Estou de passagem no Qatar, um país insólito que, à primeira vista, poderia ser resumido em duas palavras: areia e petróleo. Mas só à primeira vista.
Não é fácil imaginar a vida concreta de cerca de 500 mil pessoas que não trabalham porque tudo lhe sé proporcionado gratuitamente e que ainda recebem cerca de 35.000 US$ / ano desde que nascem. Todas as tarefas são asseguradas por um milhão adicional de estrangeiros, bem pagos, mas que nunca adquirem a nacionalidade do país em que vivem, ou mesmo em que nascem: as segundas e terceiras gerações mantêm o «passaporte» dos seus ascendentes, o mesmo acontecendo às mulheres que casam com locais.
De resto, não existem impostos para ninguém, tudo é importado excepto o petróleo, constrói-se loucamente (num bairro que atravessei, existem neste momento 65 torres, serão em breve 192…), só se vê carros topo de gama e centros comerciais luxuosos, abrem-se campos de golfe que custam uma fortuna para serem mantidos verdes e criam-se cavalos, para todo o tipo de competições, com um estatuto absolutamente invejável: habitações com ar condicionado, piscina privativa, etc., etc.
É difícil encontrar qualquer semelhança entre o nosso mundo e este estranho modo de vida, onde tudo parece basear-se na convicção de que os recursos petrolíferos nunca se esgotarão e que o futuro se manterá próspero, como o presente, para todo o sempre… Será?