18.1.14

Tourada



Ary dos Santos morreu há 30 anos e eu ligo-o sempre a este episódio: a final do Festival da Canção de 1973 foi um marco relativamente importante no último ano da ditadura: juntaram-se grupos de amigos, em casas e cafés, sem ousarem esperar que a canção «Tourada» vencesse. Mas venceu! Foi uma pequena farpa espetada no agonizante marcelismo.

 
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Que voltem os Filipes?



Paulo Portas compara a saída da troika, em Maio, à nossa vitória sobre os Filipes espanhóis, em 1640.

Durão Barroso acaba de receber o Prémio Europeu Carlos V. Recorde-se que Carlos V (do Sacro Império Romano-Germânico) foi Carlos I (de Espanha) e que este foi pai de Filipe II (de Espanha), o mesmo que foi Filipe I (de Portugal).

Haverá alguma mensagem subliminar nestas coincidências? Alguma invasão espanhola em perspectiva à qual o líder do CDS quer, irrevogavelmente, resistir? Pouco provável, mas mais vale rirmos – para nos entristecer, temos aí a realidade nua e crua.

Seja como for, estou com Miguel Sousa Tavares, no Expresso de hoje: Que voltem os Filipes!

«Quando acontecer o 1640 de Paulo Portas, marcado para 17 de Maio, só por inconsciência ou por conveniência se poderá dizer que recuperámos parte da nossa soberania. Apesar das privatizações (justificadas para a diminuir), a dívida pública terá aumentado, mas por via delas. Portugal terá alienado quase tudo o que, no sector económico, público ou privado, caracteriza um país soberano. A produção de electricidade foi vendida a uma empresa estatal chinesa, a distribuição dada em monopólio a chineses e árabes, parte substancial da banca e dos combustíveis vendidos a angolanos, os cimentos e a telecomunicações a brasileiros, os aeroportos aos franceses, a única companhia aérea prestes a ser vendida a quem mais der, os correios aos americanos da Goldman Sachs ou clientes seus, um terço do mercado de seguros também aos chineses e o próprio fornecimento de água, o mais essencial de qualquer bem público, pronto a ser concessionado a quem os "facilitadores" determinarem. Se isto vai ser um país soberano, eu prefiro que voltem os Filipes.»
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Na melhor das hipóteses


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Da inutilidade dos socialistas europeus



«O discurso triunfal de François Hollande na terça-feira, anunciando que "não tem ideologia", é um "realista" e um "patriota" é um marco simbólico da inutilidade em que se transformaram os socialistas europeus. O programa contra a austeridade com que Hollande ganhou as eleições francesas já tinha sido enfiado num saco e atirado ao rio. Desde terça-feira, o Sena está cheio de cadáveres de socialistas. Morreram todos às mãos do pensamento único da inevitabilidade emitido a partir de Berlim, com grandes apoios em importantes capitais, no sistema financeiro que nos levou à crise e na Comissão Europeia. A conferência em que Hollande se proclamou "sem ideologia" mostrou ao mundo para que serve um socialista a governar o segundo país mais forte da União Europeia: é igual a um tonitruante zero.»

Ana Sá Lopes

17.1.14

Pontos de vista


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Nós éramos jovens e ela também



Agora somos velhos e Françoise Hardy faz hoje... 70 anos. Multiplicam-se as histórias de vida e as homenagens e voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal, quase impossível que alguma vez tenha existido. Mas existiu, marcou uma parte do que em nós se foi sedimentando e que nos faz, ainda hoje, seguir em frente.

Do seu último álbum (2012):




E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria:


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Neste dia de vergonha



Todas as palavras de indignação são vãs. Mais vale ler dois textos, um de Isabel Moreira – Co-adopção: três razões para se votar contra um referendo – e outro de Fernanda Câncio – Referendar o horror
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A defenestração da troika



«Agora é que é. Vem lá o adeus à troika. A data da cerimónia já está marcada: é a 18 de Maio, na varanda do Palácio da Independência. Oficialmente, a cerimónia começa com Paulo Portas a empurrar o representante do FMI, Subir Lall, da varanda abaixo. Não se preocupem, Subir Lall não vai estragar a calçada portuguesa. É tudo encenado. Debaixo da varanda vão estar colchões. Subir Lall ainda vai voltar a aparecer mais tarde. (...)

Independentemente da data, o que me mais me custa ver é a má educação de Portas e de muitos outros membros da coligação. A minha avó punha uma vassoura virada ao contrário, atrás da porta da cozinha, quando queria que as visitas se fossem embora. Era horrível (e mais importante, não resultava), mas, pelo menos, as visitas não sabiam. Na coligação, fazem relógios, enormes, a contar o tempo que falta para as visitas - que eles sempre receberam com sorrisos - abandonarem a casa. (...)

Se isto é assim agora, imagino quando faltar um mês para o 18 de Maio. Vamos ter Paulo Portas a dizer: "Já passei as fronteiras da minha paciência para aturar o FMI! Acabou-se. De agora em diante, vamos cortar-lhes o wireless, ninguém serve mais bicas ao Subir e não enviam mais champô para galgos para a Lagarde!"»

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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16.1.14

Guerra do Vietname – a cantiga como arma



Em El País de hoje, pode ler-se um interessante artigo sobre o papel da música rock no protesto contra a guerra do Vietname. Mais concretamente, recordam-se «dez hinos», uns mais conhecidos do que outros, que corporizaram esse protesto e se transformaram em verdadeira forma de luta.

Mais: foi há meio século, a partir de 1964 e sobretudo nos Estados Unidos, que o «rock de causas» nasceu, precisamente com a guerra do Vietname em pano de fundo, para explodir na segunda metade dessa década como bandeira do movimento hippy. «Nunca como há 50 anos se pensou que a música podia não só parar uma guerra como começar a mudar o mundo» – bem verdade, até em Portugal (em meios muito restritos, é certo).

Ficam alguns desses «hinos», os outros podem ser vistos aqui.



Wait until the war is over / And we're both a little older / The unknown soldier / Breakfast where the news is read / Television children fed / Unborn living, living, dead Bullet strikes the helmet's head / And it's all over / For the unknown soldier.



Come you masters of war. You that build all the guns / You that build the death planes. You that build all the bombs / You that hide behind walls. You that hide behind desks / I just want you to know I can see through your masks.



Where have all the flowers gone? Young girls have picked them everyone / Where have all the young girls gone? Gone for husbands everyone / Where have all the husbands gone? Gone for soldiers everyone / Where have all the soldiers gone? Gone to graveyards, everyone / Where have all the graveyards gone? Gone to flowers, everyone.



We starve, look at one another short of breath / Walking proudly in our winter coats / Wearing smells from laboratories / Facing a dying nation of moving paper fantasy / Listening for the new told lies / With supreme visions of lonely tunes. 
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Qual é o «ismo» do Hollandismo?

O poder francês seduz irresistivelmente



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje, sobre o tema de que todos falam, mesmo os que dizem que não se deve falar:

«A quantidade de altos dignitários franceses que acasalam acima das suas possibilidades não tem paralelo com o que sucede noutros países. (...) Todas as senhoras que se deixaram seduzir pelo actual Presidente francês jogam na Liga dos Campeões da sensualidade, ao passo que Hollande milita na segunda divisão B da alopécia progressiva, da miopia e do duplo queixo.

O povo francês, ao que parece, não delega apenas o poder nos seus representantes. Delega também uma capacidade de atracção sexual que os eleitores portugueses, claramente, não transferem para aqueles em quem votam – como podemos confirmar sempre que olhamos para Aníbal Cavaco Silva.»

Na íntegra AQUI.
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Quando ainda há presos políticos



Apesar de o governo birmanês ter garantido que 2013 não terminaria sem que todos os presos por motivos políticos tivessem sido libertados, a promessa não foi cumprida.

E os bravos monges birmaneses não desistem de lutar. Agora é Rakkha Wuntha, ele próprio ex-preso, que caminha durante dias pelas estradas até ao célebre pagode de Maha Myat Muni. Parado pela polícia por perturbar a paz, declarou que a sua marcha não é de protesto mas sim uma peregrinação: vai rezar para que a libertação prometida aconteça.

Outros mundos, com problemas diferentes e quase sempre bem mais complexos do que os nossos.



(Fonte)
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15.1.14

Mi Buenos Aires querido



Recordar Juan Gelman, que ontem morreu, com um poema seu sobre uma das minhas cidades preferidas (com título que também é tango de Carlos Gardel).

Sentado al borde de una silla desfondada,
mareado, enfermo, casi vivo,
escribo versos previamente llorados
por la ciudad donde nací.
Hay que atraparlos, también aquí
nacieron hijos dulces míos
que entre tanto castigo te endulzan bellamente.
Hay que aprender a resistir.

Ni a irse ni a quedarse,
a resistir,
aunque es seguro
que habrá más penas y olvido.


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Quando já batemos palmas a Mário Crespo



... muito deve estar mesmo mal neste reino tão chuvoso, mas começamos a estar habituados a esquecer os mensageiros, tão evidentes são as mensagens. Ontem, no Jornal da Noite da SIC Notícias, Mário Crespo foi implacável com Assunção Cristas.

Para quem não viu:


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Na morte de Juan Gelman



O poeta e jornalista argentino Juan Gelman morreu ontem, na cidade do México, com 83 anos.


A propósito este belo texto de Luis Sepúlveda, divulgado hoje no Facebook:

Con vos, Juan Gelman, se nos va mucha decencia de este mundo

Estoy frente a un lago y no importa donde, pero una luna fría se refleja en sus aguas y mi compañera me dice con voz quebrada que se nos fue Juan Gelman , que nos deja Gelman, el Poeta enorme de Gotán y de esos poemas que nos marcaron porque fueron y son la identidad de nuestra generación.

Y yo entonces pienso en vos, compañero, rebelde entre los rebeldes, porfiado hasta encontrar la última gotita de toda la sangre que te robaron cuando te quitaron al hijo y a la nuera encinta. Pienso en vos terco entre los tercos a la hora de quebrarles la mano a los milicos y a los jueces venales incapaces de entender toda la ternura de tu lucha que también fue nuestra, porque vos hiciste tuyas todas y cada una de las nuestras.

Pienso en vos y en tus mensajes con las "noticias del rioba" y sé que me faltarán hermano, que su ausencia será como perder la lámpara en el bosque. La puta que la reparió a la parca, repito tal como vos repetiste cuando se nos fue Benedetti, así, en un grito con los dientes apretados; la puta que la reparió a la parca.

Pero también pienso en la alegría serena de ese abrazo cuando se completó el círculo y la hija del hijo y de la nuera empezó a acercarse al padre del padre a pasitos lentos como la esperanza , lentos pero fuertes, tan fuertes como sólo puede ser fuerte un Compañero.

Y pienso en nuestro último gran encuentro, mientras el pibe Mordzinski nos tiraba unas fotos y vos me contabas que dejabas que los años envejecieran contigo sin broncas ni rencores.

Es verdad que me quedan tus poemas, tus libros, pero siempre me vas a faltar vos, Gelman, siempre me vas a faltar, Compañero.
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Portugal envelhece



Fernando Sobral, no Negócios de ontem.

«Como no "Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, Portugal envelhece no quadro enquanto os seus políticos aparentam continuar jovens e belos, como se nada se passasse. O congresso do PP validou esse universo ficcionado. (...)

A nova classe política de então perdeu a ambição de mudar. É isso que permite Pedro Passos Coelho chegar ao encontro dos Trabalhadores Sociais-Democratas e praticamente esquecer o valor do trabalho ou a dor do desemprego. E falar apenas de macroeconomia e de rigor nas contas públicas. (...)

Assistindo a tudo, Portugal ficou apenas mais exausto e mais velho. Vendo o que em seu nome foi feito a favor de apenas alguns. Os que têm sucesso na política ou nos negócios ou nas organizações internacionais. O regime evoluiu, mas não mudou. E o pior, mais do que o falhanço de uma geração, é que não há sinais de regeneração política em busca de um país melhor para todos.» 
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14.1.14

Enquanto há cinto, há esperança


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Há 39 anos, a Unicidade Sindical


Diário de Lisboa, 15/1/1975 (FMS) 

Em 14 de Janeiro de 1975, Lisboa assistiu a uma grande manifestação que teve início no Martim Moniz e terminou na Praça de Londres, junto ao Ministério do Trabalho. Em causa estava a defesa da «unicidade sindical», questão central que vinha a provocar acesíssimas discussões e que tinha como objecto a existência de uma ou mais sindicatos por profissão ou por sector de actividade, uma ou várias centrais sindicais.

«A 2 de Janeiro de 1975, o Conselho Superior do MFA (ou Conselho dos Vinte, por ser constituído por vinte elementos) sustenta «por unanimidade» a unicidade sindical. No dia seguinte, Carlos Carvalhas, na pele de secretário de Estado do Trabalho, defende o «princípio da unicidade sindical» e a existência duma única central confederal de sindicatos.
Dias volvidos, a 7 de Janeiro de 1975, o dr. Francisco Salgado Zenha, dirigente do PS, escreve um artigo de fundo, publicado no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, intitulado “Unidade Sindical ou Medo à Liberdade?”, onde rejeita os princípios da unicidade sindical, considerada arbitrária. O embate compulsivo entre Carvalhas e Zenha na imprensa e nos gabinetes foi histórico e contribuiu em larga medida para a radicalização das posições, o pronúncio do que seria o PREC e o Verão Quente.»

O Secretariado da Intersindical Nacional convocou uma manifestação para o dia 14 de Janeiro de 1975, que contou com o apoio expresso de PCP, MDP/CDE, MES, FSP, MDM, MJT, UEC e LCI. A chamada esquerda revolucionária – UDP, PRP-BR, OCMLP e PUP – apoiavam e defendiam a existência de uma única central sindical mas não participaram na manifestação.

Dois dias depois, a 16 de Janeiro, o PS realizou o seu primeiro grande comício de massas sob o lema «Socialismo Sim, Ditadura Não», abertamente contra a Lei Sindical. A 21 de Janeiro de 1975, o Conselho de Ministros aprovou na especialidade o diploma sobre associações sindicais, com votos contrários do PS e PPD.

A UGT viria a ser criada em 1978, precedida, dois anos antes, pelo Movimento Autónomo de Intervenção Sindical - Carta Aberta

(Fonte e mais detalhes)

Para os mais interessados, notícia e discursos finais AQUI.
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«Meta dos Leitões» – Publicidade da boa



A notícia está na imprensa e corre nas redes sociais: um grupo de congressistas do CDS decidiu consolar-se de tantas horas a ouvir histórias da carochinha e, de regresso a casa, parou na Mealhada para fazer honras ao leitão. O dono do restaurante cobrou-lhes mais do que o devido e, perante uma reclamação, explicou que tendo-se apercebido que eram do CDS, e como tal apoiantes «desse governo que nos rouba», se defendia roubando também.

Explicação dada, a única coisa que os discípulos de Paulo Portas deviam ter feito era meter o troco ao bolso e a viola no saco. Mas não: pediram livro de reclamações, queixaram-se no Facebook e ameaçam levar a questão a tribunal. Tantos anos com um líder tão habilidoso e não aprendem!

A «Meta dos Leitões» agradece: muitos prometem tornar-se clientes. 
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A Goldman Sachs e nós



«A Goldman Sachs (GS) aparenta ser um banco, mas o seu currículo mais parece um cadastro, devido às suas ligações com uma interminável série de irregularidades, que vão das bolhas imobiliárias e financeiras, à manipulação de mercados, à corrupção de governos, incluindo a maquilhagem das contas públicas gregas, que inaugurou a atual crise europeia. (...)

A JLA [José Luís Arnaut] não se lhe conhece uma única ideia própria, mas sabe-se que o seu escritório de advocacia tem sido fundamental no "apoio" ao Governo em matéria de privatizações. A GS espreita, ávida, sempre que um país é obrigado a vender os seus anéis. JLA é, portanto, um hábil perito em transformar propriedade pública em salvados. Merecedor da gratidão pública da GS. Milhões de portugueses e europeus labutam, preocupados com o (des)emprego e o desamparo da crise. Lutam por uma democracia que não retire os seus filhos do mapa do futuro. Mas há quem faça carreira e lucro à custa do sofrimento geral.»

Viriato Soromenho Marques


P. S. – Goldman Sachs assume "óptima relação com o Estado" português
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13.1.14

O papa Francisco também é isto



No Vaticano, em audiência aos embaixadores da Santa Sé, o papa afirmou hoje, entre muitos outros temas abordados: «Causa horror só o pensar nas crianças que nunca poderão ver a luz, vítimas do aborto, ou nos que são utilizados como soldados, violentados ou assassinados nos conflitos armados, ou tornados objetos do tráfico humano, essa tremenda forma de escravidão e que é um crime contra a humanidade.»

Se não é novidade a posição do papa quanto à interrupção voluntária da gravidez, há momentos em que o seu silêncio seria de ouro. Quando a Espanha está a ferro e fogo por recentes decisões governamentais, realidade que o papa certamente não ignora, esta afirmação não pode deixar de ser interpretada – e está a sê-lo – como apoio expresso a um dos lados da barricada, num tempo especialmente sensível.


Fê-lo agora. A Igreja não muda em questões, como esta, que são essenciais para a humanidade. O resto também é importante? Sim, mas.

(Fonte, entre outras)
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Assunção Esteves e a Bola de Ouro



E pronto: ela já foi comprar um mealheiro para garantir dinheiro suficiente para pôr Ronaldo no Panteão.
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13 x Falácias x 13



Um artigo de Bagão Félix, no Público de hoje:


Mas fica o texto na íntegra, já que nunca se sabe se, ou quando, funcionam os links para o jornal online.


Logo se vê...



Fernando Sobral, no Negócios de hoje.

«Guerra Junqueiro tinha uma solução simples para resolver o problema português: venha alma, uma vassoura e uma carroça e a Pátria está salva. Já se percebeu que esse método não resulta.

Ciclicamente o país afunda-se no mesmo poço, porque a nossa capacidade táctica sempre superou a inteligência estratégica. (...)

Há apenas o facilitismo das decisões. O Governo usa a carroça e a vassoura e varre o que está à vista. O que está debaixo da cama ninguém vê e por isso o bolor e a poeira podem continuar lá. Tal como na orla costeira e nas florestas: enquanto os turistas não protestarem continuaremos a criar comissões de inquérito e grupos de trabalho. Quando não houver costa ou floresta, logo se vê.»
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12.1.14

Sempre atenta


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Um mar de gente em Bilbau



Muitos milhares de manifestantes em marcha silenciosa, ontem em Bilbau, contra a proibição de uma manifestação a favor dos presos de ETA, nomeadamente do seu repatriamento para o País Basco.



A ler: «Rajoy, escucha este silencio»

Emigração forçada


Do texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) de Janeiro de 2014:

«São já mais de 121 mil os portugueses que emigraram durante a crise da austeridade, ultrapassando, em 2012, um máximo histórico que só havia sido alcançado em 1966, numa década condenada pelos horrores da ditadura, da guerra e da fome. Uma emigração desta dimensão, ainda por cima numa conjuntura de diminuição dos fluxos imigratórios e de saldo demográfico negativo, tem consequências gravíssimas para a sustentabilidade do país. (...)

A operação [da «nova diáspora» e do «exercício de lugares de destaque»], com grande impacto em muita comunicação social, foi organizada em torno do lançamento, a 23 de Dezembro, do Conselho da Diáspora Portuguesa, criado por iniciativa de Aníbal Cavaco Silva e na presença de Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e José António Durão Barroso. O presidente da República expôs a narrativa neoliberal sobre a emigração, aliás em perfeita sintonia com as políticas relativas à imigração, como a que agora outorga títulos de residência a estrangeiros que invistam 1 milhão de euros na economia local.

O objectivo deste Conselho é simples: mercantilizar a emigração. Mas não toda. Só o emigrante que «rende», isto é, o jovem, muito qualificado, de excelência, talentoso, competitivo e cosmopolita. O discurso lança um apelo este o nicho de emigração: vistam a camisola da marca Portugal, melhorem a imagem externa do país e favoreçam os investimentos. (...)

O que a «nova diáspora» tem de novo e positivo (mais pessoas com formações superiores, gerações mais habituadas ao contacto externo e mais apoiada em redes internacionais, mais acesso a tecnologias que encurtam distâncias, mais cidadãos apetrechados para não desistirem dos seus sonhos) foi muito construído, depois do 25 de Abril, com a oposição do neoliberalismo. O que a «nova diáspora» tem de velho e revelho são as desigualdades económicas, sociais e territoriais que a democracia não resolveu e um país com debilidades estruturais (produtivas, redistributivas) que a crise financeira e as respostas austeritárias, no quadro da União Europeia e do euro, só vieram agravar.» 

Na íntegra aqui.
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A vida começa na Jota



Da crónica de Clara Ferreira Alves, na Revista do Expresso de ontem:

«É jovem? Ambicioso? Pouco dado aos estados? Deseja uma carreira com futuro? Está farto daqueles cursos mixurucas que não dão para mandar cantar um cego? Gosta de marketing e aprecia a comunicação? Temos a solução adequada ao seu caso. Somos, nós, consigo, o futuro. O nosso nome é PSD, o partido ideal ao seu perfil. Damos-lhe, sem trabalho e sem esforço, usando o seu talento natural, extraindo os melhores resultados da sua facilidade comunicacional, possibilidades de desenvolver uma carreira política que o poderá conduzir aos mais altos cargos de governo da nação. (...)

O primeiro passo é a inscrição nas nossas legiões de paus-mandados e para toda a ordem, vulgarmente designadas por Juventude Social-Democrata. Os fabulosos jotinhas. (...)

O jovem começa a tornar-se útil, nunca cobrando o serviço. Se o partido estiver na oposição, há que ter paciência e acumular a deputação com uma empresa privada uma dessas onde o partido tem zona de influência. Se for aventureiro, o jovem criará a sua própria empresa privada e candidatar-se-á a fundos europeus que o partido, um dia se encarregará de lhe fazer chegar as mãos sem concurso ou com concurso entre amigos. (...) Connosco no poder, que chega pelo menos de quatro em quatro anos, pode até subir a ministro, primeiro-ministro, comissário ou deputado europeu, o que quiser. (...) Não garantimos inscrições na maçonaria mas ajudamos no emprego da família e amigas íntimas. Secretária e motorista incluídos.» 
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