A história conta-se depressa. Todos os anos, 12.000 mães marroquinas atravessam o estreito de Gibraltar para apanharem morangos em Espanha. Elas agradecem, os agricultores andaluzes também e os governos dos dois países enquadram a iniciativa.
Porquê mulheres, porquê mães? Porque são «mais fiáveis» e «mais dóceis» do que os homens e, sobretudo, porque se sabe que, terminada a tarefa, não tentarão ficar em Espanha. Regressarão para junto das suas crias. Esperando-se que as lambam como animais, se preciso for.
«Luta eficaz contra a imigração», chamam-lhe alguns. Terríveis habilidades da globalização, que tratam a mão-de-obra necessária – de pessoas, não de robôs nem de animais – como absolutamente descartável.
Não foi certamente este o mundo que esperámos para o século xxi, aquele com que sonhámos, na Europa e às suas portas. Mas ele aí está, civilizadamente e com uma enorme crueldade. Resta-nos pregar, militantemente, a indignação. Sendo realistas e continuando a tentar o que parece impossível.