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18.2.23
18.02.1932 – Miloš Forman
Miloš Forman, o cineasta nascido checo, depois também norte-americano, chegaria hoje aos 91. Teve uma infância complicada com o pai, judeu, preso pela Gestapo quando tinha apenas 8 anos e levado para Buchenwald onde veio a morrer em 1944, um ano depois de a mãe ter tido a mesma sorte em Auschwitz. Durante a invasão da Checoslováquia, em 1968, Miloš partiu para os Estados Unidos e em 1977 adquiriu a sua segunda nacionalidade.
Pretexto para recordar três filmes «monstruosos»: Amadeus, Voando sobre um ninho de cucos e o primeiro que vi, sem nunca mais perder o rasto do autor: O baile dos bombeiros.
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18.02.1978 – Tarrafal
Há 45 anos, milhares de pessoas percorreram Lisboa para acompanharem a transladação dos restos mortais dos que perderam a vida no Campo de Concentração do Tarrafal.
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A Igreja, o Demónio e o dr. Freud
«A Igreja e os que a desculpam ganham nestes dias o campeonato da hipocrisia em relação à pedofilia. O artigo do PÚBLICO de Susana Peralta mostra e bem que não há nesta matéria qualquer elogio a fazer-lhe, nem ontem, nem hoje. Bem pelo contrário, com Comissão ou sem ela, foi forçada a revelar o que sempre quis e quer esconder. A Igreja Católica Apostólica Romana continua enredada numa moral sexual, na qual se inclui a questão contra naturam do celibato, assim como a menorização das mulheres, que não tem legitimação em qualquer dogma de fé, nem sempre existiu, e é tão histórica como a sua sistemática violação século após século.
Há, no entanto, muito mais hipocrisia para além da que emana da poderosa instituição da Igreja, um verdadeiro poder fáctico, onde a invisibilidade da pedofilia e dos abusos sexuais – convém fazer a distinção – contava com uma rede de cumplicidades de dentro e de fora. Ou seja, a Igreja não foi apenas cúmplice no seu interior, mas contou com uma sociedade à sua volta, nas cidades, nos campos, entre os católicos praticantes e os não-praticantes, entre os incréus, porque um número tão elevado de abusos não podia existir sem muita gente saber e calar.
Aliás, isto não espanta quem conheça a história e saiba que a história destes abusos e a sua forte condenação nos dias de hoje nem sempre foi assim. Como acontece com muito crimes que hoje consideramos hediondos, eles eram razoavelmente consentidos num passado muito próximo. Em grande parte por contiguidade com o local privilegiado da família, que era e continua a ser o terreno mais fértil para todo o tipo de abusos e de crimes. A família só é idílica na literatura cor-de-rosa e no discurso político dos reaccionários, fora disso é um sítio propício a todas as violências, desde a violência doméstica ao bullying e à pedofilia. E, acima de tudo, coberto pelo silêncio de que “entre marido e mulher não metas a colher”, nem entre pai e filha, nem entre tio e sobrinho, etc... E embora seja um regra com muitas excepções, onde há muita miséria, onde se vive amontoado, onde se agride muito porque há pobreza, onde há uma vida de todas as misérias, onde nada se tem, pode-se “servir” de quem está à mão.
Isto explica porque, lá por se passarem numa sacristia ou num seminário, estes crimes não eram vistos assim como tão “violentos” e reprováveis. Era como a mancebia dos padres, ou as suas diligentes “sobrinhas” e “afilhadas”. Milhares de páginas da literatura portuguesa falam de forma séria ou jocosa da distância entre a imposição do celibato e a realidade da sua violação. Os republicanos no seu anticlericalismo não deixaram de tratar os padres, em particular os jesuítas, como uma associação de criminosos, e denúncias de abusos sexuais faziam parte das acusações ao comportamento do clero.
É certo que a pedofilia — e insisto de novo: em muitos casos é abusivo falar de pedofilia, devendo antes falar-se de abusos sexuais de menores, que podem incluir a violação — era pouco nomeada e apenas sugerida. Mas a relação de poder entre os padres e freiras em relação aos seus discípulos/as era uma questão que estava bem presente no anticlericalismo republicano, e só foi mitigada nos anos do Estado Novo porque a Censura cortava todas as notícias que sugeriam um comportamento abusivo dos padres. Ou seja, isto não é novo.
Fechava-se os olhos e fecha-se os olhos. Espantam-se com o presente do verbo? Não se espantem. A invisibilidade da pedofilia nos espectáculos, nas artes, na literatura é bastante, mesmo em sectores que vivem da exposição pública e onde é gritante o que se passa. E ninguém se incomoda. O que é que pensam que Gide ia fazer a Marrocos? E nós também temos os nossos Gides, tão explícitos e tão públicos, naquilo que antigamente se chamava pederastia, uma palavra que se tornou maldita pela associação entre a pedofilia e a homossexualidade masculina.
Um caso que várias vezes referi, espantando-me por não provocar qualquer réstia de indignação, é o de um artista de variedades que viveu durante algum tempo às claras, com publicidade, com uma criança, seu “afilhado”, que de uma certa maneira “comprou” aos pais seus empregados. Várias revistas do jetset mostravam a criança, na piscina, em restaurantes, com um padrão comum a outros casos: homem poderoso e com fama e dinheiro que vive numa relação pelo menos ambígua com uma criança filha de uma governante ou de um jardineiro.
Somos todos culpados? Não, não somos todos culpados. Por isso, a crítica à Igreja Católica não pode ficar-se apenas pela condenação genérica, implica discutirem-se as causas dessa atracção pela pedofilia e, em muitos mais casos, pelo abuso sexual de menores, e perceber que as raízes do silêncio face ao comportamento de muitos padres estão tão dentro como fora da Igreja.
Por ambígua que seja a ideia da “miséria sexual”, que não explica a questão bem mais complexa daquilo a que chamamos perversões, onde ela existe o caminho para os abusos está aberto. A Igreja tem todo o direito de pedir aos seus padres a obrigação do celibato, mas deve estar consciente, e estou certo de que está, das “tentações” do mundo. O Demónio e o Dr. Freud sabiam muito bem disso.»
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17.2.23
Bebidas
Conjunto para bebida decorado com esmalte transparente e dourado, Vimperk, Região da Boêmia do Sul, Chéquia. Cerca de 1890.
Museu de Artes Decorativas de Praga.
Daqui.
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Imigrante modelo precisa-se — Portugal
«Quando o líder do principal partido da oposição, Luís Montenegro, faz um apelo para voltarmos a percorrer o mundo, agora à procura do imigrante modelo, é irresistível ir ver quem é esse estrangeiro perfeito que nos vai valorizar o país. Parece que tem de vir para cá trabalhar e não passar tempo — o que é a própria definição da migração económica. Já quando refere estar na hora de consultar o catálogo dos imigrantes disponíveis para identificar os que conseguem interagir connosco sem perturbar a nossa identidade, a conversa tem ecos do programa do Chega em matéria de imigração. Traduzindo: venham daí estrangeiros, mas nada de gente muito diferente.
Esta música tende a acabar com uma nota, mais ou menos em surdina, para evitar tudo o que traga turbantes, tenha mais melanina do que nós ou comece a olhar-nos com os olhos mais em bico. Nada de começar 2023 a celebrar o nascimento de Aariz, filho de um casal de paquistaneses a viver na Amadora há três anos. A mãe bem pode rasgar um sorriso enquanto apresenta o rebento ao país, tapar assim o cabelo não augura nada de bom.
Em urdu, Aariz significa homem inteligente e respeitável. Pode ser que consiga explicar que a solução não está num qualquer “bom emigrante” abstrato, mas na criação de condições para integrar as pessoas concretas, sendo o trabalho a melhor forma de integração. A mãe do Aariz já integrou o contingente de mulheres de todas as nacionalidades que entram de madrugada em Lisboa para garantir a limpeza das casas e dos escritórios dos lisboetas. E é provável que a loja do marido seja a última salvação de quem sai tarde do trabalho e se esqueceu de comprar leite. Os pais do Aariz querem o mesmo que os pais do Martim, o bebé do ano em 2022: ter condições para criar uma família em Portugal. Se não as tiverem, vão à procura delas noutro lugar.
Quando aparecem imigrantes vindos de países mais pobres, há quem fique nervoso com a possibilidade de ver o seu emprego a desaparecer nas mãos de um nepalês que aceita trabalhar por tuta-e-meia. Se a ideia de importar gente parecida connosco raia a xenofobia, esta preocupação, típica dos mais desfavorecidos, é legítima. Mais vale responder-lhe do que deixar esse medo à solta a ser aproveitado para o pior. É explicar que a experiência demonstra que quem chega sem nada costuma ficar com os trabalhos deixados livres pelos nacionais.
Nos últimos tempos, os próprios portugueses mais ricos descobriram que são remediados ao lado dos estrangeiros endinheirados que invadiram o país — e estão a achar a situação muito desagradável. Desde que apareceram milionários americanos dispostos a pagar quantias absurdas por prédios no centro da cidade, pressentem que podem acabar emigrados nos subúrbios. E assistem, horrorizados, à descaracterização dos seus bairros, invadidos por hordas de nómadas digitais que levaram o merceeiro da esquina a entregar o negócio a uma loja finória onde só há queijos franceses a preços incomportáveis.
Troquem a defesa da identidade nacional pelos horrores da gentrificação e temos coisas parecidas — não queremos gente a mudar a forma como vivemos. O medo de perder o emprego ou receber um salário mais baixo não é assim tão diferente da angústia perante aumento dos custos para viver mais perto do Chiado — não queremos gente que nos faça concorrência. Com tantas condições, não há catálogo que nos valha; precisamos de um imigrante feito à medida. Depois, é convencê-lo a vir para cá — porque basta olhar para a curva demográfica para perceber que precisamos urgentemente de todos os que queiram vir.»
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16.2.23
Daniel Sampaio
Uma entrevista que merece leitura:
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16.02.1925 – Carlos Paredes
Faria hoje 98 e não está esquecido.
Para melhor o conhecer:
Para recordar:
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A cópia de Ventura e as muitas Odemiras do país
«“A cópia perde sempre com o original”. Assim comentou Marcelo a reação de Luís Montenegro à tragédia da morte de dois migrantes em Lisboa. O líder do PSD tinha pedido “um programa transversal” para “procurar pelo mundo” “quem precisamos em Portugal, quem queremos em Portugal”. A declaração de Montenegro é lamentável, no conteúdo e no tempo. Não se trata apenas do que sugere sobre a migração (no fundo, como defende a extrema-direita, a ideia de que o Estado deve pré-escolher quem vem para Portugal, como se tal operação fosse aceitável ou sequer possível). Trata-se também de ter ignorado a tragédia e aproveitado o dia para lançar uma suspeita e um estigma. Marcelo tem razão no corretivo.
A desgraça do incêndio na Mouraria não é problema de migrações, nem fruto de desconhecimento da realidade. O sucedido é subproduto da sobrelotação e da ausência de condições de habitação digna. É mais uma expressão desse problema que não tem tido resposta, nem programas capazes de assegurar o elementar direito humano a um teto. Para as pessoas migrantes, é tudo mais difícil: obstáculos à regularização, trabalho informal, rendimentos ainda mais baixos, impedimentos na celebração de contratos de arrendamento, impossibilidade de se candidatarem a programas de habitação municipal se não residirem oficialmente na cidade há pelo menos dois anos. Tudo circunstâncias que empurram milhares para a escolha entre a sobrelotação ou viver na rua.
Os imigrantes são parte indispensável deste país. Em 2022 contribuíram com 1500 milhões de euros para a Segurança Social, mas continuam a ser carne para o canhão de quem explora o seu trabalho, de quem aluga quartos degradantes por uma fortuna, de agressões racistas como as de Olhão ou de crimes de ódio como o cometido por agentes da polícia contra Cláudia Simões.
Em Portugal, sem o trabalho dos imigrantes, alguns dos setores que mais cresceram nos últimos anos, da restauração ao alojamento turístico, da construção civil à agricultura intensiva, paravam imediatamente. Mas a mesma economia para a qual eles e elas são indispensáveis foi a que construiu um “modelo de negócio” agrícola-intensivo assente na neoescravatura, em que empresas angariadoras se aproveitam da fragilidade da condição clandestina dos trabalhadores e em que se fecha os olhos quer à ausência de infraestruturas no campo, quer à inexistência de habitação nas cidades, onde o trabalho dos imigrantes é afinal imprescindível para o “funcionamento do mercado”. O que aconteceu em Lisboa, com 14 feridos e a morte de duas pessoas na sequência do incêndio num rés-do-chão onde moravam 22, é uma tragédia sintomática das muitas odemiras que existem no país.
Perante isto, Montenegro e Moedas apressaram-se a falar de “fiscalização e planeamento” da imigração, para fugirem de dizer o que pensam. Não só sobre direitos humanos, mas também de rendas sem controlo, dos vistos gold que transformam a habitação numa mercadoria para a especulação de milionários, da retirada de milhares de casas da sua função social de habitação, da ausência de habitação pública à medida das necessidades, de quem lucra com estas dificuldades, de quem as promove. Da imigração, Montenegro e Moedas querem o trabalho, claro, e o pretexto político para nos dividirem enquanto habitantes do mesmo país. A direita radicaliza-se.»
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15.2.23
Cálices
Cálice de uva, com o vidro âmbar intrinsecamente ligado à estrutura metálica. Coleção privada, 1902.
René Lalique.
Daqui.
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São pessoas destruídas
«Os milhares de vítimas que a Comissão Independente trouxe esta segunda-feira para o meio de nós, dando espaço e tempo à sua voz, não são ‘meteoritos’ vindos do espaço. São pessoas que foram feridas e destruídas por quem era suposto garantir cuidado e transmitir confiança. (…)
O trabalho a empreender não vai ser fácil. A razão é simples: a Igreja perdeu credibilidade no modo como lidou com os problemas de abusos, ao sacrificar as vítimas ao “bom nome” da Igreja: “Foi dada prioridade à defesa da reputação institucional da própria Igreja em detrimento da empatia com a voz, o sofrimento e a credibilidade da vítima”, diz o relatório. Será assim de admirar que, do total de vítimas, 77 por cento nunca tenha apresentado queixa a responsáveis da Igreja e bastantes das que o fizeram tenham sido vitimizadas uma segunda vez, ao serem tomadas como caluniadoras ou vítimas da inoperância dos responsáveis eclesiásticos?»
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Relatório - Abusos na Igreja (Vídeo)
Para quem não teve oportunidade de ver, fica aqui.
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Três exigências de uma dor imensa
«Uma dor imensa foi tornada pública nesta manhã de segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023. A dor dos menores, vítimas de abusos sexuais por parte de clérigos e outros homens e mulheres de Igreja. O grito de mais cinco centenas de vítimas foi escutado e validado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica. A sós na solidão do seu sofrimento estarão ainda outras 4300 vítimas retraídas, mudas, caladas.
Nos cafés, nos carros e em alguns locais de trabalho a notícia foi recebida num constrangido silêncio, sem comentários: estupefação, raiva, incredulidade… Resta saber como terá sido recebido pelas comunidades católicas por esse país fora. Certo é que um vómito profundo nasce das entranhas da sociedade portuguesa — que é isto?
Suponho que para algumas vítimas — e são elas que nos interessam! — este é um momento de desagravo, conforto e reconhecimento pela coragem de denunciar as situações que as traumatizaram para sempre. Para outras será o reabrir de feridas com que não conseguem viver. Desejo, temendo que assim não seja, que para o maior número possível delas esta manhã tenha tido um carácter redentor.
As chocantes revelações de hoje têm várias consequências para a Igreja Católica em Portugal e para a sociedade portuguesa. Ao tornar-se a primeira instituição do país a deixar-se escrutinar sobre esta matéria por uma comissão independente, a Igreja Católica recuperou parte da credibilidade perdida. Mas não reconquistou a confiança das pessoas, das famílias, da sociedade. Vão ser precisos muitos anos e muitas alterações radicais no modo de ser e estar da Igreja para que a confiança seja a conotação essencial da relação dos portugueses com ela. Depois do que ficámos hoje a conhecer, três exigências centrais recaem sobre a Igreja Católica em Portugal.
Erradicar o clericalismo — essa doença danosa que subverte o espírito da comunidade cristã — será por certo uma das mais urgentes (e difíceis) tarefas. Só assim será possível controlar o poder, os poderes excessivos, absolutos, que teimam em afirmar-se acima e fora do controlo do comum dos cristãos. Esta é a origem primacial dos abusos. Dos abusos sexuais, dos escândalos financeiros, da manipulação das consciências, da reprodução de subserviências, da impunidade e do encobrimento. Tudo isto só é possível, com a extensão que vamos conhecendo, pela permanência de uma prática e de conceitos clericalistas que minam toda a tentativa de construir comunidades adultas e de respeitar a identidade, a autonomia e a alteridade do outro.
Cultivar a transparência é o reverso que tem de acompanhar a erradicação do clericalismo. Transparência que, como agora mostra o trabalho da Comissão, não é apenas “para dentro”, nem apenas a que legalmente obriga a Igreja Católica em Portugal. Transparência, sinceridade e proatividade na resposta às perguntas dos jornalistas, das pessoas, do público. Transparência sobre o que não será sequer perguntado, mas se reconhece ser importante dar a conhecer. Transparência como gosto e disponibilidade permanente para prestar contas para além do que é obrigatório, apenas e só porque essa é a condição das comunidades que se reúnem em nome de Jesus Cristo. E, se isto por si só não bastasse, porque a transparência é uma missão cívica a oferecer a um país em que ela é denegada a todos os níveis: administração pública, empresas, coletividades, instituições sociais ou beneméritas.
A terceira exigência prende-se com o apoio às vítimas. Com a sua indemnização, seguramente. Mas com ela e para além dela com o apoio a que tenham voz. O que mais nos falta, enquanto sociedade e enquanto Igreja, para que a memória destes crimes não se apague, é sabermos das pessoas concretas que foram abusadas. Só a sua voz e a sua presença tornam presente a densidade concreta, humana, real do mal a que foram sujeitas. Por muito que lhes custe, essa é uma dimensão necessária para que os abusos não acabem remetidos à frieza dos números sempre perdendo significado à medida que o tempo passa.
A Igreja precisa de encontrar formas de impedir que isso aconteça, acolhendo as vítimas, oferecendo-lhes meios de reconstrução psicológica, permitindo-lhes caminhos de recuperação da confiança em si mesmo e procurando com elas modos de lhe dar protagonismo público. Só assim não esqueceremos esta tragédia.
Esta manhã, na desgraça revelada que veio ter connosco, veio também um desafio importante para toda a sociedade portuguesa: é necessário criar uma comissão que faça um levantamento sobre abusos sexuais a nível nacional, fora da Igreja. É inadiável. E é urgente.»
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14.2.23
Obrigada, Catarina
«Comuniquei aos e às ativistas do Bloco de Esquerda que não serei candidata a coordenadora do partido na próxima Convenção, que se reúne dentro de três meses, em maio deste ano.
Faço-o quando se inicia o processo preparatório dessa reunião, por lealdade para com toda a gente que participa na reunião magna do Bloco e para que as várias moções, e as listas que delas decorrem, o saibam desde já e apresentem as suas propostas com toda a informação que devem conhecer.
E faço-o também porque num partido que tem uma influência social tão alargada como o Bloco, com milhares de ativistas, centenas de milhares de eleitores e de pessoas atentas e exigentes sobre as alternativas na esquerda, devo clareza a todas as pessoas que connosco se encontram.
O que quero agora explicar mais em detalhe é a razão política pela qual tomei esta decisão e o que vou fazer depois dela.
Ao longo dos dez anos em que tive a função de coordenar o Bloco – no início, com João Semedo, que quero hoje lembrar e homenagear pela sua grandeza, que foi fundamental na minha vida – tivemos vitórias e derrotas. Uma pesada derrota eleitoral, há um ano, e vitórias eleitorais, como em 2015 e 2019, quando alcançámos e mantivemos dos nossos melhores resultados de sempre. Vitórias e derrotas também nas lutas sociais, nos movimentos, nas leis.
Essas vitórias e derrotas são parte importante do nosso combate, mas o que tem de nos guiar é a coerência e a dedicação que fazem a nossa vida e o nosso compromisso com o povo. E estes dez anos foram um tempo extraordinário. Pusemos a direita fora do governo, em 2015 impusemos as condições que tornei públicas no debate com o primeiro-ministro e o PS foi obrigado a aceitar um acordo escrito sobre políticas de governação, o país respirou de alívio e iniciámos a recuperação das vidas de quem trabalha. A geringonça foi o princípio do respeito.
Foi um tempo extraordinário em que o país melhorou. Ficou muito por fazer, mas com a força que nos confiaram foi possível avançar nas primeiras trincheiras do combate à precariedade, no respeito pelas pensões, na universalidade dos serviços públicos, tributámos o imobiliário milionário, recuperámos o salário mínimo, parámos várias privatizações que agora se descobre que continham outros tantos escândalos de ganância.
A maioria absoluta, entretanto, veio mostrar que o PS nunca se conformou com este caminho e agora está mesmo a reverter algumas das medidas da geringonça, para não falar da grande reversão nos rendimentos de quem trabalha ou trabalhou a vida inteira. No país, não há quem não veja como a maioria absoluta tem servido um sistema de apadrinhamento, de favores e de autoritarismo contra a escola, contra o SNS e contra uma política social de habitação. Estão à vista os motivos para a viragem à direita que António Costa impôs ao país.
E é no confronto de hoje que também melhor se sente o que é o Bloco: o Bloco é a luta por tudo o que está por conseguir, o que ainda não conseguimos fazer para assegurar uma carreira para a educação, um sistema de exclusividade que engrandeça os hospitais e centros de saúde, o fim de discriminações que magoam, uma vida digna para pensionistas, uma habitação que não seja a especulação cruel que destrói as nossas cidades, um planeta que não esteja doente e onde seja possível viver.
Em contrapartida, as vitórias que me animam são o caminho que fizemos. Lembro que em breve concluiremos a lei da morte assistida, que permitirá a decência e garanto-vos que não desistimos de nenhum dos outros combates: sim, havemos de conseguir escola e saúde, pão e habitação, para adaptar o Sérgio Godinho.
O que agora mudou, no entanto, é a instabilidade da maioria absoluta. Como é evidente, essa crise larvar, multiplicada dentro do governo e em choque com a luta popular, é o sinal do fim de um ciclo político.
Chego então à razão para esta minha decisão. No Bloco não há períodos muito longos de funções como a da coordenação e nós gostamos dessa cultura, mas o que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está.
Neste tempo novo estarão os velhos fantasmas, os ódios racistas que agora são o retrato de uma política mesquinha, tal como estarão os poderes de sempre, a oligarquia da especulação financeira e urbanística, e como estará também a certeza de que é preciso virar à esquerda. O Bloco deve juntar a sua máxima capacidade de transformação, e acredito que esta renovação, que desejo promover, multiplicará a sua energia.
Finalmente, respondo também sobre o que farei depois da próxima Convenção. Garanto que não andarei por aí: eu sou daqui, estou aqui e aqui darei ao povo do Bloco todo o meu vigor e persistência, como sempre fiz. Em tudo o que for preciso, quando é preciso, na luta toda e em todas as lutas. Assim sou, assim continuo. E é com muita confiança que olho para o futuro do meu partido.»
Catarina Martins no Facebook
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O que se passou em Olhão?
«O que se passou em Olhão? Quero saber. Queremos saber. Queremos saber?...
De onde veio aquela violência cega, surda e muda? O que trouxe aquela brutalidade do vale de Neandertal aos nossos dias? E estes dias assim são nossos? O que aconteceu antes para justificar o que aconteceu? São coisas que aqueles jovens viram em séries de televisão norte-americanas e que se tornaram tão próximas e tão estimulantes que era preciso pô-las em prática? Eram jogadores inveterados de Grand Theft Auto ou das suas versões mais modernas e actuais? Como se passa de assistir a séries de televisão e de jogos electrónicos para pontapear realmente algo sólido que por acaso é um corpo humano, é um corpo de um homem que em minutos passa a representar toda a dignidade humana ofendida e os robots humanos agressores passam a representar bestas à solta à procura de peças de carne para pisar, rebentar?
Seriam apenas jovens completamente tomados pelo tédio? Completamente tomados pela indiferença, pela desorientação, pela falta de modelos e de liderança? Mas que jovens de que tipo de juventude? Da nossa? Da de cá? De modelos importados?
Quem são os pais desses jovens? Ausentes? Indiferentes? Agressores que aqueles tentam imitar, passando em cadeia as coças, humilhações e torturas que receberam? Alcoólicos? Ou que se vão tornar alcoólicos depois de terem visto o que filhos seus foram capazes de fazer sem nexo que se reconheça?
Quem são estes seres humanos? Só torturam nepaleses ou nos estatutos do grupo a que pertencem entram também na lista de alvos paquistaneses e indianos ou africanos ou ciganos ou deficientes físicos ou mentais, homossexuais, adeptos de clubes de futebol rivais, filatelistas? Ou serão eles – perpetradores – psicopatas ou sociopatas? Serão fascistas?
Quem são estes seres humanos contraditórios da definição de seres humanos que mudaram o meu país para um país onde eu não sabia que vivia?
Vamos cortar-lhes as mãos? Vamos prendê-los em celas? Vamos pô-los em reformatórios ou lá como se vão chamando e que não sabemos o que são? Vamos instituir os trabalhos forçados de propósito para eles e, já agora, para mais uns quantos? Deveriam ser obrigados a ser internados no Colégio Militar?
Vai o juiz deixar que o julgamento de transmita pela televisão para que nós – ou eu – saibamos o que causou tudo isto? Para que possamos perceber qual o princípio que deu este fim? Será que eles vão falar, vão dizer alguma coisa com sentido, vão explicar-nos alguma coisa ou vão ser aconselhados a ficar calados e ficamos na mesma? Na mesma, não, porque na mesma não vai ficar ninguém, a não ser os que não sabem o que se passou e que, afinal, se pode passar. Ficamos é na ignorância, na confusão, no horror. E noutro país.
Quem é que entende isto?»
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13.2.23
13 de Fevereiro – Dia Mundial da Rádio
Rádios há muitas. E existiu também esta, emitida a partir de Argel, durante anos com a voz de Manuel Alegre.
Neste caso, mais do que provavelmente, quando Salazar morreu: era segunda-feira nesse 27 de Julho de 1970, um dos dias da semana em que a Rádio emitia. Dá-se conta também, entre outras notícias, do acidente aéreo em que tinham morrido quatro deputados da Ala Liberal alguns dias antes.
Ouvir Manuel Alegre, nesse dia, AQUI.
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Quem tem medo da inteligência artificial?
«Aconteceu a 11 de Maio de 1997. Após uma derrota, uma vitória e três empates, Deep Blue, programado pela IBM, acabaria por vencer o sexto e decisivo jogo da histórica partida de xadrez contra Garry Kasparov. O xadrezista russo, incrédulo e abalado, não aceitou bem a derrota. Na verdade, dado o comportamento da máquina durante o jogo, protestou: algumas das suas jogadas acusavam intervenção humana.
Hoje, passados mais de 25 anos, o mais espantoso é que Kasparov tenha julgado possível continuar a vencer um computador que, já nessa altura, era capaz de analisar 100.000.000 jogadas por segundo. Ainda assim, não deixa de ser irónico que a sua derrota se tenha devido, como mais tarde se especulou, ao facto de Kasparov ter interpretado como estratégica uma jogada que resultara de um “erro informático”. Segundo Nate Silver, que conta a anedota em The Signal and the Noise, foi essa jogada, imperscrutável nos seus fins, que desconcentrou fatalmente o xadrezista.
O debate em torno da inteligência artificial (IA) está de volta. Porém, já não seria apenas devido à sua capacidade de cálculo que a máquina, em tempos de big data e deep learning, ameaça superar a inteligência humana. Veja-se o caso da empresa OpenAI. Com o Dall-E (um gerador de imagens) e o ChatGPT (uma caixa de diálogo), os usos da IA invadem os domínios da criação e do conhecimento. Num caso, um programa capaz de criar imagens à maneira deste ou daquele artista, ampliar as suas obras-primas, cruzar os seus estilos. Noutro caso, um programa capaz de produzir texto, reunindo, sintetizando e cruzando informação, em conversas informais com o seu utilizador. A incredulidade e a inquietação alastram. O orgulho humano está ferido... Não bastava a derrota de Kasparov? Querem agora destronar Vermeer, Beethoven, Kant?
Desengane-se, entretanto, quem julgue que as preocupações suscitadas por estes programas são meramente especulativas. Há-as também bem pragmáticas. Como lidar com a questão dos direitos de autor, quando estes abarcam obras mas não estilos? É legítimo reclamar a autoria de uma obra gerada parcialmente por algoritmos? Como evitar, nas escolas e universidade por esse mundo fora, que os estudantes façam “batota”? Como podem ou devem reagir os docentes ao uso desta tecnologia? Está o ensaio morto, como aventa Stephen Marche — num tom algo apocalíptico — num artigo recente publicado em The Atlantic?
Ciente de que o impacto da IA abrange a um só tempo os domínios do conhecimento e da criação, decidi fazer uma experiência. Propus, numa aula de Filosofia da Música dedicada à discussão do conceito de génio, a audição de uma peça sinfónica: nada mais nada menos do que a 10.ª Sinfonia de Beethoven de... 2021. Ouvíamos, portanto, uma composição gerada com o auxílio de um algoritmo a partir de fragmentos do compositor, que resultou de um projecto em que intervieram musicólogos, compositores e programadores, unidos no propósito de dar a ouvir o que poderia ter sido a derradeira sinfonia de Beethoven. Cabe a cada um julgar o resultado. Demasiado previsível? Aquém das nove sinfonias anteriores do mestre de Bona? Melhor ou pior do que a tentativa, com base nesses mesmos fragmentos, de Barry Cooper em 1988? Certo é que a composição “soa a Beethoven”.
No fim da aula, pedi aos alunos que redigissem um breve ensaio sobre este projecto, ensaio que viríamos a discutir aulas mais tarde. O meu propósito era duplo. Por um lado, aproveitando o reconhecimento da “similitude”, interessava-me desconstruir o mito do génio, na sua associação à ideia de “inatismo” e ao cliché da “inspiração”. Por outro lado, num movimento inverso, interessava-me mobilizar o conceito de génio, tal como Kant o apresenta na Crítica da Faculdade do Juízo, para problematizar o discurso em torno da “criatividade” da IA. Para Kant, a obra de génio, ao contrário das grandes descobertas científicas, não é redutível a regras. Não há cálculo que permite produzi-la ou explicá-la. É uma ideia forte que, à margem da retórica romântica da genialidade, ainda nos interpela.
Um algoritmo pode compor como Beethoven: pode, seguindo certas regras, instruções, padrões, emular o seu estilo. Mas não pode “errar” como Beethoven. Não pode entusiasmar-se. Não pode angustiar-se. Sobretudo, não pode não compor como Beethoven. Está condenado a imitar-se. Paradoxalmente, só Beethoven pode não compor como Beethoven. Só ele poderia hesitar e, prodigiosamente, desistir e arriscar — como quando, na Sonata para piano, Op. 110, de um impasse emerge, num piscar de olhos ao passado que se inclina para futuro, uma improvável e irresistível fuga.
A leitura e a discussão destes ensaios, que me conduziram a muitas outras questões para além daquelas que tencionava discutir, reforçaram em mim a convicção de que o ensaio não está morto. Por mais espantosos e úteis — sem ironia — que sejam os textos gerados pela IA, na sua capacidade de recolher, sintetizar ou organizar informação, quedam-se aquém de certas operações intelectuais, que se desdobram de forma individual e colectiva no campo das humanidades e que são, na passagem do diálogo à escrita, o coração do ensaio: o levantamento de hipóteses, a problematização de pressupostos, a busca de ângulos cegos, a construção de conceitos, a mobilização intempestiva da tradição, a escolha de casos emblemáticos, o reconhecimento de afinidades.
Se, contudo, o ensaio não está morto, morta está uma certa forma — escolástica, poeirenta, preguiçosa — de o praticar. Pois uma coisa é certa: com programas como o ChatGPT, deixa de haver desculpa para artigos, comunicações e aulas que se limitem a apresentar informação. Ironicamente, numa era em que as humanidades se encontram cerceadas na sua independência e na sua ambição pela lógica da produção e do lucro, não seria a menor das virtudes da IA a de as obrigar, em primeiro lugar, a reconhecerem a sua irredutibilidade aos positivismos de ontem e de hoje e, em segundo lugar, a assumirem a sua vocação crítica.
Num artigo particularmente lúcido sobre os usos da Inteligência Artificial, Marco Donnarumma defende que a Inteligência Artificial é em larga medida “soft propaganda” para a “ideologia da previsão” que domina o Norte Global. Não se trata de negar a utilidade da IA: na medicina, na engenharia e, certamente, na cultura. Trata-se — e uma coisa não impede a outra — de olhar criticamente para os pressupostos em que a sua valorização exacerbada assenta. Tudo seria calculável; tudo seria previsível; tudo seria controlável. Calcular para prever; prever para controlar — eis o projecto. Big data, deep learning e IA formam um sistema.
As inquietações em torno dos usos da Inteligência Artificial não são apenas consequência do avanço tecnológico desde os tempos de Kasparov. São também um sintoma do empobrecimento da compreensão do mundo, assim como do que significa a interlocução, a experiência e a inteligência humanas. Disso são também as ciências sociais e humanas vítimas. Veja-se a quantificação da pesquisa, a redução do qualitativo ao quantitativo, a tónica na produtividade, o devir-empresa da universidade, a privatização do conhecimento. Mas a resposta não pode ser meramente defensiva. A importância das humanidades não é uma herança. É — pode e deve ser — uma conquista.
A inteligência humana é plural: matemática, espacial, emocional... E se há uma inteligência cara às humanidades é a inteligência crítica. Devemos-lhe, desde logo, o reconhecimento de que há várias inteligências. Tal como lhe devemos a compreensão de que com o reconhecimento da pluralidade das inteligências se abre a discussão sobre os seus usos, os seus fins e o seu valor. Nesta discussão, em que nenhuma calculadora pode fazer toda as contas, cabe também às humanidades ensaiarem uma visão menos preconceituosa, mas nunca menos atenta ou crítica, acerca da tecnologia.
De algum modo, cometemos um erro inverso ao de Kasparov. O erro de atribuir à máquina, na sua insuperável capacidade de cálculo, um tipo de inteligência que ela não possui. Apontamos-lhe o dedo indignados. Distraímo-nos... E logo quando devíamos estar mais concentrados no jogo.»
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12.2.23
12.02.1929 – Nuno Bragança
Nuno Bragança chegaria hoje aos 94 e morreu, estupidamente cedo, com apenas 56. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo.
Para a História ficou sobretudo o escritor e o excelente documentário U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Eu registo também o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência – neste caso, não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi.
Mais detalhes AQUI, num post de 2019.
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Professores: e depois do Terreiro do Paço?
«Se houvesse dúvidas, elas foram esclarecidas nas ruas de Lisboa e fixadas em imagem por drone. Do Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço, os professores mostraram que, mais de dois meses depois de iniciarem um processo reivindicativo, a sua vontade de continuar com o “não paramos” não esmoreceu. Os muitos milhares que se juntaram, vindos de todo o país, fizeram recordar, e provavelmente ultrapassaram, a gigantesca manifestação de 2008, quando Maria de Lurdes Rodrigues era a titular da pasta da Educação.
Se houvesse dúvidas sobre a força do movimento sindical mais tradicional, perante a concorrência de novas forças, mais inorgânicas, elas também ficaram dissipadas. O Stop pode ter conseguido surpreender, mas a contestação institucionalizada continua forte, unida, e os professores revêem-se nela.
Mas a dúvida maior subsiste. E agora? Depois do Terreiro do Paço, depois desta demonstração de força, depois de mais de dois meses de greves, concentrações e vigílias, como é que os professores sairão desta situação? O prejuízo causado aos alunos já levou o colégio arbitral a fixar, pela primeira vez nesta vaga de contestação, serviços mínimos às aulas, mas o regresso à normalidade só vai mesmo acontecer quando ambas as partes chegarem a um compromisso na mesa de negociações.
Mesmo que no seu discurso final Mário Nogueira tenha dito que João Costa precisa de novos óculos, isso não deve impedir o ministro de ver e avaliar a dimensão da contestação. E se o Governo aposta, como o Presidente da República aventou, em que "há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles", é bom que perceba que esse momento pode estar distante. Um Governo ainda a tentar sair da sua própria crise e a degradação do poder de compra criaram o clima para que muitos se revejam na luta dos professores.
Este é o pior problema que o Governo tem em mãos. E, sem concessões substanciais, nomeadamente no tempo das carreiras congeladas, o ponto mais sensível, não parece muito fácil poder atingir-se um acordo. No seu discurso, Mário Nogueira até reconheceu que o ministério já deu passos de aproximação, mas na mesma altura despejou um extenso caderno reivindicativo e marcou novas paralisações e manifestações para 2 e 3 de Março. Pouca fé na ronda negocial da próxima semana, onde é desejável que ambas as partes comecem, pelo menos, a desenhar um caminho de saída. Sublinhe-se, ambas as partes.»
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