Numa tentativa legítima de enquadrar para melhor compreender o que se passa agora no Mediterrâneo, recorre-se naturalmente a comparações com factos do passado histórico recente, nomeadamente à eventual semelhança com a queda do muro de Berlim e consequente fim do bloco comunista.
A fuga de Ben Ali terá sido a abertura da Bornholmer Strasse, primeiro para os tunisinos, logo a seguir para os muito milhões que, em territórios mais ou menos vizinhos, a festejaram e passaram a lutar por uma vitória, agora aparentemente possível, contra a opressão dos seus ditadores. O medo passou a estafeta à luta pela liberdade.
Mas - há sempre um mas – importa sublinhar que são grandes as diferenças entre o Leste europeu 1989 e o Norte africano 2011.
Para começar, os países comunistas formavam um «bloco» que se esboroou quando o controle centralizado em Moscovo cedeu, na pessoa de Mikhaïl Gorbatchev. Nada de semelhante se passa agora na faixa mediterrânica.
Depois, em 1989, a Europa e os Estados Unidos aplaudiram a implosão do império do seu grande inimigo e concorrente do século XX. Neste momento hesitam muito, talvez mais do que desejável, entre o regozijo pela explosão de liberdade a que assistem e o receio de extremismos religiosos que transformariam estes países, até agora dominados por ditadores aliados, quando não «amigos», em potenciais futuros opositores. Mas não escaparão, terão de tomar partido. Além disso, é bom não esquecer que um outro player, ausente no fim da década de 80, entra agora em jogo: hoje, a palavra «Egipto» passou a ser censurada em Pequim…
Uma coisa parece certa: as imagens que nos entram pela casa dentro mostram que nada ficará como antes, mesmo se os próximos tempos são absolutamente imprevisíveis. Neste ponto, o acordo parece universal.
(A partir daqui)
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