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5.5.20

Onde param os admiradores portugueses de Bolsonaro?



«Tudo se passou há menos de dois anos. Paulo Portas, já comentador, não via nada "eticamente reprovável" em Bolsonaro e considerava exageradas as acusações de ultraliberalismo. Nuno Melo, sempre enraivecido, desdobrou-se na defesa de Bolsonaro. Assunção Cristas não via diferenças entre o candidato democrático Haddad e este extremista de Direita. Santana Lopes chegou ao ponto de escrever-lhe uma carta de felicitações pela eleição. Carlos Peixoto, deputado do PSD, estava certo que o exercício do poder levaria Bolsonaro "à moderação e ao pragmatismo". Luís Nobre Guedes, do CDS, declarou que, se pudesse, votaria nele. André Ventura, do Chega, encantava-se com "essa frescura de pensamento que os liberais ocidentais podiam aprender com Bolsonaro".

As razões que levaram à eleição de Bolsonaro são complexas. Vão das campanhas de mentiras e desinformação, à pobreza e desgaste do Governo anterior. Mas, para que a história não se apague, é justo perguntar por todos, estes e outros, que, em Portugal, se dedicaram a banalizar a figura e, com ele, as políticas monstruosas que sempre anunciou a quem o tivesse ouvido.

Imagine-se a viver num país com 200 milhões de habitantes, onde 50 milhões são pobres, 13 milhões vivem em favelas sobrelotadas e o acesso à saúde é um privilégio para quem tem meios. Seria um contexto assustador para viver uma pandemia como a covid, não é? Imagine agora que, por decisão do Governo do seu país, os serviços públicos de água, alimentação, habitação, saneamento e saúde tenham sofrido cortes que, segundo a ONU, "violaram os padrões internacionais de direitos humanos". Imagine que o presidente desse Governo usa o tempo de antena disponível para convencer a população que a covid não existe, que não passa de uma gripezinha, uma doença de velhos e fracos. Sentir-se-ia seguro? E se esse presidente se opusesse ao confinamento social para manter a economia em pleno? Se despedisse o ministro da Saúde por causa dessa divergência, ou entrasse em conflito com governadores locais que impusessem algumas regras básicas de saúde pública. Confiaria nas autoridades? E em estatísticas oficiais? E se soubesse que esse seu país testava menos gente que países 20 vezes menores? Teria estômago para saber que há cadáveres a amontoarem-se em hospitais depauperados?

Perante mais de mil mortos num só dia, esta figura, que não levantou estranheza a figuras centrais da Direita portuguesa, responde: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres". Alguns direitistas portugueses podem ter-se encantado com a eleição do extremista brasileiro, mas aposto que nenhum gostaria de viver a pandemia no país de Jair Bolsonaro.»

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4.7.07

Novo blogue – Uma extensão do «Brumas»

Quando há alguns dias publiquei este post sobre as eleições de 1958 e a campanha de Humberto Delgado, alguém me perguntou onde poderia encontrar o texto da carta que o Bispo do Porto escreveu a Salazar em Julho de 1958, precisamente ainda na refrega das referidas eleições.

Lembrei-me então que tinha em formato digital não só esse texto como alguns outros que me «sobraram» de Apêndices, que não chegaram a sê-lo, do meu livro Entre as Brumas da Memória. Resolvi disponibilizá-los na net, não aqui mas num outro blogue, criado para o efeito: Entre os textos da memória.

Esse novo blogue:
• não terá «vida própria», ou seja, todos os posts serão anunciados / iniciados aqui;
• não terá actualização regular - «a ver vamos»;
• não se restringirá a textos relacionados com o meu livro.

Já a seguir, um post sobre a Carta do Bispo do Porto a Salazar (1958).

2.6.07

Lançamento do «Brumas» em Coimbra (II)

No post anterior a este, deixei algumas fotografias e remeti para um outro blogue onde foi feita uma apreciação da sessão por um dos participantes.

Só mais algumas considerações.
Tratou-se de um evento substancialmente diferente do seu correspondente em Lisboa, que teve lugar no passado dia 20 de Março.
Desde logo para mim: enquanto que em Coimbra eu só conhecia uma pessoa (o José Dias), em Lisboa tanto os dois apresentadores (Nuno Teotónio Pereira e José Manuel Galvão Teles) como a maioria esmagadora das pessoas que constituíam a plateia tinham sido protagonistas das histórias comigo vividas e contadas no livro, ou com elas muito aparentadas.
Além disso, o próprio esquema da sessão foi diferente já que, em Coimbra, se dedicou uma hora a perguntas e respostas o que, na prática, proporcionou uma troca de impressões muito interessante e sem peias, que até testemunhos pessoais incluiu. Saí de lá mais esclarecida, nomeadamente sobre algumas diferenças de comportamento, tipicamente geracionais, entre os chamados «católicos progressistas» da década de 60 e os seus correspondentes deste início do séc. XXI. Talvez com uma linguagem um tanto cifrada para quem nunca andou pelas catolicidades (as minhas desculpas pela parte que me toca...), mas tratou-se de um serão muito gratificante.

Quanto às intervenções iniciais, a do José Dias, mais ou menos improvisada, teve o seu cunho pessoal característico, muito incisivo e com grande sentido de humor. Recordou vivências passadas, nomeadamente algumas especificamente relacionadas com Coimbra.






Rui Bebiano leu um texto que, pelo seu valor e precisão, aqui deixo na íntegra.

Intervenção na apresentação de «Entre as Brumas da Memória - Os Católicos Portugueses e a Ditadura», de Joana Lopes
Rui Bebiano
(Livraria Almedina, Coimbra – 31 de Maio de 2007)

Todas as revoluções mostram o tempo que as antecedeu como um tempo de combate directo entre o bem e o mal, e a nossa historiografia do imediato pós-Abril não constituiu uma excepção. Durante um colóquio sobre o fascismo em Portugal organizado em Março de 1980, diversos intervenientes destacaram o conteúdo de classe e o carácter monolítico do regime salazarista. A oposição, pelo seu lado, surgia também essencialmente como um bloco, constituído, refiro a expressão tantas vezes repetida, pelos «comunistas e outros democratas». Num país retratado a preto e branco, parecia fácil distinguir os bons e dos maus.

Hoje sabemos que não era tanto assim. A partir do final da 2ª. Guerra Mundial, o poder passou a sofrer diversas clivagens, algumas delas irreversíveis, ao mesmo tempo que a oposição, após o desaparecimento dos «republicanos» da primeira geração, ia integrando grupos crescentemente diversificados. O PCP permanecia, sem sombra de dúvida, o mais activo, o mais organizado, e aquele em relação ao qual a repressão se mostrava menos condescendente, mas outros sectores de opinião iam ganhando autonomia e capacidade de intervenção. A sociedade, essa também se tornava cada vez mais complexa, particularmente no que respeita à definição da classe média em crescimento, de uma cultura juvenil que rejeitava os valores e a estética do regime, de um número crescente de trabalhadores que desprezavam o discurso corporativista, e de estudantes e intelectuais, muitos deles sem partido ou sequer militância, que em comum tendiam a demonstrar uma rejeição visceral do modelo político e cultural do Estado Novo.

A partir dos inícios da década de 1990, começou, todavia, a conhecer-se um pouco melhor esse país que se ia erguendo à margem do Portugal de Salazar e dos chamados «valores de Braga». Esse «outro Portugal» para o qual Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, o Trabalho, não constituíam valores absolutos, mas estavam condicionados a um tempo de mudança que transcendia até próprias fronteiras do país. A fase de decadência do Estado Novo, afirmada ao longo do período que mediou sensivelmente entre os anos de 1958 e de 1974, teve como pano de fundo o cenário complexo e em permanente construção que se afastava de uma vez por todas desse «doce viver habitualmente» que Salazar ambicionara instalar para todo o sempre.

Uma parte muito importante desse mundo é abordada – pela primeira vez de uma forma sistemática – neste livro de Joana Lopes. Refiro-me àquele sector que a esquerda de formação marxista designava então como os «católicos progressistas» – termo que os próprios rejeitavam por definir uma concepção do tempo histórico que não partilhavam – e cuja actividade, pela intervenção das censuras, permanecia invisível para a larga maioria dos portugueses.

Pelos inícios da década de 1970 – não se importarão que agora integre aqui um breve testemunho pessoal – eu pertencia a um grupo de jovens activistas da esquerda radical, que se julgava bastante bem informado e acreditava conhecer perfeitamente o país e os seus ritmos de mudança, mas para o qual, no entanto, os nossos «católicos progressistas» não passavam de um punhado pessoas, sem dúvida simpáticas, talvez tão idealistas como nós, mas que considerávamos um pouco excêntricas, sem os pés assentes na terra, e, acima de tudo, sem uma percepção clara dos caminhos do país e do mundo, que ainda considerávamos dotados de um sentido histórico inevitável.

E, todavia, este livro vem hoje mostrar-nos o quanto enganados andávamos nós.

Desde logo por revelar uma dimensão da esquerda católica que contraria a falsa ideia de acordo com a qual os seus activistas não passavam de um punhado de pessoas que apenas apareciam, como flores decorativas, em um ou outro momento do combate anti-salazarista. Olhamos para este livro e vemos como nele se aborda, por exemplo, o posicionamento dos católicos portugueses perante a presença de Paulo VI na Índia e em Fátima, na altura para consternação destes sectores renovadores, ou a intensa participação em episódios como a fundação da revista O Tempo e o Modo, a criação das cooperativas Pragma e Confronto, o debate em redor do encerramento do Concílio, o lançamento das publicações de opinião crítica Direito à Informação, Concilium, Cadernos Socialistas No. 3, Tribuna Livre e Cadernos GEDOC, a «tomada a partir de dentro» da Acção Católica, a participação portuguesa no II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos, a comemoração do Dia da Paz em 1968, a agitação em redor do caso Padre Felicidade Alves, a revitalização do Centro Nacional de Cultura, a participação nas listas oposicionistas da CDE e da CEUD em 1969. Para além da vasta actividade em colóquios e reuniões de reflexão disseminada por diversos núcleos de padres e de leigos. Para não falar da resistência diária contra aqueles que, constituindo a maioria da hierarquia da Igreja católica portuguesa e mantendo uma relação de cumplicidade com o poder e com o catolicismo pós-tridentino, se manifestavam abertamente contra os ventos que sopravam do Concílio Vaticano II, sobretudo contra esse aggiornamento que pretendia afirmar um espírito de abertura à mudança, ao outro e à modernidade.

Observamos tudo isto e vemos como, afinal, os católicos que se opunham ao regime eram bem mais numerosos e encontravam-se envolvidos em iniciativas bem mais centrais e decisivas, e dotadas também de um maior vigor cultural, do que a informação censurada e o sectarismo de alguns deixavam perceber, mesmo a sectores com os quais o seu combate partilhava alguns dos objectivos.

Ao mesmo tempo, foi também absolutamente central o espaço ocupado por esta oposição católica na divulgação de informações e de pontos de vista relacionados com a actividade dos movimentos emancipalistas das ex-colónias e com a guerra colonial. Aqui, aliás, o seu papel terá sido mesmo decisivo e julgo poder afirmar que a construção de um movimento de resistência à guerra colonial junto dos estudantes universitários e dos intelectuais teria sido muito mais difícil sem o apoio, e muitas vezes a informação obtida por vias que se encornavam vedadas à maioria, que chegavam através da rede de ligações internacionais que esta esquerda católica então mantinha. Recordo apenas a importância dos Cadernos Necessários, publicados no Porto mas que circularam de mão em mão por todo o país, bem como os já mencionados Cadernos GEDOC, o Direito à Informação e o Boletim Anti-Colonial.

Outro aspecto saliente prende-se com a importância decisiva que, na construção de uma corrente crítica da posição dominantemente conservadora da igreja católica portuguesa e no seu distanciamento em relação ao regime tiveram as mulheres. O que é particularmente notável conhecendo nós o papel subalternos originalmente atribuído pelo cristianismo às mulheres e, em especial, o lugar de dependência que, na sociedade portuguesa de então, a esmagadora maioria delas ainda detinha. Bem sei que o essencial desta actividade se distribuía pelas regiões de Lisboa e do Porto, e que tal seria muito mais difícil, por exemplo, em Coimbra, onde, em 1961, em redor da «Carta a uma Jovem Portuguesa» se teceram considerações que ainda chocaram profundamente os sectores conservadores mas que seriam perfeitamente banais, mesmo nessa época, numa cidade como Lisboa. Ainda assim, é assinalável este destaque da participação feminina, da qual, naturalmente, Joana Lopes representa um excelente exemplo.

Aquilo que ela faz neste livro, a partir da sua própria memória, das recordações das pessoas que contactou e da investigação que foi desenvolvendo, foi, pois, relembrar a actividade intensa e subavaliada destes sectores.

Diz-nos a autora, logo de início, que considera não ser este um livro de História («não sou historiadora nem pretendo parecê-lo», escreve a dado passo), mas apenas «um livro de histórias». Não posso discordar mais da sua despretensão. Porque, de facto, procedeu a um levantamento completo das grandes causas e dos momentos centrais da luta, difícil e prolongada, na qual participou. Um trabalho que não se encontrava feito, que passa agora a estar disponível para todos os interessados, e que retira do silêncio aquilo que durante tempo de mais se manteve opaco. E a História, relembrando uma evidência, é feita em primeiro lugar de fragmentos do passado.

Por outro lado, ao assumir o carácter pessoal de muitos dos testemunhos dos quais se serviu, praticou um esforço de recuperação memorialista que é, cada vez mais, indispensável para o conhecimento da nossa história recente. Neste sentido – e integrando também, naquilo que este livro pode oferecer, os documentos transcritos em anexo – oferece-nos um conjunto de ferramentas de uma enorme utilidade. Como tive já a oportunidade de escrever, Joana Lopes pode não ser historiadora de profissão, mas este é, sem sombra de dúvida, um livro para a História.

Não quero terminar sem declarar uma expectativa. A história da esquerda radical em Portugal encontra-se ainda por fazer. Só agora estão a começar a aparecer os primeiros estudos, e ainda assim apenas no que diz respeito ao período que antecede o 25 de Abril. Os «anos de brasa» de 1974-1975 e o período de recuo no terreno das grandes utopias igualitárias que se lhe seguiu, continua, em larga medida, por redescobrir. E, todavia, muitos projectos, muitos caminhos, muitas discussões acaloradas, muitas reuniões até altas horas, muitas expectativas e desilusões se viveram então. Eles são parte integrante da nossa história recente e, tal como a parte do passado que este livro tão bem tratou, também eles devem escapar ao esquecimento. Sabendo nós quantos católicos e ex-católicos participaram desse universo – uma concepção igualitária, redentora e messiânica da sociedade havia-os aproximado de posições mais radicais – e sabendo nós também, pois di-lo neste livro, que Joana Lopes foi também um deles, não terá ela vontade de nos ajudar a restabelecer esse elo?

Este volume, nada nostálgico, mas emotivo, e por vezes optimista, agora incontornável para quem pretenda conhecer a complexidade da oposição política e cultural nos últimos quinze anos do Estado Novo, parece prometer-nos mais.

1.6.07

Lançamento do «Brumas» em Coimbra


A sessão teve lugar na Livraria Almedina Estádio, em Coimbra, no dia 31 de Maio e foi organizada pela Âmbar e por «Ideias Concertadas». Na sua origem, esteve uma iniciativa de um velho amigo - o José Dias -, como sempre inexcedível em dinamismo e simpatia.

Darei em breve notícias mais pormenorizadas. Por hoje, ficam algumas forografias.

Entretanto, o João Tunes (que se apresentou como «um beduíno que se deslocou propositadamente do Seixal a Coimbra»), já publicou um excelente texto sobre a sessão, que muito agradeço e cuja leitura recomendo.

Rui Bebiano, Joana Lopes, António J. Silva (Ideias Concertadas),
Marta Morais (Âmbar), José Dias


João Tunes e Manuela Cruzeiro


Com José Manuel Pureza


Com João Tunes e Rui Bebiano
(Encontrámo-nos pela primeira vez.
Só nos conhecíamos por frequentes contactos na blogosfera...)

27.5.07

As histórias dos católicos progressistas num "passado [que] deixou marcas"

(Texto publicado aqui)

A livraria Almedina Estádio apresenta “Entre as Brumas da Memória”, da autoria de Joana Lopes, numa sessão que terá lugar em Coimbra, no dia 31 de Maio (Quinta-feira), às 21h15, e contará com a apresentação de Rui Bebiano, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e José Dias, presidente do Conselho da Cidade de Coimbra.

“Entre as Brumas da Memória”, livro publicado pela Ambar este ano, retrata o papel que as elites católicas tiveram na luta contra o regime fascista vigente em Portugal, durante a década de 60. É indiscutível que a maioria dessas elites se identificou com os posicionamentos do salazarismo. Mas poucos sabem que foi crescendo na altura o número dos que, de dentro da Igreja, se opuseram ao regime e o afirmaram cada vez mais claramente. É sobre essa organização informal e as suas iniciativas que Joana Lopes escolheu escrever.

Em 1963/1964, os efeitos do Concílio Vaticano II – um dos grandes motores da abertura da Igreja - começam a fazer-se sentir. O conservadorismo da Igreja portuguesa, a ausência de liberdades elementares e a manutenção da guerra colonial deixam parte dos Portugueses descontentes com o regime vigente. Movimentos de contestação aparecem. O dos “católicos progressistas” é um deles.

Apesar de a acção dos católicos da oposição nas últimas décadas da ditadura já ter sido objecto de algumas publicações, Joana Lopes decidiu dar a essa luta uma abordagem mais aprofundada, dando conta da dimensão do movimento, em termos de número de iniciativas e de pessoas envolvidas. “Poucos dos que protagonizaram [essas iniciativas] têm parado para as descrever”, argumenta a autora. Resolveu então fixar no papel o que aconteceu. “(…) Cresceu em mim o desejo de contar algumas histórias, pouco conhecidas ou já esquecidas, de um vasto conjunto de pessoas (…), que viveram intensamente os últimos anos do salazarismo e o início do marcelismo acreditando que a pertença a uma comunidade de católicos e muitas iniciativas que foram tendo - em parte por causa dessa pertença - podiam ajudar a Igreja a renovar¬ se e Portugal a sair do fascismo. Muitas dessas pessoas, nas quais me incluo, há muito que deixaram a Igreja. Mas o passado deixou marcas”, explica Joana Lopes.

Até ao fim da década de 60 – época em que se desenrolaram os acontecimentos abordados neste livro –, Joana Lopes participou activamente em várias organizações e iniciativas dos que ficaram conhecidos como «católicos progressistas». Contudo, “Entre as Brumas da Memória” não é uma autobiografia nem um livro de história, mas sim um “livro de histórias” para os que “ignoravam que alguns dos seus conterrâneos não se limitaram a viver tranquilamente sob o manto, protector e único, do Estado Novo e da Igreja portuguesa” e também “[para] os nossos filhos, que nasceram ou atingiram a idade adulta já em democracia, [e que] pouco sabem de tudo isto e têm talvez o direito de saber”, conclui a autora.

Joana Lopes nasceu em 1938 em Lourenço Marques (actual Maputo, capital de Moçambique) e é licenciada em Filosofia pela Universidade de Lovaina (Bélgica), onde também se doutorou em Lógica Matemática.

23.5.07

Feira do Livro de Lisboa

No próximo Sábado, dia 26, a partir das 21h, estarei no stand da Âmbar (pavilhões 114 e 115).
Se alguém quiser aparecer por lá, será um prazer.

19.4.07

As Bruxas da Memória

Texto de Fernando Penim Redondo

(também publicado em http://dotecome.blogspot.com)

Fernando Penim Redondo desenvolveu a sua actividade profissional no domínio dos Sistemas de Informação, nomeadamente na IBM. Publicou, juntamente com Mª Rosa Redondo, Do Capitalismo para o Digitalismo ( Campo das Letras, 2003). Actualmente, é um fotógrafo exímio e um cibernauta compulsivo.Foi membro do PCP durante 27 anos.

Nasci numa família um pouco esquizofrénica no plano religioso.Por um lado o meu pai era, e ainda é aos 94 anos, profundamente anticlerical. Por outro, a minha mãe foi praticando abnegadamente o catolicismo até que, depois do 25 de Abril e com mais de 60 anos, se afastou irremediavelmente da igreja.

Eu, levado pela minha mãe desde muito cedo, frequentei as missas e só nos meus dezasseis anos me "zanguei" com a igreja sob o pretexto das perguntas indiscretas, e insistentes, durante a confissão dos meus ingénuos "pecados sexuais".

A maravilhosa disponibilidade da adolescência levou-me directamente da admiração pelas realizações do Salazar, descritas ao pormenor no Diário de Notícias, para a militância clandestina no PCP, em 1966. Devo isso a alguns amigos que me acompanharam, e acompanham, ao longo da vida.

Vem isto a propósito do livro da Joana,"As Brumas da Memória", para que se perceba por que vou dizer aquilo que vou dizer.

A juventude é dada aos fanatismos e eu, confesso, pensei durante muito tempo que os fanatismos se dividiam entre os bons, que eram os nossos, e os maus que eram os dos outros. No caso dos católicos progressistas a imagem que eu tinha, na minha fase militante da juventude, era mais a dos equivocados que embora subordinados a um fanatismo dos maus queriam "dourar a pílula" com uns "tagatés" ao contrário.

Uma vez ou outra o funcionário do Partido com que na altura me encontrava lá mencionava uma vigília qualquer, como quem diz "não estamos sós", mas a coisa tinha um certo ar folclórico quando comparada com as elaboradas técnicas conspirativas que nós praticávamos.

Só muito mais tarde a vida me ensinou a abominar os fanatismos todos. O meu problema agora é cuidar, todos os dias, de não os abominar fanáticamente.

Tal como os vírus que habitam, sem consequências, os nossos corpos também o fanatismo, nas suas várias formas, pode permanecer inócuo. Em determinadas circunstâncias degenera em formas agudas de imposição aos outros de "verdades inquestionáveis". A cadeia de raciocínios é simples: se a "verdade" é inquestionável torna-se incompreensível que alguém a não queira ou que a ela resista; essa recusa da "verdade" indicia incapacidade ou perfídia; em qualquer dos casos, como a "verdade" é inquestionavelmente favorável, resulta legítimo impô-la aos relapsos mesmo contra a sua vontade.

O facto de rejeitarmos o fanatismo não significa que devamos rejeitar a adesão a ideais, ideologias, misticismos ou utopias. Significa, isso sim, a adopção da relatividade e falibilidade dos julgamentos humanos que reserve para casos extremos, prementes e inevitáveis, a substituição da persuasão pelo uso da violência física ou intelectual.

Talvez por tudo isto penso que a Joana escreveu o livro no tempo certo; pelo que vai no mundo, porque há uma geração que começa a despedir-se e, para além de tudo o mais, porque só agora eu já estou em condições de o ler.

Se tivesse escrito antes talvez eu não fosse capaz de apreciar a hábil mistura de marcantes experiências pessoais, episódios pitorescos e verdadeiros "factos históricos".

Talvez a ternura com que os leio não tivesse sido possível.

18.4.07

Brumas

Texto de Júlia Matos Silva
Depois de trabalhar quase trinta anos na IBM, Júlia Matos Silva dedicou-se à realização de um projecto de reinserção social no Casal Ventoso. Actualmente é escritora, tendo ganho o «Prémio Miguel Torga Cidade de Coimbra 2000» pelo seu romance A Noite Americana (Palimage, 2001).

Tenho uma forte relação de amizade e cumplicidade com a Joana Lopes, desde o início dos anos 70. Não posso deixar de espelhar aqui o meu apreço pelo seu livro «Entre as Brumas da Memória – Os católicos portugueses e a ditadura», não só pela relevância das matérias tratadas, mas também pela qualidade e clareza da sua escrita.

Foi com grande entusiasmo e curiosidade que acompanhei o projecto da Joana. Num tempo em que a ideologia dos tempos livres arrasta as pessoas para a voragem dos prazeres que ajudam a derrotar o tempo, é gratificante encontrar alguém que se empenha em transmitir o testemunho de uma fase importante do seu passado individual e colectivo.

Em primeiro lugar, interessa salientar que a Joana soube aproveitar «o espaço mental e afectivo» que a vida lhe proporcionou para encontrar o tempo de nos revelar marcas relevantes da história da oposição ao regime salazarista, na década de 60.

Interessa ainda enaltecer a clarividência e rigor que depositou na missão difícil e sensível de «ilustrar com experiências e percursos colectivos», um importante período da luta dos católicos portugueses na oposição ao regime político vigente e às posições oficiais da Igreja Católica. Com este livro, católicos e não católicos devem congratular-se por lhes ser desvendada uma época histórica do seu próprio passado.

Assim que o livro me caiu nas mãos descobri uma nova luminosidade sobre uma época onde tantos combateram de diferentes formas a realidade mais incontornável que os cercava – a natureza arbitrária e desmerecida de um regime claustrofóbico e ditatorial.

Vivi com intenso afecto, a forma como ela própria se pensa e nos desvenda e ajuda a reflectir sobre uma esfera cultural e civilizacional à qual pertenci activamente, embora noutros moldes intelectuais, porque desprovida de convicções religiosas.

Senti, como se fosse minha, a dimensão simbólica do preço dos «íntimos e públicos sofrimentos» a que Pedro Tamen se refere quando, no prefácio, traça o movimento paradoxal da fidelidade a um grupo de pertença e nos alerta para a historicidade da trama dos acontecimentos e para o «aparente fim das histórias» sem fim. E eu sei como é perigoso sentir com muita intensidade… é perigoso para nós próprios e para aqueles que nos rodeiam!

A Joana Lopes consegue encontrar a exposição apropriada para revelar a singularidade dos eventos que narra, sabendo colocar-se, como dizia Jacques Derrida, no papel de «guardião de uma herança diferenciada, mas comum».

Para além de ressuscitar os acontecimentos, a escrita da Joana Lopes soube movimentar as memórias de um meio que, também ele, era tudo menos homogéneo. E soube acrescentar outras visões àqueles que, como eu, não caminhavam na proximidade espacial e temporal dos católicos.

Causou-me alguma inquietante perplexidade o facto de eu própria ter vivido aqueles tempos, com um desconhecimento fatal sobre a intensidade e o valor dos factos revelados neste livro. A minha condição de não crente talvez me tenha inibido de olhar para além do que era por mim (e por outros como eu) sentido e vivido naquela época, face ao meu país e ao mundo. O resultado das práticas religiosas e da consequente depauperação intelectual que eu via acontecer à minha volta, naquele tempo, não me permitiu descobrir a existência de tantas pessoas que lutavam dentro do sistema. Julgo mesmo que vivi numa era em que o fardo da vivência obscurantista nos fazia esquecer e até recusar o conhecimento teórico da existência de figuras da laicidade religiosa que, ao longo da história, lutaram pela justiça social.

Não posso deixar de confessar que, mesmo ainda hoje, da acção dos chamados católicos progressistas, eu apenas conhecia sobretudo a exigência utópica do episódio da «Capela do Rato», o papel do Centro Nacional de Cultura e de O tempo e o Modo, as posições individuais dos padres católicos e de alguns nomes significantes e o simbolismo vigoroso da figura do Bispo do Porto.

O condicionamento histórico e familiar do espaço emocional em que nasci, tão dominado pela observação osmótica da figura mítica de um pai agnóstico, anticlerical e anti-salazarista, nunca me conduziu à religiosidade em qualquer das suas formas e sempre me alertou ou protegeu contra o sistema de valores vigentes, religiosos e políticos.

Na minha infância e adolescência, o meu berço foi um nicho ecológico onde primava a luta contra um destino entorpecedor – tão largamente imposto pelas hierarquias políticas e religiosas e pelo sistema educativo (com a excepção rara de alguns professores notáveis). Assim, nas décadas de 40 e 50 e na cidade de província onde cresci, os meus pais fizeram questão de me aliviar das matérias de fé. Centraram a educação dos filhos em dois grandes pólos: despertar-lhes o gosto e o prazer pelas leituras múltiplas e apaixonantes e inculcar-lhes uma forte crença na mitologia activa da cultura humanista, despojada de uma ordem transcendente mas cheia de balizas éticas e morais.

De tudo isto, fiquei apta a acolher a alteridade do outro e a compreender que, em cada momento, esse outro é ele e a sua circunstância. Encontrei sobretudo as razões para compreender o homem na sua totalidade mais profunda quer ele seja habitado por um Deus ou por sucessivos Deuses dos Deuses ou viva os desígnios de um ateísmo militante.

E assim fui ficando até hoje, vivendo o desamparo da improbabilidade de Deus! George Steiner afirma que «o Deus da utopia é um deus cioso» ... e eu vivi, desde sempre, na teimosia de que o deus da minha utopia não tem Deus, tem apenas o homem e a sua própria morte.

E sei que sou, como a Joana, herdeira e sobrevivente de tantas coisas, boas e terríficas que preencheram a nossa geração.

17.4.07

Lista (inédita) dos nomes de 106 padres que pediram substituição do Cardeal Cerejeira por D. Manuel Falcão



Nas pp. 131-132 de Entre as Brumas da Memória..., pode ler-se o seguinte texto:

«No quarto trimestre de 1967, correram boatos insistentes segundo os quais Cerejeira, quase com oitenta anos, teria pedido ao papa exoneração do seu cargo de patriarca. Este facto esteve na origem de uma carta, datada de 25 de Dezembro de 1967, dirigida ao núncio apostólico e assinada por 106 padres (...). Depois de definirem o que lhes parecia dever ser o perfil do novo cardeal, e de invocarem várias razões para sugerirem o nome de D. Manuel Falcão, concluíram:

"Mais nos convence da oportunidade da sua escolha a isenção política que tem mostrado, num momento em que muitos cristãos e alguns dos sectores mais vivos da sociedade portuguesa se interrogam angustiosamente sobre o compromisso da Igreja com o actual regime político."

Entre as 106 assinaturas desta carta há, naturalmente, muitos dos que, mais tarde ou mais cedo, deixaram de ser padres. Mas não só: encontrei na lista nomes de pessoas que ainda hoje ocupam cargos de grande responsabilidade na Igreja, como, por exemplo, o de um bispo de uma das principais dioceses do país [actual bispo de Coimbra].»


No Anexo 13 do livro, é publicado o texto integral da carta, mas sem as assinaturas, por vontade expressa de quem então o pôs à minha disposição. Essa mesma pessoa tomou agora a iniciativa de me contactar, comunicando-me que reconsiderou e decidiu divulgar os nomes dos 106 subscritores.
Fico-lhe grata por esta contribuição que vem preencher uma lacuna, sublinhada, por exemplo, por José Pedro Castanheira, em artigo publicado no suplemento «Actual» do jornal Expresso (3/3/2007, p.16).

(D. Manuel Falcão era então bispo auxiliar de Lisboa, muito próximo dos chamados “católicos progressistas” e detestado por Salazar.)

106 assinaturas:
104 padres (um dos quais Cónego) e dois Diáconos

P. Abílio Franco
Cónego Abílio Tavares Cardoso
P. Abílio Vieira
P. Agostinho Gomes
P. Alberto Augusto Teixeira Dias
P. Alberto Neto Simões Dias
P. Albino Mamede Cleto
P. Alfredo Manuel Cerca
P. Amilcar Luís Fialho
P. António Antunes Ribeiro
P. António Augusto Sobral
P. António Cândido
P. António Crisóstomo
P. António de Jesus Soares Ferreira Onofre
P. António de Sousa Bento
P. António Dias Matos
P. António do Carmo Vicente
P. António Gonçalves Pedro
P. António Henrique Tomás de Oliveira
P. António José dos Santos
P. António José Paiva Afonso
P. António Manuel de Almeida Janela
P. António Marques Garcia
P. António Melo Cardoso
P. António Mendes Rocha
P. António Mendes Silva
P. António Rodrigues Correia
P. António Sobreiro
P. Armando da Silva Vieira
P. Armindo Marques Garcia
P. Artur José Nobre
P. Artur Lemos de Azevedo
P. Aurélio Marques Matos
P. Avelino Manuel Barata Pinto
P. Carlos Alberto Pessoa Paes
P. Carlos Capucho
P. Carlos Fernando Póvoa Alves
Diácono Carlos José Margaça Veiga
P. Carlos Leonel Pereira dos Santos
P. David de Pinho Esteves
P. Diamantino Henriques Marques
P. Domingos José Luís Morais
P. Elias Ferreira da Costa
P. Ernesto Arantes Rodrigues da Silva
P. Fernando António Tomás de Oliveira
P. Fernando Augusto Mendes Gonçalves
P. Fernando Campos da Silva
Diácono Fernando Matos Oliveira
P. Fernando da Piedade Melro
P. Fernando Ferreira Belo
P. Francisco de Jesus Graça
P. Francisco Escudeiro
P. Francisco Júlio Amorim Fanhais
P. Helder Veríssimo Franco
P. Henrique de Noronha Galvão
P. Henrique Pietra Torres
P. Herculano de Brito Martins
P. Hermenegildo Major Duarte
P. Ismael Nabais Gonçalves
P. Jacinto Gonçalves Pedro
P. Jaime da Silva
P. João António de Sousa
P. João Baptista Bragança Fernandes
P. João Fernandes Salvador Morais
P. João José Seabra Diniz
P. João Maria Baltasar Farinha
P. João Sousa Canilho
P. Joaquim da Conceição Duarte
P. Joaquim Ferreira Roque Abrantes
P. Joaquim Luís Batalha
P. Joaquim Rebelo dos Santos
P. José Augusto Pereira
P. José Carlos da Silva Sousa
P. José do Carmo Vicente
P. José dos Santos Bernardo Gonçalves
P. José Fialho Feliciano
P. José Gonçalves Mendes
P. José Maria Henriques
P. José Mendes Serrazina
P. José Miranda Magalhães
P. José Rodrigues Frade
P. José Rodrigues Paula
P. Júlio Pereira Ambrósio
P. Luís de Azevedo Mafra
P. Luís Filipe C. Gualdino
P. Luís Manuel Vítor dos Santos Moita
P. Manuel Álvaro da Silva Quintas
P. Manuel Alves
P. Manuel Aníbal Mota Sousa
P. Manuel Bernardo Nobre Soares
P. Manuel das Neves Afonso
P. Manuel Francisco Borges
P. Manuel Frango de Sousa
P. Manuel Luís
P. Manuel Martins
P. Manuel Tiago Monteiro Martins
P. Manuel Vieira
P. Manuel Vieira Felicidade
P. Manuel Vitorino da Silva Moreira Fernandes
P. Maximino Salvador
P. Orlando Leitão
P. Paulo da Trindade Ferreira
P. Ricardo Gameiro Lopes
P. Rodrigo Gouveia de Palma
P. Victor Manuel Casqueira Gualdino
P. Zacarias dos Santos Nascimento

14.4.07

Os católicos contra a ditadura: a vez da voz - um texto de Rui Bebiano


Só recentemente se começaram a reconhecer de um modo sistemático as formas da oposição ao salazarismo organizadas à margem da actividade do Partido Comunista ou dos seus aliados tácticos e companheiros de jornada. A capacidade de organização e a tenacidade combativa dos comunistas, associadas às consequências da demonização que deles fazia o regime anterior, contribuíram em larga medida para fazer passar à condição de figurantes as outras formas e os outros espaços de resistência. Sem questionar a importância decisiva do PCP no combate contra a ditadura, é preciso reconhecer que se encontra ainda por estudar, por exemplo, a definição de uma «oposição cultural» crescentemente alargada e diversificada ao longo dos últimos vinte anos do Estado Novo, capaz de definir vivências e imaginários alternativos traduzíveis numa desafectação crescente de parte importante da juventude universitária e urbana, dos sectores artísticos e intelectuais e de muitos elementos das profissões liberais e da classe média. Por sua vez, a dissidência individual, inevitavelmente menos notória, permanece em larga medida por reconhecer, se exceptuarmos referências pontuais surgidas neste ou naquele obituário, ou então em homenagens públicas mais ou menos tardias.
Os grupos organizados têm também permanecido quase na penumbra. A corrente socialista ainda não possui um estudo detalhado sobre a sua génese e desenvolvimento (um livro de Susana Martins constitui uma primeira tentativa). A esquerda radical só recentemente começou a ser objecto de estudo sistemático (principalmente com José Pacheco Pereira e Miguel Cardina), enquanto a actividade dos sectores católicos de oposição, apesar de recorrentemente mencionados e hoje publicamente «representados» na intensa acção cívica de muitos dos seus antigos activistas, continua por conhecer. Se exceptuarmos alguns textos de António Alçada Baptista e de João Bénard da Costa, a actividade do grupo tem sido recordada apenas em evocações episódicas, por vezes de pendor algo nostálgico, como aconteceu recentemente quando da comemoração dos quarenta anos da fundação da revista O Tempo e o Modo.
Um contributo novo e relevante para alterar este estado de coisas acaba, entretanto, de ser proporcionado por Joana Lopes, autora de Entre as brumas da memória. Os católicos portugueses e a ditadura, publicado pela Ambar. Logo no prefácio, Pedro Tamen chama a atenção para importância do papel histórico desses portugueses que «descobriram, no essencial, que ser católico não implicava apenas endossar um ideal confinado à parede dos templos (…), antes apontava imperativamente para uma intervenção no plano da vida da colectividade». Refere-se Tamen, naturalmente, aos chamados «católicos progressistas» – designação atribuída pela esquerda marxista que a maioria deles, aliás, rejeitava – os quais exprimiam na época uma atitude de crítica às posições conservadoras dominantes na Igreja portuguesa, de expectativa em relação às decisões do Concílio Vaticano II e de gradual distanciamento, em numerosos casos conduzido até à ruptura, em relação ao regime político vigente. Aquilo que Joana Lopes faz neste livro, a partir da sua própria memória e da investigação que a partir dela foi desenvolvendo – regressando aos acontecimentos nos quais participou, aos documentos que tão bem conheceu, a muitas das pessoas com as quais se cruzou –, foi relembrar a actividade intensa e um tanto subavaliada daqueles sectores.
A autora avisa, de início, que considera não ser este um livro de História («não sou historiadora nem pretendo parecê-lo»), mas tratar-se antes de «um livro de histórias e como tal deve ser lido» (p. 18). Não creio que devamos concordar com a sua modéstia. Torna-se evidente, é verdade, que Joana Lopes não produziu um estudo aprofundado e exaustivo de influências e de ideias, tal como não estudou, por exemplo, a articulação dos «católicos progressistas» com outros sectores de opinião, seja no campo da oposição política ao Estado Novo seja no que respeita aos sectores que se mantinham próximos deste. Mas procedeu a um levantamento muito completo das grandes causas e dos momentos centrais da luta, difícil e prolongada, na qual participou. Um trabalho que não se encontrava feito e que passa agora a estar disponível para todos os interessados. Por outro lado, ao assumir o carácter pessoal de muitos dos testemunhos dos quais se serviu, pratica um esforço memorialista que é, cada vez mais, indispensável para o desenvolvimento da nossa história recente. Neste sentido – e integrando também, naquilo que o livro pode oferecer, os importantes documentos transcritos como anexos – oferece-se aqui um conjunto de ferramentas de uma grande utilidade. Joana Lopes pode não ser historiadora, mas este é, sem dúvida, um livro para a História.
Nele se abordam factos e movimentos tão diversos como o lançamento da publicação Direito à Informação (1963-1969), o posicionamento dos católicos portugueses perante a presença de Paulo VI na Índia, na Assembleia-Geral da ONU e em Fátima (1964-1967), a fundação da revista O Tempo e o Modo (1963-1970, a 1ª série), a criação da cooperativa Pragma (1964), o encerramento do Concílio (1965), o lançamento da revista Concilium (1965-1969), a fundação da cooperativa Confronto (1966), a «tomada por dentro» da velha Acção Católica (1966), a participação portuguesa no II Congresso Mundial para o Apostolado dos Leigos (Roma, 1967), o lançamento dos Cadernos Socialistas No. 3 (1967), a comemoração do Dia da Paz (1968), o caso Pe. Felicidade Alves (1968), a criação do grupo de reflexão C43 (1968), a revitalização do Centro Nacional de Cultura (1968-1969), o lançamento da Tribuna Livre (1968-1969), a participação nas listas oposicionistas da CDE e da CEUD (1969) e a publicação dos Cadernos GEDOC (1969-1970). Para além da vasta actividade em colóquios e reuniões de reflexão de um amplo conjunto de padres e de leigos.
A visita de Paulo VI a Fátima é apresentada como um importante ponto de viragem, tendo constituído uma grande desilusão e significando, para muitos, o instante decisivo num processo de ruptura com a Igreja ou mesmo com a sua fé: «Foi estranho ver, a poucos metros de distância, Américo Tomás, Salazar, a irmã Lúcia e o Papa, quando desejávamos tanto que tudo aquilo não estivesse a acontecer, que não passasse de um simples pesadelo.» (p. 56) Neste contexto, o papel desmobilizador, ou mesmo de clara colaboração com a repressão, por parte de diversos responsáveis eclesiásticos, como o cardeal Cerejeira ou o padre Videira Pires, surge aqui como relevante e como um factor que os estudiosos da História da Igreja em Portugal não deveriam de modo algum omitir.
A dada altura, Joana Pires estabelece uma analogia, alargada à evolução experimentada na época abordada no livro pela Igreja Católica, que merece ser sublinhada. Entende que, durante o Concílio, também ela «arriscou uma glasnost, uma abertura à sua maneira», tendo então esboçado «um tímido aggiornamento». Todavia, «travou-o a tempo de não deixar que ele se transformasse em perestroika» (p. 167). A estrutura não cedeu; cederam apenas aqueles que a tinham procurado abanar. Esta perestroika fizeram-na muitos destes católicos já fora dessa Igreja. Alguns deles, reconstruindo a sua utopia nas fileiras de movimentos que, por formas diversas, com diferentes armas, procuravam interpretar uma outra ideia de Redenção. Sabe-o bem Joana Lopes, militante do PRP/BR quando chegou a madrugada do 25 de Abril.
Joana Lopes (2007), Entre as brumas da memória. Os católicos portugueses e a ditadura. Porto: Ambar. Prefácio de Pedro Tamen. 248 pp. [ISBN: 978-972-43-1203-3]

12.4.07

Lançamento do livro - 20/3/2007




Fotos cedidas por Fernando Penim Redondo

Católicos na oposição - um texto de José Pacheco Pereira

Publicado na revista Sábado, (15/3/2007, p.15)

A partir da segunda metade da década de sessenta do século XX, uma das fontes da resistência à ditadura foi a nova geração de jovens católicos “progressistas”, que queriam levar à prática a renovação que o Concílio Vaticano II tinha trazido. Desde muito cedo que as preocupações religiosas e eclesiais ficaram submersas pelas ideias políticas circulantes à volta do Maio de 1968, mas o momento inicial da ruptura com o regime ficou sempre marcado pela pertença a um credo confrontado com o mundo. O livro de Joana Lopes Entre as Brumas da Memória editado pela Âmbar, acrescenta-se a uma série de outras memórias e relatos de percursos de vida, como o de João Bénard da Costa, no retrato dos católicos “progressistas” na luta contra a ditadura. No entanto, estas memórias não se sobrepõem inteiramente, o que torna o relato de Joana Lopes um testemunho original. Enquanto na memorialística de Bénard da Costa, nos livros e ensaios sobre o Tempo e o Modo, a editora Moraes, o papel de António Alçada Batista, se relata o percurso de um sector que rapidamente e mais cedo se politiza em organizações que se viriam a revelar mais “moderadas” (o que tem que ser visto com um grão de sal a posteriori, porque o Movimento de Acção Revolucionária a que quase todos pertenceram pretendia-se “revolucionário”), o livro de Joana Lopes parte mais de dentro do interior da própria Igreja e das suas crises institucionais, da Acção Católica, do Seminário dos Olivais, do abandono das suas funções eclesiais de muitos padres, até chegar a movimentos radicais como a LUAR e o PRP-BR, mais determinados na acção violenta imediata do que os movimentos seus antecessores. Vale a pena lá encontrar a complexidade dos últimos anos da ditadura e a pluralidade da oposição, já bem longe da hegemonia comunista.

Texto também publicado em 16/3/2007, sob o título Para a história dos católicos na oposição em
http://estudossobrecomunismo2.wordpress.com/2007/03/16/para-a-historia-dos-catolicos-na-oposicao/

Do 'catolicismo progressista' à 'Acção Directa' - um texto de João P. Noronha

Publicado em
http://facaseluz.blogspot.com/ (6/3/2007)

A revista Actual do Expresso concede 3 páginas ao livro “Entre as Brumas da Memória – Os Católicos Portugueses e a Ditadura”, de Joana Lopes.

1 - De acordo com este artigo:
  • Os ‘cristãos progressistas’ sentiram-se interpelados pela Encíclica Pacem in Terris. Pretendiam “ajudar a Igreja a renovar-se e Portugal a sair do fascismo”.
  • Mas a visita de Paulo VI a Fátima e a publicação da “decepcionante encíclica «Humanae Vitae»” forçou estes ‘católicos progressistas’ a abandonarem a Igreja. A autora confessa que nesse momento: “a religião saiu da minha vida ou eu dela”.
  • Nalguns casos, na sequência da apostasia destes cristãos, muitos seguiram a via da violência revolucionária. O autor do artigo revela que:
    ”[a] deserção dos católicos progressistas, em muitos casos deu lugar a um intenso activismo político. Quase nunca no PCP, mas em organizações à sua esquerda, designadamente no futuro MES. A autora optou pela «acção directa» que caracterizou uma certa extrema-esquerda. Primeiro no LUAR, depois no PRP/BR, onde se encontrava no 25 de Abril. Nessa altura, porém, já «a laicidade tinha tomado definitivamente conta da minha existência»”

2 - Ou seja, a autora do livro viu as expectativas criadas pela Pacem in Terris goradas pela visita de Paulo VI a Fátima e pela publicação da Humanae Vitae. E, assim, viu-se forçada a abandonar a Igreja e a dedicar-se ao terrorismo. A culpa é da Igreja que não soube renovar-se. Tivesse a Igreja seguido a linha doutrinal proposta pelos progressistas, e a autora do livro não teria sido obrigada a dedicar-se à revolução.

3 - Mas este raciocínio é, no mínimo, estranho.

Eu estive a ler a Pacem in Terris, e nela só encontro apelos à paz, à concórdia e à participação construtiva dos católicos nas nossas sociedades modernas.

E o Papa João XXIII até adverte contra certos entusiasmos mais revolucionários e violentos:

”Não faltam almas dotadas de particular generosidade que, ao enfrentar situações pouco ou nada conformes com as exigências da justiça, se sentem arder no desejo de tudo renovar, deixando-se arrebatar por ímpeto tal, que até parecem propender para uma espécie de revolução.

Lembrem-se, porém, de que, por necessidade vital, tudo cresce gradualmente. Também nas instituições humanas nada se pode renovar, senão agindo de dentro, passo por passo. Já o nosso predecessor, de feliz memória, Pio XII o proclamava com estas palavras: "Não é na revolução que reside a salvação e a justiça, mas sim na evolução bem orientada. A violência só e sempre destrói, nada constrói; só excita paixões, nunca as aplaca; só acumula ódio e ruínas e não a fraternidade e a reconciliação. A revolução sempre precipitou homens e partidos na dura necessidade de terem que reconstruir lentamente, após dolorosos transes, por sobre os escombros da discórdia".”

As condições necessárias para garantir que a resistência armada à autoridade é moralmente legítima são de realização quase impossível (cf. n.º2243 do Catecismo). E o autor da Pacem in Terris parece concordar que os objectivos expressos na Encíclica não jusitificam a violência revolucionária.

Mais, a encíclica não menciona, nem nada promete em relação ao controlo dos nascimentos.

E muito menos a visita de Paulo VI terá contrariado a defesa da evolução gradual das sociedades defendida por João XXIII na Pacem in Terris.

As motivações destes ex-'católicos progressistas', revolucionários da extrema-esquerda não parecem ser aquelas que eles apresentam.

4 - Donde vem então este impulso destruidor e violento que pretende impor pela força determinados ideais, sacrificando a Fé e a pertença à Igreja a outros objectivos mais terrenos e moralmente ilegítimos?

Acima, fez-se referência ao facto dos 'católicos progressistas' pretenderem “ajudar a Igreja a renovar-se”. É no orgulho expresso nesta frase que está a chave para perceber o desastre que se seguiu. É o preconceito fatal de quem pensa saber melhor que a Igreja qual é a sua missão nesta terra.

Não somos nós que ajudamos a Igreja a renovar-se; é antes a Igreja que ajuda a nossa renovação à imagem de Cristo. É essa revolução que os progressistas deveriam ter procurado. Mudar o Mundo uma pessoa de cada vez, começando por nós próprios, e tendo Jesus por modelo e a Igreja por Mestra.

11.4.07

Errata - Assinaturas do Anexo 6

Infelizmente, há quase sempre erros que escapam às diferentes revisões e que se transformam em gralhas... Também elas existem neste livro, embora, segundo julgo, em número reduzido.

Mas há uma situação que me incomoda especialmente: na listagem das assinaturas do Anexo 6 (Carta ao presidente da República sobre encerramento da Pragma), pp. 202-204 , algo se passou na fotocomposição que fez com que muitos nomes estejam repetidos e desordenados e também (o que é mais grave) que faltem cerca de oitenta.

Por este motivo e com a concordância do editor, divulgo aqui a listagem correcta (entretanto também já publicada, em 23 e Março, por José Paheco Pereira em Estudos sobre o Cumunismo,

Abílio Ferreira Oliveira
Adérito Oliveira Sedas Nunes
Aires de Aguiar Busdorff
Alberto José Alves Nabinho
Alberto Nascimento Regueira
Alberto Pinto Magalhães
Alberto Queirós
Alberto Sousa Oliveira
Alberto Vaz da Silva
Alda Maria Taborda
Alexandre Vaz Pinto
Alfredo Logo Canana
Almerinda P.C. M. Teixeira
Álvaro Bebiano Costa e Moura
Álvaro de Mello e Sousa
Amílcar Soares Martins
Ana J.C.Fernandes de Oliveira
Ana Mª Bénard da Costa
Ana Mª Lowndes Marques
Ana Margarida Pinto Ravara
Aníbal de Mello N. Fernandes
António Alçada Baptista
António Antunes Leitão
António Carlos Franco Cosme
António Cerejeira de Sousa
António Correia Lopes
António do Carmo Galhordas
António E.Borges da Cunha
António Ernesto Duarte Silva
António F. B. de Sousa Gomes
António J. Baptista Dinis
António J. Conceição Valverde
António J.Lemos Alves Vieira
António J. Miranda Ferreira
António Machado Rodrigues
António Macieira Costa
António Pereira Jordão
António Pinto Carreira
António Rodrigues Correia
António Roque Antunes
Armando Trigo de Abreu
Arménio J. Marques Vicente
Asdrúbal Calisto
Aurora M. Cunha Murteira
Carlos A.Antunes Milharadas
Carlos A. Bento de Oliveira
Carlos A. Martins Portas
Carlos António Ferreira
Carlos dos Santos Duarte
Carlos Neves Ferreira
Carlos P.C.C. do Nascimento
Celeste S.A.S. Clara Gomes
Cesário Borga Martins
Cláudio R.Marques Teixeira
Daniel J.Branco Sampaio
Domingos Lopes Vicente
Duarte Nuno Gomes Simões
Eduardo Harris Cruz
Eduardo M.S.de Sousa Veloso
Eduardo Prado Coelho
Eduardo.C.L.Ferrão Completo
Elisa Mª Vilas Vicente
Emídio Santana
Eugénia Leal Pereira de Moura
Eugénio A. Marques da Mota
Fernando A.A.Trigo de Sousa
Fernando Carqueja Gonçalves
Fernando Moreira de Abreu
Fernando Pizarro de S.e Mello
Fernando X.Tavares da Mata
Filipe Mário Lopes
Francisco de Sousa Tavares
Francisco J.C.P.de Moura
Francisco Lino Neto
Francisco Manuel Braz Jorge
Francisco S. V. Sousa
Francisco Salgado Zenha
Gastão Cunha
Gonçalo Santos Monteiro
Graça Pita Bastos
Gracinda Grácio Alexandre
Helder Santos
Helena Cidade de Moura
Helena Gentil Vaz da Silva
Henrique J.M.de S. Montelobo
Henrique Jorge Sabino
Henrique Reynolds de Sousa
Henrique Santa Clara Gomes
Horácio José Condessa
Isabel C.D.Cardigos dos Reis
Isabel S. Henriques Belchior
Isilda Nunes Branquinho
Ismael de O. e Silva Santos
Jacinto Correia Raposo
Jaime Gama
João B. Bragança Fernandes
João Bénard da Costa
João D. Cardigos dos Reis
João da Silva Belo
João de O. Correia Rebelo
João G. Gomes Cravinho
João Gastão da Cruz
João J. Pinto da Cruz Malato
João Joaquim Gomes
João Mª de Braula Reis
João Manuel Navarro Hogan
João Martins Pereira
João Paes
João Paiva Raposo de Almeida
João Pedro Miller Guerra
João Raposo de Magalhães
João Reis Antunes
João Sacadura Botte
João Salgueiro
João Sanches Nabeiro
Joaquim A. P. Pires de Lima
Joaquim Alves Lavado
Joaquim B. Osório de Castro
Joaquim T. Antunes Barradas
Joel E. N. Hasse Ferreira
Joel Serrão
Jorge A.A.Trigo de Sousa
Jorge Manuel Rodrigues
Jorge Sá Borges
Jorge Sampaio
Jorge Santos
José A.Cordeiro Baptista
José A.das T.Antunes Barradas
José A.Vasconcelos de Paiva
José Antunes Ribeiro
José Bagulho França Martins
José C. L. Ferreira de Almeida
José Caldeira Monteiro
José Carlos Vasconcelos
José de Sousa Ramos
José Domingos M. de Morais
José Gabriel F.Pereira Bastos
José Jesus Nunes
José L.C.Santos Loureiro
José Luís d’Orey
José M.A.Guerreiro Bicó
José M.Castel-Branco Goulão
José M.Costa de Freitas
José M. D. Félix Ribeiro
José M.D.Pinto Correia
José M.Galvão Teles
José M.Geraldes Barba
José M.Ramos Lopes
José M. Rebelo Guinote
José Mª Torre do Valle Santos
José Mariano Pires Gago
José Oliveira Hipólito
José P.Pinto Leite (Olivaes)
José Paulo Brás Jorge
José Roquete
José Tengarrinha
José Vasconcelos Abreu
José Vera Jardim
Julião D.Quintanova Custódio
Júlio de Castro Caldas
Júlio Gonçalves Dias
Liliane S.Araújo Simões
Luís A.P.Correia Maltês
Luís Alves Nunes
Luís B.Teixeira
Luís F.N.Borges de Medeiros
Luís F.Salgado de Matos
Luís Filipe Lindley Cintra
Luís G.N. Silva Bagulho
Luís Glórias Ferreiras
Luís Gonçalves Matoso
Luís M.A.Gorjão Henriques
Luís Melo Breyner Pereira
Luís Miguel Bénard da Costa
Luís Miguel Valle Cintra
Mª Augusta Martins da Cruz
Mª Benedita P.B. Monteiro
Mª Cabral Correia Guedes
Mª Carlota Oliveira Reis
Mª da Conceição B. Coutinho
Mª da Conceição C. Belchior
Mª da Conceição C.F. Oliveira
Mª da Conceição V. Moita
Mª da Conceição V.P. Bastos
Mª da Graça Braz Teixeira
Mª da Graça P.C. de C. Serrão
Mª de Fátima F.R.P. Bastos
Mª de Jesus Afonsina Ribeiro
Mª de Lourdes B. F. Malato
Mª de Lourdes Belchior Pontes
Mª de Vasconcelos e Sousa
Mª do Carmo Galvão Teles
Mª do Carmo Santos Pacheco
Mª do Carmo T. D’Orey
Mª dos Prazeres F.Completo
Mª Eduarda A.S. Cruzeiro
Mª Elisa Salreta
Mª Elisabeth L.D. Manarte
Mª Emília de Matos Almeida
Mª Fernanda A. S. C. Esteves
Mª Franco Cosme
Mª Helena C. T. Hasse Ferreira
Mª Helena Fernandes Caetano
Mª Helena Lopes de Castro
Mª Idalina Neves de Sousa
Mª Inês P. Chagas Verde
Mª Joana B. Costa Veloso
Mª Joana de Menezes Lopes
Mª José C.Lemos Caeiro
Mª José Cabeçadas A. Ferreira
Mª Leonor Braga Abecassis
Mª Luís Salinas Monteiro
Mª Luísa B. Areosa Feio
Mª Luísa Carmo Inácio
Mª Luísa R. Soares Medeiros
Mª Manuel S.G. e Silva Santos
Mª Manuela Alexandre
Mª Manuela Braz Jorge
Mª Manuela Martins Portas
Mª Manuela Saraiva
Mª Margarida G. Pereira
Mª Margarida Moura
Mª Miranda Santos
Mª Natália Rebelo
Mª Natália Teotónio Pereira
Mª Teresa Abrantes Pereira
Mª Teresa P.Chagas Verde
Mª Velho da Costa
Manuel Antunes S.J.
Manuel C.Lopes Figueiredo
Manuel J.Bidarra de Almeida
Manuel M.A. da Costa Cabral
Manuel Mendes Gusmão
Manuel Tierno Bagulho
Manuel V. da Costa Belchior
Manuel V. Santos Moita
Manuel Vicente
Mariano R. Calado Mateus
Mário Castrim
Mário de Castro Pina Correia
Mário Ferreira Neves
Mário Luís da Silva Murteira
Mário Soares
Mário Sotomayor Cardia
Mário Ventura Henriques
Martinho Guerra Madaleno
Mercedes Martins
Miguel de B.Alves Caetano
Miguel de Oliveira Ascenção
Nadir Ramos Bico
Nelson de Matos
Nuno Brederode Santos
Nuno Castel-Branco
Nuno de Bragança
Nuno Pereira da Silva Miguel
Nuno Portas
Nuno Teotónio Pereira
Ofélia do N.Romão dos Santos
Pedro Cardoso d’Orey
Pedro Soares Onofre
Pedro Tamen
Raul da Silva Pereira
Raul Rego
Ricardo Baptista da Cruz
Rogério Fernandes
Romano Santa Clara Gomes
Rómulo Ramos Esteves
Rui Augusto da Silva Neves
Rui Edgar dos Santos Silva
Rui Grácio
Rui Júdice Gamito
Sebastião José de Carvalho
Simone M.da Silva Araújo
Sophia de Mello Breyner A.
Teresa F.S.Abrantes Saraiva
Vasco Lobo Soares
Vasco Pulido Valente
Vitor S.da Costa Vitorino
Vitor Wengorovius
Vitorino Magalhães Godinho