Nem entro nos detalhes da discussão sobre a possibilidade de alunos que acabaram / não acabaram, com sucesso / sem sucesso, o 8º ano poderem / não deverem fazer exames do 9º. Há tantas notícias, complementares e contraditórias, sobre o assunto, que é inútil sequer resumi-las e, ainda mais, contestá-las.
Mas ouvi ontem uma entrevista feita à ministra Isabel Alçada e retive dois aspectos que me parece importante sublinhar.
Primeiro, disse que será uma percentagem reduzidíssima de alunos, praticamente residual, que, hipoteticamente, poderá vir a tirar partido da nova medida. Estamos portanto no mundo do «mesmo que seja só um, valerá a pena»? Mas em nome de quê, e com que fim, se nem se estará a trabalhar para estatísticas? Window dressing, pura e simplesmente.
Segundo e mais importante, Isabel Alçada referiu-se várias vezes aos países em que não há «repetência», ou seja, na nossa linguagem corrente, em que não se chumba. O que não explicou é que se trata de uma cultura totalmente inexistente em Portugal e, na minha opinião, praticamente impossível de concretizar com seriedade, ou seja, com outro objectivo que não o de ficarmos melhor posicionados nos gráficos.
Concretizo com um exemplo: o meu filho fez uma parte do secundário numa escola internacional em Bruxelas, onde, segundo creio, não se praticava a tal repetência. Mas, em qualquer teste, ainda que o mesmo fosse bem classificado globalmente, até com nota elevada, uma resposta errada era «trabalhada» em conjunto pelo professor e pelo aluno. Por exemplo, se se tratasse de um problema de Matemática, não só se explicava a razão do erro, como se fornecia três ou quatro exercícios semelhantes a serem resolvidos, até se ter a certeza que a dificuldade encontrada no teste estava, de facto, ultrapassada.
É isto que se espera fazer, à pressão, nas condições existentes e com a motivação reinante no meio dos nossos professores? Acredite quem quiser.
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