20.5.17

Dica (549)




«Progressivamente, as eleições passaram a ser, na maioria dos países europeus, não combates programáticos mas sim uma competição para decidir quem está em condições de melhor servir os mercados, transformados, por sua vez, numa entidade indiscutível e insusceptível de ser combatida, um verdadeiro manipanso a que se prestam todas as honras e reverências.
A social-democracia, feita mariposa desnorteada pela luz ofuscante do pensamento único, deixou-se enredar em mistificações a-ideológicas, como a «verdade axiomática» segundo a qual as eleições se ganham ao centro e outras patacoadas do mesmo género, de que nem mesmo as experiências reiteradas conseguem demonstrar a falsidade.» 
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Obviamente, Marisa Matias!



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Crescemos 20 centímetros com a vitória na Eurovisão, mas encolhemos metro e meio nos últimos anos



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Isto de ser desmancha-prazeres não é propriamente muito agradável, mas lá terá de ser. A Pátria está mais uma vez a atravessar um espasmo nacionalista por causa da vitória dos irmãos Sobral na Eurovisão. Isto é por surtos, agora vai haver 15 dias de celebrações, cheias de grandes frases, cheias de peito feito, por parte de quase toda a gente que nem sabia que Salvador Sobral existia. (…)

Ninguém o disse melhor que o senhor Presidente da República, que afirmou que “a vitória na Eurovisão deu 'mais 20 centímetros' aos portugueses”. Sim, excelente, andamos todos com mais 20 centímetros, mas onde é que está o metro e meio que perdemos como nação há 20 anos para cá, com a perda de poderes do Parlamento português, com a assinatura de tratados como o Orçamental, com a subjugação a um modelo de crescimento medíocre em nome das “regras europeias”, com acordos como o Acordo Ortográfico, que fez proliferar as normas da ortografia do português, em vez de as unificar, ficando nós com a mais pobre, com os cortes no ensino da língua e da projecção da cultura, com a ênfase na diplomacia económica e o definhar das instituições como o Instituto Camões?

O mais grave de tudo é que os 20 centímetros que o Salvador Sobral trouxe são em grande parte mérito dele, e o metro e meio que perdemos é demérito nosso. Foi o resultado de uma política de dolo que a União Europeia usou, com destaque para ao Tratado de Lisboa, que tirou às escondidas e sem debate público poderes que ninguém conscientemente deu à União, em detrimento da soberania nacional, foi o resultado dos desastres de Sócrates que nos levaram ao resgate e da política para forçar eleições em 2011 do PSD, foi o resultado da nossa apatia cívica face ao que é verdadeiramente importante, em contraste com as excitações futebolísticas. Foi o resultado de um sistema político no qual a dimensão cultural, histórica e expressiva da língua e da sua ortografia foi deitada ao lixo, por uma espécie de engenharia diplomática que se revelou um desastre, ficando todos pior do que o que estavam. (…)

Eu não tenho muitas ilusões sobre o que ocorreu nos anos imediatamente a seguir ao 25 de Abril. Sei o papel que tinham estudantes que se descobriam proletários e como muitas organizações com nomes pomposos e revolucionários eram uma inexistência e, acima de tudo, nem eram “de trabalhadores”, nem “populares”, muito menos “proletárias”. Sei também do autoritarismo que percorria muitas ideias políticas, do enorme machismo e sexismo existente, das inúmeras ficções, teatros e enganos desses anos do final da década de 70. Mas estou neste momento a organizar mais de mil fotografias desses anos tiradas por militância e não pela arte da imagem, e que só em parte tinham intenção documental. E essas fotografias revelam um momento excepcional da vida portuguesa, menos político do que pensávamos na altura, mas mais social, altruísta e, à falta de melhor palavra, esperançoso. De facto, o passado é um país estrangeiro. (…)

Estas faces e estes corpos teriam certamente as mais genuínas das emoções pela vitória de Salvador Sobral na Eurovisão. Mas não se ficavam por aqui, tinham algumas esperanças que nós não ousamos ter. E temo que os espasmos nacionalistas com as canções e com o futebol tenham ocupado algumas dessas esperanças, transformando-as em egoísmos.» 
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Melenchon, 19.05.2017




Entrevista à France 2.
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19.5.17

Gentes deste mundo (15)



Hue, Vietname, (2009)
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Com sabor a vichyssoise



Aquela boca de Marcelo na Croácia, sobre crescimento de 3,2% e défice de 1,4%, teve mesmo sabor a vichyssoise…
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19.05.1975 - O «caso República» que fez cair um governo



O chamado «Caso República» teve o seu início crítico no dia 19 de Maio de 1975, embora as hostilidades internas, entre a Comissão Coordenadora de Trabalhadores (CCT) gráficos e dos serviços administrativos de um lado e a Administração e a chefia de Redacção do outro, tivessem já começado nos primeiros dias do mês.

Na manhã de 19, a CCT decidiu suspender do exercício das suas funções a Administração e a chefia de Redacção, acusando-as de estarem a tentar transformar o jornal num órgão afecto ao Partido Socialista. As instalações do jornal foram ocupadas pelos trabalhadores e a edição desse dia saiu com uma constituição diferente.

O PS organizou imediatamente uma manifestação de apoio à antiga direcção, no Largo da Misericórdia (com a presença, entre outros de Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre), a multidão foi engrossando e gritaram-se palavras de ordem contra o PCP, Álvaro Cunhal e MFA.

Quem estiver interessado nos detalhes desta saga, que foi um marco no PREC dois meses depois do seu início, pode ler um detalhado resumo dos acontecimentos.

O República acabou por estar fechado durante algum tempo e reapareceu nas bancas em 10 de Julho, constituído maioritariamente por elementos das forças armadas e de uma certa esquerda radical. Como consequência destes factos, no dia 7 de Julho, o PS abandonou o IV Governo provisório (o mesmo acontecendo pouco depois com o PPD / PSD) que acabou por cair no dia 17 do mesmo mês.

Era assim o dia a dia. Em 27 de Maio, deu-se a ocupação da Rádio Renascença – outra longa e movimentadíssima história. 
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Trump, o Gajo de Alfama


A não perder: este texto de Ferreira Fernandes, no DN de hoje. 
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Macron no seu labirinto



Irei pondo neste post, que estará em actualização se tal se justificar, alguns artigos publicados já depois do anúncio do novo governo francês. Pouco se fala do tema, mesmo nas redes sociais, sobretudo à esquerda (a direita «baba-se» com Macron). E, no entanto, aquilo a que estamos a assistir tem muito que se lhe diga: um governo «pot-pourri», com uma enorme misturada e sem apoio de qualquer partido – muito pelo contrário, com laivos de pretender mover-se num perigoso novo mundo antipartidos.

[Republicação em 19.05.2017]

Novos:

Um Governo nacional. (Francisco Seixas da Costa) 
«Emmanuel Macron foi a resultante hábil que "furou" no meio da onda de desilusão do eleitorado perante as duas famílias políticas tradicionais. O Governo que agora apresentou é uma verdadeira não-surpresa, uma espécie de "bloco central", que junta figuras "óbvias" dos diversos espetros políticos, a que somou algumas caras novas, parte delas com promissores currículos, numa deliberada e louvável equidade de género.
Sem querer parecer Cassandra, gostava de dizer que se podem antever algumas dificuldades a este novo Executivo. Desde logo, porque o primeiro-ministro escolhido, Edouard Phillipe, um homem oriundo da ala mais "aceitável" da Direita clássica, pode vir a revelar-se um peso demasiado "leve" para contrabalançar a dimensão de algum "baronato" político que Macron se viu forçado a cooptar.»

Troca de comentários, sobre este texto, no Facebook:


Descansem, descansem e depois queixem-se. (José Pacheco Pereira).
«Sendo importante a questão europeia, com Le Pen defensora da saída da União e Macron ultra-europeísta, o core business da Le Pen é a emigração, o racismo e a xenofobia muito mais do que a Europa, e o core business de Macron não é o anti-Lepenismo, mas o business propriamente dito. A relação entre ambos é aquela que a União Europeia, e a direita do "ajustamento", não quer admitir: é que o que alimenta o crescimento da base de Le Pen são as políticas como as que Macron (e o Eurogrupo) defendem. Ou seja, um faz o terreno do outro, só que o outro em França é o pior dos "outros" que andam por aí na Europa.
Não há muitas razões para descansar, enquanto as políticas europeias são elas próprias as geradoras do populismo. E, como mostra a experiência do passado, sempre que se consegue evitar o pior há duas semanas a prometer mudanças e depois volta tudo ao mesmo.»

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Emmanuel Macron accusé de verrouiller totalement sa com' à l'Elysée.
«Les rédactions signent ce soir une lettre ouverte à Emmanuel Macron. Elles y condamnent la volonté du Palais de vouloir choisir les journalistes qui accompagneront le nouveau président dans ses déplacements.
Le quinquennat d’Emmanuel Macron commence mal pour les journalistes. En marge du premier conseil des ministres du gouvernement d’Edouard Philippe, l’Elysée a fait savoir qu’il entendait choisir la presse qui accompagnerait désormais le Président dans ses déplacements. D’après Europe 1, le Palais aurait fait passer des consignes pour que les journalistes autorisés à le suivre soient sélectionnés à l’avance. Une ingérence dans le libre arbitre des rédactions. En effet, l’Elysée voudrait imposer un journaliste spécialisé en fonction du thème de la visite. Ainsi, lors d'un voyage à l’étranger, seuls les spécialistes de la politique étrangère seraient habilités à suivre le président. Idem pour l'économie et ainsi de suite.»

Bonapartisme managérial. (Laurent Joffrin)
«”Ni droite, ni gauche”, dit Macron, comme Bonaparte disait “ni talon rouge, ni bonnet rouge” (ni aristocrate ni révolutionnaire). Le tout au service d’un centrisme autoritaire qui ramène l’ordre, éteint les foyers de discorde et pose la base d’un régime à la fois égalitaire et hiérarchique.»

«Les nouveaux ministres doivent abandonner leurs anciennes couleurs pour tenter de survivre dans l'aventure des législatives. Le point sur la stratégie et les forces en présence.
Il n'y aura plus de bleus, ni de rouges, ni de jaunes. Emmanuel Macron qui veut propulser la France en finale, a choisi les membres de sa tribu réunifiée. Comme dans "Koh Lanta", dernière utopie contemporaine, les aventuriers du gouvernement Philippe ont dû abandonner leurs anciennes fidélités pour se fondre dans un nouveau groupe et affronter les épreuves surhumaines qui les attendent. Un pour tous et tous pour un.»

(*) Sondagem feita antes do anúncio do novo governo.
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Fahrenheit 2,8



«Fahrenheit 451 é um romance de Ray Bradbury. O livro conta a história de um futuro onde todos os livros são proibidos, as opiniões próprias são consideradas anti-sociais e o pensamento crítico é suprimido. No fundo, o sonho húmido de Aníbal Cavaco Silva.

O número 451 é a temperatura (em graus Fahrenheit) a que queima o papel, o equivalente a 233 graus Celsius. O que se passou neste trimestre é uma espécie de Fahrenheit 2,8 de tudo o que foi escrito sobre a "geringonça" e o futuro do país após a construção desta alternativa à PAF. 2,8 de crescimento é a temperatura a que ardem as calças do José Gomes Ferreira. (…)

É nestes momentos que tenho pena que não exista uma bwin para estes apostadores do TINA. Estes Bisavós do Restelo. Passos teria perdido o apartamento em Massamá depois de ter apostado tudo na vinda do Diabo e sair-lhe o Papa. Os profetas do "aumento do salário mínimo vai causar desemprego" eram os únicos que tinham ficado desempregados.

Não tenho nada contra o Medina Carreira, excepto ter partilhado o mesmo programa com o Crato, mas se calhar já o mudava de área. Fica triste não acertar uma. Na minha ideia, o Medina Carreira substituía o Ljubomir Stanisic no "Pesadelo na Cozinha". Ou faziam um pesadelo na contabilidade do restaurante e ele entrava ali e destratava o contabilista e anunciava a falência para a semana.

. Durante anos foi-nos dito, diariamente, que não havia alternativa. Nem valia a pena tentar. Só o facto de falar nisso estragava o pouco que já tínhamos. Éramos uma Natascha Kampusch na cave de um Wolfgang qualquer. Chamaram-nos piegas e agora temos a mesma gente a chorar porque crescemos 2,8.

Ver o PSD a dizer que se o país cresceu 2,8 no primeiro trimestre de 2017 é graças ao seu governo, é como ver um indivíduo a queixar-se que ele é que tomou os comprimidos para o "enlarge your penis" mas o outro é que tem o pénis maior. Ou um marinheiro que está no alto mar há um ano e meio, e que nem enviou o ordenado para casa, achar que a mulher está grávida e o filho é dele.»

Da série «Grandes Capas»


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18.5.17

Gentes deste mundo (14)



Os meninos etíopes também fazem TPCs, Awra Amba, Etiópia (2013)
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#ForaTemer



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E depois há Francisco Assis


… que escreve, no Público de hoje, num texto totalmente laudatório para Macron, o que abaixo transcrevo. (Não ponho link, quem quiser que procure e que tire as conclusões que entender.)

«A secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, deu provas de grande coragem quando numa recente entrevista afirmou peremptoriamente que, se fosse francesa, teria votado Emmanuel Macron logo na primeira volta das presidenciais. Ao fazer esta declaração, aquela que é hoje, por mérito próprio, a segunda figura institucionalmente mais importante do Partido Socialista, afirma um pensamento autónomo e uma personalidade própria. A partir daqui parece-me evidente que o seu destino político deixa de estar dependente do sucesso ou insucesso da presente coligação parlamentar que liga o Partido Socialista ao que de mais arcaico subsiste no panorama político e ideológico europeu.» 
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Um entusiasmado bocejo



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
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No país optimista



«Durante muitos anos os portugueses viveram dependentes do que os outros espirravam sobre nós. Essa ideologia ainda é muito cara a alguns sectores da sociedade nacional.

Muitos estão sempre à espera das redacções do FMI, da Comissão Europeia ou de uma ínclita agência de "rating" sobre o sítio. (…) O fundamentalismo radical desse pensamento conquistou Portugal durante os anos da troika. Cada palavra de um insignificante homem da mala do FMI era vista como um sinal de apocalipse. Foram tempos duros. Mas tem sido bom este ano de descompressão. Há um ar mais respirável na nossa sociedade e isso é perfeitamente exemplificado pela atitude de Marcelo Rebelo de Sousa. É claro que este é um país de diálogos absurdos e, com facilidade, cai-se em extremos. Veja-se um exemplo: o país entrou em delírio com a vitória na Eurovisão; agora procura-se quem pague a organização deficitária do certame no próximo ano.

O mesmo se passa com os dados positivos com a economia portuguesa. As palavras da classe política a pedir, para si, os louros deste bom momento parecem um vírus Wannacry em versão latina. É um ataque maciço à inteligência dos portugueses que tiveram de carregar às costas um empobrecimento económico, social e cultural sem precedentes durante quatro anos. Marcelo fez bem lembrar isso. Ele, um sensato optimista, pediu calma. Nada está ganho, como anteriormente nada estava perdido. Num país de humores extremos é difícil ir na última fila das comemorações. Mas é possível ir a meio. Portugal libertou-se das correntes que o atiraram para um divã de Freud. A depressão emocional está a evaporar-se. E isso é muito bom. Mesmo que alguns ainda tenham saudades das lágrimas e da cultura de culpa e de guerrilha de todos contra todos, Portugal é hoje um sítio mais alegre.»

França: é isto e o resto são cantigas de embalar

17.5.17

Gentes deste mundo (13)



Mulher-Girafa, Birmânia (2009).

Tal como na Tailândia, manda / mandava a tradição que as mulheres Padaung usassem anéis de bronze, em espiral, para esticar o pescoço e o tornar mais elegante. Moda com tendência para acabar, aparentemente, mas que «rende» em termos de turismo…
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Pobre Grécia!




«A greve decretada pelas principais centrais sindicais está a paralisar os transportes e serviços públicos gregos. É a resposta ao pacote legislativo que está em debate no parlamento. (…)

Entre as medidas agora propostas, que terão efeito a partir de 2019 e equivalem a 2% do PIB, está um novo corte das pensões e de algumas isenções e benefícios fiscais, a par de aumentos das contribuições por parte dos profissionais liberais. O governo liderado por Alexis Tsipras irá também levar a votos no parlamento um pacote de medidas para compensar estes cortes, que passa pela redução dos impostos sobre pessoas singulares e empresas, corte no imposto sobre imóveis e redução da sobretaxa para rendimentos acima de 30 mil euros anuais.» 
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Em 17.05.2013, morreu um carrasco: Jorge Videla



Foi há quatro anos que morreu Jorge Videla, um dos carrascos que governaram a Argentina entre 1976 e 1983 e que foram responsáveis por mais de 30.000 desaparecidos. Condenado em 2010 a prisão perpétua, viu a sua pena aumentada em mais 50 anos, em Julho de 2012, por ter dirigido uma rede que roubava bebés de prisioneiros políticos.

Por ocasião da sua morte, num artigo intitulado «Nem Freud imaginou isto», Simone Duarte resumiu bem o drama de algumas destas crianças: «É este o legado do general Videla. Uma geração que desapareceu. Outra que ficou sem saber quem era. E está até hoje a tentar descobrir».

Nesse dia, o mundo ficou mais limpo. 
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Dica (548)



Dialectical Enlightenment. (Harrison Fluss e Landon Frim) 

«The socialist project isn't to rebel against the values of liberty, equality, and fraternity, but to show how capitalism is incapable of fulfilling them.» 
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Autárquicas – Andam todos zangados



… e ainda a procissão vai no adro. Keep Calm.
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Comédia à portuguesa



«Numa das mais divertidas comédias de Blake Edwards surge um Peter Sellers hindu que entra, por erro, numa festa e acaba por a destruir em poucos minutos. (…)

Incapazes de serem discípulos de Sellers, os dirigentes do CDS, PPM e MPT decidiram criar uma comédia à portuguesa em forma de assinatura de uma coligação para Lisboa. A ideia em si seria óptima: Assunção Cristas precisa de agregar o que pode para ficar em segundo lugar nas eleições para a Câmara de Lisboa. Já que será improvável que remova Manuel Salgado (e Fernando Medina) da CML, Cristas sabe que a grande vitória será driblar Teresa Leal Coelho e ser a voz da oposição. Em Lisboa e, claro, no país.

Mas, depois de ter tentado ser audaz na arte da levitação com a proposta de 20 estações de metropolitano para Lisboa, Cristas decidiu que era altura de cair com estrondo no chão. (…) Vejamos: o discurso de Gonçalo da Câmara Pereira só define quem o leu. Portanto, não vale a pena perder-se tinta e tempo com um vácuo de ideias cheias de mofo que procura um qualquer lugar ao sol. Só Cristas tem de se preocupar: cada vez que Câmara Pereira falar, perde 100 votos; cada vez que ele tentar elaborar sobre o papel das mulheres, Cristas vê eclipsarem-se 1.000 votos. Mas o pior foi uma Cristas envergonhada, no meio daquela comédia rasca, ter decidido responder. Foi pior a emenda do que o soneto: "Tenho calçado botas e calças de ganga para estar nos bairros sociais." Há momentos em que alguém com ambições de poder tem de perceber que, num filme de duvidosa comédia, ou se tem humor ou se sai de cena.»

Fernando Sobral

16.5.17

Gentes deste mundo (12)



La Boca, Buenos Aires (2015).
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Dica (547)



Ventos do exterior. (Joaquim Aguiar) 

«O novo referencial político com dois eixos, horizontal e vertical, define quatro quadrantes em que as sociedades se fragmentam, com pesos diferenciados e de articulação mais complexa do que acontecia no eixo horizontal esquerda-direita.» 
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16.05.1958 - Chegada de Humberto Delgado a Santa Apolónia




Em 16 de Maio de 1958, vindo do Porto, Humberto Delgado foi alvo de uma grande manifestação de apoio em Santa Apolónia, violentamente reprimida pela polícia. O governo proibiu a divulgação de notícias que referissem o número de feridos, mas as mesmas apareceram na imprensa estrangeira.

Seis dias antes, em 10 de Maio, durante a conferencia de imprensa de lançamento da campanha, no Café Chave d’Ouro em Lisboa, tinha dito a frase que viria a ficar célebre: «Obviamente, demito-o!»

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As duas versões da globalização



«Xi Jinping é hoje a voz mais audível da globalização económica, contra os princípios mais proteccionistas da administração Trump. O acordo comercial entre EUA e China irá alterar algo? (…)

Vendedores norte-americanos e compradores chineses estarão felizes com os acordos comerciais feitos entre os dois países, que permitirão as exportações de carne, gás natural e outros produtos americanos ao mercado chinês, assim como o acesso ao mercado financeiro chinês por parte de empresas americanas. O acordo surge na sequência dos encontros entre Donald Trump e Xi Jinping que deverão permitir a redução do enorme défice comercial dos EUA face à China (…) Nas sombras há um outro acordo menos visível: a garantia de que se a China pressionar a Correia do Norte, os americanos não levantarão mais a questão da "manipulação" do renminbi. (…)

Não deixa de ser curioso que este acordo surja no momento em que Xi Jinping surge como o campeão da globalização e foi o anfitrião do fórum internacional que decorreu em Pequim para discutir a "Belt and Road Initiative". Grande beneficiária da globalização, a China tem lutado arduamente contra o proteccionismo, princípio que é defendido por Trump. Os dois acontecimentos não são assim obra do acaso: a China quer trazer os EUA de Trump para o mundo económico sem fronteiras. E, para isso, oferece o ramo da paz, ou seja, o seu próprio mercado. No encontro estiveram Presidentes como Vladimir Putin, Rodrigo Duterte, Joko Widodo da Indonésia e Aung San Suu-Kyi. Portos, auto-estradas, caminhos-de-ferro e "pipelines" são as veias dessa enorme circulação. Resta saber como é que, apesar dos acordos, se concretizarão dois ideais, um deles claro: o do "America First" de Trump.»

15.5.17

Gentes deste mundo (11)



A caminho de Machu Picchu (Peru), 2004.
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«Le vieux monde est de retour»



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Dica (546)



Um novo Centrão. (Manuel Carvalho da Silva) 

«O realinhamento social-democrata tem integrado uma espécie de movimento tectónico para a Direita. No vazio político resultante desse resvalar contínuo, o "centro extremo" tenta reinventar-se a partir de uma grelha política que, recusando a divisão Esquerda-Direita, anuncia agora uma nova divisão entre "abertura" e "fechamento". Neste exercício, o "centro extremo" coloca-se sempre do lado "positivo" da dicotomia, ou seja, os seus ideólogos e intérpretes são os "abertos". (…)
Macron surge como o exemplo último dessa interpretação, que se encontra um pouco por toda a Europa. Em Portugal é assumida por "sociais-democratas" com partido ou independentes, mas em particular na ala direita do Partido Socialista.» 
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«A ideia até foi minha» – terá dito Passos Coelho



Economia cresce ao ritmo mais rápido em dez anos.


P.S. – Eu até estava a brincar quando escrevi o título destes post. Mas afinal…


40 estações para o metropolitano?



«Quando o metropolitano de Lisboa abriu ao público, às 6 horas da manhã de 30 de Dezembro de 1959, entraram na composição que partiu dos Restauradores várias artistas espanholas que actuavam numa "boîte" lisboeta, acompanhados dos músicos, e que tornaram a viagem uma festa. Desde então o metro tornou-se o Speedy Gonzalez dos lisboetas: permitiu-lhes chegar mais rápido a vários locais. Com o tempo perdeu as pilhas. Cresceu, mas tornou-se menos dinâmico. As linhas do metropolitano são as veias de Lisboa. Sem elas, seria impossível circular numa cidade onde há mais trânsito do que a capital pode comportar. Mas, depois dos sonhos de grandiosidade (e que levaram a um erro trágico: querer transformar o metro num transporte suburbano), concretizadas pelas grandes obras da Expo'98, a decadência foi-se intensificando. Quando mais cresceu a rede mais ela se foi degradando. Muitas estações ficaram obsoletas, as escadas rolantes funcionam quando lhes apetece, os funcionários desapareceram dos átrios, as composições envelheceram. A linha verde tornou-se o símbolo da degradação de serviços: com metade das carruagens necessárias, parece uma carroça apinhada.

Os últimos dias tornaram-se anedóticos. O Ministério do Ambiente iniciou as hostilidades hilariantes prometendo duas estações novas apenas uma hora depois de afirmar que iriam ser quatro. Para mostrar que tem muitas ideias para Lisboa, Assunção Cristas surfou a onda e pediu 20 novas estações de metro. Porque não 40 ou 60? O direito ao dislate é constitucional, mas custa vê-lo exercido por uma líder que costuma ser regrada no menu de promessas. Até porque Cristas não pode esquecer que foi quando esteve no Governo que o metro de Lisboa passou a ter de circular em velocidade reduzida, com menos carruagens e denotando "falhas de operação" que exasperavam qualquer utilizador. Tudo em nome do dinheiro. Agora, como por magia, passamos da fome à fartura. Pelo meio, o metro continua a arrastar-se. Sem dinheiro para funcionar com o mínimo de decência.»

Fernando Sobral

14.5.17

Gentes deste mundo (10)



Numa bela praia de Penang, Malásia (2012)
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A China (mais) a caminho?




«On Sunday Chinese President Xi Jinping will welcome world leaders including Russia’s Vladimir Putin, Pakistani Prime Minister Nawaz Sharif and Myanmar’s Aung San Suu Kyi to Beijing for what is billed as China’s most important diplomatic event of the year: a two-day forum celebrating Xi’s so-called ‘Belt and Road initiative’. (…)
According to the global consultancy McKinsey, the plan has the potential to massively overshadow the US’ post-war Marshall reconstruction plan, involving about 65% of the world’s population, one-third of its GDP and helping to move about a quarter of all its goods and services. Some describe Xi’s scheme as the biggest development push in history.» 
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Só falta o Avé de Fátima



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Dica (545)



The Future of Jobs and Jobs Training. (Lee Rainie e Janna Anderson) 

«As robots, automation and artificial intelligence perform more tasks and there is massive disruption of jobs, experts say a wider array of education and skills-building programs will be created to meet new demands. There are two uncertainties: Will well-prepared workers be able to keep up in the race with AI tools? And will market capitalism survive?» 
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14.05.1958 - Quando as ruas do Porto receberam Humberto Delgado



«Povo do Porto, a resposta está dada com esta manifestação. Façam eleições livres e venceremos!» Foi com estas palavras que Humberto Delgado se dirigiu à multidão que o aclamou em frente à sede da sua candidatura, na Praça Carlos Alberto, no Porto, em 14 de Maio de 1958. A fotografia passou a funcionar quase como uma espécie de ícone de uma campanha extraordinária, que abalou fortemente a ditadura de Salazar – mas sem conseguir derrubá-la.

Cinco dias antes, em 10 de Maio, no Café Chave de Ouro em Lisboa, no primeiro acto público de apresentação da sua campanha, Delgado disse a frase lapidar que viria a ficar célebre. Em resposta a uma pergunta do correspondente da France Press – «Qual a sua atitude para com o Sr. Presidente do Conselho, se for eleito?» – respondeu, sem hesitar: «Obviamente, demito-o!»



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13.05.2017 - Uma síntese excelente


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