23.8.12

Grécia ou o suplício de Tântalo



Tal como o seu velho rei, os gregos estão numa terra que continua rica e fértil, mas onde não conseguem matar a sede num riacho que se esvazia quando se aproximam ou impedir que o vento lhes leve um pouco de fruta quando tentam apanhá-la. 

Numa semana que foi anunciada como decisiva para a Grécia (mais uma, pela 50ª vez...), sobretudo quanto aos dois anos adicionais para cumprir o programa imposto pela troika, que o primeiro-ministro grego anda a mendigar pela Europa, tanto Angela Merkel como Jean-Claude Juncker «já vieram dizer que a decisão só será conhecida em Outubro, depois de divulgado o relatório do FMI, BCE e Comissão Europeia»

Juncker terá mesmo afirmado que «para obter a extensão do prazo, o governo grego precisa fazer uso de um item do acordo assinado por seus credores que prevê prazo maior no caso de recessão significativamente mais profunda que a esperada». A «esperança» para o alargamento do prazo estará assim no reconhecimento de um estado mais catastrófico do que previsto... 

Caso contrário? Caso contrário, a Grécia será muito provavelmente forçada a sair do euro, com todas as respectivas consequências, previsíveis e imprevisíveis, para ela e não só. 

Hoje, no DN, Viriato Soromenho-Marques descreve o cenário possível. Vale a pena ler na íntegra. 

«A criação da União Económica e Monetária (UEM) não contemplou nem mecanismos de saída voluntária, nem de expulsão da Zona Euro. Os gregos - desde o partido de Samaras ao radical Syriza - não querem sair da moeda única. Nem podem ser, legalmente, expulsos. Mas poderão ser compelidos a sair, por puro estado de necessidade. Como é que isso poderá acontecer? O primeiro passo seria a interrupção do financiamento da troika. Tal situação, num país sem acesso aos mercados financeiros, deixaria Atenas em duplo incumprimento. Primeiro, em relação ao pagamento do serviço da sua dívida pública externa. Segundo, em relação ao pagamento aos funcionários públicos, pensionistas, e a todos os fornecedores do Estado helénico. O Governo deveria decretar numa sexta-feira (para usar o fim de semana para trabalho intenso nos bancos) uma suspensão temporária da atividade bancária, de modo a evitar uma corrida aos bancos por parte dos depositantes. O acesso às caixas automáticas seria muito restringido. As transferências de capital para o exterior proibidas. Nesse mesmo dia seria anunciado o regresso ao dracma, ou a uma moeda nacional com outra designação. A banca privada poderia ser nacionalizada de imediato, ou, pelo menos, colocada sob intervenção estatal por tempo indeterminado. Para manter a ordem pública, o Governo poderia decretar o 'estado de emergência', fazendo entrar em vigor mecanismos de racionamento alimentar, assim como o reforço da proteção policial dos locais de venda de bens de primeira necessidade. A Grécia ficaria um pária no comércio internacional, e não consigo perceber como é que um povo de 11 milhões de almas, sem autonomia alimentar, poderia sobreviver sem programas maciços de ajuda internacional. Nessa altura, perante tão dantesco espetáculo, até os talibãs da austeridade irão perceber que a Caixa de Pandora foi aberta, libertando um caos cuja transmissão será impossível de confinar ao solo grego.» (O realce é meu)
.

0 comments: