo», de Avis, que escreveu este texto. Mas a Paula Godinho enviou-mo por mail e aqui fica.
Já
tenho licenciatura
Agora sou um doutor,
Tenho montes de cultura
Vou ser Ministro? se for?
Inscrevi-me ao fim do dia
Naquela universidade
Dos diplomas de inverdade
P'ra testar o que sabia;
Já de manhã, mal se via,
De maneira prematura
Eu fiz muito má figura
Mas mesmo sem saber nada
Formei-me na Tabuada
Já tenho licenciatura!
Dei cem erros no ditado
E agora o mais curioso:
Por estar muito nervoso
À reta chamei quadrado!
Quando me foi perguntado
Se conhecia o Reitor
Respondi que não senhor
Embora fosse meu tio!
Disse mentiras a fio
Agora sou um doutor!
Com mesquinhez e com tudo
Puxei das equivalências
Juntei outras mil valências
Deram-me mais um canudo;
Com diplomas e com tudo
Era fácil a leitura:
Deixei de ser um pendura
Sou político afamado
Sou falado em todo o lado
Tenho montes de cultura
Já sou Mestre em Corrupção
A todos sei enganar
Habituei-me a roubar
Tirei curso de ladrão;
E agora, queiram ou não,
Mesmo sem nenhum valor
Eu falo que é um primor
Na assembleia sentado
Para já sou deputado,
Vou ser Ministro? se for?
17 de Julho de 2012Agora sou um doutor,
Tenho montes de cultura
Vou ser Ministro? se for?
Inscrevi-me ao fim do dia
Naquela universidade
Dos diplomas de inverdade
P'ra testar o que sabia;
Já de manhã, mal se via,
De maneira prematura
Eu fiz muito má figura
Mas mesmo sem saber nada
Formei-me na Tabuada
Já tenho licenciatura!
Dei cem erros no ditado
E agora o mais curioso:
Por estar muito nervoso
À reta chamei quadrado!
Quando me foi perguntado
Se conhecia o Reitor
Respondi que não senhor
Embora fosse meu tio!
Disse mentiras a fio
Agora sou um doutor!
Com mesquinhez e com tudo
Puxei das equivalências
Juntei outras mil valências
Deram-me mais um canudo;
Com diplomas e com tudo
Era fácil a leitura:
Deixei de ser um pendura
Sou político afamado
Sou falado em todo o lado
Tenho montes de cultura
Já sou Mestre em Corrupção
A todos sei enganar
Habituei-me a roubar
Tirei curso de ladrão;
E agora, queiram ou não,
Mesmo sem nenhum valor
Eu falo que é um primor
Na assembleia sentado
Para já sou deputado,
Vou ser Ministro? se for?
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Nicola & Bartolomeo
Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram acusados do homicídio de duas pessoas, nos Estados Unidos, e acabaram por ser condenados à pena de morte e electrocutados em 23 de Agosto de 1927 ─ há 85 anos, portanto ─, apesar de, cerca de dois anos antes, uma outra pessoa ter confessado ser autora dos crimes.
Na sessão do tribunal em que a sentença da condenação foi lida, Vanzetti incluiu o seguinte nas suas longas declarações finais:
«I would not wish to a dog or to a snake, to the most low and misfortunate creature of the earth. I would not wish to any of them what I have had to suffer for things that I am not guilty of. But my conviction is that I have suffered for things that I am guilty of. I am suffering because I am a radical and indeed I am a radical; I have suffered because I am an Italian and indeed I am an Italian...if you could execute me two times, and if I could be reborn two other times, I would live again to do what I have done already.»
Nunca pararam as reacções e os protestos contra um caso que, com toda a sua trama, passou a funcionar como um símbolo de desrespeito flagrante pelos princípios da justiça na América.
Deu origem a um filme, inspirou escritores, pintores, músicos como Woody Guthrie . Joan Baez viria a consagrar uma das canções mais divulgadas, até Dulce Pontes interpretou «The Ballad of Sacco e Vanzetti», etc., etc.
A humanidade precisa de símbolos, Sacco e Vanzetti continuam a sê-lo.
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. Manuel Loff versus Rui Ramos (e vice-versa)
Divulguei neste blogue o primeiro e o segundo capítulos de «Uma história em fascículos» de Manuel Loff. Depois disso, Rui Ramos respondeu, num texto pode ser lido por exemplo aqui.
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Grécia ou o suplício de Tântalo
Tal como o seu velho rei, os gregos estão numa terra que continua rica e fértil, mas onde não conseguem matar a sede num riacho que se esvazia quando se aproximam ou impedir que o vento lhes leve um pouco de fruta quando tentam apanhá-la.
Numa semana que foi anunciada como decisiva para a Grécia (mais uma, pela 50ª vez...), sobretudo quanto aos dois anos adicionais para cumprir o programa imposto pela troika, que o primeiro-ministro grego anda a mendigar pela Europa, tanto Angela Merkel como Jean-Claude Juncker «já vieram dizer que a decisão só será conhecida em Outubro, depois de divulgado o relatório do FMI, BCE e Comissão Europeia».
Juncker terá mesmo afirmado que «para obter a extensão do prazo, o governo grego precisa fazer uso de um item do acordo assinado por seus credores que prevê prazo maior no caso de recessão significativamente mais profunda que a esperada». A «esperança» para o alargamento do prazo estará assim no reconhecimento de um estado mais catastrófico do que previsto...
Caso contrário? Caso contrário, a Grécia será muito provavelmente forçada a sair do euro, com todas as respectivas consequências, previsíveis e imprevisíveis, para ela e não só.
Hoje, no DN, Viriato Soromenho-Marques descreve o cenário possível. Vale a pena ler na íntegra.
«A criação da União Económica e Monetária (UEM) não contemplou nem mecanismos de saída voluntária, nem de expulsão da Zona Euro. Os gregos - desde o partido de Samaras ao radical Syriza - não querem sair da moeda única. Nem podem ser, legalmente, expulsos. Mas poderão ser compelidos a sair, por puro estado de necessidade. Como é que isso poderá acontecer? O primeiro passo seria a interrupção do financiamento da troika. Tal situação, num país sem acesso aos mercados financeiros, deixaria Atenas em duplo incumprimento. Primeiro, em relação ao pagamento do serviço da sua dívida pública externa. Segundo, em relação ao pagamento aos funcionários públicos, pensionistas, e a todos os fornecedores do Estado helénico. O Governo deveria decretar numa sexta-feira (para usar o fim de semana para trabalho intenso nos bancos) uma suspensão temporária da atividade bancária, de modo a evitar uma corrida aos bancos por parte dos depositantes. O acesso às caixas automáticas seria muito restringido. As transferências de capital para o exterior proibidas. Nesse mesmo dia seria anunciado o regresso ao dracma, ou a uma moeda nacional com outra designação. A banca privada poderia ser nacionalizada de imediato, ou, pelo menos, colocada sob intervenção estatal por tempo indeterminado. Para manter a ordem pública, o Governo poderia decretar o 'estado de emergência', fazendo entrar em vigor mecanismos de racionamento alimentar, assim como o reforço da proteção policial dos locais de venda de bens de primeira necessidade. A Grécia ficaria um pária no comércio internacional, e não consigo perceber como é que um povo de 11 milhões de almas, sem autonomia alimentar, poderia sobreviver sem programas maciços de ajuda internacional. Nessa altura, perante tão dantesco espetáculo, até os talibãs da austeridade irão perceber que a Caixa de Pandora foi aberta, libertando um caos cuja transmissão será impossível de confinar ao solo grego.»
(O realce é meu)
. 22.8.12
É assim...
Algures na Sicília, 1966
Algures na China, 2010
Os sicilianos talvez tenham passado depois ao Fiat, quem sabe se chegaram ao Lamborghini, e pode ser que estejam a regressar à lambreta. Os chineses deixaram há pouco a bicicleta, invejam quem já tem um Tato Nano e sonham com o Lamborghini chinês.
E a Terra continua a girar em torno do Sol.
(1ª foto: Bruno Barbey, via Dimitri Polgar no Facebook)
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Manifesto em defesa do serviço público de televisão
Subscrevi e divulgo.
A evolução da televisão ao longo das últimas décadas, com a multiplicação da oferta de canais, a passagem ao digital, a perigosa concentração em grandes grupos de comunicação, com o risco de promiscuidade entre política, negócios e informação, não diminuiu a legitimidade do serviço público na Europa e do seu insubstituível contributo para a democratização da sociedade. Pelo contrário, na maioria dos países europeus, o serviço público reforçou a sua legitimidade: multiplicou a oferta, reforçou a exigência de uma programação mais qualificada e atenta à inovação do que a dos seus concorrentes comerciais; tornou mais clara a exigência de uma informação isenta e plural; as preocupações com a programação cultural ou relacionada com os gostos das minorias e com os interesses sociais de reduzida expressão; a salvaguarda de programas e canais de limitado interesse comercial, mas importantes para toda a sociedade; a certeza de o seu capital ser nacional num quadro empresarial cada vez mais preenchido por multinacionais e poderosos operadores de telecomunicações; e o seu papel decisivo na indústria audiovisual.
De tal forma assim é que em nenhum outro país europeu, exceto em Portugal, o governo se propôs enfraquecer o serviço público de televisão, privatizando um dos seus canais nacionais. A prova é que a privatização de um canal de televisão não figura nem nas exigências da Troika, nem na agenda da União Europeia. O serviço público continua a ser considerado, agora mais do que nunca no quadro da televisão digital, um eixo estratégico de afirmação da língua, da cultura e da identidade de cada Estado, um instrumento da coesão social de cada país, através de um operador a quem todos ¬ poder e opinião pública - reconhecem um insubstituível papel regulador do mercado, garante do pluralismo e promotor da diversidade e da qualidade dos conteúdos audiovisuais. E a quem os cidadãos sentem que podem pedir contas.
A verdade é que continuam plenamente válidos os sucessivos documentos de diversas instâncias europeias, apoiados num consenso de todas as famílias políticas da direita à esquerda, que vêm reafirmando que «um amplo acesso do público a várias categorias de canais e serviços constitui uma pré-condição necessária para o cumprimento das obrigações específicas do serviço público».
Desta forma, os signatários, provenientes dos mais variados quadrantes políticos e ideológicos, exprimem a sua profunda discordância face à anunciada privatização de um dos canais da RTP, apelando ao governo e ao poder político para que, tal como aconteceu com a prometida privatização da agência Lusa, não concretizem essa decisão, cujos contornos têm inclusivamente provocado legítimas suspeições sobre a sua transparência.
Entendem também que esta espécie de bomba-relógio que paira sobre a RTP, acompanhada do anúncio do desmembramento dos seus meios de produção, compromete o futuro da empresa e está a prejudicar não apenas a prestação do serviço público, como impede o que devia ser sua a prioridade mais urgente: uma profunda reflexão sobre a forma de garantir o imperativo constitucional de independência face ao poder político e ao poder económico e a reforma a empreender na oferta do serviço público no quadro digital, acompanhando os modelos dos outros países europeus.
O governo, aliás, tem revelado uma preocupante falta de clareza e de coerência nas medidas anunciadas, geralmente avulsas e erráticas, pautadas pelo improviso e pelo desconhecimento do que está em jogo. A verdade é que, até hoje, o governo já falou de «alienação» e de «privatização», sem que ninguém percebesse porquê nem para quê, e muito menos o que se pretende «alienar» ou «privatizar», nem em que termos.
Além do mais, neste quadro, uma eventual privatização de um canal, sobretudo se conjugada com o anunciado fim da publicidade comercial na RTP, não representaria nenhuma diminuição dos custos do serviço público, que, de resto e ao contrário do que tem sido frequentemente propalado, são dos mais baixos da Europa.
Bem pelo contrário, sobretudo no atual contexto de grave crise económica e financeira, a presença de um novo operador comercial, certamente com uma programação adequada à sua necessidade de maximizar receitas publicitárias, teria dramáticas consequências na viabilidade dos restantes operadores do sector, bem como em todas as outras empresas de comunicação social e da indústria audiovisual, empobrecendo drasticamente a qualidade e a diversidade dos media portugueses.
Por outro lado, essa privatização envolveria o fim de muitos dos atuais programas da RTP, quer os programas que legitimamente procuram dirigir-se a todos os portugueses, quer alguns dos que se destinam aos públicos minoritários, que não encontram conteúdos idênticos na restante oferta televisiva por não ser essa a vocação dos operadores comerciais - e que, por isso, devem ser assegurados por um canal alternativo -, conferindo legitimidade e um importante papel regulador ao operador público.
Por todas estas razões, os signatários apelam ao bom senso dos partidos do governo e da oposição para que travem uma medida que carece de clareza e de racionalidade e que não pode em caso nenhum ser enquadrada no plano de privatizações, até porque a sua dimensão financeira seria despicienda e totalmente desproporcionada relativamente aos efeitos brutais sobre a indústria dos média e a qualidade e a isenção da informação, da formação e do entretenimento a que os portugueses têm direito.
A evolução da televisão ao longo das últimas décadas, com a multiplicação da oferta de canais, a passagem ao digital, a perigosa concentração em grandes grupos de comunicação, com o risco de promiscuidade entre política, negócios e informação, não diminuiu a legitimidade do serviço público na Europa e do seu insubstituível contributo para a democratização da sociedade. Pelo contrário, na maioria dos países europeus, o serviço público reforçou a sua legitimidade: multiplicou a oferta, reforçou a exigência de uma programação mais qualificada e atenta à inovação do que a dos seus concorrentes comerciais; tornou mais clara a exigência de uma informação isenta e plural; as preocupações com a programação cultural ou relacionada com os gostos das minorias e com os interesses sociais de reduzida expressão; a salvaguarda de programas e canais de limitado interesse comercial, mas importantes para toda a sociedade; a certeza de o seu capital ser nacional num quadro empresarial cada vez mais preenchido por multinacionais e poderosos operadores de telecomunicações; e o seu papel decisivo na indústria audiovisual.
De tal forma assim é que em nenhum outro país europeu, exceto em Portugal, o governo se propôs enfraquecer o serviço público de televisão, privatizando um dos seus canais nacionais. A prova é que a privatização de um canal de televisão não figura nem nas exigências da Troika, nem na agenda da União Europeia. O serviço público continua a ser considerado, agora mais do que nunca no quadro da televisão digital, um eixo estratégico de afirmação da língua, da cultura e da identidade de cada Estado, um instrumento da coesão social de cada país, através de um operador a quem todos ¬ poder e opinião pública - reconhecem um insubstituível papel regulador do mercado, garante do pluralismo e promotor da diversidade e da qualidade dos conteúdos audiovisuais. E a quem os cidadãos sentem que podem pedir contas.
A verdade é que continuam plenamente válidos os sucessivos documentos de diversas instâncias europeias, apoiados num consenso de todas as famílias políticas da direita à esquerda, que vêm reafirmando que «um amplo acesso do público a várias categorias de canais e serviços constitui uma pré-condição necessária para o cumprimento das obrigações específicas do serviço público».
Desta forma, os signatários, provenientes dos mais variados quadrantes políticos e ideológicos, exprimem a sua profunda discordância face à anunciada privatização de um dos canais da RTP, apelando ao governo e ao poder político para que, tal como aconteceu com a prometida privatização da agência Lusa, não concretizem essa decisão, cujos contornos têm inclusivamente provocado legítimas suspeições sobre a sua transparência.
Entendem também que esta espécie de bomba-relógio que paira sobre a RTP, acompanhada do anúncio do desmembramento dos seus meios de produção, compromete o futuro da empresa e está a prejudicar não apenas a prestação do serviço público, como impede o que devia ser sua a prioridade mais urgente: uma profunda reflexão sobre a forma de garantir o imperativo constitucional de independência face ao poder político e ao poder económico e a reforma a empreender na oferta do serviço público no quadro digital, acompanhando os modelos dos outros países europeus.
O governo, aliás, tem revelado uma preocupante falta de clareza e de coerência nas medidas anunciadas, geralmente avulsas e erráticas, pautadas pelo improviso e pelo desconhecimento do que está em jogo. A verdade é que, até hoje, o governo já falou de «alienação» e de «privatização», sem que ninguém percebesse porquê nem para quê, e muito menos o que se pretende «alienar» ou «privatizar», nem em que termos.
Além do mais, neste quadro, uma eventual privatização de um canal, sobretudo se conjugada com o anunciado fim da publicidade comercial na RTP, não representaria nenhuma diminuição dos custos do serviço público, que, de resto e ao contrário do que tem sido frequentemente propalado, são dos mais baixos da Europa.
Bem pelo contrário, sobretudo no atual contexto de grave crise económica e financeira, a presença de um novo operador comercial, certamente com uma programação adequada à sua necessidade de maximizar receitas publicitárias, teria dramáticas consequências na viabilidade dos restantes operadores do sector, bem como em todas as outras empresas de comunicação social e da indústria audiovisual, empobrecendo drasticamente a qualidade e a diversidade dos media portugueses.
Por outro lado, essa privatização envolveria o fim de muitos dos atuais programas da RTP, quer os programas que legitimamente procuram dirigir-se a todos os portugueses, quer alguns dos que se destinam aos públicos minoritários, que não encontram conteúdos idênticos na restante oferta televisiva por não ser essa a vocação dos operadores comerciais - e que, por isso, devem ser assegurados por um canal alternativo -, conferindo legitimidade e um importante papel regulador ao operador público.
Por todas estas razões, os signatários apelam ao bom senso dos partidos do governo e da oposição para que travem uma medida que carece de clareza e de racionalidade e que não pode em caso nenhum ser enquadrada no plano de privatizações, até porque a sua dimensão financeira seria despicienda e totalmente desproporcionada relativamente aos efeitos brutais sobre a indústria dos média e a qualidade e a isenção da informação, da formação e do entretenimento a que os portugueses têm direito.
SIGNATÁRIOS:
Passos Coelho 2013?
Excertos de um possível discurso:
«Tudo o que queremos é um pouco de" espaço para respirar "para reactivar a economia rapidamente e aumentar a receita do Estado. Mais tempo não significa automaticamente mais dinheiro , mantemos os nossos compromissos e estamos a cumprir as nossas exigências.»
«Precisamos de sair deste estado psicológico negativo, que funciona a como um buraco negro, estamos a fazer progressos nas reformas estruturais e privatizações. Não é justo que alguns, na Europa, queiram empurrar-nos de novo para o buraco.»
Uma possível saída do euro «significaria pelo menos mais cinco anos de recessão e de desemprego na casa dos 40 por cento. Um pesadelo: colapso económico, agitação social e uma crise sem precedentes da democracia.» «Que sociedade, que democracia poderia sobreviver? Acabaríamos como a República de Weimar.»
Impossível? Não. Falso? Sim: trata-se de frases tiradas da primeira parte de uma entrevista que o primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, deu ao jornal alemão BILD ZEITUNG, horas antes da reunião que terá hoje, em Atenas, com Jean-Claude Juncker, e em vésperas de encontros cruciais, para o futuro do seu país, com Angela Merkel e com François Hollande.
Ainda nos lembramos dos discursos do mesmo Antonis Samaras durante a recente campanha eleitoral? Amarga vitória para ele, triste derrota para o povo grego.
(Fonte)
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21.8.12
O Álvaro é que sabe!
Cá estão eles, agora entre as 10 melhores sobremesas do mundo. E classificação de Lonely Planet é versão actualizada de estrelas do Michelin.
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Recusa de pagamentos por multibanco?
O Pingo Doce anunciou que, a partir de 1 de Setembro, deixará de aceitar pagamentos com cartões de multibanco e de crédito, para compras inferiores a 20 euros (e o Grupo Auchan admite vir a tomar uma posição semelhante), e as reacções não se fizeram esperar. As redes sociais enchem-se de indignação («sempre os mesmos», «mais uma vez a ganância», etc., etc.), a DECO afirma que a medida «vai prejudicar a segurança e comodidade dos consumidores». (A comodidade certamente, quanto a segurança... enfim: não me parece que 20 euros seja uma quantia exorbitantemente tentadora para ladrões.)
Mas o que importa não deixar de sublinhar, embora se trate de guerra antiga, é o conteúdo da declaração da directora-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que recorda que as taxas cobradas aos retalhistas, nas transacções com cartões, são muito elevadas. Mais concretamente que «nas operações de crédito, o pagamento é duas vezes superior à média europeia, enquanto que nas operações a débito o valor a pagar pelos retalhistas é quase 3 vezes superior.» Mas porquê???
Se isto é verdade, não há por aí nenhuma entidade que possa arbitrar esta questão entre a SIBS e os comerciantes que, aparentemente, já tentaram fazê-lo mas sem sucesso? É que se a «virtude» do Pingo Doce pode ser duvidosa (beneficiar os clientes com esta decisão...), o mesmo não são se aplica a pequenos retalhistas que, em grande número, já praticam o que agora o grupo Jerónimo Martins vai pôr em prática, por serem mesmo forçados a todo o tipo de poupanças na terrível luta pela sobrevivência, que estão a travar.
E, como sempre, quem se lixa é...?
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Título dispensado
... para esta foto da Paulete Matos, que ela divulgou hoje no Facebook, (Ou talvez se pudesse escolher o que está escrito no boné do leitor de jornais: «Portugal».)
. Praga, numa madrugada de 21 de Agosto
... de 1968, quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Checoslováquia.
O que se seguiu é bem conhecido.
(Texto e fotos de Josef Koudelka, Invasion of Prague, Thames & Hudson, 2008.)
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20.8.12
As Cidades e as Praças (39)
Praça da Liberdade (Tbilisi, 2012)
(Para ver toda a série «As Cidades e as Praças», clicar na etiqueta «PRAÇAS».)
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Eu sei que isto é só para dinossauros
Mas Scott McKenzie morreu há dois dias e este seu «hino» fez parte de muitos imaginários.
E se nunca foram a S. Francisco, ponham-se a caminho, com ou sem flores na cabeça.
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A Birmânia sem censura?
A partir de hoje, a censura prévia está oficialmente abolida na Birmânia. Ou seja, os meios de comunicação social podem publicar o que entenderem sem que os seus textos passem primeiro pelo crivo do «lápis azul». A decisão precipitou-se depois de uma série de manifestações de jornalistas que reagiram contra a suspensão de dois semanários, no fim do mês passado.
Apesar de toda a evolução recente, concretizada num conjunto de medidas de liberalização (e na própria libertação da «senhora»), estranha-se esta mudança tão repentina num país considerado até há pouco como um dos piores do mundo em termos de liberdade de imprensa e de utilização de internet, mesmo o pior para a vida dos bloggers. (Aliás, quando lá estive há três anos, não consegui aceder a esta plataforma ─ o único sítio do mundo em que isso me aconteceu.)
Será que os ferozes militares que continuam no poder (sim, não houve nenhuma «revolução»...) vão permitir que as suas vidas, escandalosamente corruptas, sejam denunciadas a céu aberto? Que se escreva que é praticamente impossível, para um birmanês, obter um passaporte sem abrir a carteira e dar umas boas luvas ao funcionário que tem à sua frente? Irão os jornalistas dissertar sobre os misteriosos túneis de Nay Pyi Taw, a nova capital do país desde 2005, construídos com a ajuda da Coreia do Norte? O que pensa desta medida este «democrático» vizinho, e também a China e a Rússia, trio de que a Birmânia tanto depende?
Enfim... a seguir com atenção. É que, quando a esmola é grande, o pobre desconfia.
Fonte, entre outras.
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19.8.12
Felizmente há Moçambique
Enquanto grande parte do mundo parece estar a caminho de um certo abrandamento económico (e de que maneira...), existem alguns pontos brilhantes no horizonte e Moçambique é um deles ─ sublinha hoje a Aljazeera.
Com esperanças de se tornar o principal exportador mundial de carvão dentro de uma década, é bem possível que venha a ocupar o quarto lugar no que diz respeito a gás natural (depois da Rússia, do Irão e do Qatar).
Razões para optimismo, portanto, embora uma taxa de desemprego de 27% mantenha a população numa certa reserva quanto ao que pode vir a acontecer-lhe.
Que a vida corra bem a alguns!...
. Lorca
Federico García Lorca conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com apenas 38 anos, em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.
Como todos os anos nesta data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto.
Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capas relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas, banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas en conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.
Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche,
noche que noche nochera.
La virgen y San José
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa,
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tes sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.
¡Oh, ciudad de los gitanos!
En las esquinas, banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar,
sin peines para sus crenchas.
Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos on fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo se les antoja
una vitrina de espuelas.
La ciudad, libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entran a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
buyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de monedas.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando detrás fugaces
remolinos de tijeras.
En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la Guardia Civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborois
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas,
en, un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la tierra.
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.
¡Oh, ciudad de los gitanos!
La Guardia Civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.
¡Oh, ciudad de los gitanos!
¿Quien te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.
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