1.10.22

Farmácias

 


Farmácia Arte Nova, Douvres-La-Delivrande, França, 1901.
Arquitecto: François Rouvray.


Daqui.
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Quatro anos sem Charles Aznavour

 


Nada de menos inesperado do que foi receber a notícia de que tinha morrido alguém com 94 anos. Mas, sem saber exactamente porquê, há muito que mantinha uma enorme cumplicidade com Aznavour, reforçada, e muito, desde que visitei, há dez anos, a sua querida Arménia.

Nasceu e morreu em Paris, francês mas de origem arménia e terá sempre a «nacionalidade» dos seus pais emigrantes. É um ícone nacional, não só pelo seu êxito como cantor, mas também e talvez sobretudo, pela sua acção após o terramoto de 1988. Em 7 de Dezembro de 1988, às 11:41, a terra tremeu, causando dezenas de milhares de mortos e centenas de milhares de sem abrigo. Aznavour percorreu o país pouco depois, criou uma Fundação específica para o efeito, que reuniu mais de 150 milhões de dólares, tem estátuas (vi uma em Gyumri, a cidade mais arrasada em 1988 e onde a temperatura chega a atingir 45º negativos) e o governo doou-lhe uma casa que avistei em Yerevan, onde funciona a referida Fundação. Os arménios não esquecem.

Ficam aqui dois vídeos relacionados com a Arménia e «La Bohème», a canção preferida por Aznavour, como repetiu dois dias antes de morrer:






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O centro desapareceu, a esquerda acantonou-se e a direita está mais dinâmica do que nunca desde o 25 de Abril

 


«O facto de eu não conseguir escrever sem usar classificações que me parecem pobres - esquerda, centro, direita - não as torna ricas. Penso há muito que elas transportam várias ambiguidades e acima de tudo não são heurísticas, o seu uso não permite obter grandes resultados críticos. Mas estas classificações têm a seu favor dois factores poderosos que as tornam difíceis de evitar: uma forte componente tradicional, de memória intelectual e sentimental, e servem magnificamente para um tempo de simplificações e radicalizações, facilitam a conversação mesmo com o custo da complexidade. Tentemos construir alguma complexidade a jusante.

É evidente que há posições que são historicamente fáceis de definir como sendo de esquerda ou de direita, mas na actualidade elas hoje “funcionam” de uma forma que as “mistura” e as muda. Temos facilidade em ver o que estava, mas dificuldade em perceber as mudanças e os seus efeitos. Por exemplo, aquilo que referi como ambiguidades centra-se em questões da nacionalidade e da soberania, com uma direita a ser ao mesmo tempo europeísta e dúbia sobre a guerra na Ucrânia; com uma direita a incorporar uma gramática dos costumes tradicionalmente não-cristã, e uma esquerda radical a abandonar o marxismo e entrincheirar-se num plano “cultural” identitário. A isto somam-se vários silêncios na sua maioria tácticos, sobre a democracia em particular, sobre a liberdade, e em particular sobre a igualdade. Um dos efeitos desse silêncio é, na história nacional, as ambiguidades sobre a ditadura do Estado Novo e o colonialismo.

O ascenso de uma direita radical, no plano intelectual parecida com o Integralismo Lusitano, com um braço “civilizado” no anarco-capitalismo da Iniciativa Liberal e um braço populista no Chega, com um PSD entregue a todas as tentações erradas e sem efectivo papel político que não seja trazer votos e voz a esta radicalização e com um CDS desaparecido num combate que já não tinha fronteiras com a direita radical, é evidente. Nas franjas, este ascenso comunica com os movimentos antivacinas, pela “família tradicional”, contra a educação cívica e sexual.

É um processo já antigo e que tem mostrado um considerável dinamismo intelectual e político. Em bom rigor, o precursor é o Independente, a tentativa de Portas e Monteiro de fazer o PP no CDS, os blogues de direita, a revista Atlântico, a captura do PSD pela direita radical no tempo de Passos, associada à hegemonia política e comunicacional da ideologia da troika muito para além da direita tornando-se a vulgata da análise económica, social e política, a criação num movimento comum do Chega e da IL, e a estabilização de uma poderosa máquina de propaganda à volta do Observador. A Rádio Observador, por exemplo, não faz eleitores do PSD, faz eleitores do Chega e da IL. Em universidades como a Católica e em várias fundações, e com o papel de várias corporações ligadas à saúde, à agricultura, aos transportes, à grande distribuição, criaram-se think tanks, e obtiveram-se empregos, lugares de direcção e recursos consideráveis.

Este ascenso, assente em financiamentos empresariais e numa rede internacional associada aos partidos de extrema-direita no poder, aos braços de Trump e Putin na Europa, tem sido gerido no plano comunicacional com grande eficácia, com jornalistas de direita muito mais profissionais, com projectos de qualidade a milhas do que acontece no resto do espectro político, onde não há nada de semelhante e a pobreza e má qualidade é confrangedora. Ao mesmo tempo a migração de jornalistas ideologicamente militantes desta direita radical tem sido uma constante em áreas da comunicação social onde a esquerda tinha posições que pareciam sólidas. Dominam hoje o comentário económico e estão cada vez mais presentes na informação e no comentário político. Há uma crescente impregnação do “estilo” e o “estilo” é o melhor veículo para o conteúdo.

Face a este dinamismo, o centro desapareceu do mapa e a esquerda está catatónica. O alvo principal, mais do que o “socialismo”, é a direita moderada e o PSD, cujos votos mesmo fragilizados são o único instrumento viável para a chegada ao poder. Uma parte do centro sobrevive com muitas dificuldades no PSD e no PS, mas o falhanço da experiência de Rui Rio foi a sua última esperança num grande partido. No PS, existe uma herança da direita da troika, na ideologia das “contas certas”, o que torna o clamor contra um “PS de extrema-esquerda” um absurdo. Nem sequer o PS é muito socialista, com uma ala esquerda muito próxima do Bloco e uma ala direita que tem colaborado conscientemente com a direita radical.

É por tudo isto que o argumento de que há uma “hegemonia cultural da esquerda” tem uma função vitimizadora mas é uma completa falsidade. Já teve, em muitos casos parece que tem, mas está longe de ter. Uma coisa é uma “hegemonia” nas indústrias culturas em grande parte dependentes de subsídios governamentais ou autárquicos, outra é uma influência intelectual, no sentido “orgânico” gramsciano, que tem cada vez menos. O PCP perdeu toda a influência intelectual e o Bloco de Esquerda entretém-se com causas de gueto e vivia da moda mediática que perdeu para a IL.

Eu saúdo tudo o que na direita radical ajuda a clarificar as águas e as intenções, veja-os, ouço-os e leio-os com atenção. Mas também os conheço, sei de onde vêm e para onde vão e não quero ir por aí. Com uma diferença com o poema de Régio, a de que não cruzo os braços.»

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30.9.22

Um «Crowdfunding» para Cavaco

 


Para subsidiar a estátua ou a rotunda, se ele se calar.  Eu contribuo!
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30.09.1935 – Porgy & Bess

 


Porgy & Bess estreou-se na Broadway, em Nova Iorque, há 87 anos, com um elenco formado unicamente por elementos afro-americanos – uma decisão mais do que ousada para a época, que retardou o seu êxito até 1976. 

«Summertime» é certamente o trecho mais conhecido da ópera, mas há muitos mais. 








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Inflação?

 



Somos muito bons, já que a da UE chegou aos 10%. Isto vai, amigos, isto vai. Para onde é que não sabemos.
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Democracia em Perigo?

 


«Giorgia Meloni dos Irmãos de Itália será a próxima primeira-ministra italiana. Na Suécia o partido de extrema-direita Democratas da Suécia ficou em segundo lugar nas eleições realizadas a 11 de setembro. Viktor Orbán está no poder na Hungria, e Marine Le Pen aproxima-se mais da presidência francesa a cada eleição que passa. Nos EUA, o trumpismo engoliu o Partido Republicano. Há esperança que Jair Bolsonaro perca as eleições do dia 2 de outubro no Brasil, mas o futuro é incerto face ao que os seus apoiantes poderão fazer se Lula da Silva vencer. Em Portugal, até há pouco tempo a extrema-direita não tinha expressão eleitoral, o Chega passou de um deputado para 12 entre 2019 e 2022.

Na verdade, em nenhum país ocidental se encontrou ainda o antídoto para o crescimento da direita radical. Este fenómeno põe em causa a democracia, a liberdade, a igualdade, os direitos civis e políticos, o projeto europeu e, em última análise, a paz (não esqueçamos que a maioria destes partidos apoia Putin, mesmo que agora, depois da invasão da Ucrânia, o tentem esconder). O populismo e a demagogia são muito difíceis de combater, sobretudo em situações de crise, porque apresentam soluções simplistas para problemas complexos e porque se aproveitam do desalento e da descrença das pessoas.

Mas nem todos aqueles que votam nestes partidos perfilham uma ideologia de extrema-direita. Muitos votam como protesto contra uma sociedade que os deixou para trás. Pessoas desesperadas procuram soluções radicais.

Os partidos democráticos têm de ter medidas concretas e efetivas para que ninguém seja outra vez excluído e esquecido, como aconteceu por toda a Europa durante a crise do fim da primeira década de 2000. Na recessão que (tudo indica) se avizinha não se pode cometer o erro de penalizar novamente os que dependem dos seus salários e das suas pensões para viver. A União Europeia deve abandonar a ortodoxia financeira de aumentar as taxas de juro, lançando a economia na estagnação e os cidadãos e as empresas num abismo de endividamento com consequências devastadoras. Mas as últimas declarações da presidente do Banco Central Europeu contra as medidas de apoio social adotadas por vários Estados-membros, demonstram que, aparentemente, aquela instituição não aprendeu nada com a recessão anterior.

Em tempos de crise impõe-se aos Estados adotar políticas contracíclicas para estancar ou minimizar a espiral recessiva e mitigar o impacto social. Se não o fizerem, vai assistir-se a uma ainda maior radicalização do discurso político e ao fortalecimento das ideologias xenófobas, racistas, autoritárias ou totalitárias que ameaçam os direitos civis e políticos, os direitos das mulheres e os direitos das minorias, provocando um retrocesso civilizacional de dimensões imprevisíveis.

A democracia não deve ter ambiguidades nem tibiezas com estas ideias e os partidos de direita democrática não podem ceder à tentação de se aliar a partidos de extrema-direita para conseguir chegar ao poder, como o PSD fez nos Açores e tudo indica poderá vir a fazer a nível nacional (veja-se a posição que adotou na última votação para a vice-presidência da Assembleia da República).

Em Portugal, a solução passa por falar claro aos portugueses, dar prioridade à justiça social e à equidade sobre a redução do défice, não deixar ninguém para trás e pôr o serviço público acima dos interesses partidários e pessoais, no Governo como na oposição.»

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29.9.22

Cigarros

 


Frasco para guardar cigarros Arte Nova em bronze dourado e vidro, 1900.
França.

Daqui.
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Samora Machel

 


Seriam 89, hoje.
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As eleições no Brasil também nos dizem respeito

 


«É já no próximo domingo, 2 de outubro, que os brasileiros serão chamados às urnas para escolherem o presidente da República, assim como os novos senadores, deputados federais e estaduais e governadores. A escolha do primeiro é o que mais tem mobilizado a atenção da opinião pública internacional. O facto justifica-se, desde logo, pela importância do Brasil, pois, afinal, trata-se do maior país da América Latina, o maior país de língua portuguesa e uma das principais economias do mundo, fazendo parte do grupo de potências do chamado Sul Global.

Uma outra razão, entretanto, que explica a importância das próximas eleições brasileiras para o resto do mundo é que o país é governado, presentemente, por forças ligadas ao movimento de extrema direita internacional. Saber se tais forças permanecerão no poder ou não interessa-nos a todos, num momento como aquele que vivemos atualmente, marcado pelo crescimento do neofascismo ou protofascismo, como se quiser, no mundo inteiro.

Recordo que o resultado de dois processos eleitorais realizados há pouco tempo na Europa confirma esse crescimento. Refiro-me à Suécia e à Itália. Tais países juntam-se, assim, à Hungria e à Polónia. Não esquecer, claro, a própria França, onde o partido de Marine Le Pen já é a principal força política entre os trabalhadores e residentes nos subúrbios, pondo a nu o fracasso das forças progressistas em geral e, em particular, da chamada esquerda woke.

De facto, depois da crise financeira de 2008, levantou-se uma onda antidemocrática global, que atingiu inclusive o país que é considerado o "farol" da democracia liberal, ou seja, os Estados Unidos, onde o fenómeno do trumpismo não desapareceu com a derrota de Donald Trump em 2020 e nem desaparecerá mesmo se ele for legalmente impedido de se candidatar dentro de dois anos. As forças por detrás desse fenómeno local estão articuladas, na realidade, com as demais forças da extrema direita em todo o mundo, como o sinalizou, por falar nas eleições brasileiras, o próprio Donald Trump, ao anunciar o seu apoio a Jair Bolsonaro.

O que é preocupante é o notório acomodamento da direita liberal a esse crescimento da extrema direita, dando-se por satisfeita, por exemplo, com a suavização semântica do discurso das suas principais figuras, como fez, por exemplo, a líder do Irmãos de Itália, Georgia Meloni, durante a recente campanha eleitoral na Itália. Isso não é ingenuidade, é alinhamento (como parecem indiciar, por exemplo, e para dar um exemplo extraído da atualidade política portuguesa, as recentes piscadelas de olho do PSD ao partido Chega).

Uma das diferenças do cenário brasileiro é que o atual presidente, um assumido representante dessas forças conservadoras extremistas em crescimento desde a primeira década do presente século, não faz qualquer esforço para suavizar e matizar a postura. Recorrendo a uma expressão popular brasileira, ele mata a cobra e mostra o pau: demonstra o seu desprezo pelos humildes, zomba dos doentes, ataca as mulheres e os negros, recorre à xenofobia religiosa, investe contra os outros poderes, nomeadamente o judiciário, promove a venda indiscriminada de armas e incita os seus apoiantes a atos de violência política. Como pano de fundo, mantém um esquema de enriquecimento ilícito que põe por terra a sua imagem de anti-corrupção cultivada para vencer as eleições há quatro anos atrás. Exceto, claro, aos olhos dos fanáticos.

As eleições brasileiras do próximo domingo podem, assim, ser consideradas um verdadeiro plebiscito, opondo não apenas a democracia à ditadura, mas a civilização à barbárie. Como sublinha Sérgio Fausto na edição de agosto da revista Piauí, o que está em jogo nestas eleições é "o direito de continuarmos a divergir pacífica e democraticamente sobre a melhor maneira de construir um país mais justo, próspero e sustentável, orgulhoso da sua diversidade". Entre os dois candidatos com possibilidades efetivas de vencer, apenas um tem perfil (e histórico) para garantir isso. Chama-se Lula.»

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28.9.22

A realidade dos factos

 

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Irão – partilhar, partilhar, partilhar

 


… já que nada mais podemos fazer.
#MahsaAmini
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28.09.1974 – A «Maioria [que ficou] Silenciosa»

 


Dois dias depois, Spínola demitiu-se do cargo de presidente da República, sendo substituído pelo general Costa Gomes. Fechou-se assim o primeiro ciclo político do pós-25 de Abril.

Mais informação AQUI.
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Itália: não chega gritar que aí vem o fascismo. É preciso um remédio que foi retirado do mercado

 


«Foi interessante observar a tentativa de desdramatização da vitória dos Fratelli d'Italia. Na noite eleitoral, em canais de notícias e telejornais portugueses, os oráculos anunciavam a vitória do “centro-direita”. Entre aqueles quatro partidos coligados, alguém sabe dizer qual está ao centro? Como pode uma herdeira do fascismo italiano liderar uma coligação de “centro-direita”?

Nos comentários, perguntava-se se Georgia Meloni, amiga Viktor Orbán, apoiada por Steve Bannon, ex-militante e herdeira do Movimento Social Italiano, que tem “Deus, Pátria, Família” como lema político, seria, agora, uma moderada. Desde que não seja abertamente eurocética como Boris Johnson e defenda a NATO, pode maltratar os emigrantes à vontade. Assim estão os valores europeus. Chega a moderação estética dos Democratas Suecos, que trocaram a chama por uma bonita flor, puseram “democratas” no nome e mantiveram intacta a sua agenda xenófoba. Chega as juras de amor de Meloni à União Europeia, à NATO e à Ucrânia, carregando sem vergonha o legado de Mussolini. Todos entram no cada vez menos seleto clube do “centro-direita”.

Há até quem explique que este resultado não é grave, porque nesta União os governos, os que realmente são eleitos, não têm assim tanta autonomia. Não percebem que ao dizer aos europeus que é indiferente em quem votam dão inesperados argumentos democráticos ao voto na extrema-direita.

O esforço para tornar o óleo de fígado de bacalhau (referência de “boomer”) num pitéu, cá e em toda a Europa, tem uma razão evidente: a direita sabe que terá de governar com esta gente. E é por isso mesmo que depois de quase todos terem sovado Rui Rio por não ser claro em relação ao Chega, Luís Montenegro apela ao voto no candidato de extrema-direita para vice-presidente da Assembleia da República e não se sente grande incómodo. É a resignação. Já ninguém tem dúvida que, se precisar, o PSD fará um acordo com a extrema-direita para governar. E se precisar muito, meterá o Chega no governo.

Para preparar o caminho que todos sabem ser inevitável para a direita voltar ao poder é preciso ir normalizando não só André Ventura como os seus aliados europeus. Um a um. Aqui, a normalização faz-se por via de uma insistente equiparação com um partido que, apesar de estar em crise, nunca foi tão escrutinado e referido como nos últimos meses. A conclusão está implícita. Na realidade, é cada vez mais explicita. Se o PS governou com o apoio dos comunistas, não haverá problema em governar com a extrema-direita. Isto apesar de ninguém conseguir encontrar, no presente, uma proposta do PCP para o país que ponha em causa o Estado de Direito Democrático. Ao contrário do que sucede com o Chega.

Mas se a conversa é sobre Itália, esta equiparação entre comunistas e fascistas torna-se especialmente insultuosa. Não imagino quantas voltas terá dado Aldo Moro na campa para onde o atirou a verdadeira extrema-esquerda (em nome de quem, não sabemos), depois do “compromisso histórico” que fez com os comunistas, que ajudaram a construir a democracia italiana.

A normalização da extrema-direita é uma estratégia de curto prazo para o centro-direita. A longo prazo ela tem-se revelado sempre suicida (ao contrário dos acordos com os comunistas, para o centro-esquerda). Essa normalização tem-se feito sempre através da absorção dos valores da extrema-direita. Sobretudo em relação aos imigrantes e às minorias. Até terem de tratar o que é inaceitável como moderado ou apenas uma excentricidade, dando espaço para a sua aceitação popular. Não é quando parece extremista que o extremismo é perigoso. Não é quando parece inaceitável que o racismo faz vítimas. O nazismo e os seus crimes contra a humanidade só foram possíveis numa sociedade em que o antissemitismo estava disseminado. É este caldo de tolerância com a intolerância que a direita outrora moderada está a ajudar a cozinhar.

Nada ganham com esta caminhada para o abismo. Acabarão por ser absorvidos por aqueles que julgam que vão absorver, liderados por quem julgam que vão liderar. A direita italiana, no seu conjunto, nem teve uma subida espetacular – mais sete pontos percentuais, sobretudo à custa do Movimento 5 Estrelas, que caiu para metade. Foi Georgia Meloni que absorveu o voto do campo da direita.

Há razões especificas para a subida da extrema-direita em cada país. Na Suécia terá contado a subida de 14% para 26% da comunidade estrangeira, responsabilizada por um recuo do Estado Social que foi, na realidade, uma escolha política de que não têm qualquer responsabilidade. Em Itália, é um sistema eleitoral sucessivamente alterado, mas incapaz de dar consistência real, e não artificialmente construída, ao confronto político. E os efeitos de uma pandemia que, por lá, teve uma dimensão especialmente dramática. E os efeitos da crise da guerra e da energia, que se preparam para ser avassaladoras para o país. E os efeitos da falta solidariedade europeia na última crise migratória, deixando os italianos com a batata quente na mão – com especial obstinação egoísta dos aliados europeus da senhora Meloni.

Como escrevi na última edição semanal do Expresso, prevendo este resultado, é no ar do tempo, no Zeitgeist político, que nos devemos concentrar para perceber a floresta e não a árvore. A dinâmica criada pelas redes sociais e por um tempo em que o mercado da atenção vale mais do que o mercado da credibilidade no jornalismo terão cumprindo o seu papel numa polarização que não é apenas política. Mas o dado que não podemos esquecer é este: nas democracias ocidentais, a desigualdade atingiu, desde 2008, níveis que só conheceu em 1929. E é a desigualdade que deslaça a comunidade e torna a democracia inviável.

É neste cenário que a responsabilidade maior pelo crescimento da extrema-direita, por demissão, é da esquerda. Ao que parece, tal como Emmanuel Macron, o Partido Democrata acreditou que bastava gritar que aí vinha o fascismo para os eleitores não votarem em Meloni. O centro-esquerda continua a acreditar que se for a última fronteira do cordão sanitário à extrema-direita manterá na sua mão um seguro de vida. Não. Esse seguro de vida caducou. Porque ele, sem mais, esvazia de proposta política a alternativa à direita refém de neofascistas e aparentados.

O que a esquerda italiana tem de se perguntar é como vale hoje 26%, e o Partido Democrático 20% (perdeu 2 pontos percentuais e, apesar de ter o dobro de Salvini, fica com menos deputados, no absurdo sistema eleitoral italiano). Como aconteceu isto a uma das mais poderosas e vibrantes esquerdas da Europa, que hoje inclui democratas-cristãos e vale menos do que valeram os comunistas? Podemos, claro, contar com o Movimento 5 Estrelas, que até apresentou um programa à esquerda do PD. Mas falta-lhe consistência para tanto.

O centro-esquerda até subiu 3,5 pontos em relação ás últimas eleições e, se Renzi não tivesse ido separado – ou mesmo o 5 estrelas –, teria muito mais deputados para governar num sistema que favorece muito quem fica em primeiro. Mas a descaracterização de um partido feito da amalgama do antigo PCI, democratas-cristãos e neoliberais nunca permitiu que escolhesse entre a social-democracia e o neoliberalismo. O PD é feito dos restos, incapaz de mobilizar em torno de tão pouco atrativa gelatina os seus próprios eleitores, que vão ficando em casa por sentirem que já não contam na luta eleitoral. Dedicam-se mais à luta cívica.

Fala-se de uma refundação do Partido Democrata (já vai em quantas?) e de ter como líder Elly Schlein, uma italo-americana de 37 anos, claramente mais à esquerda. Não sei. Sei que se continuar a ser mera gestora de crises cada vez mais frequentes, com sucessivas transferências de rendimento de baixo para cima, de pouco servirá qualquer refundação ou mudança de líder.

Não basta o medo fascismo. Não chega lamentar que os “deploráveis” de Hillary Clinton estejam zangados por serem os derrotados da “tirania do mérito” (como lhe chama Michael J. Sandel). Perante as primeiras gerações que sabem que viverão pior do que os seus pais, é preciso saber que a desesperança é tão perigosa para os governos democráticos europeus como para a teocracia iraniana.

A esquerda precisa recuperar radicalidade (que não é o mesmo que extremismo). De fazer o oposto da pornográfico proposta de Liz Truss, que, mostrando como o neoliberalismo está cada vez mais descarado, quer endividar o país para ajudar ricos, porque o que é bom para eles é bom para todos (voltarei ao tema). Com o mesmo descaramento, mas ao contrário, a esquerda tem de propor uma forte redistribuição da riqueza para salvar democracia.

A questão é se, nas regras europeias, ainda há espaço para a social-democracia. Se a resposta for negativa, talvez se perceba porque é que o crescimento da extrema-direita é inevitável. O remédio contra ela, que resultou noutros tempos, foi retirado do mercado.»

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27.9.22

Estojos

 


Estojo para maquiagem de ouro, com esmalte, diamantes, safiras e penas de marfim, 1900-1917.
Tiffany & Co.
Cincinnati Museum of Art.

Daqui.
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27.09.1975 – Os últimos fuzilamentos do franquismo e reacções em Portugal

 


Há 47 anos, foram fuzilados cinco antifascistas espanhóis: José Luis Sánchez Bravo, José Humberto Baena Alonso, Ramón García Sanz, Juan Paredes Manot e Ángel Otaegui. As pressões para que o acto não fosse consumado não resultaram, Franco não cedeu.

Portugal, em pleno PREC, não esperou pela execução e iniciou na véspera, 26 de Setembro, assaltos aos consulados de Espanha em Lisboa e no Porto, ataque a sedes de empresas espanholas e incêndio e destruição da embaixada de Espanha em Lisboa. 


(Vídeo e mais informação aqui)
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Brasil

 

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O voto, essa arma silenciosa

 


«Nós, os eleitores, os que escolhemos votar, quando riscamos com a caneta um quadrado no boletim de voto, fazemo-lo por várias razões. Por ideologia, por afinidade, por instinto, porque queremos estar do lado quem ganha. Mas também votámos com a carteira, com medo e, às vezes por vingança, irritação, fastio ou revolta.

Não há uma única e simples explicação para o porquê de cada voto, em cada momento, sobretudo naquilo a que se convencionou chamar o "eleitorado flutuante" que é, no fundo, quem decide cada eleição.

Na suprema liberdade e solidão da cabine de voto, cada um de nós, e das nossas circunstâncias, faz uma escolha. Individual. No fim do dia, quando se fazem as contas, a maioria ganha. E nem sempre ganha aquele em quem votámos. A democracia é "o pior de todos os sistemas, à exceção de todos os outros". A cada pessoa corresponde um voto, a soberania é do povo e o povo "tem sempre" razão nas escolhas que faz. Mas, mais do que isso, importa perceber o porquê de determinadas opções.

Mais uma vez, a "explicação" não é simples, linear e única. Da Polónia, da Hungria, da Suécia e, agora, de Itália, chegam sinais semelhantes. Um padrão. Estará a maioria do povo destes países, toda enganada, iludida ou errada? Ou, pelo contrário, o voto individual e livre dentro da cabine é uma chamada de atenção, um grito de revolta, uma vontade de vingança, um gesto de indiferença ou um desejo de esperança?

Talvez seja tudo isso, em doses diferentes.

O fim da mediação clássica, a ligação direta entre eleitores e eleitos, o individualismo no lugar da preocupação com o coletivo, o poder facilitista e acrítico das redes sociais, a impreparação dos políticos, o desfasamento entre a realidade do dia a dia e os discursos eloquentes, as promessas que não se cumprem, a perda do poder de compra, os salários estagnados, a sensação de impunidade, a perda de confiança nos governantes e a ideia de que "eles são todos iguais" são a ignição para populismos, radicalismos e extremismos.

"Se não construirmos a democracia todos os dias, estamos a destruir a democracia todos os dias". A frase, de Marcelo Rebelo de Sousa, sexta-feira, no discurso dos 200 Anos da Constituição de 1822, é um aviso sério, mas sereno, ao que pode estar para vir. Uma classe política que não dá respostas aos anseios da população, que governa a pensar em eleições e não em gerações, que se limita a "gerir" o país em vez de o reformar, fazer crescer e avançar, leva, inevitavelmente ao desânimo, a descrença e ao encolher de ombros.

E, depois, temos a União Europeia. Nas duas faces da mesma moeda, há o lado "bom", de sentimento de proteção, de cooperação, de solidariedade e de financiamento. E, do outro lado, o distanciamento dos cidadãos, a burocracia, os interesses dos grandes países em detrimento dos pequenos, a simplificação de normas e leis que, muitas vezes, não levam em conta a especificidade de cada país e, claro, a primazia da economia sobre a política. A União começou por ser económica e é nessas águas que melhor se move. "É a economia, estúpido." Mas se a economia não for social, se não tiver impacto real na vida dos cidadãos, se os salários não crescerem, se as condições de vida não melhorarem, se os cuidados de saúde forem lentos, se a educação estiver desajustada, a justiça lenta e a segurança social pobre... no momento do voto, na tal cabine de solidão e liberdade, os cidadãos vão escutar quem lhes deu esperança. Ou quem lhes disse para se revoltarem.»

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26.9.22

Vitrais

 


Vitrais numa parede da Casa Lis (um palacete modernista onde funciona o Museu de Art Nouveau e Art Deco), Salamanca, 1905.
Arquitecto Joaquín Vargas Aguirre.


Daqui.
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26.09.1945 – Gal Costa

 


Nasceu em Salvador e ainda canta, 58 anos depois de se ter estreado ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, no espectáculo Nós, Por Exemplo... Foi submetida a uma intervenção cirúrgica recentemente, mas espera regressar aos palcos depois de Outubro.

Quem não se lembra da sua «Modinha para Gabriela», de Dorival Caymmi?




E mais, muito mais:






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Agora na Daguestão

 


No Daguestão (uma divisão federal da Rússia situada no Sudoeste do país), mulheres lembram que a Rússia atacou a Ucrânia e gritam «Não para a guerra!».

Também em Yakutsk (a cidade mais fria do mundo), na Sibéria oriental:

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Novo aeroporto: sobre a arte de não decidir com todo o rigor e método

 


«Quando António Costa disse que uma decisão com o impacto da localização do novo aeroporto não podia ser tomada sem o acordo do PSD muita gente parece tê-lo levado a sério. Uma credulidade estranha, quando uma das imagens de marca desta maioria absoluta é não aceitar qualquer contributo dos partidos da oposição.

Mais estranho é haver quem acredite que o ralhete do primeiro-ministro ao seu ministro das Infraestruturas teve a ver com o respeito escrupuloso pela metodologia de decisão. É preciso ter andado muito distraído nos últimos anos. O único tema que interessa a Costa no aeroporto tem três nomes: Pedro Nuno Santos.

Basta comparar o triste episódio de junho com o silêncio do primeiro-ministro quando o ministro da Economia decide anunciar, por sua conta e risco, uma decisão que cabe ao Ministro das Finanças. E basta ver como o primeiro-ministro resolveu garantir, numa entrevista, que o ministro das Infraestruturas não participaria nas negociações e apenas executaria o que fosse acordado com Luís Montenegro. Uma impossibilidade prática rapidamente desmentida. Como é evidente, o gabinete do primeiro-ministro não tem preparação para um tema que é quase exclusivamente técnico. Esteve lá, aliás, só para mostrar que o ministro não manda.

Portugal adora pactos de regime sobre o que é natural e saudável que haja alternativas para o regime. Não debate escolhas ideológicas e políticas porque todas elas, sobretudo desde que aderimos à moeda única, são apresentadas como inevitabilidades técnicas. Prefere alimentar divergências técnicas que resultam, geralmente, de pressões de grupos, lóbis e egos - e não de qualquer clivagem política relevante.

A única escolha política essencial em torno do aeroporto é se ele deve ser feito. Há quem ache que devemos abandonar, em nome do ambiente, a aposta no transporte aéreo. Há quem ache que isso, num país periférico como Portugal, seria um suicídio. Seja como for, essa escolha dependeria, em parte, de outra, que já foi (mal) feita: a nossa ligação à alta velocidade ferroviária europeia. E como desistimos nós dessa ligação? Da mesma forma que desistimos, há anos, de fazer um novo aeroporto: prolongando até à náusea o processo de debate que acabou em nada. Há países onde se fazem estudos para tomar decisões. Aqui, eles são feitos para as evitar.

Quando se demora 50 anos a tomar uma decisão é natural que, a dada altura, ninguém aceite ser derrotado nesse debate. No caso do aeroporto, há uma parte técnica, que terá a ver com o impacto ambiental, com o planeamento territorial e com a viabilidade económica. E há outra parte mais rasteira, que tem a ver com os interesses (sobretudo os especulativos) que se vão mexendo em torno de cada localização. Se o poder político mostra sinais de indecisão permanente – e se ainda por cima o primeiro-ministro fragiliza politicamente o ministro que tem esta pasta –, esses interesses vão pressionando cada vez mais, alimentando, eles mesmos, a indecisão.

Depois dos encontros com Luís Montenegro, que não terá pensado na localização do novo aeroporto mais do que a semana anterior a ter de dizer qualquer coisa sobre o assunto, o resultado foi recuarmos 15 anos. Vamos estudar tudo outra vez, com todas as localizações de novo, como se nada tivesse sido discutido até hoje. Voltámos à estaca zero. Na realidade, voltámos à estaca menos um, porque às localizações que já tinham sido propostas – Alcochete e Montijo –, juntou-se Santarém. E abre-se a porta para o regresso de Alverca ou, quem sabe, da Ota.

É o processo de decisão mais absurdo que alguma vez se viu e o Presidente, que adora estes momentos lúdicos da política, aplaude. Tão absurdo que até há espaço para levar a sério a proposta de Santarém, defendida pelo grupo Barraqueiro, que se dedica a transportar pessoas por terra.

De Santarém ao Marquês de Pombal, no centro de Lisboa, são 82 quilómetro de distância. Dirão: Londres tem um aeroporto a 60 quilómetros. Sim, mas é um de quatro aeroportos, não o principal. Heathrow é a 22,5, Luton a 54, Gatwik a 44 e Stansted a 62. E a atratividade de Londres é um nadinha superior à de Lisboa. Se falarmos de aeroportos comparáveis com o de Lisboa, que teve cerca de 30 milhões de passageiros em 2019, vemos que o de Copenhaga a 13 quilómetros, Bruxelas a 14, Manchester a 14, Zurique a 14, Viena a 22, Milão a 40, Oslo a 45. Ou seja, os piores são a quase metade da distância. Nada existe que seja semelhante ao que é proposto.

A uma distância destas existiriam comboios expresso, como em Oslo ou Gatwik, cujos preços andam na casa dos 20 euros por pessoa. E é o meio mais caro para chegar ao centro. Há outros, como comboio regular ou autocarros. A 80 quilómetros, numa cidade onde a estadia média é de apenas 3 dias, só esse seria viável. Ninguém, numa viagem de 3 dias, quer perder horas para sair e depois para chegar ao aeroporto. Serviço expresso que, para ser competitivo, tem de ter uma regularidade bastante elevada e um preço baixo. Não deixa de ser curioso ver sectores que se insurgiram contra a taxa turística em Lisboa, na altura de um euro por noite, porque iria matar a “galinha dos ovos de ouro” do turismo, agora defenderem um aeroporto a uma distância tal que só será compatível com comboios expresso a 20 ou 30 euros. A não ser, claro, que a ANA pague o prejuízo operacional da linha de comboio dedicada. Quem acredite que compre.

No cenário mais otimista, Portugal vai perder, até 2027, 9 mil milhões de euros sem um novo aeroporto em Lisboa. É verdade que a Vinci podia estar a ganhar dinheiro com o novo aeroporto. Mas enquanto o pau vai e volta folgam as costas e continua dispensada de cumprir uma parte do contrato de privatização (ruinosa para o país): ter de pagar a construção de um novo aeroporto para Lisboa.

Aparentemente, o dinheiro não nos faz falta. A sucessão no PS vale isto tudo. Não sei o que o primeiro-ministro sabia ou não sabia sobre o que Pedro Nuno Santos anunciou há uns meses. Podemos todos fazer um esforço para acreditar que o presidente da Vinci sabia, que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa sabia, que quase todos os jornalistas que cobrem este tema sabiam e que o primeiro-ministro era o único que estava a leste. Ou podemos perceber que a incapacidade de tomar decisões que tenham um horizonte superior ao de cada crise associada às suas mesquinhas vinganças palacianas determinou esta ridícula situação, em que se prolonga a agonia de uma escolha que, sendo técnica, não precisa de pactos constitucionais.»

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25.9.22

Relaxar num serão de domingo


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Ouvir «Bella Ciao» no Irão

 


… enquanto se vota em Itália.
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As lágrimas inteligentes

 


«Não basta ver fotografias de Roger Federer e Rafael Nadal a chorar por ocasião do último jogo de ténis de Federer. É preciso ver o filme. Ou um excerto dele.

Chorar faz parte da inteligência destes dois homens tão diferentes, tão rivais, tão parecidos. Desencadeiam-se um ao outro, estes dois grandes desportistas que nunca mais veremos a jogar um com o outro.

Durante anos desencadearam-se a jogar ainda melhor do que já jogam. Na sexta-feira, desencadearam-se a chorar, como dois meninos, como também se poderiam ter desencadeado a rir, ou a bocejar.

Choram a passagem do tempo, o envelhecimento, a queda que todas as coisas têm para acabar, por muito boas que sejam, aliás, particularmente quando são muito boas e - o que é raro - quando acabam muito bem.

Não há excepções para os desportistas perfeitos, para os que se mantêm mais em forma, para os que foram considerados os melhores de sempre.

A tristeza é a mesma. Mal chegam aos 22 anos, já há jogadores mais novos a emergir como papoilas na Primavera, desejosos de derrotar os velhadas, cuja virtude principal passa a ser, de um dia para o outro, a maldita “experiência”, a experiência dessa outra palavra maldita, dos “veteranos”.

Federer e Nadal (cujas idades somam só 71 anos) foram derrotados por Jack Sock e Frances Tiafoe (54 anos de soma). É uma diferença de 17 anos, que é praticamente a idade do número 1 do ténis, Carlos Alcazar, que fez 19 anos em Maio.

O tempo é que é a tartaruga da fábula da lebre e da tartaruga: o tempo ganha sempre. A lebre começa bem mas, a certa altura, começa a perder velocidade e começa, cada vez mais, a precisar de dormir e descansar.

A lebre vive 4 anos, a tartaruga vive dez vezes mais. Quem é que fica a ganhar? É a tartaruga, por 36 anos. Ora, 36 anos é precisamente a idade de Nadal. E Federer só tem mais cinco aninhos.

Choram porque sempre souberam que a corrida contra o tempo estava perdida.

Mas só agora chegou o tempo de perdê-la.»



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O «Optimista irritante» afinal é este!

 

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