A propósito da seguinte notícia: «Função Pública: Frente Comum exige suspensão de SIADAP e fim das quotas na progressão da carreira»Aproveito para continuar o debate sobre "Professores, os nossos super-heróis?"
(1) e
(2). A certa altura, “ameacei” que acrescentaria algo sobre Carreiras, pois aqui vai:
No léxico da Gestão de Recursos Humanos (RH) é comum definir Carreira como uma sequência de conteúdos funcionais. É uma definição muito fria, aparentemente demasiado tecnocrática, mas de conteúdo apreciável: (1) sendo uma sequência, pressupõe continuidade, coerência, e consistência; (2) além disso, sugere algum conjunto de regras que normalizam a passagem de cada estado (nível) ao seguinte; (3) se tem conteúdos funcionais, é porque se relaciona com funções, as enquadra, determina de responsabilidades objectivas.
Como as empresas (organizações estruturadas, dotadas de meios, e perseguindo um conjunto de resultados comum) não existem para o desperdício, mas sim para a geração de valor (valor em sentido lato, claro), as Carreiras dos profissionais que nelas operam devem reflectir estes requisitos e estes propósitos. Em linguagem corrente diz-se que todo os meios de que as organizações dispõem devem ser “affordable”, ou seja, possíveis, suportáveis, justificáveis, adequados, etc.
E é aqui que quero chegar: (1) Só faz sentido manter carreiras que justifiquem as necessidades das organizações; (2) Faz todo o sentido alterar conteúdos funcionais quando as estratégias mudam, ou adequam as tácticas às circunstâncias; (3) A quantidade de meios (nomeadamente efectivos humanos) deve reflectir as necessidades conjunturais, sob pena de fatal desalinhamento da oferta com a procura.
Tenho sérias dificuldades em distinguir esta aproximação do que vulgarmente se designa por quotas. De facto, o número de efectivos por Nível de cada Carreira tem se ser “affordable”. Se assim não for, todo o equilíbrio, e sobrevivência, da organização corre o risco de ser posto em causa, e caminhar para o desastre. Isto interessa aos trabalhadores? É uma questão que só diz respeito ao patronato e aos dirigentes?
Nunca fui sindicalista, mas durante quase quatro décadas fui sindicalizado. Nunca entendi as razões que levam os sindicatos a se mostrarem “mais contra o patronato, do que a favor dos trabalhadores”, e sempre me questionei se esta não será a razão mais importante porque tantos trabalhadores não são sindicalizados, não participam em acções sindicais de esclarecimento, de orientação e formação profissionais, e até escarnecem dos “seus” sindicatos.
O mundo está em grande convulsão. O discurso e as práticas sindicais devem adaptar-se às novas realidades.
Não se trata de capitulação. Trata-se de rever as estratégias e os comportamentos que melhor garantam os interesses de quem trabalha por conta de outrem.
E a adequação do discurso é uma peça crucial.
Parece-me.