Há cerca de dois meses, um sindicato denunciou que os 44 médicos cubanos que, em Agosto do ano passado, chegaram ao Alentejo ao abrigo de um contrato entre o governo português e o governo cubano, eram objecto de descriminações em termos de horários de trabalho e de remunerações.
O assunto foi agora retomado. Aparentemente, ninguém quer dizer quanto é que Portugal paga (entrevistas sobre o assunto estarão mesmo proibidas), mas supõe-se que cada médico receba 500 euros por mês (com instalação e transportes garantidos). Segundo várias fontes, o Estado português desembolsa 2.500 euros, dos quais a família do médico recebe 15 - o resto vai para os cofres cubanos.
Mas, pelo menos tão surpreendente como o facto em si, é o que diz o embaixador de Cuba em Portugal e sobretudo os termos em que o faz: a vinda de «médicos de um país socialista», pobre e sujeito ao bloqueio que é conhecido, insere-se num contexto de «exportação de serviços médicos», já que a crise mundial diminui as receitas «da exportação do rum, do açúcar e dos charutos».
Serei demasiado sensível, mas acho esta verdade, nua e crua, uma brutalidade. Admitindo até que para os cubanos se sintam mais felizes em Vila Nova de Milfontes do que em Cienfuegos, exporta-se trabalho de pessoas (com «lucro» considerável), porque o mundo tem menos dinheiro para comprar charutos e rum? O que pensará um destes médicos cubanos que sabe quanto ganha um colega espanhol, imigrante como ele e exactamente com a mesma função? Revolta? Aceitação com fatalismo?
E qual é o papel do governo português no meio de tudo isto? Utiliza o governo dos irmãos Castro como uma Manpower que paga salários mais ou menos miseráveis e fica com uma percentagem choruda?
Não entendo nem o «socialismo» do lado de lá, nem o da banda de cá…
O assunto foi agora retomado. Aparentemente, ninguém quer dizer quanto é que Portugal paga (entrevistas sobre o assunto estarão mesmo proibidas), mas supõe-se que cada médico receba 500 euros por mês (com instalação e transportes garantidos). Segundo várias fontes, o Estado português desembolsa 2.500 euros, dos quais a família do médico recebe 15 - o resto vai para os cofres cubanos.
Mas, pelo menos tão surpreendente como o facto em si, é o que diz o embaixador de Cuba em Portugal e sobretudo os termos em que o faz: a vinda de «médicos de um país socialista», pobre e sujeito ao bloqueio que é conhecido, insere-se num contexto de «exportação de serviços médicos», já que a crise mundial diminui as receitas «da exportação do rum, do açúcar e dos charutos».
Serei demasiado sensível, mas acho esta verdade, nua e crua, uma brutalidade. Admitindo até que para os cubanos se sintam mais felizes em Vila Nova de Milfontes do que em Cienfuegos, exporta-se trabalho de pessoas (com «lucro» considerável), porque o mundo tem menos dinheiro para comprar charutos e rum? O que pensará um destes médicos cubanos que sabe quanto ganha um colega espanhol, imigrante como ele e exactamente com a mesma função? Revolta? Aceitação com fatalismo?
E qual é o papel do governo português no meio de tudo isto? Utiliza o governo dos irmãos Castro como uma Manpower que paga salários mais ou menos miseráveis e fica com uma percentagem choruda?
Não entendo nem o «socialismo» do lado de lá, nem o da banda de cá…
7 comments:
De facto, exportar pessoas, licenciadas em Medicina, como quem exporta charutos ou rum, é algo inaceitável.
E neste caso, todos conseguem ficar mal, Portugal, Cuba e os desgraçados dos médicos Cubanos que mereciam outro respeito.
E em tom de aparte, deixe-me que lhe diga que Vila Nova de Milfontes bem precisava duns médicos Cubanos.
Palavra de Milfontense !
Não falei de VNMfontes por acaso - li uns testemunhos de pessoas que diziam isso mesmo.
Joana, é trabalho escravo. E o silêncio dos democratas?
O silêncio dos democratas é um pavor, Luís. Tudo passou a ser banal.
inacreditável que aconteça em Portugal
Há uns anos, na costa vicentina, havia pessoal de enfermagem alemão mal-pago e sem contrato certo. Vão desculpar-me, mas a mim dói-me no corpo mais próximo: dói-me que o Estado português ande à procura de pechinchas e aceite ter trabalhadores a fazer o mesmo por preços diferentes, à custa da nacionalidade. Bons exemplos.
Inês, tanto quanto percebo, o governo português aqui nem poupa, já que pagará a Cuba o que pagaria cá a um médico português. Mas aceita colaborar numa negociata que, como o Luís Januário disse num comentário mais acima, é uma forma de escravatura - mais sofisticada, é certo, porque há 100 CONTOS/mês (= 17 euros/dia) para comer, vestir, lazer, etc., etc.
Enviar um comentário