Se eu nunca tivesse estado no Butão, teria lido o título e passado à frente: «Bring happiness on board», disse há três dias na ONU o primeiro-ministro daquele país, propondo que a «Felicidade» seja o 9º Objectivo de Desenvolvimento do Milénio - «a goal that stands as a separate value while representing as well the sum total outcome of the other eight».
«Through the pursuit of such a goal, we’ll find the reason and genius to moderate and harmonize our otherwise, largely material wants with the other equally important human needs and nature’s limitations», «It’s what will make life on earth sustainable. And the way in which a nation pursues this goal will be a measure of its devotion to the promotion of its people’s true well being».
Retomo o que aqui escrevi há alguns meses:
«Saio amanhã do Butão (…) com uma enorme simpatia por este povo de uma delicadeza que roça a candura. E com uma grande curiosidade quanto à evolução política e social de tudo isto: para os nossos cérebros ocidentais, é difícil levar a sério o tal conceito de «Gross National Happiness» e confesso que ouvir dizer, sem pestanejar, que se mede o desenvolvimento e o progresso de um país pelo grau de sorriso das pessoas ultrapassa todas as utopias com que alguma vez sonhei…»
Passado algum tempo, lendo tudo o que me aparece sobre a atenção que a experiência daquele minúsculo país, aparentemente perdido nos imensos Himalaias, vai merecendo nas mais racionais arenas, já começo a pensar que…sei lá…, talvez…, porque não?... Pelo menos «era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto»...
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11 comments:
li um livro em que afirmava que o butao tinha os indices de felicidade mais altos do mundo
Se não tem, parece.
«era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto»...
ou que autodeportassemos para lá...
Excluindo a questão da língua, não me custava nada lá viver.
Prova desse índice de felicidade será o uso imoderado do roupão por parte da classe dirigente...
Aquilo não é um roupão, meu desgraçado: é um fato tradicional lindíssimo, equivalente aos teus Armani... :-)
De facto entendo que é preciso ter estado no Butão, ter convivido com as pessoas, ver o seu sorriso, sentir a sua simpatia, ver a sua arquitectura, estar na única cidade capital do mundo que não tem um semáforo, para perceber, verdadeiramente, o que significa o conceito de felicidade.E não, não é demagogia.
O sorriso como medida do progresso tem um problema: é uma estatística facilmente manipulável.
Quando levámos a Rosa à Disneyland Paris pela primeira vez chamámos-lhe a atenção para uma coisa que era ostentada a todos os momentos pelos funcionários da casa: o "sorriso Disney" (faz-se assim: cerram-se os dentes e abre-se a boca procurando manter os lábios o mais largos possível).
Também aprendeu, com alguma mágoa, que o Pinóquio (de sorriso Disney, obviamente) só dava autógrafos a quem tivesse um livrinho para autógrafos comprado numa loja do empreendimento, e ignorava os pedidos de autógrafo noutro qualquer livrito ou papelito.
Aprendeu que sorriso e felicidade nem sempre vão a par...
Manel,
Isso é mais ou menos como comparares um sorriso de uma criança a um anúncio Pepsodent... :-)
Não é bem... é ter a noção de que um sorriso Pepsodent pode ser confundido com um sorriso de criança (em sentido abstrato, porque em concreto há sorrisos de criança que são autênticos sorrisos Pepsodent) sem o ser, sugerindo uma felicidade inexistente e enganando quem o vê.
Na Disneyland, toda a gente sorri... mesmo os empregados que foram obrigados a cortar o bigode para não serem despedidos... e nem toda a gente será assim tão feliz como parece.
Julgo já te ter dito que ODEIO violentamente a Disneyland (só estive na de LA). Talvez por isso tenha reagido à comparação.
Não sei como se mede o «sorriso» no Butão (hei-de tentar perceber), mas parece genuíno. Talvez unicamente (?) - e isso é uma das minhas grandes interrogações - porque assenta na base religiosa que é o budismo. Resistiria / resistirá ao ateísmo? A million dollars question...
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