«Durante muitos anos os portugueses viveram dependentes do que os outros espirravam sobre nós. Essa ideologia ainda é muito cara a alguns sectores da sociedade nacional.
Muitos estão sempre à espera das redacções do FMI, da Comissão Europeia ou de uma ínclita agência de "rating" sobre o sítio. (…) O fundamentalismo radical desse pensamento conquistou Portugal durante os anos da troika. Cada palavra de um insignificante homem da mala do FMI era vista como um sinal de apocalipse. Foram tempos duros. Mas tem sido bom este ano de descompressão. Há um ar mais respirável na nossa sociedade e isso é perfeitamente exemplificado pela atitude de Marcelo Rebelo de Sousa. É claro que este é um país de diálogos absurdos e, com facilidade, cai-se em extremos. Veja-se um exemplo: o país entrou em delírio com a vitória na Eurovisão; agora procura-se quem pague a organização deficitária do certame no próximo ano.
O mesmo se passa com os dados positivos com a economia portuguesa. As palavras da classe política a pedir, para si, os louros deste bom momento parecem um vírus Wannacry em versão latina. É um ataque maciço à inteligência dos portugueses que tiveram de carregar às costas um empobrecimento económico, social e cultural sem precedentes durante quatro anos. Marcelo fez bem lembrar isso. Ele, um sensato optimista, pediu calma. Nada está ganho, como anteriormente nada estava perdido. Num país de humores extremos é difícil ir na última fila das comemorações. Mas é possível ir a meio. Portugal libertou-se das correntes que o atiraram para um divã de Freud. A depressão emocional está a evaporar-se. E isso é muito bom. Mesmo que alguns ainda tenham saudades das lágrimas e da cultura de culpa e de guerrilha de todos contra todos, Portugal é hoje um sítio mais alegre.»
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