Uma obra de Alan Riding, publicada em Outubro de 2010, trouxe de novo para a boca de cena a inesgotável questão das verdades e inverdades sobre a resistência francesa durante a II Guerra Mundial (*).
Para o autor, o general De Gaulle não se limitou a dirigir a Resistência no seu país, «inventou» uma França resistente. Não ignorava que existiu uma outra que não o foi, mas preferiu criar uma unidade retrospectiva dos franceses face ao inimigo exterior a dividi-los internamente, criando condições para que a França da Resistência ajustasse contas com a de Pétain.
Sabe-se há muito que, com honrosas excepções e muitas ambiguidades, a recusa da ocupação alemã entre escritores, pintores, actores e músicos começou por ser minoritária e só foi crescendo à medida que os ventos da guerra se viravam contra a Alemanha.
Para Riding, do ponto de vista da história, o mito da França resistente é uma clamorosa inexactidão, para não dizer uma mentira. Do ponto de vista da política, permitiu que a França se colocasse entre as potências vencedoras quando, de facto, tinha sido derrotada, e evitou que a minoria dos franceses que se tinha comprometido com a Resistência reclamasse direitos de vencedora face à maioria que colaborou ou condescendeu com a ocupação.
(A partir daqui.)
(*) And the Show Went On: Cultural Life in Nazi-Occupied Paris, Alfred A. Knoff, NY, 2010. Publicada em castelhano, em Outubro de 2010: Y siguió la fiesta. La vida cultural en el París ocupado por los nazis, Galaxia Gutenberg / Círculo de Lectores, 2011.
Primeiras páginas da obra disponíveis para leitura online.
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