10.12.11

Adriano Moreira e o Tarrafal – a verdade reposta pela televisão de Cabo Verde


9 de Dezembro


10 de Dezembro
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Que três!

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Hoje

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63º aniversário da aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.



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Pior a emenda


A fotografia publicada na página da PSP no Facebook encheu as redes sociais, a respectiva legenda também:


Falam por si e pelos seus autores.

Mas pelo menos tão extraordinárias são as justificações dadas pelo porta-voz Paulo Flor, perante as reacções suscitadas pelo post: que de um «desabafo» se tratara para «refrear os ânimos no Facebook da PSP».

Mais: «O porta-voz admite que os comentários estão a ser “monitorizados”, porque muitos “ultrapassam o limite do razoável”» (mais do que normal...), mas acrescenta: «Esta é também uma forma de monitorizar quem escreve permanentemente no mural da PSP». (O realce é meu e dispensa comentários.)

Já nem há minhocas para saltarem, tantas são as cavadelas…
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9.12.11

tarAra


… é o excelente cd que os Diabo a Sete acabam de lançar. Eles são mesmo sete, andam normalmente por Coimbra mas não só, e, desta vez, associaram uma tarara aos diversos instrumentos que normalmente tocam.

O baterista, Miguel Cardina, homem de sete ofícios, foi escrevendo (quase todas) as letras, certamente enquanto revia as provas do seu livro sobre maoístas nos idos do marcelismo.

Para abrir o apetite:

Floripíadas


Paraíso Fiscal
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Certezas e incertezas


Em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa)de Dezembro, mais um importante texto de Sandra Monteiro: «Crise: lugares de certezas e incertezas».

«À medida que a crise se agrava, surgem no encolhido espaço da dúvida cada vez mais certezas, mais respostas já dadas. Porque as posições em confronto, as diferentes visões de sociedade, se definem em torno de antagonismos que não são novos na história, que já tiveram os seus argumentários construídos, debatidos e até escrutinados pelo confronto com o real. Há uma certa sensação de reedição, fora do tempo, de debates que na Europa tantos consideraram estar resolvidos, por extensa que fosse (e era) a sua margem de melhoria. (…)

Mas cresce também, noutra morada, o espaço das incertezas. Estas, expulsas do lugar onde são úteis e criativas − no exercício da crítica e da transformação −, alojam-se num quotidiano em que são fonte de sofrimento, de medo, de desespero. No quotidiano imposto pela crise, certezas e incertezas passam a habitar locais trocados, deslocam-se para onde não deviam estar e tornam-se ambas corrosivas: as certezas facilitam posições defensivas, em vez de estimularem a audácia da alternativa; as incertezas paralisam e degradam as condições mínimas de estabilidade que facilitariam a disponibilidade da maioria para se empenhar em soluções colectivas − não apenas privadas, familiares − para os problemas de todos os dias. (…)

Nas ocasiões em que os neoliberais falam com clareza, como fez o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho ao referir-se aos países sob intervenção dos planos de ajustamento estrutural como «aqueles que foram indisciplinados» e a Angela Merkel como alguém com quem «em vez de colagem há coincidência de posições» (Público, 4 de Dezembro de 2011), o que importa sublinhar é um posicionamento político-ideológico que é contrário aos interesses das periferias europeias no quadro do saque em curso. Porque só quando as escolhas políticas são claras podemos ter democracias substantivas. Já o sabemos mas, nestes tempos de certezas e incertezas trocadas, convém repeti-lo: sem política, as escolhas são cegas; sem instrumentos para as levar à prática, são vazias. E o nosso lugar não é entre a cegueira e o vazio.»

Na íntegra AQUI.
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Triste fado

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… património bem material, neste caso.


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Dito por aí (4)

@João Abel Manta

«Este é um momento constituinte da União Europeia. É um momento constituinte incompetente e a-democrático. Incompetente porque insiste em fazer da sobre-dosagem do tóxico a terapêutica. O que está a conduzir a Europa a uma depressão económica sem precedentes será preceito constitucional sem margem de manobra possível. A-democrático porque aposta na sua própria blindagem contra qualquer inesperado gesto democrático que o afronte.»
José Manuel Pureza, O momento constituinte

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«O que a história nos ensina sempre é que o presente nem sempre é o pior dos tempos. Sim, não vai haver nenhuma solução para a crise do euro e a cimeira que começa hoje será uma fantochada sem nome. A Europa vai passar por uma crise de que já não se lembra e, provavelmente, irá implodir enquanto união semi-política – mas, às tantas, haverá uma reconversão das coisas. (…)
Se esta crise nos levar a recuperar a política para a primeira linha – secundarizando a “alienação” provocada pelo “shopping” teorizada à exaustão pelos filósofos contemporâneos – não se perdeu tudo. Até aqui vingou o lema “a Europa não se discute”, reflexo daquele que Salazar fazia com a pátria. A ideia de começar a discuti-la é, em si, uma coisa boa.»

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«É-nos frequentemente dito que uma reestruturação da dívida é impensável, resultará em danos irreversíveis para a nossa reputação e constitui uma violação de obrigações contratuais do Estado Português. Em primeiro lugar, uma reestruturação da dívida é tudo menos impensável e constitui, pelo contrário, um facto relativamente banal na história económica, incluindo a mais recente. (…)
Finalmente, a questão das obrigações contratuais. Este é talvez o argumento mais descarado de quem se opõe a uma reestruturação. Isso porque o que está a acontecer hoje em dia com a política de austeridade são violações contratuais várias, repetidas e continuadas. Os cortes nos salários da função pública ou nas pensões violam relações contratuais, aliás consagradas na lei, para já não falar da Constituição. Um pouco por todos os setores, da cultura à saúde, passando pelas Universidades e pelos apoios sociais, relações de confiança estão a ser quebradas e direitos estão a ser desmantelados.»

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«A actual fornada de "boys" do PSD e CDS só vem substituir a fornada do PS, sendo que, para os contribuintes pagantes, tanto faz pagar a uns como pagar a outros. Sónia Fertuzinhos não fala, pois, para o país, mas para dentro do seu partido, e a sua indignação deve ser entendida como mera expressão de solidariedade com todos os camaradas que acabaram de ficar sem os lugares que, se Deus e os eleitores quiserem (e normalmente querem), recuperarão mal o PS volte a ser Governo.»
Manuel António Pina, A dança das cadeiras
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8.12.11

Monstros sagrados


Jean Ferrat e Aragon


«J'entends j'entends...»


«Épilogue»
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Quando eu perdi uma Nossa Senhora


Revejo a cena, algures não muito longe da praia da Polana, num pavilhão ao ar livre que servia de sala de aula ao que hoje seria a pré-primária, com um calor absolutamente abrasador de um Verão moçambicano.

Foi aí que tive o primeiro choque religioso de que guardo lembrança, quando percebi, já nem sei bem como, que só havia uma Nossa Senhora e não duas, tão diferentes que me habituara a vê-las! A da Conceição sempre me tinha parecido mais bonita e mais importante do que a outra porque tinha aos pés muitos anjinhos e não uns pobretanas de alpercatas, pairava nas nuvens e não em cima de uma árvore mais ou menos raquítica, marcava no calendário o dia da mãe (e a minha até se chamava Conceição…) e, sobretudo, dava direito a um dia com praia e sem escola.

Os anjinhos há muito que foram à vida (o meu filho já sempre os confundiu com a abelha maia…) mas parece que ainda não é desta que vamos perder o feriado. Lá chegaremos…
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A Constituição? Who cares


Manuel António Pina, hoje, mais uma vez certeiro:

A Constituição, esse empecilho

O Governo pediu o parecer da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) sobre uma proposta de lei com que visa "agilizar" a "utilização de câmaras de vídeo pelas forças e serviços de segurança em locais públicos".

Quando um governo fala em "agilizar" a actuação policial, os cidadãos têm razões para ficar inquietos. De facto, tal "agilização" traduz-se, por regra, na limitação drástica de direitos fundamentais e na atribuição de carta branca às polícias para todos os abusos.

O actual Governo pretendia acabar com a força vinculativa dos pareceres da CNPD, entidade independente a quem cabe "controlar e fiscalizar o cumprimento das disposições legais em matéria de protecção de dados pessoais [e o seu] respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades e garantias consagradas na Constituição e na lei". Pretendia ainda que a Polícia pudesse pôr câmaras vídeo onde muito bem entendesse, mesmo não havendo aí "razoável risco da ocorrência de crimes", só mais tarde... pedindo "autorização" para tal. "Autorização" que o ministro depois daria sem ter que se incomodar com a CNPD.

Porque tudo isso "diminui uma garantia constitucional face ao tratamento abusivo de dados pessoais", o parecer da CNPD foi negativo. A peixeirada que ontem PSD e CDS fizeram na AR foi, não contra a CNPD, mas contra os direitos fundamentais assegurados pela Constituição que obstam a que Portugal se torne de novo num Estado policial.
(Os realces são meus.)
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7.12.11

Prova de resistência

Adriano Moreira, doutor «Honoris Causa» em Cabo Verde?


(Post elaborado em resultado de conversa e troca de informações com Diana Andringa e Jorge Martins.)

Leia-se a Portaria acima junta, a assinatura e a data. A memória é curta, mas as reacções começam a surgir. Outras se seguirão, como a do ex-tarrafalista Edmundo Pedro.


A amnésia do leão é a glória do caçador

Soube, com espanto, que a Universidade do Mindelo decidiu atribuir um doutoramento honoris causa ao Professor-Doutor Adriano Moreira, escolhendo para tal o dia 10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

De acordo com o site da dita Universidade, farão o elogio e o apadrinhamento do homenageado dois respeitáveis cidadãos cabo-verdianos: Onésimo Silveira e Germano Almeida.

Não pondo em causa as qualidades académicas do Professor-Doutor Adriano Moreira, não posso deixar de pensar que conceder-lhe o Doutoramento Honoris Causa no Dia Internacional dos Direitos Humanos, tendo sido ele o autor da Portaria 18539, de 17 de Junho de 1961, que instituiu o Campo de Trabalho de Chão Bom – onde estiveram presos, em condições de inumanidade, mais de duas centenas de nacionalistas de Angola, Guiné e Cabo Verde – é, além de uma notável demonstração de humor negro, uma afronta à memória dos homens e mulheres que lutaram pela libertação dos seus países do jugo colonial português. Não se trata de perpetuar ódios, mas de respeitar a memória das vítimas.

No cemitério da Vila do Tarrafal permanecem ainda os restos mortais dos guineenses Cutubo Cassamá e Biaba Nabué, falecidos no campo a 12 e 24 de Novembro de 1962. Morreram também, em consequência da sua detenção no campo, os angolanos António Pedro Benge (13 de Setembro de 1962) e Magita Chipóia (13 de Maio de 1970). Muitos outros presos – alguns dos quais cabo-verdianos – vivem ainda as consequências dos maus tratos sofridos no campo mandado reabrir pelo agora homenageado no Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Estranho o menosprezo da Universidade do Mindelo pela história recente do seu próprio país. É certo que vivemos tempos de amnésia e indiferença, mas temo que um povo que ignora o seu passado ponha em causa o seu futuro. Até por que, como lembra o provérbio africano, “enquanto o leão não escrever a sua História, a glória será sempre do caçador”.

Diana Andringa

Entretanto, a Lusa distribuiu ontem o seguinte texto:
Ex-presos políticos
Doutoramento Honoris Causa de Adriano Moreira é um «insulto», diz associação de Cabo Verde
A Associação Cabo-Verdiana de Ex-Presos Políticos (ACEP) considerou hoje um «insulto» o doutoramento Honoris Causa que a Universidade do Mindelo (UM) outorga sábado a Adriano Morejavascript:void(0)ira, sustentando com o "passado repressivo" do antigo ministro do Ultramar português.
«É um insulto porque foi ministro do Ultramar e foi sob a sua liderança que o campo de concentração do Tarrafal foi reaberto (Junho de 1961). Também foi nesse período em que a PIDE foi trazida para Cabo Verde», disse à Agência Lusa o presidente da ACEP, Pedro Martins, ele próprio preso político de então (1970/74).
Pedro Martins refutou a ideia de que, 37 anos depois, as feridas ainda não tenham sarado, alegando tratar-se de uma «questão de memória e de coerência» para com uma sociedade, a cabo-verdiana, que as tem e que não se despersonalizou.
«O problema é a coerência. (Adriano Moreira) foi um dos chefes máximos do sistema, sobretudo em relação às antigas colónias portuguesas, que levou muita gente para a prisão, para a tortura. Foi sob a sua égide que a PIDE foi aqui instalada. É História e é memória que todos os povos têm direito a preservar», sustentou.
O agora arquitecto, que publicou em 1995 o livro Testemunhos de um Combatente, disse ter ficado «totalmente estupefacto» com a decisão da Universidade do Mindelo, anunciada a 22 de Novembro último, em que participarão outros ex-combatentes e ex-presos, bem como o primeiro-ministro José Maria Neves.
«Fiquei totalmente estupefacto, porque devemos pensar qual é a mensagem que vamos passar à juventude cabo-verdiana e também aos outros povos que lutaram pela independência em África e tiveram de sacrificar-se. O direito de memória de um povo é sagrado e deve ser respeitado», defendeu.
«Pessoalmente, nada tenho contra ele. Mas quando uma autoridade responsável por tantas atrocidades, parece-me incongruente e contra tudo aquilo que lutamos para por fim ao regime colonial fascista», acrescentou, insistindo na ideia de insulto.
«É um insulto à atitude dos povos que lutaram pela independência. Como vamos homenagear alguém que foi chefe e responsável por uma máquina que tanto mal fez contra os nacionalistas cabo-verdianos, contra o sentimento de independência também de Angola, Guiné e Moçambique», sustentou Pedro Martins.
O arquitecto defendeu ainda que foi sob as ordens de Adriano Moreira que «muitos professores e alunos» foram presos e postos em campos de concentração «sem julgamento e sem dia para sair em liberdade».
O reitor da UM já desvalorizou a polémica, alegando que não vai comentar as palavras de Pedro Martins, reiterando a distinção a Adriano Moreira «pelo mérito ao cume do prestígio científico, em diversos países, sobretudo nos de língua portuguesa».
Adriano Moreira, retirado das lides políticas desde 1995, nasceu em 1922 em Portugal, é jurista e professor universitário e foi figura destacada do Estado Novo no âmbito da política colonial. Foi ministro do Ultramar, fundou e dirigiu institutos de estudos africanos e presidiu à Sociedade de Geografia de Lisboa, entre outros cargos.
Depois do 25 de Abril de 1974, tornou-se uma das personalidades de referência do Centro Democrático Social e escreveu várias obras, entre as quais O Novíssimo Príncipe, Comunidades dos Países de Língua Portuguesa e Saneamento Nacional.

P.S.1 (9/12/2011) – Entretanto, perante as reacções, Adriano Moreira declarou o seguinte: «Ligar-me à reabertura do campo do Tarrafal é falsear a história».
A Portaria acima exibida fala por si: não é por se dar um nome diferente (Chão Bom, neste caso) à realidade que esta se altera.

P.S. 2 - De viva voz:


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Uma das grandes fugas da nossa História


Em 4 de Dezembro de 1961, oito presos políticos personificaram uma fuga do forte de Caxias, não menos espectacular do que a de Peniche ocorrida quase dois anos antes, mas muito menos conhecida provavelmente porque não envolveu a pessoa de Álvaro Cunhal.

Derrubar um portão de um forte com um carro blindado, supostamente oferecido por Hitler a Salazar, e fazê-lo depois de uma longa preparação que implicou que o seu principal intérprete tenha fingido «rachar» (ou seja passar para o lado da polícia) para se movimentar à vontade e preparar todos os detalhes, nada tem de trivial e é digno de homenagem e admiração. Pertencerá para sempre ao nosso património – material ou imaterial, como se preferir, mas bem real e a ser preservado.

O Diário de Notícias publicou no passado Domingo uma longa reportagem sobre o assunto, com alguns defeitos mas onde os factos são descritos com o detalhe possível. Vale muito a pena lê-la.

1961, Anno Horribilis para Salazar. Faltava a cereja em cima do bolo: daí a uns dias, cairia Goa...

(Clicar e aumentar cada uma das imagens.)
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Momento Zen da política portuguesa

A verdade acerca da economia

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6.12.11

Menino da rua

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Made in USA


«Allá en los años mozos, fui cajero de banco. Recuerdo, entre los clientes, a un fabricante de camisas. El gerente del banco le renovaba los préstamos por pura piedad. El pobre camisero vivía en perpetua zozobra. Sus camisas no estaban mal pero nadie las compraba. Una noche, el camisero fue visitado por un ángel. Al amanecer, cuando despertó, estaba iluminado. Se levantó de un salto. Lo primero que hizo fue cambiar el nombre de su empresa, que pasó a llamarse Uruguay Sociedad Anónima, patriótico título cuyas siglas son: U.S.A. Lo segundo que hizo fue pegar en los cuellos de sus camisas una etiqueta que decía, y no mentía: Made in U.S.A. Lo tercero que hizo fue vender camisas a lo loco. Y lo cuarto que hizo fue pagar lo que debía y ganar mucho dinero.»
Eduardo Galeano, El libro de los abrazos
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Esta m... tem de acabar

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As polícias que não nos defendem – perguntas a um ministro


O Ministério Público afirmou ontem publicamente que o «alemão detido na greve geral não é procurado pela Interpol». Mais: «De acordo com a Lusa, a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL) adianta na página da Internet que Manuel Beck, detido no dia da greve geral junto à Assembleia da República, não é procurado pela Interpol, nem tem mandados pendentes na Alemanha.»

Durante onze dias, o ministro da Administração Interna e a direcção da PSP mentiram aos portugueses. Digo-o sem pestanejar: mandados de captura não são realidades imateriais como o fado e nenhum dirigente responsável pode andar por aí a espalhar boatos desta índole para justificar acções no mínimo duvidosas, apenas para «se defender» e acicatar o ânimo dos cidadãos.

Num país decente, isto seria o suficiente para que Miguel Macedo tivesse pedido a demissão ontem mesmo, para além de muitas outras razões relacionadas com a actividade das chamadas forças da ordem (?...), no passado dia 24 de Novembro… No Facebook, nasceu, há algumas horas, uma Página onde se exige, «obviamente», a demissão de Macedo e de Guedes da Silva.

Logo à noite, às 22:00, o ministro é entrevistado na TVI24. Num país decente, o jornalista fará certamente algumas das perguntas sugeridas hoje em alguns blogues.

Nuno Bio, no Portugal Uncut:

Sobre os acontecimentos da Calçada da Estrela:
Versão policial:
Foi detido um cidadão alemão por polícia à paisana porque era procurado pela Interpol, tinha agredido barbaramente um polícia junto às grades que ficou ferido com gravidade e porque este "alemão" era procurado por outra agressão à polícia na Alemanha.

Factos:
O ministério público informou hoje que o "alemão" não era procurado pela Interpol e que não havia qualquer caso pendente na Alemanha. A polícia sempre informou que naquele dia tinha ficado UM e só UM agente ferido com gravidade. O agente ferido na Calçada da Estrela é esse polícia ferido, esteve a ser assistido no local pelos seus companheiros e foi transportado numa ambulância.

Perguntas:
Porque é que a polícia disse que o detido era procurado pela Interpol?
Porque é que a polícia disse que o detido tinha agredido antes da detenção um polícia de forma bárbara?
Porque foi efectivamente detida essa pessoa?
Como confiar nos relatos que a polícia faz? Se a polícia mente quando presta declarações no dia seguinte aos acontecimentos, sem pressão, como se pode manter confiança política nos seus comandantes?


Sobre a actuação do dia 24 no Parlamento.
Versão policial:
Houve um grupo de pessoas que deitaram as grades abaixo e a polícia actuou de forma proporcional, contida e competente para sanar o problema e garantir que a AR não fosse invadida.
Houve manifestantes que foram violentos e a polícia usou o bastão e procedeu a detenções.

Factos:
De todos os vídeos, testemunhos e fotos constata-se que as grades caíram, que houve pessoas que tentaram ocupar de forma exaltada mas pacífica as escadarias e que a polícia intervêm à bastonada para garantir o estabelecimento do perímetro de segurança inicial.
Nas fotos em que são vísíveis "manifestantes" a entrarem em "vias de facto" com a polícia são claramente identificados dois homens um com casaco azul e outro com casaco castanho que noutras fotografias estão a prender manifestantes e um jornalista do jornal i.

Perguntas:
O que faziam policias à paisana dentro da manifestação? Isto é normal num estado democrático?
E porque estavam esses polícias exactamente no local dos confrontos e a tomar posições activas na contenda?
O que se entende por uma acção contida, proporcional e competente por parte das forças policiais quando as acções mais violentas são perpetradas por polícias à paisana?


Sobre a exemplar actuação da polícia e as infiltrações
Perguntas:

Qual o sentido de colocar policias à paisana numa manifestação num estado democrático? Qual o objectivo?
Onde fica a linha entre prevenção de actos violentos e a interferência nos legítimos movimentos de contestação social?
O que vai fazer relativamente aos agentes à paisana, infiltrados nas manifestações e que têm papel de agentes provocadores na primeira linha da manifestação?
Porque foi tão célere o comando da polícia e o ministro a concluir que a actuação policial tinha sido exemplar quando no dia seguinte surgiram tantas provas de situações mal explicadas e de falsidades nos relatos dos acontecimentos? Porque abriram um inquérito de averiguações quando já tinham as conclusões?
Compactua com o tom de ameaça que o (ainda) comandante Guedes da Silva utiliza?

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Fernanda Câncio no Jugular:

1.quantos agentes à paisana estavam na manifestação de 24 de novembro?
2.quem são esses agentes (não, não quero os nomes, quero saber a que corporação pertencem, que treino têm, etc)?
3. qual o enquadramento legal (com citação de lei, por favor) da presença de agentes à paisana em manifestações?
4. mais concretamente:
a) qual o objectivo dessa presença?
b) que mandato tem?
c) podem ir armados? com que armas?
d) se acharem que devem 'agir', não têm de se identificar como polícias e de dizer o nome se lhes for perguntado? (recordo que a deputada ana drago tentou saber quem eram os homens à paisana que batiam numa pessoa -- o jovem alemão que era supostamente procurado pela interpol mas que afinal não era -- e não lhe foi dito; recordo que há mais de 20 anos a lei exige que todos os agentes policiais andem com uma plaquinha com a identificação, para que cada cidadão saiba não só que está perante um agente policial mas possa também identificá-lo pelo nome.)
5. se se provar que efectivamente houve agentes da psp ou da gnr ou de outro 'corpo' ou 'agência' governamental a agir como agentes provocadores na manifestação, que tem o ministro a dizer e que tenciona fazer em relação a isso?

A ler também: Daniel Oliveira, O governo usa a polícia para instigar a violência? e Manuel António Pina, Um estranho silêncio
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5.12.11

Uma história do mundo como outra qualquer

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Mitos que fazem a história


Uma obra de Alan Riding, publicada em Outubro de 2010, trouxe de novo para a boca de cena a inesgotável questão das verdades e inverdades sobre a resistência francesa durante a II Guerra Mundial (*).

Para o autor, o general De Gaulle não se limitou a dirigir a Resistência no seu país, «inventou» uma França resistente. Não ignorava que existiu uma outra que não o foi, mas preferiu criar uma unidade retrospectiva dos franceses face ao inimigo exterior a dividi-los internamente, criando condições para que a França da Resistência ajustasse contas com a de Pétain.

Sabe-se há muito que, com honrosas excepções e muitas ambiguidades, a recusa da ocupação alemã entre escritores, pintores, actores e músicos começou por ser minoritária e só foi crescendo à medida que os ventos da guerra se viravam contra a Alemanha.

Para Riding, do ponto de vista da história, o mito da França resistente é uma clamorosa inexactidão, para não dizer uma mentira. Do ponto de vista da política, permitiu que a França se colocasse entre as potências vencedoras quando, de facto, tinha sido derrotada, e evitou que a minoria dos franceses que se tinha comprometido com a Resistência reclamasse direitos de vencedora face à maioria que colaborou ou condescendeu com a ocupação.

(A partir daqui.)

(*) And the Show Went On: Cultural Life in Nazi-Occupied Paris, Alfred A. Knoff, NY, 2010. Publicada em castelhano, em Outubro de 2010: Y siguió la fiesta. La vida cultural en el París ocupado por los nazis, Galaxia Gutenberg / Círculo de Lectores, 2011.

Primeiras páginas da obra disponíveis para leitura online.
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Convenção da IAC


Terá lugar no Cinema S. Jorge, Av. da Liberdade, nº 175, em Lisboa, entre as 9h30 e as 18h30 de 17 de Dezembro de 2011.

### Inscrições

### Projecto de Resolução a ser aprovado na Convenção

### Propostas de alteração ao texto da Resolução

### Regulamento da Convenção
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Lá chegaremos

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A propósito da morte de Artur da Silva Quaresma


«Este homem, de origem cigana, teve um acto de enorme coragem no dia 16 de Fevereiro de 1938. Em plena guerra civil de Espanha, Salazar e Franco resolveram organizar um Portugal-Espanha em futebol, como forma de simbolizar a sua aliança contra o governo legítimo de Espanha. O jogo disputou-se no campo das Salésias, em Lisboa, com a presença dos principais dirigentes do regime, embaixadores da Itália fascista e da Alemanha nazi, legião, mocidade, falangistas, polícias, etc.

Tocam-se os hinos respectivos e logo toda aquela gente se ergue de braço estendido a fazer a saudação fascista (dita "romana"). As duas equipas perfiladas fazem o mesmo...menos 3 jogadores da equipa portuguesa! Artur Quaresma, agora falecido, fica impassível com as mãos atrás das costas. Mariano Rodrigues Amaro e José Rodrigues Simões vão mais longe e erguem o punho num desafio frontal. No final do jogo são os três presos pela PVDE, a antecessora da PIDE, que os interroga e ameaça, acabando por soltá-los ao fim de umas semanas.

Este jogo de futebol costuma ser lembrado por ter sido a primeira ou das primeiras vitórias de Portugal face à Espanha. A verdade é que o jogo não terá sido reconhecido internacionalmente, porque a equipa espanhola, arranjada à pressa entre alguns jogadores que se encontravam nas zonas controladas pelas tropas franquistas, não era uma verdadeira selecção de Espanha. De qualquer modo, mais do que o resultado desportivo, valeu bem mais, muito mais o gesto de coragem destes homens.

P.S.- Na revista Stadium, a censura acrescentou uns braços bem estendidos a estes três futebolistas que se tinham recusado a fazer a saudação fascista.»

(António Cardoso no Facebook)

Notícia no «i» de hoje, onde se refere 1937 (e não 1938).
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4.12.11

Da série : políticos com passado (1)


Foto inédita de Dilma Rousseff, com 22 anos, durante um interrogatório, em Novembro de 1970, na sede da Auditoria Militar, no Rio de Janeiro.

As pessoas que escondem o rosto, ao fundo, são os oficiais que questionavam a então guerrilheira sobre a sua participação na luta armada que ocorria no País.

(Daqui)
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Mapamundi (3)

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Salve-se quem puder


… e se há quem possa talvez seja a América Latina – penso eu, desde que lá pus os pés pela primeira vez.


«La idea de fundar una Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños se estuvo madurando durante tres años. Justo cuando los mercados del mundo comenzaron a desmoronarse, en diciembre de 2008, el entonces presidente de Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva, convocó a sus pares de estos 33 países a la primera Cumbre de América Latina y en el Caribe (Calc) para discutir estrategias encaminadas a salvaguardar a la región de la crisis.»


Actualização (5/12/2011): Brasil tomará las riendas de la integración de América Latina
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