13.2.16
Bitte Herr Schäuble Portugal in Ruhe lassen!
«Wolfgang Schäuble, ministro de finanzas alemán, acaba de hacer una advertencia/ amenaza/ chantaje a Portugal, indicando que "perturbar a los mercados no es el mejor camino".
Schäuble, que en 1990 fue víctima de un desequilibrado que lo condenó para siempre a la silla de ruedas, es uno de los políticos en servicio activo más antiguos de Europa, y uno de los responsables de la desastrosa conducción económica hecha desde Bruselas.
Se puede entender que este hombre amante de la más absoluta austeridad, y amargado crónico desde que en el año 2000 tuviera que dimitir de un ministerio por su responsabilidad en la financiación ilegal de su partido, la CDU, odie ahora a los portugueses.
Este hombre detesta que los portugueses vengan perturbando a los mercados desde el siglo XIII, detesta que los portugueses coman, beban, follen, lean, canten y sean un país soberano.
¡Deje en paz a Portugal Herr Schäuble!»
Luis Sepúlveda no Facebook.
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Escravatura por dívida
De um texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«A história conheceu e conhece muitas circunstâncias em que, por não pagamento de uma dívida, uma pessoa perdia a sua liberdade e ia preso ou, pior ainda, era reduzido a um estatuto de escravatura, temporária ou definitiva. Estas práticas existiam na Grécia antiga, com a sempre especial excepção de Atenas, onde Sólon as proibiu. E mais ou menos espalhadas continuaram na Índia praticamente até aos nossos dias, tendo conhecido formas variadas de trabalho forçado durante a expansão colonial europeia. Hoje, uma das formas modernas de escravatura por dívida é praticada pelos grupos mafiosos que exportam mão-de-obra e emigrantes para a Europa e América e mulheres para redes de prostituição, retirando-lhes os documentos, em nome da dívida que contraíram ou as suas famílias para "pagar" a viagem e a entrada ilegal nos países mais ricos. Estamos a falar, como é óbvio, de actividades criminosas, visto que a escravatura é um crime.
Ah!, afinal não é bem assim. Se se tratar de um Estado soberano que tenha uma grande dívida, por exemplo, Portugal, este pode ser obrigado, sob pena de morrer à fome ou de uma qualquer forma de intervenção estrangeira mais ou menos agressiva que o transforme num pária, como aconteceu na Grécia, a aceitar uma qualquer forma de escravatura por dívida. (…)
O problema não é de "desconfiança", é de hostilidade [ao governo Costa] — ele não é dos nossos, não é o que foi Passos Coelho, logo, vamos ensiná-lo como fizemos aos gregos. Com os resultados brilhantes que se vêem na Grécia.
O contentamento mal escondido da direita radical com as dificuldades do Governo Costa coloca-a com entusiasmo ao lado da vozearia que vem de Bruxelas e Berlim, alguma de uma arrogância que devia ofender já não digo um patriota, mas um português que gosta do seu país. Responsáveis do Eurogrupo, altos funcionários sob a capa das fugas anónimas, antigos e actuais ministros das Finanças europeus, holandeses, bálticos, alemães, dão entrevistas pronunciando-se sobre um governo legítimo da União Europeia com uma desenvoltura que nunca tiveram com os responsáveis políticos húngaros e polacos cujas malfeitorias em direitos e liberdades são-lhes bastante menos importantes do que uma décima no défice português. E quando alguém acha que todas estas vozes, falando também para as agências de rating e para os "mercados", são demais, eles encolhem os ombros e dizem que um país em bancarrota é escravo da dívida.
Não, não é só isso — é que eles gostam do que ouvem, pena é que Schäuble não fale mais vezes para varrer este Governo do Syriza português, mais o PCP e o BE. Pensam acaso que eles estão muito preocupados com a dívida? Enganam--se. Tanto mais que a aumentaram consideravelmente quando estiveram no poder e que em segredo sussurram que "no fim de tudo tem de haver uma reestruturação da dívida". Não é a dívida que os preocupa, é o poder político deles e dos seus e a prossecução de uma política que faça recair sobre uma parte dos portugueses, aqueles a que se tornou maldito restituir salários e pensões, o ónus do défice e da dívida e, acima de tudo, que o alvo desses custos não sejam outros. A escravatura do país é para eles bem-vinda, ajuda-os a manter o poder, "porque não há alternativa". Conheço vários exemplos na história destes "não há alternativa" e nenhum acabou bem.»
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12.2.16
12.02.1929. Nuno Bragança
O Nuno morreu com 56 anos, faria hoje 87, mas é-me absolutamente impossível imaginá-lo com tal idade porque o «fixei» na casa dos trinta ou dos quarenta. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como de absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo.
Retomo, em parte, o que já escrevi em tempos. Errando pelos mesmos meios oposicionistas, os destinos juntaram-nos também em casa de amigos comuns, onde passámos longas semanas de férias – nos tais anos sessenta que por cá também foram loucos, em plena Serra da Arrábida, sem electricidade e quando um gira-discos a pilhas, vindo da América, fez figura do mais sofisticado robot. Um pouco mais tarde, viria a acampar, no sentido estrito da palavra, no minúsculo apartamento em que o Nuno viveu vários anos em Paris. Confirmo o que a lenda conta: saía de casa por volta das cinco da manhã para escrever durante algumas horas, antes de iniciar mais um dia de trabalho.
Para a História ficou sobretudo o escritor e o excelente documentário U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Eu registo também o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência – neste caso não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi.
Reencontrei há algum tempo uma velha fotografia, de um jantar colectivo, onde fiquei sentada em frente do Nuno. Mais de metade dos que lá estavam já se foram embora e não me apetece mostrá-los. Mas devo-lhes muito do que hoje sou. Muito, mesmo.
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Um documentário de 54 minutos, de 1989: Grande Plano de... Nuno Bragança.
[Republicação modificada]
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A lição de Bernie Sanders
«Como é que um homem com 74 anos, voz gasta e até um pouco curvado consegue empolgar tantos americanos e sobretudo ter a maioria dos jovens do seu lado?
Como é que alguém que abertamente se diz socialista, no país do capitalismo e do anticomunismo, consegue ter o apoio da classe trabalhadora? Não será certamente pelo físico nem pela inscrição ideológica. Não. É pelas palavras, pelas ideias, pela coragem de atacar o sistema corrupto que mina o país e, na verdade, o mundo inteiro. (…)
Por isso Bernie aponta à cabeça. Não atira para o lado, como tem sido usual nos democratas americanos e o é ainda mais nos políticos europeus. Não propõe pequenas reformas que nada mudam. Coloca no topo das suas propostas o desmantelamento dos grandes bancos. Tidos por "too big to fail" (grandes demais para falhar), quando falham, e falham, é o Estado que tem de os socorrer com o dinheiro dos contribuintes. À nossa escala viu-se sobretudo no caso do BES, mas também no BPN, Banif, etc...
Outra das propostas de Bernie, interessante para Portugal, prende-se com as agências de "rating" que ele diz serem "raposas a vigiar o galinheiro". (…)
Bernie é também uma lição para a situação portuguesa. A esquerda conquistou o Parlamento, mas ainda não ganhou o debate político no país. Com a direita ressabiada, incapaz de passar da mesquinhez reativa, passamos o dia a debater irrelevâncias, diz que disse, manobras e puras mentiras. Trata-se de um jogo sem qualquer interesse e ainda menor alcance.
A esquerda tem de apresentar as suas causas. Em conjunto ou em separado. As razoáveis e as radicais. Não foi de propósito, o que revela algum amadorismo, mas a apresentação do tema da eutanásia foi muito positivo. Colocou o país a discutir algo que realmente importa e não as intermináveis, aborrecidas e frequentemente manipuladas contas do orçamento. O Estado já se mete em demasia na minha vida, não queira agora também decidir quando posso morrer. Mas há muitas outras causas. Desde logo, na linha de Bernie, as que dizem respeito ao sistema financeiro. Não se pode continuar a aceitar que sistematicamente empresas e bancos fiquem com os lucros e o Estado com os prejuízos. Não se pode continuar a falar de livre iniciativa, poder absoluto dos acionistas, total autonomia das administrações privadas e depois perceber que empresas e bancos são altamente subsidiadas pelo dinheiro dos contribuintes, pagam muito menos impostos do que toda a gente, praticam repetidamente atos ilícitos com a maior das impunidades. Isto não pode continuar. A esquerda tem de ganhar foco. Ir ao que interessa e deixar a direita a falar sozinha.»
Leonel Moura
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11.2.16
Mulheres? Só uma
Conselho de Estado, a partir de 9 de Março: 21 membros, 1 mulher.
(Irei publicando mais informações recolhidas nesta página do Facebook.)
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O estágio não remunerado do pai Tomás
Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:
«Uma empresa chamada ”Work 4 U – Gestão de Carreiras” colocou esta semana na internet um anúncio que dizia: “Receba sem compromisso um estagiário durante 2 dias!”. E por baixo: “EXPERIMENTE GRÁTIS”. Exactamente assim, com este vocabulário. Em pleno século XXI, na Europa (…).
Recrutar e comercializar estagiários é uma actividade difícil, porque gente desesperada para entrar no mercado de trabalho costuma ser má de aturar. Choradeira, perguntas parvas (por exemplo: “Dentro de quantos anos começarei a receber um salário?”).»
Na íntegra AQUI.
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Sobre a proposta de OE para 2016
Vale sempre a pena ler Ricardo Paes Mamede:
«A proposta de OE para 2016 pode ser avaliada de duas perspectivas distintas: as prioridades que estabelece e as opções que faz para as prosseguir.
Os acordos entre os partidos de esquerda que suportam o Governo elegeram como principais prioridades: a aceleração da retoma económica e do emprego; a redução das desigualdades e da pobreza; e a reposição da normalidade constitucional. Conforme acordado, estes objectivos deveriam ser prosseguidos através de um estímulo à procura interna por via do aumento dos rendimentos das famílias - em particular das menos abastadas (contribuindo simultaneamente para aumentar o consumo e para reduzir as desigualdades) - e a reversão imediata dos cortes de salários à função pública, classificados como inconstitucionais por quem de direito.
A prossecução destas prioridades enfrentava, à partida, dois constrangimentos fundamentais: as regras orçamentais da UE e a dependência do país (em particular do Estado) face ao financiamento externo. Havendo por parte do PS a opção por não questionar nenhum destes constrangimentos, adivinhava-se à partida que a elaboração do OE para 2016 seria um exercício exigente.
Há quem considere que o Governo elegeu as prioridades erradas - que a reversão das inconstitucionalidades, o estímulo à procura interna e a redução das desigualdades deveriam ser objectivos subordinados à redução dos défices público e externo, como forma de credibilizar o país perante os investidores. Aqui estamos no domínio das escolhas políticas e cada um faz as suas. Ainda assim, importa saber se a proposta de OE para 2016 é ou não coerente com as prioridades estabelecidas pela maioria parlamentar que suporta o Governo (e que, de resto, subscrevo). Considero que sim e não creio que fosse possível fazer muito melhor.
A reposição dos salários da função pública é feita de modo faseado ao longo de 2016. A redução da sobretaxa do IRS é feita de forma selectiva, beneficiando as famílias de menos rendimentos. São reforçadas, de forma contida e condicionada, as transferências sociais (RSI, CSI, etc.). A compensação do aumento da despesa é conseguida através do aumento de impostos especiais sobre tipos de consumo que devem mesmo ser desincentivados (crédito, energia, tabaco, automóvel).
O grande problema desta proposta de OE para 2016 é o facto de dar uma resposta demasiado modesta a quase 1,3 milhões de portugueses que não encontram um emprego em condições. Mas, provavelmente, é a melhor resposta possível, dadas as restrições existentes.»
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10.2.16
Dica (221)
É preciso ter lata. (Mariana Mortágua)
«A primeira versão do Orçamento respeitava estes constrangimentos, mas tinha a vantagem de repor uma grande parte dos rendimentos (e direitos) retirados durante os últimos anos. (…)
O texto que voltou de Bruxelas é pior. Em primeiro lugar, porque as contas iniciais não previam que o anterior Governo tivesse antecipado para 2015 receitas de 2016. A farsa da saída limpa custou 677 milhões, martelados nas contas, a pagar por quem viesse a seguir. Depois, houve Bruxelas, a sua intransigência, inventando novas questiúnculas técnicas quando todos sabemos que o problema de fundo é político, e de poder. Ninguém fez com França ou Espanha o que fizeram com Portugal, ou encontrou por lá Direita tão subserviente.»
. Aumento de impostos é como quem diz
«Está tudo muito impressionado porque – dizem-nos – vai haver aí um aumento de impostos. Sim ou não? Bom, vamos por partes.
Em primeiro lugar, podem os portugueses estar descansados, não vem aí nem nada que se pareça com o aumento de 3.000 milhões de euros no IRS cobrado a quem ainda conseguiu manter o seu trabalho para Vítor Gaspar poder tapar em 2012, e anos seguintes, o brutal dano causado à economia portuguesa pela peregrina ideia de aplicar mais austeridade e mais depressa. (…)
Então mas não aumentam vários outros impostos? Bom, (…) sim. Fruto de opções do Governo e das negociações com Bruxelas alguns impostos especais sobre o consumo sofrem algum agravamento.
Mas esse agravamento é muito menor do que à primeira vista parece. Desde logo, parte do aumento de receita desses impostos não vem do aumento do que pagamos, vem do facto de irmos parar de asfixiar a Economia com cortes brutais e cegos que custaram ao País muitas dezenas de milhares de milhões de euros de riqueza que ficou por produzir. Parte dessa riqueza começará a voltar a ser produzida e, só por isso, o total de imposto cobrado aumenta, mas sem que isso signifique aumento da respectiva taxa. (…)
Tudo visto e ponderado, o que este OE nos diz, do lado fiscal, é que trocamos uma política de tirar salários às pessoas para baixar impostos às empresas por uma política fiscal que devolve rendimentos às pessoas, começando pelas que menos têm, optando por tributar alguns consumos com os quais a maioria dos portugueses pode apenas sonhar (como o de comprar carro novo) ou em níveis que são, ainda assim, conducentes a preços mais baixos do que os que tivemos de pagar num passado recente.
Gostaria de ver um OE que pudesse fazer a devolução de rendimentos sem penalizar estes consumos de tabaco, álcool e com carros? Se calhar gostava, mas se a política é a arte de fazer escolhas difíceis neste caso nem precisamos de tanto. A escolha é fácil: repor rendimento aos novos pobres criados pela crise em que estivemos mergulhados deve vir antes de tudo o resto.»
Marco Capitão Ferreira
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9.2.16
Ainda sobre a morte assistida
… e por causa das manipulações tendenciosas que já por aí grassam:
Um referendo sobre a adesão à UE ou ao euro teria dito respeito ao conjunto dos cidadãos portugueses: ninguém sai ou entra sozinho, não se trata de uma questão individual. Pelo contrário, não vejo o que a D. Maria, de Alguidares de Baixo, possa ter a ver com a maneira como eu desejo que a minha morte aconteça.
. Défice estrutural: magia negra
Leitura aconselhada para uma tarde chuvosa de Carnaval.
«Alguém sabe exactamente como se calcula o indicador que determina as nossas vidas? Se tiver a paciência necessária para ler este texto, gostaria de tentar provar a seguinte tese: o saldo estrutural é uma abstracção teórica, de impossível verificação.»
A Mariana Mortágua explica – e até «com bonecos».
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Quando os jornalistas são o centro do problema
«Recordam-se da gritaria da direita a respeito deste orçamento? Recordam-se da satisfação com que os arautos dos partidos da direita repetiram que este orçamento seria chumbado sem apelo nem agravo pelos poderes de Bruxelas? Recordam-se do seráfico Marco António Costa a dizer que o orçamento não era credível, como se ele o fosse? Recordam-se da voz embargada de emoção com que os comentaristas da direita que enchem os telejornais desenhavam cenários de queda do Governo devido ao fim do apoio dos partidos à esquerda do PS e liam nas borras de café a perdição de António Costa? (…)
Durante semanas, foi esta a paisagem revelada pelos media. O PS tinha feito um orçamento disparatado que iria abria as comportas do Inferno graças à sua cedência ao radicalismo dos esquerdistas, todas as organizações tinham “arrasado” o orçamento, Bruxelas não iria aceitar, o financiamento ia desaparecer, o governo ia cair, vinha aí novo resgate e nova austeridade, o caos. (…)
Aquilo que vivemos foi uma primeira investida em regra da direita contra o governo do PS e contra a estratégia acordada por este com as restantes forças de esquerda. Uma primeira investida em regra contra uma política alternativa à austeridade e que teve como actores não apenas a direita nacional mas toda a direita europeia, com mobilização sincronizada pelo Partido Popular Europeu. Isso pode aceitar-se como normal. O que não é normal é que uma estratégia partidária deste tipo, - onde para a direita portuguesa contava mais obter uma derrota do governo português (pelo simples facto de ser do PS) do que a defesa dos interesses nacionais - tivesse tido uma tão entusiástica e sectária cobertura da imprensa em geral e dos jornalistas em particular. (…)
O problema é que, não só a cobertura jornalística da política em geral é de um enorme sectarismo (muitos jornalistas são de direita e fazem propaganda das suas preferências políticas ou são maus e limitam-se a repetir o discurso hegemónico do poder, de direita) como os espaços de opinião estão invadidos por comentadores de direita ou do “centro” - alguns apresentados sob uma roupagem técnica como “economistas”, “politólogos” ou mesmo “jornalistas” - e estão praticamente desprovidos de uma visão alternativa. Qualquer jornalista sabe isto e sabe que isto é desonesto. O resultado é um brutal enviesamento da informação e da opinião oferecida aos cidadãos, que não podem deixar de aderir às teses que lhe são marteladas de manhã à noite, em particular pelas televisões, por falsas que sejam (como a tese do aumento da carga fiscal ou do ataque à classe média). E é por isso que todos conhecemos as mil coisas que podem correr mal na execução orçamental e que se fala tanto disso. A direita radical quer que este orçamento corra mal, que o governo caia e que o país entre em bancarrota. Não está a olhar a meios para o conseguir. E o meio principal é esta lavagem ao cérebro que espera que se torne uma profecia auto-realizadora.»
José Vítor Malheiros
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8.2.16
Sondagens, para que vos quero
(Correio da Manhã)
Quem não «acredita» em sondagens, ou pensa que todas não são mais do que manipulação fraudulenta, que passe à frente e durma descansado.Hoje saiu uma da Aximage (essa empresa terrível, que até foi das que mais acertou em algumas das previsões para as presidenciais). Os principais resultados podem ser lidos aqui.
E quanto ao OE2016
Para muitos dos meus amigos de esquerda não se pode tocar no OE2016 nem com uma flor (e no António Costa ainda menos). Não é verdade, pode-se estar do lado que para mim é o certo e no entanto... Leia-se o que escreve o Nuno Teles:
«Finalmente, este orçamento mostra, mais uma vez, quem manda nas opções políticas e na alocação de recursos no nosso país: a UE, através da sua não-eleita Comissão. As lágrimas de crocodilo de António Costa "este orçamento é pior do que o apresentado" servem de muito pouco a quem cá vive. Daqui a uns meses, é provável que tenhamos um orçamento rectificativo. O sentido das ordens da União Europeia é claro. Ter um plano B é imperativo.»
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Evitar o conflito
«Ao contrário de Matteo Renzi que confronta directamente Berlim e Bruxelas, António Costa preferiu evitar conflitos. Ou, pelo menos, escondê-los na escuridão. Costa não precisa de escaramuças com Bruxelas, com as agências de "rating" ou com o PCP e o BE. Porque elas poderiam determinar uma derrota humilhante. Especialmente com a "nomenklatura" europeia. Quer derrotar, a prazo, o inimigo sem guerrear. Ou lutar só quando tiver a certeza de ganhar. Este OE é, por isso, político.
Pode-se argumentar que, em Bruxelas, Costa deixou cair medidas emblemáticas. Deixou. E que, em Portugal, cedeu a pedidos duvidosos do BE e do PCP. Mas essa é a táctica que tem de ceder à sua estratégia mais global. Costa quer definir o tempo das grandes batalhas quando estiver seguro de as vencer. Há, claramente, um corte com o tempo da idade das trevas de Passos Coelho. A defesa do Estado social e dos que menos têm está no coração deste OE. Mas nele vão ser ainda os consumidores a pagar tudo. A gritaria dos que defendem que tudo tem de ser feito como Bruxelas deseja, mostrando a noção que têm de soberania nacional, era dispensável. Este é um OE minado, por dentro e por fora. Mas é um pequeno passo de mudança de narrativa, de determinação de um futuro diferente que não seja a acomodação dos países às necessidades alemãs. Costa não vence nem é vencido. Mas quer ganhar a narrativa do futuro. Sem conflitos madrugadores.»
Fernando Sobral
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7.2.16
Dica (219)
Europeístas e antieuropeístas. (Carvalho da Silva)
«Será europeísmo credibilizar governos com políticas antidemocráticas e fascizantes que se vão instalando em vários países da UE? É europeísta o discurso do primeiro-ministro inglês que afirm«a o interesse do Reino Unido estar na UE para beneficiar de tudo o que lhe interessa, mas recusa compromissos de solidariedade? São europeístas os governantes portugueses e europeus que em anos anteriores aprovaram orçamentos do Estado para Portugal na base de projeções que escondiam buracos de milhares de milhões de euros que o povo depois teve de pagar?»
. 07.02.1975, no início de um agitadíssimo ano
No início de 1975, o desemprego aumentava, a discussão sobre a unicidade sindical atravessara todo o mês de Janeiro, as forças de extrema-esquerda tinham já tido tempo para consolidarem as suas organizações e crescia a número de casas e de terras ocupadas. Cereja em cima do bolo, uma esquadra naval da NATO entrou no Tejo em 2 de Fevereiro. Tudo isto levou os delegados dos trabalhadores da Inter-Comissões de Empresas da Cintura Industrial de Lisboa a convocarem uma marcha de protesto para 7 de Fevereiro.
Apesar de proibida pelo Governo Provisório de PPD, PS e PCP e pelo Governo Civil, o apelo à manifestação, contra o desemprego e contra a presença da NATO, recebeu o apoio de inúmeras organizações partidárias e comissões de trabalhadores e a condenação do PCP, do PS e da Intersindical.
Mas realizou-se. Partiu do Terreiro do Paço e no Marquês de Pombal foi travada por uma força de intervenção dos comandos, equipada com carros de combate e metralhadoras, para impedir que os manifestantes acedessem à Avenida do Duque de Loulé onde então ficava a embaixada dos Estados Unidos. No entanto, quando se anunciava uma confrontação violenta, um major do COPCON mandou afastar os chaimites e abrir caminho.
Seguiu-se depois para o Ministério do Trabalho na Praça de Londres, onde havia uma nova barragem de militares. Mas estes puseram as armas em posição de descanso e aderiram à manifestação de punho erguido enquanto gritavam: «Soldados
e marinheiros também são explorados!» e «Viva a classe operária!». Teve então lugar um acalorado comício e passava da meia-noite quando tudo terminou, cinco horas depois de ter começado, naquilo que foi considerado «um poderoso grito de revolta contra o desemprego, o capitalismo e o imperialismo».
Difícil acreditar neste ano da graça de 2016? Pois, mas era assim.
Difícil acreditar neste ano da graça de 2016? Pois, mas era assim.
Fonte e mais detalhes.
Notícia aqui e aqui.
[Republicação modificada] .
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Gréco festeja hoje os 89 anos
Juliette Gréco faz hoje 89 anos e festeja-os no palco do Théâtre de Ville de Paris, num concerto que se inscreve no seu adeus a uma carreira que começou em 1949. Adeus esse iniciado há quase um ano e que ela parece não ter grande pressa em terminar.
Apagar as 89 velas em cena é «mágico e inesperado», porque já devia ter morrido há muito tempo - disse a artista numa homenagem que lhe foi prestada há dois dias no Museu do Louvre.
Volta a exibir-se em Paris no mês de Abril, tem espectáculos programados para o Japão e para a Grã-Bretanha em Junho – realmente sem pressa de «recolher»…
(Mais informações aqui.)
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