«Giorgia Meloni dos Irmãos de Itália será a próxima primeira-ministra italiana. Na Suécia o partido de extrema-direita Democratas da Suécia ficou em segundo lugar nas eleições realizadas a 11 de setembro. Viktor Orbán está no poder na Hungria, e Marine Le Pen aproxima-se mais da presidência francesa a cada eleição que passa. Nos EUA, o trumpismo engoliu o Partido Republicano. Há esperança que Jair Bolsonaro perca as eleições do dia 2 de outubro no Brasil, mas o futuro é incerto face ao que os seus apoiantes poderão fazer se Lula da Silva vencer. Em Portugal, até há pouco tempo a extrema-direita não tinha expressão eleitoral, o Chega passou de um deputado para 12 entre 2019 e 2022.
Na verdade, em nenhum país ocidental se encontrou ainda o antídoto para o crescimento da direita radical. Este fenómeno põe em causa a democracia, a liberdade, a igualdade, os direitos civis e políticos, o projeto europeu e, em última análise, a paz (não esqueçamos que a maioria destes partidos apoia Putin, mesmo que agora, depois da invasão da Ucrânia, o tentem esconder). O populismo e a demagogia são muito difíceis de combater, sobretudo em situações de crise, porque apresentam soluções simplistas para problemas complexos e porque se aproveitam do desalento e da descrença das pessoas.
Mas nem todos aqueles que votam nestes partidos perfilham uma ideologia de extrema-direita. Muitos votam como protesto contra uma sociedade que os deixou para trás. Pessoas desesperadas procuram soluções radicais.
Os partidos democráticos têm de ter medidas concretas e efetivas para que ninguém seja outra vez excluído e esquecido, como aconteceu por toda a Europa durante a crise do fim da primeira década de 2000. Na recessão que (tudo indica) se avizinha não se pode cometer o erro de penalizar novamente os que dependem dos seus salários e das suas pensões para viver. A União Europeia deve abandonar a ortodoxia financeira de aumentar as taxas de juro, lançando a economia na estagnação e os cidadãos e as empresas num abismo de endividamento com consequências devastadoras. Mas as últimas declarações da presidente do Banco Central Europeu contra as medidas de apoio social adotadas por vários Estados-membros, demonstram que, aparentemente, aquela instituição não aprendeu nada com a recessão anterior.
Em tempos de crise impõe-se aos Estados adotar políticas contracíclicas para estancar ou minimizar a espiral recessiva e mitigar o impacto social. Se não o fizerem, vai assistir-se a uma ainda maior radicalização do discurso político e ao fortalecimento das ideologias xenófobas, racistas, autoritárias ou totalitárias que ameaçam os direitos civis e políticos, os direitos das mulheres e os direitos das minorias, provocando um retrocesso civilizacional de dimensões imprevisíveis.
A democracia não deve ter ambiguidades nem tibiezas com estas ideias e os partidos de direita democrática não podem ceder à tentação de se aliar a partidos de extrema-direita para conseguir chegar ao poder, como o PSD fez nos Açores e tudo indica poderá vir a fazer a nível nacional (veja-se a posição que adotou na última votação para a vice-presidência da Assembleia da República).
Em Portugal, a solução passa por falar claro aos portugueses, dar prioridade à justiça social e à equidade sobre a redução do défice, não deixar ninguém para trás e pôr o serviço público acima dos interesses partidários e pessoais, no Governo como na oposição.»
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