Sem terra à vista durante dois dias, a caminho da Tasmânia, aproveito para um curto balanço desta primeira parte da viagem.
Saio da Nova Zelândia com a confirmação de que é um país lindíssimo em termos paisagísticos, com algumas cidades agradáveis e muito bem cuidadas, e muito diferente de qualquer outro em que tenha estado, não só mas também em estilo de vida. Antes de mais, registe-se que tudo o que disser corresponde a puras apreciações de turista, com todas as reservas que a condição impõe.
Pareceu-me uma parte do mundo calmíssima, onde é fácil viver, mas cheia de regras – um pouco como acontece com os nórdicos europeus. Comparativamente com alguns inconvenientes (quase tudo é longe…), mas com muitas vantagens para quem não está «espartilhado» numa Europa na fase em que esta se encontra.
A Nova Zelândia é uma monarquia constitucional, existe por cá uma governadora, sem poder, que representa a rainha inglesa, e um sistema parlamentar muito pacífico e que parece satisfazer os cidadãos. Aliás, confesso que o que mais me impressionou foi o «espírito positivo» que parece imperar nesta terra, que até os imigrantes com quem falei (brasileiros, espanhóis, latino-americanos) partilham: afirmam que tudo corre bem, tudo funciona, tudo é mais ou menos fácil – o oposto do sentido crítico sistemático que nos caracteriza por aí. Mas quando a esmola é grande o pobre desconfia e vou com umas tantas perplexidades, admitindo no entanto que o problema seja meu.
Mas a verdade é que há pouca corrupção (segundo país com valor mais baixo, logo a seguir à Dinamarca), que pequenos crimes são notícia a nível nacional pela raridade, que as diferenças salariais são reduzidas (o que leva muitos jovens a não se darem ao trabalho de seguir cursos universitários por não valer a pena), que os sistemas de saúde e de educação parecerem mais ou menos satisfatórios.Tudo isto com impostos relativamente baixos.
A imigração é muito controlada num sistema complexo onde se vão acumulando pontos, primeiro para obtenção de licença de trabalho, depois para autorização de residência. Tudo é tido em conta desde a idade, localidade onde se pretende ficar (é mais fácil na Ilha do Sul por ser menos povoada), habilitações, nível do inglês e, também e sobretudo, relação entre características de quem quer ficar e necessidade de mão-de-obra no país em determinadas áreas específicas. Mas não sei se tudo isto não tenderá a modificar-se com a verdadeira «invasão» de chineses e de indianos ricos, que vêm para cá estudar sendo o verdadeiro sustentáculo do ensino superior privado. Muitos acabam por ficar e por se estabelecer por conta própria, o que irá provocar, inevitavelmente, alterações significativas.
Dizem-me que os neozelandeses se contentam com uma vida pacata, com horários rígidos entre casa e trabalho, e um pouco de golfe como actividade desportiva popular e barata. Não sei se pacatez rima com algum tédio, mas não me admirava que sim. Pelo menos fora de Wellington e de mais uma ou outra cidade.
Valeu a pena vir até o mais longe possível de casa para visitar mais este canto do mundo? Sim, sem dúvida alguma.
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