Chegou ontem, como anunciado, o apoio do PS. Sempre fica bem que tenham sido contados dez votos contra e uma abstenção, unanimismos dariam mal aspecto «à coisa». Mas, depois de tantos receios, cem adiamentos e mil declarados alaridos, não deixa de ser estranho que tenham sido poucas as vozes negativas, numa Comissão Nacional de tão grande dimensão. Mas adiante.
Sócrates falou de decisão «baseada na ética da responsabilidade» e de apoio «em nome de uma visão progressista para o país» (*). Sublinhe-se, e volte a sublinhar-se, que a palavra «esquerda» parece ter desaparecido, provisória ou definitivamente, do vocabulário do nosso PM, quando pareceria a mais evidente a ser usada na circunstância em causa. Mas adiante, uma vez mais.
A bola está agora do lado de Manuel Alegre e as primeiras declarações que fizer, já como candidato oficial do PS e do Bloco, serão decisivas. Porque foi mais do que ruidoso o silêncio a que se remeteu nos últimos tempos, não escapando à interpretação (óbvia?) de que nada diria de «perigoso» até ter o apoio do PS. O que desagradou a muitos.
Simultaneamente, foi crescendo o número dos que teriam preferido um outro desfecho por parte do PS. Ontem, quando começou a saber-se que saíra fumo branco da reunião da Comissão Nacional, e mesmo antes das declarações de Sócrates à saída da mesma, dizia-me um militante bem disciplinado do Bloco: «Alegre acaba de perder 10% de votos». E, por exemplo no Facebook, regressaram imediatamente os apelos lancinantes para que Carvalho da Silva avance.
Por todas estas razões e por ainda mais algumas, a «esquerda», incluindo nela uma percentagem significativa dos militantes socialistas, escalpelizará cada frase e todas as palavras da próxima intervenção de Alegre. Posso estar enganada, mas julgo que, nos próximos dias, ele poderá perder - ou ganhar - muitos votos. Quem sabe, até, a possibilidade de apear ou não o inefável senhor de Boliqueime.
(*) Sobre a utilização do termo «progressista», leia-se o que escreveu Rui Bebiano. No que me diz respeito, continuo a associá-lo aos tempos longínquos em que com ele era etiquetada na minha qualidade de católica. Mas isso foi no tempo em que os animais ainda falavam.
ADENDA: Se a esquerda quiser ganhar Belém, de Miguel Cardina.
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5 comments:
Sim, Joana, só posso aplaudir o que o Rui escreveu - sobre o termo "progressistas" e o resto. Mas estou como tu, foi logo dos "católicos progressistas", e por razões semelhantes, que me lembrei.
Quanto à leitura que o teu post adianta, o mesmo me parece - sem tirar nem pôr.
Abrç
miguel
... de repente, o alegre parecia-me ter vestida uma batina de padre. só depois vi que era um cachecol (estou sem óculos)
:-), Ana Cristina, é uma foto de inverno...
Bom dia, Joana,
Acho que já disse aqui uma vez porque é que era óbvio à época em que o disse que isto iria acontecer...
Não se trata de influenciar (nem a somar, nem a subtrair), nem significa necessariamente uma preferência sobre, o resultado das presidenciais, mas sim de fazer olhinhos ao milhão de eleitores do Manuel Alegre, que não se sabe bem por onde andam mas, que dão jeito, dão...
Se o BE o fez, porque haveria o PS de se deixar ultrapassar nesse concurso de pesca ao voto?
Quanto à esperança de que isto possa contribuir para derrotar o Cavaco Silva, ganharia em ser sustentada nalguma base matemática.
Mesmo acreditando (e acreditar nisso, só por acto de fé) que as esposas de Bragança deixarão de votar nele, porque carga de água haveria o eleitorado da esquerda (que inclui o PS, é bom recordar) de ter aumentado nestes 4 anos o suficiente para quebrar a maioria absoluta anterior, em vez de encolher na medida da redução do dinheiro no bolso dos eleitores?
Mas a questão que seria interessante ver debatida é esta: o que espera a esquerda do Manuel Alegre, no caso de ele ser eleito presidente? Que parta os dentes à reacção, como faz o amigo Chávez? Que impeça o PSD de ganhar eleições, ou de governar, se ganhar eleições? Que imprima dinheiro para o PS poder governar à esquerda? Ou apenas sentir a alegria do adepto cujo clube ganha o campeonato?
Manel,
A base matemática para a vitória de Cavaco à primeira volta (que foi escassa em 2006) pode ser emagrecicda pelos descontentes que não são só as mães de Bragança. Além disso, houve entretanto outras eleições (eu sei que é diferente, mas quand même)em que as matemáticas foram outras.
Quanto ao que se espera de Alegre se for presidente não é certamente que seja Chavéz (desse é Sócrates que é son ami), mas estou contigo: é isso que é importante discutir a partir de agora.
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