… é o título de um artigo de opinião muito interessante, de João Caraça, no Público de hoje (na íntegra, no fim deste post).
Integrado numa missão do Instituto Europeu de Inovação, J. Caraça regressou recentemente da China, impressionado com o nível das universidades que visitou e a qualidade dos cientistas que conheceu.
Bem longe da imagem ainda tão generalizada da grande fábrica de produtos baratos de baixa qualidade, sem inovação tecnológica, pura reprodução em cópia das criações dos avançados ocidentais, a China espera «conseguir dominar a evolução do seu crescimento económico e ultrapassar por meio de uma competição feroz os países do Ocidente», «com o beneplácito da alta finança (...) que não mostra especial afecto pela democracia». E sabe que «quem for capaz de propor ao mundo a próxima infra-estrutura física e comunicacional (…) ganhará a corrida».
Em que modelo político-ideológico? Para J. Caraça, a China continua a não querer «caminhar para uma economia de mercado capitalista como a dos EUA» - e dai o interesse em seguir de perto este caso, na fase de transição em que se encontra o mundo -, os chineses «estão apostados numa via mista, de um capitalismo de Estado transformado, em que sectores estratégicos permanecem firmemente sob o controlo do poder central, podendo nos outros sectores da economia funcionar os mecanismos de mercado, sujeitos naturalmente ao condicionamento tutelar do Governo». Numa situação que «não é estável, sendo mesmo passível de gerar enormes conflitos internos».
Uma novela com muitos capítulos por escrever e de desfecho totalmente imprevisível.
P.S. (20/9) - Em contraponto, longos excertos de uma entrevista recente a Noam Chomsky, na China:
«China has become a factory in the Northeast Asian production system. If you look at the whole region, you will find it very dynamic. China’s export volume is enormous. But there is something we have overlooked. China’s export relies heavily on the exports of Japan, Korea and the US. These countries provide China with high-tech components and technologies. China is just doing the assembly, and labelling the final products as ‘Made in China.’ (…)
Do you think the rise of China will change the world order? Will China play the role that the US is playing now?
Chomsky: I don’t think so; neither do I hope so. Do you really hope to see a China with 800 overseas military bases, invading and overthrowing other governments, or committing terrorist acts? This is what the America is doing now. I think this will not, and cannot, happen on China. I do not wish it to happen neither. China is already changing the world. China and India together account for almost half of the world’s population. They are growing and developing. But relatively speaking, their wealth is only a small part of the world. Both countries still have long ways to go and face very serious domestic problems, which I hope will gradually be solved. It is meaningless to compare their global influences with those of rich countries. My hope is that they will exert some positive influences to the world, but this has to be watched carefully.
China should ask itself what role it wishes to take in the world. Fortunately, China is not assuming the role of an aggressor with a large military budget, etc. But China does have a role to play.(…)
Let’s make a historical comparison. Was the rise of the United States a threat to democratic Britain?