11.2.23

Mais um vaso

 


Vaso com decoração de tipo japonês, em prata de lei e outros metais. Cerca de 1870-1875.
Tiffany & Co.

Daqui.
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«Heróis da Pandemia»

 


Estas duas estátuas estão em Belém, onde foram inauguradas pelo bastonário da Ordem dos Médicos e pelo presidente da Câmara de Lisboa, como forma de agradecer o papel que os médicos exerceram durante a luta contra a Covid.

Gostos não se discutem, mas eu não consigo ver mais do que dois mamarrachos dispensáveis que tanto podiam ser reproduções de pedras trazidas da Ilha da Páscoa, como gente amordaçada pela censura.

Além disso e principalmente: os médicos estiveram sozinhos na luta em questão, enfermeiros, auxiliares e todos os outros técnicos foram apenas seus «ajudantes»?

Enfim… poucochinhos.
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11.02.2007 – A vitória da IVG

 



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11.02.1990 – A libertação de Mandela

 



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Imigrantes do bem e do mal

 


Imigrantes do bem e do mal «No melindroso debate sobre a forma como Portugal acolhe os imigrantes, a linha que separa os discursos reguladores dos potencialmente xenófobos é ténue, na exata medida em que o tema só ascende à arena mediática quando somos confrontados com uma desgraça pública, o que normalmente se traduz num contraproducente esticar de posições.

E isso é o pior que pode acontecer: discutir a imigração em função de acontecimentos de que nos envergonhamos, como aqueles que ditaram a agressão bárbara a um cidadão nepalês no Algarve ou a morte de dois cidadãos indianos num incêndio no coração da capital. Portugal não tem um problema de imigração, ao contrário do que pretendem sugerir os pistoleiros do costume, que ligam esse chavão à criminalidade e à apropriação dos "nossos empregos", mas a elevada dependência do nosso país face à mão de obra estrangeira, no que isso também representa de novos fenómenos de aculturação, deve fazer-nos refletir sobre o quadro legal e humanitário em que estamos a acolher quem nos escolhe como casa, sobretudo nos grandes polos urbanos. Ainda que, é bom sublinhar, não deva ser esse o critério primordial para decidir sobre o acolhimento. Porque há quem apenas queira fugir da guerra, da pobreza ou de outros pesadelos. E esses, mesmo que não sejam "úteis" a preencher as vagas profissionais que os portugueses não querem, têm de continuar a merecer a nossa solidariedade.

Agitarmos a bandeira de país tolerante, progressista e fraterno pode certamente ajudar a adornar discursos para inglês ver, mas Portugal tem de ser consequente na aplicação dos princípios universais de acolhimento. Recebendo bem os imigrantes, não os explorando com salários miseráveis, fiscalizando aqueles que permitem que se amontoem em habitações indignas, apertando com aqueles que os trazem amarrados a redes escravas. Integração é isso. É normalizar, não discriminar. Por mais tentador e confortável que seja acreditar que há imigrantes do bem e imigrantes do mal.»

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10.2.23

Essa é que é essa

 

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10.02.1756 –Eduardo Galeano e uma efeméride que nos diz respeito

 




In Los Hijos de Los Dias.
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Finalmente, já entrei no chat.openai.com!

 




Fiz várias experiências, vou deixar aqui duas, ambas com resposta imediata à pergunta que formulei.

Fiquei na dúvida se a primeira resposta não foi redigida por Marcelo e creio que a segunda pode dar jeito aos meus netos para a disciplina de Português.
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CEO de todo o mundo, uni-vos

 


«É difícil não concordar com o ministro das Infra-estruturas, João Galamba, quando, a propósito do bónus de três milhões de euros previsto para a CEO da TAP, diz que não lhe cabe pronunciar-se sobre se a quantia é exagerada ou não: “Foi o acordado. O Estado é pessoa de bem, o Estado cumpre o que foi acordado.” A ideia de que os acordos devem ser cumpridos parece incontestável. Mas, para dar apenas dois ou três exemplos, tenho visto por aí uns professores, uns enfermeiros e até uns trabalhadores da TAP a insistir nisso mesmo, só que sem grande êxito. Há tempos de serviço que, ao contrário do acordado, não contam; progressões na carreira que, ao contrário do acordado, não se concretizam; contratações de trabalhadores precários que, ao contrário do acordado, não ocorrem. É possível que seja uma regra válida apenas para CEO. Ou, então, é um problema da língua portuguesa, e deve ser corrigido. A partir de agora, o que se combina com um CEO é o acordado; o que se promete a um trabalhador é o adormecido. É provavelmente por isso que os trabalhadores vão para a rua fazer barulho em manifestações: o ruído costuma ser um poderoso despertador. Neste caso, todavia, parece funcionar mal.

A solução, para os trabalhadores, é bastante óbvia — e, no entanto, eles não a vêem. O que há a fazer é muito simples: um enfermeiro especialista, por exemplo, deve constituir uma empresa unipessoal. E é ela que passa a firmar o contrato com o hospital. O enfermeiro continua a ser enfermeiro, mas também é CEO da empresa que factura o salário. A meio de uma operação, o médico deve pedir ao Chief Executive Officer de enfermagem médico-cirúrgica que lhe passe o bisturi. O médico, se for esperto, também irá ao notário registar a sua empresa, para se transformar em CEO de ortopedia. Os professores devem fazer o mesmo. Cada trabalhador é CEO da sua própria firma. São empresas em que reina a paz social, uma vez que o CEO e o funcionário estão em perfeita sintonia quanto à gestão e à política salarial. Também deixa de haver tensão entre grupos de trabalhadores. Às vezes, grupos de trabalhadores de profissões diferentes fazem reivindicações conflituantes. Mas tenho notado que os CEO estão quase sempre de acordo uns com os outros, independentemente da área de actividade. Também haverá paz social no país. Uma coisa é o Estado não cumprir o acordado com professores de matemática, a que ninguém liga; outra coisa é faltar ao prometido aos CEO de matemática, que são gente importante. Creio que tudo se resolverá muito mais depressa.»

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9.2.23

Jarros

 


Jarro de vidro Moser da Boémia, artesanal, com borboletas esmaltadas e motivos florais, Chéquia.

Daqui.
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O'Neill sempre

 

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Moedas e a imigração

 


Li e reli e ainda me custa acreditar. As afirmações desta criatura, que se diz social democrata, não se afastam muito das que faria um dirigente do Chega. Imigração de economicamente desgraçados? Só de precisarmos deles e se já entrarem em Portugal com contrato de trabalho. Com contrato de trabalho assinado no Nepal ou no Bangladesh?

Diz Moedas:

«Os refugiados devem ser sempre acolhidos. Para migrantes económicos, os países têm que ter políticas de imigração. Portugal precisa de imigrantes. Estamos a diminuir a população. Precisamos de mais pessoas, mas para isso temos que estabelecer contingentes daquilo que precisamos e essas pessoas têm que chegar com dignidade.

Está a falar de quotas?
De contingentes. De quantas pessoas é que precisamos na agricultura, na indústria, nos serviços? Isso deveria ser publicado todos os anos e nunca foi feito. Depois de publicar esses contingentes, as pessoas vêm para Portugal se tiverem um contrato de trabalho. Temos neste momento as pessoas a chegarem a Portugal sem promessa de trabalho.»

Daqui.
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As casas têm donos, as cidades são de todos

 


«Foi preciso morrerem dois imigrantes num incêndio que deflagrou num minúsculo T0 onde a ganância especulativa de um arrendatário (aparentemente sem responsabilidade da senhoria) amontoava cerca de vinte pessoas para o país perceber o número infindável de Odemiras que escondemos no centro das nossas maiores cidades.

Ainda assim, há quem finja que não percebeu, como Luís Montenegro. Questionado sobre a tragédia, o líder do PSD entendeu que talvez fosse boa ideia afinar as linhas de convergência com o Chega, garantindo que é preciso controlar a imigração para acolhermos estes “colaboradores do nosso desenvolvimento”, escolhendo se são os que queremos. Não é por acaso que a novilíngua das relações laborais, onde os trabalhadores desapareceram para dar lugar aos colaboradores, chegou à imigração. De facto, são estes “colaboradores” sem quaisquer direitos, trabalhando à peça nas plataformas de distribuição alimentar, que garantem o “nosso” desenvolvimento.

O resultado destas cidades construídas pela vertigem da financeirização do imobiliário, onde o direito de propriedade nunca pode ser condicionado, são malhas urbanas cada vez mais estratificadas, até se tornarem em condomínios interrompidos por Odemiras. Para o trabalho desqualificado sobram os que aceitam viver em camaratas, amontoados a 150 euros a cabeça, garantindo rendas impossíveis para qualquer trabalhador que receba ordenado médio em Portugal.

No entanto, Lisboa nunca perdeu, nos últimos 40 anos, tão pouca população como agora. As casas que professores, enfermeiras, trabalhadores dos serviços ou polícias deixaram de conseguir pagar – empurrados para uma periferia cada vez mais distante, porque a inflação galopante do preço das casas espalha-se como uma mancha de óleo – dão guarida aos reformados do norte da Europa e a nómadas digitais que gozam das borlas fiscais de regimes de exceção inacessíveis ao comum dos mortais. Para lá da evidente injustiça fiscal, uma disparidade de tratamento que alimentará o ressentimento social que apadrinhará todos os extremismos xenófobos, os nómadas não garantem escolas ou hospitais a funcionar. Não fazem e fixam cidade, porque ela é apenas um cenário. O que precisamos é de imigrantes. Daqueles que Montenegro quer, ao contrário de nómadas e reformados, selecionar.

Esta crise habitacional afeta transversalmente quase todos os aspetos da nossa vida em comunidade. Se é impossível viver perto do local onde há empregos teremos a perpetuação de um modelo urbano, com horas perdidas nos transportes ou nos carros que entopem a entrada das grandes cidades e as consequências ambientais e de saúde pública que conhecemos. Num futuro tão próximo que se confunde com o presente, levará à desertificação de serviços essenciais por falta de professores (como já acontece em Lisboa), polícias, enfermeiros ou até aos trabalhadores necessários para a atividade turística que tudo comanda e norteia (como já acontece no Algarve).

A crise da habitação não é uma originalidade portuguesa. Basta passar os olhos pela imprensa internacional para perceber que, da Irlanda a Berlim, dos EUA à Nova Zelândia, o problema é global. Anos de juros baixíssimos, retorno industrial estagnado e crescimento do turismo, com o aliciante do Alojamento Local poder fazer de cada proprietário um pequeno hoteleiro, trouxeram-nos aqui. O que torna a nossa crise particularmente aguda é a ausência de resposta pública, pois temos 2% de habitação social onde a maioria dos países europeus tem mais de 10%, e a extensão do Alojamento Local em Lisboa, a cidade europeia recordista por 100 mil habitantes.

A urgência de uma intervenção do Estado para criar um parque público que se veja choca com as regras de contratação pública impostas ao Estado, não permitindo que isso se faça a tempo de evitar a implosão económica e social. Em nome da suspeição permanente sobre todo e qualquer decisor político e da vontade de fragilizar o setor público para que ele entregue cada vez mais funções e oportunidades de negócio ao privado, construi-se um edifício jurídico que está a levar à paralisação da máquina do Estado. Em todas as áreas.

Se a habitação é um bem escasso, precisamos de políticas públicas que garantam acesso. Desde logo, na regulação do Alojamento Local, não autorizando novas licenças nas zonas mais pressionadas e rateando as existentes. E, mesmo sendo um trauma nacional, temos de voltar ao tema do controlo do preço máximo das rendas. Só em Portugal, onde parece vigorar a tese que o direito à propriedade se sobrepõe a todos os outros, é que estas ideias são tratadas como radicais. Como faz notar o “Diário de Notícias”, num bom trabalho de Fernanda Câncio, em 13 dos 27 países da União Europeia há controlo do preço das rendas e, em muitos, a legislação define até o que são preços “usurários”. Na Alemanha, estas rendas são um crime previsto na lei, com penas de prisão até três anos.

Portugal é, de acordo com a Delloite, o país europeu com maior stock de casas. Então, porquê a escassez? Porque quase dois milhões estão em alojamento local, segunda habitação ou desabitadas para serem usadas como meros veículos de enriquecimento financeiro ou poupança. E é neste contexto único na Europa que se gerou uma polémica sem fim, a propósito das declarações de Mariana Mortágua defendendo penalizações fiscais que “obriguem” os proprietários de casas devolutas a coloca-las no mercado de arrendamento.

No estilo que muitas vezes mata o Bloco, para que as suas propostas pareçam mais radicais do que são, o objetivo está corretíssimo – deve haver discriminação fiscal positiva e negativa para que as casas se dirijam a primeira habitação permanente do próprio ou de arrendatários. Quem critica a suposta radicalidade destas propostas não está a ver o filme todo. Em Berlim, há menos de dois anos, 56% dos eleitores votaram a favor num referendo não vinculativo para expropriar milhares de propriedades de grandes empresas imobiliárias.

As pessoas têm direito ao retorno do investimento que fizeram. Não têm direito, quando se vive uma grave crise de habitação e isso já é regra na maioria dos países europeus, a ficar com elas vazias porque não gostam dos limites impostos por políticas públicas. Só uma ideia pervertida de direito de propriedade, transformado em religião, impôs o dogma absurdo de que o mercado não é limitado, contrariado, corrigido, constrangido pelo Estado quando se torna um problema grave na vida da comunidade.

Usar uma casa como ativo financeiro numa cidade consolidada e com espaço limitado não é um direito. Há um bem comum a proteger, por acaso consignado na Constituição, que é garantir um teto a cada um. O Estado tem de fazer o seu papel, coisa que não tem feito desde a erradicação das barracas na viragem do século. Mas os investidores imobiliários não têm direitos irrestritos num mercado condicionado. Até porque esse suposto direito tem impacto em toda a economia.

São cínicos os que choram lágrimas de crocodilo por quem não consegue arrendar ou comprar casa, mas depois recusam qualquer solução que não trate o direito de propriedade como o único a que não se associam deveres e limites. As casas têm uma função social nas cidades. Isso não impede que garantam rendimento, desde que, com isso, os proprietários das casas não se tornem proprietários da cidade. As casas têm donos, as cidades são de todos. E a segunda premissa limita a primeira. É a diferença entre a economia de mercado e a sociedade de mercado.»

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Não comento, não comento, não comento

 



«Um projeto para combater a “linguagem de género” na Igreja Anglicana vai começar a ser debatido esta primavera, com a possibilidade de recomendar a substituição de pronomes masculinos quando estes são usados para nos referirmos a Deus. A proposta poderá incluir também reescrever a expressão “Pai Nosso”, que inicia a oração com o mesmo nome.»
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8.2.23

Tempos de Lei Seca

 


Uma torre construída com barris confiscados, pronta para ser queimada durante a Lei Seca, 1929.

Daqui.
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Linhas vermelhas? Brancas, branquíssimas!

 


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ChatGPT?

 


É hoje, é hoje! Não quero morrer estúpida e vou tentar perceber como isto vai contribuir para a minha felicidade. Para já, estou em fila de espera tal é a afluência de novos curiosos!
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Querer ajudar é muito diferente de saber ajudar

 


«A primeira nota que gostaria de deixar, não me traz muitos amigos, mas ouvir repetidamente “não há portugueses entre as vítimas” é uma frase que me repugna. Temos de cultivar e alimentar os princípios mais basilares dos direitos humanos: todas as vidas são iguais. Em primeiro lugar somos seres humanos, cidadãos de um mundo cujas fronteiras são meras organizações administrativas, e só depois é que somos portugueses, não por orgulho, mas por obra do acaso.

Estamos a falar de um cenário de catástrofe humanitária causado pela natureza, que já nos aconteceu, que pode voltar a acontecer-nos e que gostaríamos que os outros países não “salientassem” a não-morte dos seus cidadãos, se tivéssemos milhares de mortos e feridos portugueses a sofrer.

Há duas realidades muito distintas, a da Turquia que tem serviços de saúde e de resgate de “1.º mundo”; e a da Síria cuja população vive em condições miseráveis e que se divide (infelizmente) também em duas realidades muito desniveladas dentro da miséria comum. As zonas controladas pelo governo, e o enclave da região de Idlib controlado por forças da oposição ao regime, que são 4,5 milhões de pessoas, das quais 90% precisa de ajuda humanitária para sobreviver, e que é vítima de bombardeamentos do regime de Bashar Al Assad, com o apoio tácito da Rússia, do Irão e do Hezbollah.

A maioria das pessoas que decide não ser cobarde e olha de frente esta triste realidade que entra pelo nosso coração adentro, quer ajudar, mas não sabe ajudar, e eu, mal ou bem, tenho muitas reflexões maturadas sobre este tema, que espero que vos sejam úteis, para hoje, amanhã e sempre.

1. Empatia é o que nos permite sentir a dor do outro, e compaixão é o ímpeto para a acção de ajudar. São as pedras basilares da humanidade. Sentir e fazer.

2. Sem querer ser ofensivo: pensamentos, energia e orações só ajuda o próprio, nada chega a quem precisa. Isso é inacção.

3. Donativos. A frieza do dinheiro é difícil de ultrapassar. Eu compreendo que as pessoas se sintam melhor a comprar e enviar medicamentos, seringas e compressas, e esse ímpeto é o mais bonito do ser humano, mas não faz qualquer sentido e é totalmente ineficaz. Transformem essa vontade em donativos.
  1. As organizações têm material pré-preparado para este tipo de catástrofes. Precisam é de o reforçar rapidamente.
  2. A logística de quem sabe o que faz é essencial. Transporte, desafios alfandegários, escolher quem precisa, tudo isso tem de ser coordenado.
  3. É mais barato comprar localmente do que o envio em si.
  4. A resposta às necessidades específicas é meticulosamente estudada.

4. Organizações não governamentais (ONGs) e outros profissionais. A palavra “voluntariado” é muito bonita e foi assim que nasceu o humanitarismo, mas este tipo de desafios precisa de profissionais humanitários. A boa vontade não chega. A experiência, as reflexões maturadas de décadas e o saber trabalhar em equipa, quer médica, quer logística, são a chave da solução. Na minha opinião as organizações mais bem preparadas são os Médicos Sem Fronteiras, o Comité Internacional da Cruz Vermelha, e os militares. Se quiserem dar um apoio local recomendo os White Helmets da Síria, que é o povo que mais sofre neste momento.

5. Voluntários? Eu não digo que não possam ser úteis, mas tentem integrar equipas já estruturadas e que não estão a fazer isto pela primeira vez.

6. Desconfiança. Não sei porquê, mas em Portugal há uma enorme desconfiança nas organizações e como tal refreiam-se os donativos. Compreendam que as organizações podem cometer erros, como qualquer sistema têm falhas, mas são auditadas interna e externamente e fazem análises permanentes sobre a melhor forma de ajudar. Não alimentem esta desconfiança, pelo amor das vidas que ainda podem ser salvas.

7. Oportunidade de ser, humano. Da forma mais cruel que podíamos imaginar estas catástrofes permitem-nos, por exemplo, olhar para a Síria e para o sofrimento do seu povo dos dois lados do conflito, após 12 anos de uma guerra civil que atirou milhões para a miséria humana, e por arrasto percebemos que o nosso humanismo de nos levar para todas as zonas do planeta, por exemplo, o corno de África que passa por uma fome devastadora.

8. Cuidados médicos. É muito complexo, mas eu resumiria em:
  1. Organização e coordenação entre equipas e países.
  2. Politraumatizados cujo maior desafio são as hemorragias, com a agravante que hipotermia mata muito rapidamente quem está a sangrar.
  3. Triagem. Fazer o máximo pelo maior número de pessoas. Saber quem deixar morrer, e quem pode esperar por cuidados cirúrgicos 24 a 48 horas, para rapidamente identificar as vítimas cujas hemorragias têm de ser estancadas nas primeiras horas e com suporte transfusional.
  4. Descompensação de doenças crónicas. As outras doenças não esperam e agravam quando se vive em tendas com temperaturas negativas.
  5. Grávidas. Principalmente as que precisam de cesarianas, porque “competem” com os feridos que precisam de cirurgias urgentes.

9. Infraestruturas. As vidas que estão em risco não se resumem aos mortos e aos feridos do imediato. A destruição do sistema eléctrico, de água e saneamento, de estradas, e de tudo mais que faz um país funcionar a curto/médio prazo, se não forem reparados por obras de grande porte, causam muito mais mortes do que aqueles que estão nos escombros.

Os portugueses gostam de proclamar que são um povo muito solidário. Isso não é verdade. Eu não digo que não tenhamos bom coração, nem acho que faça sentido comparar bondade entre países. A verdade é que os números dizem que podíamos fazer muito mais pela humanidade. O Good Country Index, que analisa criteriosamente o que cada país faz pela humanidade coloca-nos em 29.º lugar, atrás de muitos países europeus.

Querer ajudar é muito diferente de saber ajudar, e lamentando profundamente as mortes, e os feridos do povo turco, e sírio, espero que esta ferida aberta da humanidade seja uma dor que se transforma em aprendizagem de como ajudar de forma mais eficaz, e alargar esse pensamento a toda a humanidade.

Sentir e fazer.»

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7.2.23

Cinema de antanho

 


ALAIN DELON e ROMY SCHNEIDER no aeroporto de Nice, em viagem para as filmagens de «A piscina». 1968.
[Tão jovens que até dói!]

Daqui.
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João Bénard da Costa

 


Seriam 88, hoje.
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07.02.1927 – Juliette Gréco

 


Juliette Gréco chegaria hoje aos 96, mas morreu em 2020. Viveu até aos 6 anos em Bordéus com os avós maternos e partiu então para Paris com a mãe e a irmã mais velha.

Numas férias passadas na Dordogne, a mãe foi presa pelos nazis por actividade na resistência, o mesmo acontecendo a Juliette, então com 16 anos, e à irmã mais velha. Saiu em liberdade um mês mais tarde e foi viver para Paris em casa de uma antiga professora que morava perto de Saint-Germain-des-Prés. Facto decisivo na sua vida! Viveu o entusiasmo do pós guerra, integrou-se rapidamente em grupos de intelectuais e artistas e acabou por contactar, como é sabido, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Boris Vian, Jean Cocteau ou Miles Davis.

Algumas das suas interpretações clássicas:










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A maioria absoluta está morta?

 


«"O que queremos é uma maioria absoluta que não esteja morta". A frase é do presidente da República. Foi dita no rescaldo de uma entrevista, neste arranque de semana, em que António Costa se escudou na maioria absoluta, conseguida em janeiro do ano passado, para jurar que será primeiro-ministro até 2026. Se um cidadão português vindo de Marte aterrasse neste instante nas notícias sobre a atualidade política e fizesse uma interpretação literal das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, a conclusão seria mais ou menos imediata, óbvia e brutal: o Governo tem os dias contados.

Se o mesmo cidadão se recordasse, entretanto, que houve eleições legislativas há apenas um ano, ficaria preocupado, e talvez fosse à procura de contexto. Mas poderia aterrar nesta outra frase de Marcelo, dita há um mês, a propósito de uma eventual demissão do Governo: "Não é claro que surgisse uma alternativa evidente, forte e imediata àquilo que existe". E a conclusão seria igualmente óbvia e brutal, mas menos imediata: o Governo tem os dias contados, mas só quando o presidente perceber que o PSD tem condições para ganhar eleições e liderar um Governo.

Não é fácil, de facto, lidar com a velocidade do tempo político em Portugal. Mas é mais ou menos evidente que o presidente, concorde-se ou não, decidiu apostar numa renovada centralidade política, desde que Costa se viu apanhado numa tempestade de casos, casinhos, demissões e escândalos. Marcelo está empenhado numa visão maximalista dos poderes que tem e faz questão de deixar isso bem claro, sempre que pode, ao primeiro-ministro.

É verdade que Marcelo já não goza da popularidade de outrora, como mostrou o mais recente barómetro político da Aximage para o JN. Mas Costa está ainda pior. Depois de anos em que foi o único líder partidário com avaliação positiva, passou a ser o político com maior índice de rejeição. Pior até do que André Ventura, o que não é coisa de somenos. E não deixa de ser paradoxal que o seu atestado de sobrevivência seja afinal a fragilidade do seu principal rival, Luís Montenegro. O líder do PSD não só não capitaliza os descontentes, como perde o pé. Talvez seja mesmo só por isso (a fazer fé nas farpas de Marcelo) que a maioria absoluta, parecendo moribunda, ainda não tenha sido dada como morta.»

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6.2.23

Não é em Alfama

 


É roupa a secar em Nova Iorque (Lower Manhattan), 1902. 

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Isto não se inventa

 


Marcelo «GARANTE» o que o Governo ainda não anunciou. E este terá mesmo «SUPERADO» ou será obrigado a fazê-lo daqui a umas horas?

(Observador, 06.02.2023)
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06.02.1932 – François Truffaut

 


François Truffaut nasceu em Paris e faria hoje 91 anos, morreu muito cedo (com 52), mas deixou-nos 26 filmes que o mantêm connosco. Com uma infância atribulada, que acaba por retratar parcialmente em «Les quatre cents coups», Truffaut fundou um cineclube aos 15 anos e foi rapidamente descoberto por André Bazin que viria a ter uma influência decisiva na sua carreira, introduzindo-o junto dos grandes nomes da época e nos celebérrimos «Cahiers du Cinéma». Tornou-se um dos principais representantes da «Nouvelle Vague» francesa e, nesses tempos áureos do cinema francês, era sempre com ansiedade que se aguardava a estreia de um novo título.

Alguns entre muitos inesquecíveis: «Baisers Volés» (1968), «Les quatre cents coups» (1959), Fahrenheit 451 (1966) e o último dos seus filmes, estreado um ano antes de morrer: «Vivement dimanche!» (1983).








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André Ventura ministro da Administração Interna? Sim, é possível

 


«O PSD tem as malas prontas para fazer um Governo de coligação com André Ventura caso vença as próximas eleições. O partido enviou à sessão de encerramento da convenção o seu vice-presidente que, desde a primeira hora, imaginou uma coligação com o Chega, Miguel Pinto Luz. Isso foi um sinal, assim como se espalha a ideia de aproximação de cada vez que Montenegro diz aquela frase terrível "Para mim o Chega não é assunto" ou similar. Peço perdão pela minha ingenuidade: no Congresso do PSD até achei que Montenegro se estava a afastar do Chega. Devia estar toldada por uma vontade qualquer de dar o benefício da dúvida. Obviamente, o discurso foi feito apenas para "épater les bourgeois" como eu.

Sobre um futuro Governo PSD-Chega, a frase que, para mim, acabou por ser decisiva esta semana foi a resposta de Miguel Relvas, no seu programa de comentário na CNN-Portugal, a uma pergunta do jornalista Paulo Magalhães. "Repugna-lhe um Governo PSD-Chega?", questiona Magalhães. "Não", afirma, com a rapidez com que se responde a perguntas singelas, Miguel Relvas.

Miguel Relvas pode estar afastado da política activa, mas não é um militante qualquer. Foi número dois de Passos Coelho no PSD, no Governo PSD/CDS foi ministro-adjunto, liderou a campanha interna de Passos e a conquista do aparelho. Deputado desde os tempos da JSD, Relvas é, de certa maneira, um bom barómetro do PSD mais autêntico, das bases. É verdade que o cenário de um Governo PSD-Chega repugna a Jorge Moreira da Silva e ao eurodeputado José Manuel Fernandes. Mas parece não existir um clamor social-democrata contra uma aliança com o Chega.

O caminho para a coligação PSD-Chega começou a ser feito nos tempos em que Rui Rio popularizou aquele slogan "sim-se-o-Chega-se-moderar". O polémico acordo dos Açores funcionou como a experiência regional e antecâmara daquilo a que estamos agora a assistir. É importante ler na edição desta sexta-feira o excelente texto de Francisco Mendes da Silva cujo título é "O PSD já claudicou perante o Chega. E agora?".

O Chega exige vários ministérios, incluindo o Ministério da Administração Interna – como Salvini ocupou no Governo italiano. Pode lá chegar. Jorge Almeida Fernandes, na sua magnífica newsletter, lembra como Mitterrand favoreceu a ascensão da extrema-direita. Às vezes, quando se assistem a certas atitudes dos socialistas portugueses parece que andam a querer copiar franceses, como já foi moda em Portugal. Como foi possível o Governo enviar uma das suas ministras mais importantes e com mais peso político no PS ao encerramento da convenção do Chega? A opção burocrática de que, como o Chega é um partido com representação parlamentar, manda-se a ministra dos Assuntos Parlamentares não devia ter sido feita.

Mitterrand facilitou a ascensão de Le Pen e hoje, em França, os velhos partidos tradicionais, equivalentes aos nossos PS e PSD, faleceram. Macron saiu do Governo Hollande para criar um movimento independente – En Marche – que depois transformou no partido que agora rebaptizou de Renascimento. Do outro lado está Le Pen. O semimorto PS francês, onde militou Mitterrand Presidente, já se coligou com a França Insubmissa de Jean-Luc Melénchon.

A implosão do regime em França devia ser lida com muito cuidado pelos portugueses porque, com o PS em queda e o PSD naquele estado, um dia destes acordamos com dois pólos alternativos que não são nenhum destes.

Por enquanto, o PS tem uma maioria absoluta consagrada nas eleições de há um ano. Costa tenta recuperar a iniciativa, como tentou fazer na entrevista televisiva desta semana, mas sete anos no poder tornam a tarefa de começar do zero muito difícil. Com o PSD rendido ao Chega, é natural que parte do eleitorado do centro continue a votar PS para impedir a extrema-direita de ser Governo. Mas é impossível eternizar o PS no poder.

Caro leitor, cara leitora: se um dia acordarmos com André Ventura como ministro da Administração Interna não podemos dizer que não fomos avisados.»

Ana Sá Lopes 
Newsletter do Público (excerto), 03.02.2023
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