25.11.17
Boa leitura para um 25 de Novembro – «Quando Portugal ardeu»
Conhecer um pouco (não tudo) do que foi a direita-direita, sobretudo depois do fim do PREC.
(É possível fazer download.)
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25.11.1975 – Foi há 42 anos e é sempre a minha música deste dia
«Foi um sonho lindo que acabou»
«É um lindo sonho para viver / Quando toda a gente assim quiser»
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Dois anos entre Belzebu e Lúcifer
«Pois passaram dois anos sobre a tomada de posse deste governo. Se se lembra do início, pode medir o caminho seguido: o presidente Cavaco Silva tocou as trombetas do apocalipse, enunciando uma Nato furibunda, uma União Europeia assustada, uma burguesia de malas feitas e uma sociedade afundada. O presidente foi-se embora e o governo lá singrou, nem precisou de muito para confirmar uma maioria capaz e resultados que desbarataram a contestação da direita, para mais prejudicada pelo voluntarismo simpatizante do novo presidente.
O governo beneficiou assim de um efeito de alívio generalizado e de duas vantagens. A primeira é que, resumido ao azedume, o PSD foi derivando para uma esperança última, a da censura europeia que desbaratasse a geringonça. Tudo correu mal para este plano, aliás bizarro: a União ensaiou umas sanções pífias mas logo se calou, virando-se para a surpresa britânica, o estremecimento francês e a incerteza alemã. Se é certo que tanto o governo como os partidos de esquerda também temiam essa intervenção da cavalaria prussiana – e Dijsselbloem e Schauble bem se esforçaram – ela esfumou-se. Voltará, logo veremos quando.
A segunda vantagem foi o efeito mobilizador de uma ligeira recuperação de rendimentos. Isso deu à esquerda um sentido pragmático de resultado feito e à sociedade um empurrão de confiança que os anos de austeridade tinham abalado profundamente. Se alguém analisa a política portuguesa sem perceber este efeito moralizador profundo, cultiva o engano e vai esbarrar com a realidade. Marcelo percebeu o que Passos confundiu, e Cristas cola-se a Marcelo porque tem instinto de sobrevivência, as sondagens aliás explicam porque precisa de tal suplemento de alma.
No entanto, ao longo de dois anos o governo revelou fragilidades e essas penalizam também as esquerdas, qualquer que seja a sua coreografia. O governo não está organizado para responder a crise políticas e mesmo uma mini-crise como o Panteão demonstra que estremece perante as redes sociais: quem se lembraria de encarregar o primeiro-ministro de responder sobre o assunto? O governo não mostrou cabeça fria ao longo das crises do verão mas, sobretudo, não percebe o desgaste que a rotina lhe impõe, buscando golpes de asa que, amiúde, dão asneira, como a translação do Infarmed.
A questão da rotina, certamente pior na segunda metade do mandato, é esta: faz olhar para o lugar errado. O problema do país não é o Panteão, mas são as florestas que vão sempre arder, o serviço de saúde que se limita a esconder as suas falhas e a esgotar os seus profissionais no desespero da falta de meios, a prepotência da desqualificação pelos salários baixos. Belzebu não mora aqui, Lúcifer perdeu-se, mas o mapa é difícil, pois a estratégia para Portugal tem sido ganhar tempo para escapar do pior mas só falta o essencial: fazer o tempo. Os próximos dois anos serão perdidos se faltar essa estratégia para a segurança que o povo merece. Por isso, as prioridades serão saúde e trabalho, ou o governo esgota-se no seu poder.»
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24.11.17
Dica (671)
The Jobs of 2027 (Gary Tippet)
«In 10 years jobs we’re familiar with now will change as new technologies impact on how we work. Professionals like nurses, architects, artists and farmers will all need new skillsets to keep up with the technological revolution.»
.Desculpem lá, mas não há pachorra
Church of Sweden to stop referring to God as 'he' or 'Lord'.
«The Church of Sweden is urging its clergy to use gender-neutral language when referring to the supreme deity, refraining from using terms such as “Lord” and “he” in favour of the less specific “God.”»
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O Governo Sombra dos abutres
«Pergunta um jornal - "Estará o país a ficar insensível, perante tanta tragédia?" A líder do CDS sente isso mesmo e recorda o dia em que as notícias davam conta de um novo aumento do número de mortes provocadas pelo surto de "legionella". "As pessoas quase que aceitaram isso como uma coisa natural. Esta indiferença à morte não é normal e tem muito a ver com a forma como o próprio Governo vai reagindo", critica Assunção Cristas. Estou a perceber o ponto de vista, mas também poder ser por causa das imagens dos atentados em Nice, etc. Também pode ser por causa dos jogos de computador.
Também pode acontecer que toda esta indiferença, perante a gravidade da morte, seja por termos tido um PM, de um governo a que Cristas pertenceu, que, perante a cura para a hepatite C, e que custava uns milhares, disse: "os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, mas não custe o que custar". Nessa altura, Cristas estava em casa a ver a série The Walking Dead e assinou de cruz.
O que me parece é que o CDS já foi o partido do táxi, agora é o partido do carro funerário. Assunção Cristas é um abutre a pairar sobre as desgraças. Como o abutre procura alimentar-se de carcaças, Assunção tenta ganhar votos contando campas. A líder do CDS acusa o Governo de, perante as tragédias, agir "de forma errada, pouco sensível e pouco humana", mas dá á sensação de que reza para que elas aconteçam. Nisso, Passos foi mais honesto, assumiu que desejava que viesse aí o Diabo.
Havia uma senhora inglesa, de seu nome Anne Germain, que falava com os mortos num programa da TVI. Agora temos uma Cristas, suposta líder da oposição, que fala pelos mortos. É como se Cristas estivesse possuída por um resultado que acha que foi bom nas autárquicas. Diz coisas exactamente ao contrário do que dizia quando foi governo. Desde o aumento de pensões, passando pelo congelamento de carreiras, até a esta sensibilidade para com as mortes. Dir-se-ia que foi possuída pelo espírito do Louçã, não estivesse ele vivo e de boa saúde, mas mantendo a voz de professora da primária. Quando vejo imagens de Cristas a defender o investimento do Estado na Assembleia da República, estou sempre à espera que ela consiga girar a cabeça 180 graus, como a pobre coitada do Exorcista.
Cristas concentra-se em todos os tipos de mortos. Os que morreram durante este Governo e os que já estavam enterrados há anos, como no caso do panteão. É a nossa espírita. Tem mais ligação com o além do que com o que se passou enquanto foi ministra.
Cristas, perante a seca, pedia que rezássemos. Agora exige medidas ao Governo. Pois eu exijo que, para que ela seja fiel ao que defendeu, que vá à Fátima de joelhos, com uma vela em forma de nuvem, e que não beba água daqui até lá, para que acabe por compensar.»
João Quadros
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23.11.17
Dica (670)
The Age Of Robots Could Be A New Renaissance (Leonardo Quattrucci )
«Today, the possibilities of AI depend on the limitations designed by its creators. Therefore, as AI becomes more pervasive in our daily life, it is imperative to focus on which roles and responsibilities we humans must retain in the age of robots.»
.Tudo isto para comer um peru
Trânsito à saída de Los Angeles por ocasião do Thanksgiving.
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Vá lá, não se façam de novas
«Ninguém notou, quanto em 2004 uma investigação do Senado norte-americano sobre a fortuna do ditador chileno Augusto Pinochet identificou as dependências das Ilhas Caimão e da Florida do BES como veículos para a ocultação dos dinheiros e fuga ao fisco? Vá lá, toda a gente notou. O BES fez mesmo um comunicado de imprensa contra quem, como este cronista que aqui assina, chamou a atenção para as conclusões do relatório.
Ninguém notou quanto em 2009 o BCP português foi forçado pelas autoridades a revelar os seus movimentos em sociedades offshore? Vá lá, isso foi tema de comissão de inquérito e a administração do banco foi substituída logo a seguir.
Ninguém leu as notícias quando o consórcio de jornalistas de investigação revelou em 2013 o que se chamou de Offshore Leaks? Eram 100 mil empresas fictícias criadas para ocultar capitais. A Google transferiu em 2013 dez mil milhões de dólares para as Bermudas, conseguindo assim pagar sobre todos os seus lucros uma taxa efectiva de 2,4%.
E, vá lá, ninguém deu conta em 2104 do Luxleaks, a revelação do engenhoso esquema do governo do Luxemburgo para albergar empresas multinacionais e garantir assim que pagavam um IRC insignificante? Sim, foi assaz evidente: o primeiro ministro luxemburguês entre 1995 e 2013 chama-se Jean Claude Juncker e, sendo presidente da Comissão Europeia, teve de se justificar perante uma comissão de inquérito, que foi logo afogada pelo bloco central do parlamento europeu. A Irlanda e a Holanda, aliás, fazem o mesmo que o Luxemburgo.
E depois vieram, em 2016, os Panamá Papers, com a revelação dos segredos de uma grande firma de advogados. Desta vez eram 214 mil empresas. Só o Crédit Suisse e a UBS, respeitáveis bancos suíços, criaram 25 mil cada um. Vá lá, não se notou?
E agora, em 2017, soube-se dos Paradise Papers, um esquema de registo de empresas em offshores nas Bermudas e em Singapura. A rede era usada por Isabel II, curiosamente desde que a crise financeira de 2007 levou a perdas da sua fortuna, mas também pela Apple, Nike, Whirlpool, pelas ligações russas da Casa Branca, pela família angolana Dos Santos e por mais jet-set. E a UE decidiu investigar pelo mesmo motivo a Ilha de Man, de sua Majestade britânica, e Malta.
Vá lá, ninguém notou?
Nota-se mesmo. Devin Nunes, um orgulhoso luso-descendente que é deputado republicano e foi presidente da comissão parlamentar sobre tributação, e depois foi responsabilizado por Trump por gerir a sua equipa de transição para a posse, declarava que queria “tornar a América o maior paraíso fiscal do mundo”. O estado norte-americano do Delaware já tem 945 mil empresas registadas para não pagarem imposto.
Os paraísos fiscais não são portanto uma extravagância, umas repúblicas das bananas dispostas a rondarem o crime a troco de uns dólares ou euros. São o coração do nosso sistema financeiro. As suas sociedades, agências e veículos (o nome é delicioso) financeiros são geradas pelos maiores bancos, pelos mais refinados campeões, e amparados pelos governos mais respeitáveis – na Europa, além da Suíça é o Reino Unido quem alberga maiores volumes de capitais escondidos, alguns legalmente, muitos em evasão fiscal e outros em ocultação de crime (a OCDE calcula pagamentos anuais de um bilião de dólares em subornos).
O resultado é a perda de receitas e portanto a crise fiscal do Estado. Quando ouvir falar em restrições orçamentais, em falta de dinheiro para pagar a enfermeiras ou técnicas de diagnóstico ou para construir um novo hospital, lembre-se sempre que a evasão fiscal em países como a Alemanha pode andar pelos 160 mil milhões de euros, em França por 120, em Espanha por 73 (cálculos da Tax Research, Reino Unido) e em Portugal alguns estudos apontam para 20 mil milhões. Vá lá, nota-se mesmo.»
Francisco Louçã
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22.11.17
Dica (669)
How the Rich Stay Rich (entrevista com Brooke Harrington)
«A peek inside the world of wealth managers, offshore tax havens, and the uber-wealthy.»
.INFARMED
Isto é uma pergunta sincera e até fui à net procurar elementos que me ajudassem a perceber qual poderá ser a vantagem significativa para uma cidade como o Porto, ou como Lisboa, de albergar uma empresa como esta.
Se se tratasse de uma nova instituição, eu entendia. Se fosse para tentar combater a desertificação do interior, deslocando o INFARMED para uma cidade mais pequena, também. Mas assim? O Porto «precisa» disto? E quanto se vai pagar em euros e em sacrifícios pessoais com esta mudança? Qual é a relação custo/benefício?
E depois lê-se isto. Pobre país!
22.11.2007 – O dia em que Béjart morreu
Não é a primeira vez que reproduzo um excerto de um livro que publiquei há dez anos e não será provavelmente a última. Béjart foi Béjart e nunca deixará de estar presente.
«Em 6 de Junho morreu Robert Kennedy, vítima de um atentado que tivera lugar dois dias antes. Nessa mesma noite, em Lisboa, Maurice Béjart apresentou o seu «Ballet du XXe. Siècle», no Coliseu dos Recreios absolutamente repleto. Assistimos a um magnífico «Romeu e Julieta». Durante a última cena, ouviu-se gritar, repetidamente, "Façam amor, não façam guerra!". Simultaneamente e em várias línguas, eram lidas notícias sobre lutas, revoltas e injustiças. Foi arrepiante a emoção vivida na sala que se levantou em aplauso prolongado. Béjart veio então ao palco para afirmar que Robert Kennedy fora “vítima de violência e de fascismo” e para pedir um minuto de silêncio “contra todas as formas de violência e de ditadura”. Com a maior parte dos espectadores de pé, renovaram-se os aplausos, com mais força e com mais entusiasmo.
Informado do sucedido, Salazar proibiu os espectáculos seguintes e ordenou que Béjart saísse imediatamente de Portugal. Franco Nogueira cita uma nota distribuída à imprensa pelo Secretariado Nacional de Informação:
“Foram dirigidas à juventude exortações derrotistas e tomadas atitudes de especulação política inteiramente estranhas ao próprio espectáculo. Perante a luta que teremos que manter em defesa da integridade nacional, não pode consentir-se que uma companhia estrangeira aproveite, abusivamente, um palco português para contrariar objectivos nacionais.”
Béjart nunca se referiu a Portugal. Mas Salazar era bom entendedor e bastava-lhe menos de meia palavra para perceber – como nós – que Béjart quisera deixar um sinal de solidariedade aos antifascistas portugueses.
Momentos raros como este funcionavam para nós como bálsamo e como estímulo. Ajudavam-nos a não desanimar.» (*)
(*) Joana Lopes, Entre as Brumas da Memória. Os católicos portugueses e a ditadura, Âmbar, 2007, pp. 118-119.
Alguns minutos de «Romeu e Julieta»:
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Será o socialismo uma ideia que ainda inspira?
«Em Portugal, para o dizer de forma eufemística, a prioridade nem sempre é o debate de ideias. Se o tema de conversa for o “socialismo”, palavra tão associada ao nosso Partido Socialista, aos seus protagonistas, sucessos e insucessos, pode parecer algo extravagante que nos lembremos de perguntar: mas, afinal, o que é o socialismo? Ideia pejada de carga histórica, feita de contradições e evoluções, tantas vezes vilipendiada e atacada, desde as acusações do fracasso histórico do “socialismo real” à hipocrisia da “terceira via”, o que pode ela significar, nos dias de hoje? É óbvio que a atualidade desta questão não é alheia ao problema pragmático das dificuldades eleitorais da maior parte dos partidos socialistas europeus. De Espanha à Grécia, passando por França e Alemanha, os partidos com filiação socialista tradicionalmente fortes têm-se visto em dificuldades em anos recentes, e a “pasokização” é uma ameaça real que, aliás, contrasta hoje com a relativa tranquilidade do PS de Costa e a sua “geringonça” parlamentar. Do outro lado do Atlântico, a reivindicação de “socialismo democrático” por parte de uma figura tão interessante como Bernie Sanders não deixou de provocar calafrios em certa parte do eleitorado americano em 2016 e de nos recordar, a nós europeus, o quanto a nossa cultura política nos separa dos Estados Unidos.
Porém, compreender o socialismo como um projeto concreto de futuro, reivindicar a sua diferença específica face a um discurso neoliberal estafado e corroído, torná-lo de novo um ideal inspirador... implica que se tome o pulso ao seu significado, à sua força normativa, e que se avalie a sua tradição e práticas tendo em conta o contexto deste século e as mudanças em curso. É nesse sentido que aponta o último livro de Axel Honneth, A Ideia de Socialismo. Tentativa de Atualização, recentemente publicado pelas Edições 70 com um posfácio de Pedro A. Teixeira. Honneth, sucessor de Habermas na Escola de Frankfurt, é sobretudo conhecido pelas suas contribuições para a Teoria Crítica e a teoria do reconhecimento. Neste livro tenta perceber o que é que, no socialismo, tem força mobilizadora e fazer ver “o aparentemente necessário como coletivamente alterável”, isto é, a sua força utópica e transformadora que sempre fez do socialismo um contraponto do capitalismo nas suas formas mais selvagens.
Para levar a cabo esta tarefa, Honneth propõe fundamentalmente duas ideias. A primeira é a daquilo a que chama, de forma obviamente não pejorativa, um “experimentalismo histórico”. Partindo da constatação de que existem diferentes alternativas à autorregulação estrita do mercado capitalista, tal como a aplicação de um princípio cooperativo mais forte que permita um maior controlo por parte dos trabalhadores dos frutos do seu trabalho, ou a regulação mais apertada de instituições desenhadas pelo Estado, o ponto de Honneth é que têm de ser as experiências práticas a guiar o caminho do socialismo. Neste sentido, quer seja através de cooperativas, fundos de solidariedade ligados a sindicatos, ou da introdução de um rendimento básico incondicional, o importante é “demonstrar de forma convincente que os traços fundamentais do sistema económico capitalista ainda podem ser alterados, se não mesmo eliminados” (p. 95).
Esta proposta de controlo democrático enraíza na segunda ideia que Honneth propõe, a de uma “forma de vida democrática”. Parte da solução passa por assegurar que todos os indivíduos e grupos sociais envolvidos têm efetiva capacidade de participação democrática, ou seja, de fazer ouvir a sua voz e valer as suas reivindicações no jogo democrático. Para isso, segundo Honneth, há que abandonar a tentação de identificar o socialismo com os interesses de qualquer grupo particular, seja ele os trabalhadores ou o antigo proletariado. Em vez disso, é preciso compreender a rápida transformação da composição social das nossas sociedades e assegurar que a mensagem socialista pode ser apropriada por cada um; isto é, garantindo que, neste processo, ninguém seja discriminado em função da sua situação laboral (pense-se no extensíssimo precariado), ou de qualquer outra determinação (de género, racial, etc.). Por outras palavras, não estará assegurada a liberdade social se não for concedida a todos, na medida do possível, igual capacidade de participação.
Esta imagem de abertura e mutação do socialismo acaba por resultar na tentativa de recuperação de uma narrativa de progresso que possa efetivamente ser aplicada na prática e que permita perceber que há de facto alternativas, transformando ao mesmo tempo um ideal mobilizador numa prática de transformação. Talvez seja, por isso, altura de voltarmos a debater ideias.»
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21.11.17
Catalunha: época natalícia animada?
«Sondagem dá uma nova vitória dos independentistas a 21 de dezembro, com maioria absoluta de deputados mas não de votos.»
.Dica (668)
Collapsed Coalition Talks. What's Next for Merkel and Germany? (Severin Weiland)
«German Chancellor Angela Merkel's attempts to assemble a governing coalition collapsed on Sunday night. Much of the blame is falling on the shoulders of the business-friendly Free Democrats, but what happens next?»
.Acabou a convergência S.Bento – Belém?
Enquanto não se puser em causa o sacrossanto valor do défice, agora previsto para 1,1% em 2018, não vamos lá. Alguém que explique e ninguém o faz: se é suficiente haver incêndios para aumentar uma décima, por que motivo não se pode acrescentar mais uma ou duas para se ser decente em termos de carreiras e de serviços públicos? Mesmo que Centeno deixe de ser o Ronaldo do Ecofin.
21.11.1975 – O célebre juramento no Ralis
A quatro dias do 25 de Novembro, o juramento de bandeira dos cento e setenta novos recrutas do RALIS, em 21 de Novembro de 1975, ficou para a história como símbolo de fim de ciclo, foi uma espécie de canto do cisne de um PREC que acabava.
Imagens e palavras quase surrealistas quando vistas e ouvidas hoje, mas que funcionam para muitos como uma espécie de relíquia de «um sonho lindo que acabou». Um caminho que ficou para trás mas que não se apaga – nunca.
20.11.17
Centeno, o Ronaldo da Economia?
Eu nem sei se isto deve ser considerado um elogio.
«De ser un personaje cuestionado por las autoridades financieras, Centeno se ha convertido en un ser querido tanto en Washington como en Bruselas. Wolfgang Schäuble, ex ministro de Finanzas alemán, que inicialmente señaló al portugués como una amenaza a la estabilidad de la Eurozona, acabo definiéndole como el Ronaldo del Ecofin.»
.Dica (667)
Ivanice e as 40 balas (Fernanda Câncio)
«De facto, nada que se pareça com o "absolutamente indigno" jantar no Panteão. Ivanice, brasileira e pobre, só morreu.»
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20.11.1975 – Quando um governo fez greve
Há 42 anos, os jornais anunciavam que, na madrugada de 20 de Novembro de 1975, a Presidência do Conselho de Ministros tinha emitido um comunicado onde explicava que o VI Governo Provisório decidira «suspender o exercício da sua actividade» até estarem garantidas condições para o exercício da mesma. O próprio primeiro-ministro confirmou-o, algumas horas mais tarde.
Na tarde do mesmo dia, teve lugar uma grande manifestação em Belém, com muitos milhares de participantes, convocada pelas Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa e apoiada pela Intersindical, PCP e FUR. Foi pedida a nomeação de um governo «verdadeiramente revolucionário» e gritou-se, repetidamente, «Suspensão é demissão!»
Para além da recordação da efeméride note-se o seguinte: a manifestação foi convocada para o próprio dia, não para semanas mais tarde, e repito que contou com a participação de milhares de pessoas. Num tempo em que não existiam telemóveis, nem internet, foi a rádio, o passa-palavra, telefonemas para empresas e para amigos, que serviram de arautos para a mobilização. E esta funcionou, sem hesitações. Estávamos em período revolucionário (mais exactamente, a escassos dias do fim do mesmo) e havia esperança e espírito de luta – inesquecíveis.
P.S. – Uma recordação anedótica: quando acabou a concentração em Belém, já bastante tarde, estávamos absolutamente esfomeados e nada havia para comer nas imediações. Desesperados, tentámos o restaurante de um hotel e a resposta foi negativa: estavam cheio de retornados e já nada restava. Entre dentes, um colega meu «rosnou»: «A fome é tanta que até um retornado marchava!»
Cinco dias mais tarde… the end.
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P.S. – Uma recordação anedótica: quando acabou a concentração em Belém, já bastante tarde, estávamos absolutamente esfomeados e nada havia para comer nas imediações. Desesperados, tentámos o restaurante de um hotel e a resposta foi negativa: estavam cheio de retornados e já nada restava. Entre dentes, um colega meu «rosnou»: «A fome é tanta que até um retornado marchava!»
Cinco dias mais tarde… the end.
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Nobel da Paz, para que te queremos?
«Tudo isto surge depois de o Partido do Progresso (PP) norueguês ter revelado, na semana passada, que o seu antigo líder de 73 anos – conhecido pelas suas opiniões polémicas sobre muçulmanos, homossexuais, mães solteiras e anti-imigração – iria ocupar um dos lugares do Comité Nobel da Paz, por merecer o lugar e por ter vários anos de experiência.»
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O amor da direita radical pelos trabalhadores do sector privado
José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«Um dos aspectos mais curiosos do debate sobre o orçamento, que não é novo, mas que se intensifica sempre que parece haver ganhos de causa do sector público, é o imoderado amor da direita pelos trabalhadores do sector privado, as “vítimas” da captura do Estado por um Governo constituído por lobbies do sector público, seja o PS, seja o PCP, seja o BE, sejam os negregados sindicatos. A história deste orçamento seria assim o de um agravar dos privilégios dos funcionários públicos, os principais beneficiários das “reversões”, cujo efeito na economia “real” será pago pelos trabalhadores do sector privado, seja na manutenção dos baixos salários, seja no desemprego e na precariedade.
Tudo isto é verdade e tudo isto é mentira. Melhor: tudo isto é resultado de um confronto político, ideológico e social. Melhor ainda: tudo isto tem que ver com o poder político, com a justiça social e a forma como os sectores da direita mais radical — e, hoje, insisto mais uma vez numa coisa que muito irrita essa direita, a direita portuguesa que se expressa no espaço público é bastante radical — apresentam um “plano de sociedade” assente na desigualdade a que atribuem ser o motor do desenvolvimento. Esta descrição é eufemística, mas para já serve.
Para eles, a desigualdade social é o único mecanismo que pode garantir o crescimento económico, e para existir essa desigualdade é fundamental que as “pessoas certas”, os partidos certos e os grupos sociais certos estejam no poder para manter uma hierarquia que garanta essa desigualdade. E este programa não dá ao “trabalho” uma função criativa e dinâmica na economia, logo na sociedade, e muito menos os dá aos trabalhadores, sejam do sector privado, sejam do sector público. Vivemos anos de uma crise provocada pelos desmandos do sector financeiro, mas cujos custos foram assacados ao “esbanjamento” dos trabalhadores. Os trabalhadores eram os responsáveis por uma sociedade que vivia “acima das suas posses” e teria de ser “ajustada”. É o que hoje ainda pensam: cada euro que vá para salários ou funções sociais é um risco para a “economia”, e quando o “Diabo” vier vai ter de ser tudo, outra vez, posto na ordem.
Não é por acaso que os governantes dos anos do “ajustamento” pensavam (como aliás a imprensa económica) que a economia eram as empresas, como se estas existissem sem trabalhadores, vistos apenas como um “custo” que era preciso diminuir. Nesses anos nunca se dirigiam aos trabalhadores a não ser para impor as célebres “reformas estruturais” no mundo do trabalho, todas no sentido de facilitar os despedimentos, pôr em causa a necessidade de haver uma “justa causa”, diminuir salários e pensões, combater os direitos dos reformados, acabar com a negociação colectiva, enfraquecer os sindicatos, fragilizar o lado dos trabalhadores em relação aos patrões numa relação social que é já de si muito desigual. Tudo isto foi feito pelos mesmos que agora amam os trabalhadores do sector privado, face aos privilégios do sector público. Aliás, na verdade, o que muito os incomodava era não poderem fazer na função pública o mesmo que faziam no sector privado.
19.11.17
Catalunha, ainda
Ofensiva contra Catalunya, franquismo y presos políticos.
«¿Vuelve el franquismo?
¿Los presos catalanes son presos políticos o sólo vulgares políticos presos?
¿Es concebible hablar de represión política en una democracia?
¿Tienen derecho a la solidaridad unos presos que ni siquiera han sido salvajemente torturados?
Entre los efectos colaterales de la ‘crisis catalana’ han proliferado como setas, en medios y redes, dilemas como los anteriores, expandiendo así el campo de batalla también al terreno ideológico y poniendo a prueba nuestras convicciones democráticas. (…)
Todas las víctimas catalanas de la ofensiva estatal, perseguidas por defender opciones democráticas y legítimas, coincidan o no con el ‘ordenamiento constitucional’, cuentan con nuestra decidida solidaridad, por encima de las posiciones políticas particulares de cada cual.»
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