25.5.08

Queridos futebóis











Anunciam-se excelentes semanas, com tempo para pensar e viver. Sem telejornais e com poucas horas gastas a ler papelada. Sabe-se quase tudo à partida – que alguém irá mandar no PSD (basta voltar ao assunto dentro de dias para ver o resultado do match), que uns tantos irão arrecadando glórias num outro campeonato mais musculado (e, desse, iremos ouvindo o que se passa enquanto tomamos a bica).

Nuno Brederode dos Santos, hoje no DN:

«Estas Primaveras dos anos pares obrigam-nos a reagir e a ponderar sair de casa e ir ter com os amigos. Não porque vento e chuva sejam privilégio dos anos ímpares. Mas porque, nos pares, chega um qualquer campeonato (ora europeu, ora mundial) em que o futebol toma conta da vida colectiva e pouca margem deixa para patetices intimistas. Nem é, em bom rigor, o futebol. São misteriosas adjacências, disciplinas conexas que a televisão e a imprensa cultivam com o desvelo e a minúcia com que um amigo meu derrama a alma num jardim de espécies exóticas em versão "bonsai".

É eu ter de saber que, no hotel do estágio, a ementa de hoje foi canja de galinha e carne à jardineira (e o cozinheiro já vai explicar porquê), mas também que o craque A, afectado por uma ligeira indisposição, comeu pescada. Quanto ao B, que é naturalizado, foi-lhe concedido viajar hoje até S. Luís do Maranhão, onde o pai será operado a uma hérnia (o mau canal por aqui se fica, mas o bom vai ao local ouvir coronéis, jagunços e ameríndios sobre a popularidade e gentileza da família do craque). É a irmã do craque C , que veio a Viseu, grávida de séculos, e pariu com estrondo à beira da hora do treino - e o doutor, que é ginecologista, vive os seus cinco minutos de glória a sossegar a nação. É o pequeno Marturis que continua a vestir a camisola do Figo, mas já lê Camilo Pessanha graças à bolsa de um banco nacional. E a namorada do médio D, que admite vir a ter muitos filhos, mas só depois de fazer carreira em Hollywood.
(...)
Tenho uma alternativa secreta: as primárias do PSD. Que têm sido a única manobra de diversão capaz de nos manter o nariz à tona na inundação do europeu de futebol. Falando só pela noite de terça-feira (Menezes na TVI e Santana Lopes na SIC), por irrespirável que a atmosfera estivesse (sobretudo com Menezes), valeu a pena. Só choveu no PSD e eu fui dormir enxuto».

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