8.2.16

Evitar o conflito



«Ao contrário de Matteo Renzi que confronta directamente Berlim e Bruxelas, António Costa preferiu evitar conflitos. Ou, pelo menos, escondê-los na escuridão. Costa não precisa de escaramuças com Bruxelas, com as agências de "rating" ou com o PCP e o BE. Porque elas poderiam determinar uma derrota humilhante. Especialmente com a "nomenklatura" europeia. Quer derrotar, a prazo, o inimigo sem guerrear. Ou lutar só quando tiver a certeza de ganhar. Este OE é, por isso, político.

Pode-se argumentar que, em Bruxelas, Costa deixou cair medidas emblemáticas. Deixou. E que, em Portugal, cedeu a pedidos duvidosos do BE e do PCP. Mas essa é a táctica que tem de ceder à sua estratégia mais global. Costa quer definir o tempo das grandes batalhas quando estiver seguro de as vencer. Há, claramente, um corte com o tempo da idade das trevas de Passos Coelho. A defesa do Estado social e dos que menos têm está no coração deste OE. Mas nele vão ser ainda os consumidores a pagar tudo. A gritaria dos que defendem que tudo tem de ser feito como Bruxelas deseja, mostrando a noção que têm de soberania nacional, era dispensável. Este é um OE minado, por dentro e por fora. Mas é um pequeno passo de mudança de narrativa, de determinação de um futuro diferente que não seja a acomodação dos países às necessidades alemãs. Costa não vence nem é vencido. Mas quer ganhar a narrativa do futuro. Sem conflitos madrugadores.»

Fernando Sobral

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