12.2.23

Professores: e depois do Terreiro do Paço?

 


«Se houvesse dúvidas, elas foram esclarecidas nas ruas de Lisboa e fixadas em imagem por drone. Do Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço, os professores mostraram que, mais de dois meses depois de iniciarem um processo reivindicativo, a sua vontade de continuar com o “não paramos” não esmoreceu. Os muitos milhares que se juntaram, vindos de todo o país, fizeram recordar, e provavelmente ultrapassaram, a gigantesca manifestação de 2008, quando Maria de Lurdes Rodrigues era a titular da pasta da Educação.

Se houvesse dúvidas sobre a força do movimento sindical mais tradicional, perante a concorrência de novas forças, mais inorgânicas, elas também ficaram dissipadas. O Stop pode ter conseguido surpreender, mas a contestação institucionalizada continua forte, unida, e os professores revêem-se nela.

Mas a dúvida maior subsiste. E agora? Depois do Terreiro do Paço, depois desta demonstração de força, depois de mais de dois meses de greves, concentrações e vigílias, como é que os professores sairão desta situação? O prejuízo causado aos alunos já levou o colégio arbitral a fixar, pela primeira vez nesta vaga de contestação, serviços mínimos às aulas, mas o regresso à normalidade só vai mesmo acontecer quando ambas as partes chegarem a um compromisso na mesa de negociações.

Mesmo que no seu discurso final Mário Nogueira tenha dito que João Costa precisa de novos óculos, isso não deve impedir o ministro de ver e avaliar a dimensão da contestação. E se o Governo aposta, como o Presidente da República aventou, em que "há um momento em que a simpatia que de facto há na opinião pública em relação à causa dos professores pode virar-se contra eles", é bom que perceba que esse momento pode estar distante. Um Governo ainda a tentar sair da sua própria crise e a degradação do poder de compra criaram o clima para que muitos se revejam na luta dos professores.

Este é o pior problema que o Governo tem em mãos. E, sem concessões substanciais, nomeadamente no tempo das carreiras congeladas, o ponto mais sensível, não parece muito fácil poder atingir-se um acordo. No seu discurso, Mário Nogueira até reconheceu que o ministério já deu passos de aproximação, mas na mesma altura despejou um extenso caderno reivindicativo e marcou novas paralisações e manifestações para 2 e 3 de Março. Pouca fé na ronda negocial da próxima semana, onde é desejável que ambas as partes comecem, pelo menos, a desenhar um caminho de saída. Sublinhe-se, ambas as partes.»

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