Na sua crónica de hoje no DN, José Manuel Pureza chama a atenção para um facto que não tem sido suficientemente sublinhado: a especificidade da situação portuguesa, quando comparada com a de alguns outros países europeus recentemente intervencionados, que resulta do facto de as últimas eleições legislativas terem sido precedidas pela assinatura de um acordo que amarra três partidos, entre os quais um – o PS – que, não estando no governo, ficou entre a espada e várias paredes e não consegue resituar-se. Por escolhas várias e inabilidade também, é certo.
Caminhamos para um governo de salvação nacional? Para já nem é necessário, mas é bem provável que o futuro próximo o imponha.
«Portugal não escapa a esta onda pós-democrática. As eleições de 5 de Junho foram já um desvio grave ao que deve ser um genuíno pronunciamento popular sobre as propostas dos diferentes partidos - a troika tinha assegurado a assinatura de sangue dos três principais partidos para que, qualquer que fosse o resultado, o programa a aplicar no dia seguinte fosse o acordado com ela. E nas próximas semanas acentuar-se-á a pressão para uma governação "de unidade nacional". PS e PSD, sob a batuta da troika e dos seus ideólogos internos, dão sinais inequívocos de ir nesse caminho. Só que esta não será uma unidade nacional para defender a democracia, mas para a minorar quer no campo político quer no terreno social. Uma "unidade nacional" para mais facilmente conseguir o completo desmantelamento do Estado social, do serviço Nacional de Saúde ao salário mínimo e às pensões.
Refém da irresponsabilidade da ganância, a Europa não hesita em acolher governos ilegítimos e em adoptar como seu o discurso de que o voto do povo é um empecilho para "o que tem de ser feito". Esta Europa tem medo da democracia. E só a democracia pode resgatar a Europa.»
Na íntegra: A democracia como um risco
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