Eu não quero perder o rasto
desta «grande» entrevista a João Duque, publicada no
DN, e fica por isso aqui localizada para memória futura. E como ele considera que os governos podem manipular informação, eu também «manipulo» a dita entrevista, dando especial realce a algumas passagens (mas pode ser lista na íntegra…).
Não adianta que alguns ministros tenham vindo entretanto dizer que não concordam com parte do Relatório que uma equipa dirigida por este senhor elaborou. Trata-se de uma pessoa da confiança do actual Executivo e não vi que este a tenha condenado publicamente, de forma expressa.
«Acho que este conceito de serviço público deve ser definido mesmo em momentos de abundância de meios e recursos financeiros. Deixe-me dar-lhe um exemplo: quantas padarias é que o Estado tem? E no entanto o pão nosso de cada dia é das coisas mais sagradas que temos. Vamos lá ver se nos entendemos. Podia perfeitamente surgir um movimento na sociedade portuguesa que defendesse que o Estado devia ter padarias e mais padarias e mais padarias. Ou não. As padarias não são um negócio que interesse ao Estado. (...)
Os privados são as entidades que mais facilmente encontram falhas para mais colmatarem com aquilo que têm. Repare no meu exemplo anterior. Eu ainda sou do tempo em que não havia pão ao sábado e ao domingo e que o pão que comíamos ao fim-de-semana era o de sexta-feira. Veja lá se hoje não temos pão ao sábado e domingo e com fornadas quentinhas em determinadas horas do dia? (…)
O Telejornal é habitualmente mais visto do que os jornais da SIC ou da TVI. E isso acontece há muitos anos.
Isso não é verdade. Os portugueses não preferem a informação da RTP, porque se juntar a audiência dos dois privados, verá que há mais gente a ver a informação dos privados do que a da RTP.
Se quiser ver dessa forma, pode ver, mas as audiências não se vêem assim.
Posso ver os números como eu quiser. (…)
Eu ouvi-o dizer que defende que a informação dessa antena internacional pode estar ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que passaria a ser a tutela desse canal. Explique-me uma coisa: mas isso seria informação ou propaganda?
Chame-lhe o que quiser. Os governos são sufragados e têm legitimidade para, no meu entendimento, usar o canal internacional para passarem a imagem de Portugal que eles entendem. (…)
Está portanto a deixar ao livre-arbítrio do Estado?
Não. O que estou a dizer-lhe é que o Governo foi sufragado e a comunicação aí faz parte da política de relacionamento externo.
Mas não há uma baliza? O mesmo governo foi sufragado e os senhores não querem que o Governo interfira na informação da RTP1...
Não há uma baliza. Há a baliza que o Governo eleito colocar no seu programa eleitoral. Essa é a baliza. Porque foi sufragado.
O Estado Novo também fazia isso...
... (de forma veemente) Oh, meu amigo, mas era aqui internamente que fazia isso.
Lá para fora também.
Claro, o que havia aqui ia lá para fora. O que defendo é que o Governo utilize o canal internacional como um instrumento da sua política diplomática. Agora, se quer dar liberdade aos jornalistas para mostrar as barracas, as praias poluídas, o território todo a arder, um massacre, as greves todas... e por aí adiante, que o faça. É fabuloso, depois os turistas não põem cá os pés. (…)
Está a ver os velhinhos e as velhinhas, que são maioritariamente o público da RTP Memória, de iPad na mão ou na Internet a ver os conteúdos do canal que o grupo de trabalho acha que deve ser descontinuado?
Oiça, os velhinhos e as velhinhas vão falecer, infelizmente. É a lei da vida. E a rapaziada que está aí hoje vê muitíssimo mais televisão no computador do que na televisão.»
P.S. - João Duque insiste e esmera-se, em artigo publicado hoje no
Expresso (sem
link): «A nova ZBD».
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