Decorre desde ontem este curso (organizado pela Universidade Nova e pela Fundação Mário Soares) em que estou a participar. A descrição detalhada do programa pode ser encontrada
aqui.
Hoje, o tema geral foi
Transição Pactuada e Memória dos Vencidos em Espanha e as apresentações foram feitas por três historiadores espanhóis: Carme Molinero, Ismael Saz e Julián Casanova. O comentário final e a coordenação do debate estiveram a cargo de Manuel Loff, da Universidade do Porto.
Foi uma sessão não só oportuna como muito interessante e esclarecedora. Na absoluta impossibilidade de a resumir, limito-me a realçar o tema que foi mais detalhadamente exposto e debatido.
Durante o chamado período de transição para a democracia (entre a morte de Franco, em 1975, e a primeira vitória do Partido Socialista, em 1982), homenagear a «memória dos vencidos» ou exaltar os méritos dos activistas antifranquistas não foi – nem podia ter sido – uma prioridade. Por diversos tipos de razões, mas, antes de mais, porque a esmagadora «maioria social» (mesma grande parte da que se tinha movimentado contra a ditadura) queria democracia mas com garantias de estabilidade.
Funcionou, transversalmente, o medo de que quaisquer extremismos pudessem dar origem a uma nova guerra civil. Esta foi certamente uma das principais razões para que não se rompesse o equilíbrio entre os vários tipos de forças e que acabasse por se assistir, muito para além do período de transição, à hegemonia do discurso público do esquecimento. Por outras palavras, aquilo que habitualmente se designou por «Pacto de Silêncio» e que se concretizou, em 1977, numa amnistia recíproca (entre forças franquistas e antifranquistas) teve efeitos de amnésia: funcionou como uma procura de esquecimento.
As questões de verdade, de justiça e de memória ficaram pendentes durante muitos anos.
Tudo mudou, sobretudo na última década, e está-se agora num «Momento Memória» em que a sociedade espanhola tem de ajustar definitivamente as contas com o seu passado antidemocrático. Mas nada está a ser fácil, tantas são as crispações e também as resistências de algumas instituições com grande peso, como é o caso da Igreja católica.