Pedem-me que explicite a minha posição depois do
anúncio um tanto ambíguo que fiz da festa-comício, anunciada por vários movimentos de esquerda para o próximo dia 3 de Junho.
Não me move qualquer esperança salvífica quanto à eficácia de frentismos deste tipo. «Todos ao molho e fé em Deus» não leva geralmente a nada de útil. Por outro lado, mesmo que os organizadores declarem cem vezes que não têm nenhuma outra intenção que não seja festejar Abril e Maio, não dá para acreditar que assim seja. Tudo leva a crer que se trata de um ensaio para 2009 (e não vem daí nenhum mal ao mundo), mas de um ensaio inexplicavelmente medroso: não o fosse e teria sido reservada uma sala com capacidade bem maior do que a do Trindade.
Dito isto, vejo algumas virtualidades no momento e na fórmula que foram escolhidos para uma afirmação pública de protesto e, sobretudo, julgo que ela cola bem ao ADN de uma certa vivência de esquerda – que em tempos foi apelidada de «festiva» –, que todas estas forças têm como denominador comum. Digo-o sem qualquer carga negativa, até porque, apesar de todas as minhas reticências, é com algumas delas que tenho actualmente as únicas afinidades e solidariedades possíveis, em termos públicos e colectivos.
Resumindo: nunca subscreveria o documento associado à iniciativa, mas estou a pensar ir ao Trindade.
Com outros
compagnons de route, mais próximos, tão utópicos como eu, e portanto também tão permanentemente insatisfeitos, terei sempre uma cumplicidade maior – mesmo que reduzida a encontros de amigos e, também e cada vez mais, a certas paragens na blogosfera. O que já é excelente.