13.11.09

ສາທາລະນະລັດປະຊາທິປະໄຕ ປະຊາຊົນລາວ


(Curioso «alfabeto». No título, o nome do país: Repúbica Popular Democrática do Laos)

Espero que Luang Prabang, para onde sigo daqui a poucas horas, seja mesmo assim. Street food? – até aí nã irei.



Julgo que poderei alimentar um pouco este blogue enquanto estiver no Laos. Depois? Quanto mais leio, mais esclarecida fico

E não se trata apenas de contar os mortos
















«A verdade dos números, porém, é complexa e jamais será decifrada na sua totalidade. O que não significa a anulação de um dever de memória para com os milhões de seres humanos, “marcados todos como traidores” como escreveu o prisioneiro-poeta Alexander Tvardovsky, que não se compadece com leituras negacionistas ou manipuladoras. Sabemos de que maneira, do lado dos complexos doutrinários que procuram moldar artificialmente a História, quando a realidade não cabe no argumento se distorce a realidade. É isto que tem procurado aplicadamente fazer o actual esforço revisionista e desculpabilizador dos métodos e das metas do Gulag.»

De um artigo de Rui Bebiano, Rever e desculpabilizar o Gulag, publicado no Público de hoje e que pode ser lido, revisto e aumentado, em A Terceira Noite ou nos Caminhos da Memória.

Síndrome da mala de cartão?













Os emigrantes portugueses sempre fizeram boa figura: como estudantes, como trabalhadores, agora em versões mais sofisticadas.
Além disso, qual é o espanto? Quase todos os putos se portam melhor fora de casa.

12.11.09

Já com a mala meia feita


















A pouco mais de 24 horas da partida – o Laos e a Birmânia esperam por mim –, leio as instruções enviadas aos viajantes e detecto, entre recomendações sobre calçado adequado e repelentes para mosquitos, este pequeno conselho, julgo que vindo de um operador turístico local:

«Não recomendamos levar literatura “à vista das autoridades” de Aung San Suu Kyi ou qualquer outra personalidade com ideologias políticas contrárias ao governo de Myanmar. “Cartas da Birmânia” é um bom livro para ler, antes de viajar ao país. Se, todavia pretende levá-lo na sua viagem, aconselhamos a encapá-lo com um papel opaco.»

Já fiz muitas viagens e nunca recebi recados destes. Nem estive, nos últimos anos, em países onde não há «roaming» de telemóveis para ninguém (só comprando cartões localmente), não se aceitam cartões de crédito nem existem ATM’s. Vamos todos portanto com uma grande mão cheia de dólares. (A propósito: quem tiver umas economias, esqueça PPR’s e Certificados de Aforro, precipite-se e guarde uns pacotes de notas verdes debaixo do colchão porque estão verdadeiramente mais baratas do que a chuva.)

Mas antes da Birmânia será o Laos, onde tudo é mais ameno. Haverá assim tempo para a preparação psicológica.

Este texto parece, mas não é, sobre a queda do Muro













«Os comunistas não deixaram que ficasse esquecida esta data maior da história da humanidade na sua exaltante caminhada para a efectiva liberdade, justiça e igualdade.»

Mas há outros que são, como por exemplo este - agressivo, racista, especialmente intolerável depois de ontem termos assistido a gestos simbólicos particularmente significativos, nas celebrações do aniversário do Armistício, que tiveram lugar em Paris:
«Particularmente a burguesia alemã que ao longo da História tem recorrido sistematicamente ao militarismo, ao assassínio de democratas e revolucionários, ao trabalho escravo, inventou a industrialização da morte e o extermínio em massa nas câmaras de gás, pretende agora apresentar os acontecimentos de 1989-1990 que conduziram ao fim do socialismo e da República Democrática Alemã como um processo «revolucionário» ou «libertador» e aproveitar a ocasião para representar a farsa do seu «amor à democracia».

P.S. 1 - «Repugnante», foi escrito agora na Caixa de Comentários. Assino e reforço.
P.S. 2 - A ler: O muro do Avante.

Só me apetece dizer: «Basta!»

(Des)sincronias

11.11.09

Cairia o Carmo e a Trindade


se isto acontecesse por cá. E o Daniel Sampaio bem podia passar à clandestinidade.

Novembro, 11


Hoje celebra-se o Armistício e, quando me chamaram a atenção para esta notícia, não me espantei por adolescentes ingleses julgarem que Hitler foi um treinador de futebol, mas sim por muitos pensarem que o símbolo do «Remembrance Day» é o logo do McDonald’s, sem nunca terem tido a curiosidade de perguntar aos pais por que razão andam de papoila ao peito, todos os anos em Novembro. Gente estranha…



Last Post

«Ismos» e «anti-ismos»


















A blogosfera voltou ao seu melhor como espaço de debate, como há muito não acontecia - sobretudo no 5 Dias, mas não só. À esquerda, foram muitos os que nos últimos dias legitimamente sentiram um impulso para uma espécie de «confissões» ou «testemunhos» de fidelidades e infidelidades, certezas e grandes pontos de interrogação, e que daí partiram para discussões mais teóricas. Excelente não se estivesse a assistir também, no meu entender, a verdadeiros malabarismos conceptuais e terminológicos que, longe de ajudarem a pensar, mascaram por vezes as verdadeiras questões – complicadíssimos esforços para salvar o que não tem salvação, para conciliar o inconciliável, que acabam muitas vezes na defesa do indefensável.

É nestes momentos que regresso às minhas origens académicas:
«What can be said at all can be said clearly and what we cannot talk about we must pass over in silence.» - Ludwig Wittgenstein

Ou, numa versão bem mais antiga, para francófilos:
«Ce que l'on conçoit bien s'énnonce clairement et les mots pour le dire arrivent aisément.» - Nicolas Boileau

10.11.09

Francisco Louçã e a queda do Muro


Como já aqui referi, este blogue publicará agora também textos que não são da minha autoria, como é hoje o caso com este de Miguel Serras Pereira.

Num texto publicado no Esquerda.net, intitulado “Vinte Anos Depois”, Francisco Louçã desenvolve sobre a queda ou derrubamento do Muro de Berlim algumas considerações um tanto desconcertantes.

Escreve, na primeira parte do comentário: «Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, floresce assim a ideologia contentatória: o comunismo acabou, diz Saramago e repete, com gosto evidente, António Vitorino. Frágil ilusão, contudo, pois continuou a ser possível ser cristão depois da Inquisição, social-democrata depois da votação dos créditos de guerra e mesmo depois do assassinato de Rosa Luxemburgo, e até continuou a ser possível ser economista liberal depois da grande depressão de 1929. Cada experiência trágica tem muitas leituras e nunca ninguém tem a última palavra. Como é possível ser socialista depois da queda da União Soviética e do seu muro, do mesmo modo que é possível – e necessário – ser socialista depois do colapso do subprime e da criminalidade financeira que se tornou deslumbrantemente evidente com a crise de 2008 e 2009.» O que, se bem o leio, significa que a queda do muro foi um mal ou um momento de crise do socialismo – ainda que não torne impossível ser-se socialista, como os males que afectaram o capitalismo não impede que este tenha defensores, ou a Igreja fiéis apesar da Inquisição. A queda do muro teria sido, pois, uma dificuldade ou uma derrota a superar. Esta maneira de ver não se distingue em nada de fundamental da oficialmente sustentada pelo PCP e por todos aqueles para quem a derrocada do regime em vigor na ex-URSS e outros países do “socialismo realmente existente” são um retrocesso histórico e político, a reparar. E diz-nos, bem vistas as coisas, que, embora talvez sejam desejáveis, as liberdades democráticas não são condições essenciais da construção do socialismo, que um regime pode ser socialista ou uma superação avançada do capitalismo ao mesmo tempo que oprime os trabalhadores e o conjunto da população, que uma economia estatizada, colectivamente dirigida e possuída por uma camada burocrática que dispõe dos meios de produção e estabelece os critérios de distribuição, decidindo também do que destina ao consumo (desigual) e ao investimento, é menos opressiva e mais progressista do que a que vigora sob os regimes oligárquicos “ocidentais”.

Mas eis que, quando mentalmente nos ocupamos de refutar Louçã, dizendo-lhe que não há socialismo sem democracia, que a democracia é condição necessária do socialismo, etc., eis que FL - depois de um absolutamente inócuo parágrafo sobre a insuficiência dos julgamentos e a necessidade de compreender (cujo autor, creio, é La Palice, apesar de FL não o citar) - parece querer roubar-nos as palavras da boca ou do pensamento, e escreve: «Compreender a derrocada de uma mentira, de um sistema social esgotado no privilégio e na desigualdade, na repressão e na censura, no militarismo e no Gulag. A queda do Muro foi o episódio final de uma agonia perante a tensão social insuportável. Mas também ensina que o socialismo só pode ser o contrário do Muro: liberdade contra a censura, responsabilidade contra o controlo sindical, todos os direitos sociais, incluindo o pluripartidarismo, a liberdade de formar sindicatos ou de fazer greve.» O que só pode significar que a queda ou derrubamento do Muro, longe de ser um obstáculo que a nossa convicção socialista deve superar pela força da convicção, só pode ser saudada como um momento de libertação, uma ocasião favorável ao combate pela emancipação dos trabalhadores, uma condição de posteriores avanços na luta pelo socialismo democrático (o único concebível, ainda que sob várias formas) ou, se assim se preferir, “democracia socialista”.

Em que ficamos, então? Como devemos avaliar em termos políticos este exercício de, numa só e a mesma breve página, se afirmarem duas teses antgónicas e entre as quais não há síntese dialéctica possível? Será esta a plataforma “dos socialistas de esquerda, mais precisos do que nunca”, que FL invoca nas últimas palavras do seu texto? Será esta a plataforma que FL defende como base do alargamento e reforço do BE?

Miguel Serras Pereira

De quando os homens se medem aos palmos


9.11.09

A César

 
















Parece-me tão legítimo que os bispos se pronunciem sobre o casamento civil de pessoas do mesmo sexo como sobre a localização do novo aeroporto ou o possível adiamento do TGV, porque qualquer grupo de cidadãos poder opinar sobre o que bem entender – neste caso, os senhores José, Manuel ou Xpto (sem Dom) podem chamar alguns jornalistas para fazerem constar que já aceitaram como um facto consumado a decisão de o Governo legislar em determinada direcção e que não vêem essa iniciativa «como uma provocação» (!...)

Já quando emitem uma «Nota Pastoral» (como o fizeram em Fevereiro deste ano e se preparam muito provavelmente para repetir agora em Fátima), o próprio nome indica que estão a dirigir-se às suas «ovelhas». Ora, para estas, as autoridades eclesiásticas não admitem, não aceitam, nem reconhecem o casamento civil – nem homo, nem hétero. O que disseram e o que vierem a dizer, como bispos, poderá quando muito afectar ou não os homossexuais católicos.

Mas o centro da questão é outro. Apesar de todas as declarações de comiseração para com o ser humano, a conferência episcopal portuguesa continua a considerar a homossexualidade como um desvio: «Se, por vezes, ela constitui apenas uma etapa transitória no desenvolvimento da criança ou adolescente, o seu prolongamento pela idade jovem e adulta denota a existência de problemas de identidade pessoal.» Tudo o resto é subterfúgio.

Jogo de sombras















«Os bastidores das comemorações do 20.º aniversário da queda do Muro serão, por isso, uma ocasião ideal para ultimar contactos no sentido de escolher os nomes para os dois novos cargos criados pelo Tratado de Lisboa, ou seja, o presidente e o ministro dos Negócios Estrangeiros da UE.»

Duas décadas depois do que foi (ou poderia ter sido?...) um passo de gigante para a criação da grande Europa, não deixa de ser simbólico que, entre peças de dominó e uma taça de champanhe, sejam sussurrados nomes e defendidos interesses, poderes e contrapoderes. Unidos, sim, ma non troppo.

P.S. Mais ou menos a propósito, este texto.

9 de Novembro


Quem quiser ver uma bela montagem de fotos e vídeos sobre a história do Muro, volte atrás.

Mas eu já estou completamente farta e hoje vi as primeiras luzes. Portanto:

8.11.09

Desta vez, cairá só um dominó



O gigantesco dominó pintado por crianças, que será derrubado no fim das comemorações como símbolo da queda do Muro, recordou-me que em 1989 eu vivia na Bélgica, que o meu filho tinha treze anos e frequentava o 8º ano numa escola de Bruxelas.

A escola inteira mobilizou-se para que os alunos percebessem o significado do que estava a acontecer. Na cadeira de História, mas não só, a matéria que estava a ser dada foi interrompida e durante muitos dias substituída por outra adequada às circunstâncias. Viram-se filmes, houve que fazer leituras, trabalhos individuais e de grupo.

Para aqueles miúdos tudo isso foi fundamental, não só para o conhecimento e a vivência dos factos e do seu valor simbólico, como para a compreensão dos alucinantes meses que se seguiram. Por exemplo, sei que em Portugal a transmissão foi feita em diferido, mas na Bélgica vimos em directo, ao vivo e a cores, a execução de Nicolae Ceauşescu e da mulher no dia de Natal – o enquadramento histórico ajudou a «digerir» a terrível violência das imagens.

Porque sou optimista, quero crer que amanhã alguns dos nossos professores vão gastar cinco minutos para explicarem que, há vinte anos, algo de importante se passou na Europa, a menos de 3.000 quilómetros de Portugal. E que não foi propriamente um desafio de futebol…

Este ano com dois dias de atraso


...mas é um ritual de que não prescindo: recordar o frente-a-frente entre Soares e Cunhal, em 6 de Novembro de 1975, a pouco mais de duas semanas do fim do PREC. O país parou para os ouvir, durante quase quatro horas.

Trinta e quatro ano depois: tudo diferente? «Olhem que não!» Vale a pena imaginar os dois primeiros minutos interpretados hoje por… José Sócrates e Jerónimo de Sousa. Eu sei que é um exercício quase impossível, por muitas e variadas razões, mas não custa tentar.

Outros muros



Num site da BBC, história e controvérsias sobre doze muros que já existiam ou foram construídos desde 1989.

Israel, Irlanda do Norte, Arábia Saudita, Ceuta e Melillla, Chipre, Paquistão – Irão, Rio de Janeiro, EUA – México, Índia – Paquistão, Coreia, Saará Ocidental e Botswana - Zimbabwe